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domingo, 19 de setembro de 2021

Curvas que fizeram o Vaticano tremer: o anúncio e a foto que provocaram uma polêmica apocalíptica

O anúncio que abalou o Vaticano - O doce balanço do jeans Jesus. Foto de Oliviero Toscani

por José Esmeraldo Gonçalves

Saudades dos tempos das blafêmias políticas e incorretas. No começo dos anos 1970, há quase 50 anos, o jeans Jesus abalava o Vaticano. Os cardeais sacudiam as sotainas rubras de irritação com a campanha da marca. Os anúncios eram criados pelo fotógrafo Oliviero Toscani e a dupla de redatores da Agenzia Italia Emanuele Pirella e Michael Goettsche. 

Androginia e slogan
bíblico. Foto Oliviero
Toscani
A primeira peça mostrava um modelo andrógino, zíper aberto e a frase "Non avrai alcun jeans all’infuori di me" (algo como "você não terá um jeans além de mim"). Mas foi a segunda peça que fez os cardeais subirem de vez nas tamancas púrpuras. 

Toscani fotografou em close a bunda monumental de Donna Jordan. Tão perfeita a imagem que parecia captar o balanço da modelo. Aplicada sobre o melhor eixo da simetria da curva destacava-se a frase "Chi me ama me segua". 

Como discordar daquele convite malicioso? Sim, ninguém resistia ao "quem me ama me segue". 

Roma 1973: impossível não
parar para olhar.
Foto Manchete

A Manchete registrou em foto o apelo do cartaz nas ruas de Roma

Em 1973, a igreja católica, então muito entrelaçada com o governo, forçou a proibição dos anúncios.  O Santo Ofício, que já lutava contra os filmes de Pasolini, resolveu dar um basta. Vale lembrar que naquele ano estava em cartaz o musical Jesus Cristo Superstar. O Vaticano deve ter avaliado que era muita contracultura associada a Jesus.

Agentes do Buoncostume invadiram a sede da agência e aprenderam cartazes e artes de futuros comerciais do Jesus. A campanha cessou mas a marca sobreviveu até 1994. Foi vendida, sumiu por uns tempos e voltou em 2011 sem o mesmo impacto. Ninguém mais segue o jeans Jesus.

Difícil avaliar a repercussão de uma mensagem iconoclasta como aquela nesses dias de fundamentalismo ameaçador e redes sociais iradas. As curvas de Donna Jordan seriam canceladas ou sobre elas os seguidores ergueriam uma nova igreja?