| Reprodução Manchete, 1957. |
sábado, 2 de maio de 2020
Economia: Paul Krugman assombra Brasília
O Brasil já havia construído uma tempestade política e econômica perfeita com o sociopata Bolsonaro no Planalto e o corretor Paulo Guedes na Economia. A chegada da Covid-19 e o modo desvairado com que o governo federal trata a pandemia é o excremento lançado sobre a diarreia. Nem a tragédia sanitária, com milhares de mortes, será capaz levar a dupla a rever suas ideias fundamentalistas que no pós-coronavírus serão mais ultrapassadas ainda. Ouvirão falar de uma coisa que desconhecem: melhor distribuição de renda como gatilho de desenvolvimento.
El País Internacional publica uma matéria ("La economía se hunde, la Bolsa sube: ¿qué está pasando") que mostra bem, por tabela, como é obsoleto o curralzinho ideológico e financeiro onde os dois pastam. Antes de refletir sobre a atual crise global impulsionada pelo vírus e diante da oscilação lucrativa do mercado financeiro em alguns centros - que consegue subir, mesmo com a perspectiva de quedas recordes no PIB mundial - o site cita frase de Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008, que ilustra bem o comportamento do mercado de ações, nesse momento, nos Estados Unidos, em meio à paralisação.
"Três regras devem ser lembradas. A primeira, que o mercado de ações não é a economia. A segunda, que o mercado de ações não é a economia. E a terceira, que o mercado de ações não é a economia. Não preste atenção ao Dow Jones, concentre-se nos postos de trabalho que estão desaparecendo".
A frase de Krugman pontua uma terrível contradição: Wall Street tem dias felizes no momento em que há 30 milhões de desempregados nos Estados Unidos.
Bolsonaro não faz a menor ideia de quem é Krugman, deve achar que marca de cereal matinal, passa batido quando ouve uma frase dessas. Guedes, um chicago boy que foi intelectualmente molestado por Milton Friedman, o pai do neoliberalismo, deve odiar Krugman com todas as forças. Outro dia, ameaçou pedir demissão, quis ir embora do playground e levar a bola pra casa, apenas porque o ministro da Casa Civil, Braga Neto, coordenou um esboço de um suposto e futuro programa de gastos públicos para impulsionar a economia pós-coronavírus.
O economista americano Krugman critica as políticas de austeridade, constata que no atual quadro a poupança não se torna investimento e só o investimento público permitirá a recuperação dos empregos.
Se alguém ousar levar um conceito desses ao Ministério da Economia, Guedes, o ministro que no ano passado passou uma guilhotina impiedosa nas verbas da Saúde e do SUS em especial, se revolta, entra em modo tresloucado, pode até atear fogo às vestes, às pantufas, e correr pelado na Praça dos Três Poderes.
El País Internacional publica uma matéria ("La economía se hunde, la Bolsa sube: ¿qué está pasando") que mostra bem, por tabela, como é obsoleto o curralzinho ideológico e financeiro onde os dois pastam. Antes de refletir sobre a atual crise global impulsionada pelo vírus e diante da oscilação lucrativa do mercado financeiro em alguns centros - que consegue subir, mesmo com a perspectiva de quedas recordes no PIB mundial - o site cita frase de Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008, que ilustra bem o comportamento do mercado de ações, nesse momento, nos Estados Unidos, em meio à paralisação.
"Três regras devem ser lembradas. A primeira, que o mercado de ações não é a economia. A segunda, que o mercado de ações não é a economia. E a terceira, que o mercado de ações não é a economia. Não preste atenção ao Dow Jones, concentre-se nos postos de trabalho que estão desaparecendo".
A frase de Krugman pontua uma terrível contradição: Wall Street tem dias felizes no momento em que há 30 milhões de desempregados nos Estados Unidos.
