O anúncio que abalou o Vaticano - O doce balanço do jeans Jesus. Foto de Oliviero Toscani |
por José Esmeraldo Gonçalves
Saudades dos tempos das blafêmias políticas e incorretas. No começo dos anos 1970, há quase 50 anos, o jeans Jesus abalava o Vaticano. Os cardeais sacudiam as sotainas rubras de irritação com a campanha da marca. Os anúncios eram criados pelo fotógrafo Oliviero Toscani e a dupla de redatores da Agenzia Italia Emanuele Pirella e Michael Goettsche.
Androginia e slogan bíblico. Foto Oliviero Toscani |
Toscani fotografou em close a bunda monumental de Donna Jordan. Tão perfeita a imagem que parecia captar o balanço da modelo. Aplicada sobre o melhor eixo da simetria da curva destacava-se a frase "Chi me ama me segua".
Como discordar daquele convite malicioso? Sim, ninguém resistia ao "quem me ama me segue".
Roma 1973: impossível não parar para olhar. Foto Manchete |
A Manchete registrou em foto o apelo do cartaz nas ruas de Roma
Em 1973, a igreja católica, então muito entrelaçada com o governo, forçou a proibição dos anúncios. O Santo Ofício, que já lutava contra os filmes de Pasolini, resolveu dar um basta. Vale lembrar que naquele ano estava em cartaz o musical Jesus Cristo Superstar. O Vaticano deve ter avaliado que era muita contracultura associada a Jesus.
Agentes do Buoncostume invadiram a sede da agência e aprenderam cartazes e artes de futuros comerciais do Jesus. A campanha cessou mas a marca sobreviveu até 1994. Foi vendida, sumiu por uns tempos e voltou em 2011 sem o mesmo impacto. Ninguém mais segue o jeans Jesus.
Difícil avaliar a repercussão de uma mensagem iconoclasta como aquela nesses dias de fundamentalismo ameaçador e redes sociais iradas. As curvas de Donna Jordan seriam canceladas ou sobre elas os seguidores ergueriam uma nova igreja?