Gláuber filmou Terra em Transe no Parque Laje, onde foi velado. Na foto, cena com Jardel Filho. Foto Divulgação |
Glauber dirige documentário no velório de Di Cavalcanti |
Cinco anos depois, em agosto de 1981, era a vez do próprio Glauber, velado no Parque Lage, cenário do seu Terra em transe. O cineasta Sílvio Tendler, que cobriu o funeral com sua equipe, lembra: “Foi uma cena impactante. O cinema brasileiro estava todo lá. O caixão de Glauber num canto e, a 50 metros, próximo à piscina, um telão. Era como se o ‘Glauber morto’ e o ‘Glauber vivo’ estivessem ali".
As câmeras invasivas atropelaram a privacidade de Lúcia Rocha, mãe de Glauber. “Teve um momento, que me agulhou aqui, no coração, em que fui conversar com o meu filho, meu último filho.
Norma Bengell e Paula Gaitán, viúva de Glauber. Foto de Carlos Freire/MAM.org |
Dona Lúcia proibiu a exibição do filme, assim como a família de Di Cavalcanti proibiu o filme do velório do pintor feito por Glauber.
Glauber morreu de choque bacteriano, provocado por broncopneumonia – que o atacava havia mais de um mês em Lisboa – na Clínica Bambina, no Rio de Janeiro. Tinha só 42 anos. A inquietação existencial, o furor criativo, a sabotagem do Sistema, minaram sua saúde.
Anecy Rocha. Foto Divulgação |
Paranoias comuns naqueles tempos estranhos em que, sob a ditadura militar, ninguém estava a salvo de uma morte violenta.
Seis anos antes, o grande educador Anísio Teixeira, que irritava os militares com suas ideias progressistas, foi encontrado morto no fosso do elevador de um edifício na Praia de Botafogo, sem marcas aparentes ou hematomas que comprovassem uma queda.
Coincidência incrível: Anísio nasceu em Caetité, Bahia, a 200 km em linha reta da Vitória da Conquista de Anecy e Glauber.