Bolsonaro não faz a menor ideia de quem é Krugman, deve achar que marca de cereal matinal, passa batido quando ouve uma frase dessas. Guedes, um chicago boy que foi intelectualmente molestado por Milton Friedman, o pai do neoliberalismo, deve odiar Krugman com todas as forças. Outro dia, ameaçou pedir demissão, quis ir embora do playground e levar a bola pra casa, apenas porque o ministro da Casa Civil, Braga Neto, coordenou um esboço de um suposto e futuro programa de gastos públicos para impulsionar a economia pós-coronavírus.
O economista americano Krugman critica as políticas de austeridade, constata que no atual quadro a poupança não se torna investimento e só o investimento público permitirá a recuperação dos empregos.
Se alguém ousar levar um conceito desses ao Ministério da Economia, Guedes, o ministro que no ano passado passou uma guilhotina impiedosa nas verbas da Saúde e do SUS em especial, se revolta, entra em modo tresloucado, pode até atear fogo às vestes, às pantufas, e correr pelado na Praça dos Três Poderes.
sexta-feira, 1 de maio de 2020
As teclas do Edgar nunca dormiam... • Por Roberto Muggiati
Em outubro de 1960, Zuenir Ventura e eu
chegamos a Paris para estudar um ano letivo no Centre de Formation des
Journalistes, como bolsistas do governo francês. A nossa foi a segunda edição
da bolsa, no primeiro ano foram escolhidos o Luiz Edgar de Andrade e um
paulista que na verdade queria era estudar teatro em Paris. Edgar – assim o
chamávamos – conseguiu um feito raro: a renovação da bolsa. Zuenir e eu bem que
tentamos, sem êxito. Luiz Edgar continuou em Paris, como correspondente do Jornal do Brasil, o que fazia com
extrema competência. Morávamos os três no mesmo andar da Maison du Brésil, na
Cité Universitaire.
Invariavelmente, quando passávamos pela porta do Luiz Edgar,
ouvíamos o matraquear da sua máquina de escrever portátil. Quando havia
silêncio, ele estava na rua a serviço ou folheando jornais e revistas
brasileiros no escritório da Panair, regido pela angelical Mademoiselle Liliane
Dubois. Zuenir era correspondente da Tribuna
da Imprensa, jornal onde trabalhava quando ganhou a bolsa. Eu, que
trabalhava na Gazeta do Povo de
Curitiba, rompi os vínculos com o jornal e com a cidade: depois de dois anos de
Paris e seis meses à toa em Curitiba, voltei à Europa para três anos no Serviço
Brasileiro da BBC, e daí para quase o resto da vida na Manchete, não fosse a autofalência de agosto de 2000.
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| As setas apontam para Roberto Muggiati, Brigitte Bardot e Françoise Arnoul. Reprodução Arquivo Pessoal. Clique nas imagens para ampliar |
Luiz Edgar, que não temia competição, municiava a mim e ao Zuenir com pautas quase todo santo dia. Foi graças a uma dica do Edgar que compareci – mais como voyeur e tiete – à missa de corpo presente de Vera Amado Clouzot, valendo-me do evento funéreo para respirar o mesmo metro cúbico de ar das minhas musas Brigitte Bardot e Françoise Arnoul. (Já contei essa história no PANIS, se quiserem, confiram https://paniscumovum.blogspot.com/2019/01/a-dupla-de-ouro-de-vertigo-e-as.html.)
Ao Luiz Edgar foi injustamente atribuída
uma das mais célebres fake news dos
anos 60 (na época não tinham esse nome e esta não passou de uma tremenda
“barriga”: a frase que o general-Presidente De Gaulle teria pronunciado durante
a Guerra da Lagosta, entre Brasil e França: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux...” Edgar sequer chegou a
publicar a frase no JB, dita, em bom
português, pelo então embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza,
que depois assumiria sua autoria.
Em sua rica e variada carreira, ele
andou também pela Bloch, na revista e na TV. Que o Edgar, um dos maiores
repórteres brasileiros de todos os tempos, descanse em paz. Guardarei para sempre
nossas belas lembranças de Paris que, na época, era realmente uma festa...
quinta-feira, 30 de abril de 2020
Luiz Edgar de Andrade (1931-2020): um mestre do jornalismo
| Luis Edgar de Andrade (na foto, ao lado do título) no Vietnã, pela Manchete, em 1968. |
| Trinta anos depois, também pela Manchete, a volta ao antigo cenário de guerra. |
| Em 1998, Luiz Edgar posa em Ho Chi Minh, antiga Saigon, com a camisa que reproduz a bandeira do Vietnã vitorioso e unificado. Reprodução |
por José Esmeraldo Gonçalves
Qual a melhor maneira de homenagear um grande jornalista senão relembrar um dos seus grandes momentos como repórter ?
Em 1968, Luiz Edgar de Andrade foi o enviado especial da Manchete ao Vietnã. Naquele ano, a base de Khe Sanh foi cercada e atacada por morteiros e foguetes lançados pelas tropas do Vietnã do Norte. Em quatro dos 77 dias em que durou o cerco, o cearense Luiz Edgard, de Fortaleza, estava lá. "Minha Guerra no Vietnã" foi o título da matéria que ele enviou com a dura realidade da guerra. Ele contava que a primeira frase que aprendeu no idioma local foi "bao chi, bao chi" ("não atirem").
| Luiz Edgard de Andrade. Foto: Memória Globo |
Luiz Edgar de Andrade morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 89 anos, vítima da Covid-19.
terça-feira, 28 de abril de 2020
Influencers à beira de um ataque de nervos
por Flávio Sépia
A publicidade nos meios de comunicação tradicionais era vista pelos leitores, ouvintes e telespectadores como algo dissociado da opinião, dos fatos e das matérias em geral veiculadas. Se Nelson Rodrigues escrevia, por exemplo, que "nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais", o mundo não vinha abaixo, nem anunciantes cancelavam suas inserções no Globo, Última Hora, Manchete Esportiva e Fatos & Fotos, onde ele foi colunista durante anos.
Atraídas por páginas com milhões de seguidores, as verbas publicitárias migraram para as redes sociais. Em blogs, twitter, instagram, you tube e facebook tudo é festa para os influencers até que um vacilo qualquer pode fazer a casa cair.
Demonstrações de racismo, de intolerância, de ostentação, de desprezo pelos pobres, de preconceito, de falta de noção, de ausência de civilidade ou pura ignorância por parte dos chamados influencers pode acabar em cancelamentos e em debandada de patrocinadores.
Há poucos dias, a blogueira Gabriela Pugliesi, que já contraiu coronavírus, decidiu ignorar o isolamento social e promoveu uma festinha de arromba. Ela postou fotos da badalação e os seguidores detonaram a irresponsabilidade. Em poucas horas, Pugliesi perdeu quase 200 mil seguidores. Não deve ter se preocupado muito. Só caiu na real quando marcas parceiras das suas páginas tiraram os times de campo.
A razão é que ao anunciar em redes sociais pessoais, as marcas avalizam, de certa forma e do ponto de vista dos seguidores, o pacote completo. Não há mais o distanciamento que ocorria entre as mensagem publicitárias e o conteúdo jornalistico ou opinativo em jornais, revistas, rádio e TV. A audiência não confundia um e outros. Nas redes sociais, a relação é mais intima e pessoal. Falar que "ama o sapato" da marca tal ou "adora o biquíni" da grife soa igual a "vender" expressões racistas ou de preconceito. Tudo é influência. Tanto o elogio e a recomendação quanto a intolerância ou o comportamento antissocial do (a) blogueiro (a) respingam diretamente na marca que apoia o sujeito (a).
Daí que, depois de tanto levar bordoada na internet, algumas marcas passaram a incluir nos contratos com os (as) influenciadores (as) uma cláusula que lhes dá o direito de cair fora, sem pagar multa, se o distinto dono das páginas fizer alguma merda que contamine o prestígio do anunciante.
Gabriela Pugliesi, só para citar o caso mais recente entre tantos, recebeu uma dura lição: cerca de dez anunciantes deram bye bye às suas páginas em respeito à forte reação dos internautas registrada em milhares de comentários que viralizaram na web.
Tem influenciador que vai acabar fazendo propaganda de fralda descartável tanto é o medo que sentem ao postar textos, fotos e vídeos. A vida não está fácil pra ninguém.
A publicidade nos meios de comunicação tradicionais era vista pelos leitores, ouvintes e telespectadores como algo dissociado da opinião, dos fatos e das matérias em geral veiculadas. Se Nelson Rodrigues escrevia, por exemplo, que "nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais", o mundo não vinha abaixo, nem anunciantes cancelavam suas inserções no Globo, Última Hora, Manchete Esportiva e Fatos & Fotos, onde ele foi colunista durante anos.
Atraídas por páginas com milhões de seguidores, as verbas publicitárias migraram para as redes sociais. Em blogs, twitter, instagram, you tube e facebook tudo é festa para os influencers até que um vacilo qualquer pode fazer a casa cair.
Demonstrações de racismo, de intolerância, de ostentação, de desprezo pelos pobres, de preconceito, de falta de noção, de ausência de civilidade ou pura ignorância por parte dos chamados influencers pode acabar em cancelamentos e em debandada de patrocinadores.
Há poucos dias, a blogueira Gabriela Pugliesi, que já contraiu coronavírus, decidiu ignorar o isolamento social e promoveu uma festinha de arromba. Ela postou fotos da badalação e os seguidores detonaram a irresponsabilidade. Em poucas horas, Pugliesi perdeu quase 200 mil seguidores. Não deve ter se preocupado muito. Só caiu na real quando marcas parceiras das suas páginas tiraram os times de campo.
A razão é que ao anunciar em redes sociais pessoais, as marcas avalizam, de certa forma e do ponto de vista dos seguidores, o pacote completo. Não há mais o distanciamento que ocorria entre as mensagem publicitárias e o conteúdo jornalistico ou opinativo em jornais, revistas, rádio e TV. A audiência não confundia um e outros. Nas redes sociais, a relação é mais intima e pessoal. Falar que "ama o sapato" da marca tal ou "adora o biquíni" da grife soa igual a "vender" expressões racistas ou de preconceito. Tudo é influência. Tanto o elogio e a recomendação quanto a intolerância ou o comportamento antissocial do (a) blogueiro (a) respingam diretamente na marca que apoia o sujeito (a).
Daí que, depois de tanto levar bordoada na internet, algumas marcas passaram a incluir nos contratos com os (as) influenciadores (as) uma cláusula que lhes dá o direito de cair fora, sem pagar multa, se o distinto dono das páginas fizer alguma merda que contamine o prestígio do anunciante.
Gabriela Pugliesi, só para citar o caso mais recente entre tantos, recebeu uma dura lição: cerca de dez anunciantes deram bye bye às suas páginas em respeito à forte reação dos internautas registrada em milhares de comentários que viralizaram na web.
Tem influenciador que vai acabar fazendo propaganda de fralda descartável tanto é o medo que sentem ao postar textos, fotos e vídeos. A vida não está fácil pra ninguém.
Fotomemória da redação: eles não usavam fraque e cartola
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| Eles não usavam... |
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| ...fraque e cartola. Reproduções Manchete |
Essas duas fotos publicadas na Manchete em abril de 1960 são da inauguração de Brasília, mas ainda dizem muito sobre o Brasil.
De fraque e cartola, Horácio Lafer, Israel Pinheiro e Juraci Magalhães provavelmente se sentiam no Buckingham a convite da Rainha Elizabeth ou em uma tarde de corridas no Hipódromo de Ascot.
Enquanto o trio de calça frouxa posava em modo cafonice colonizada em frente ao Congresso, o Fenemê trazia da Cidade Livre - a aglomeração de casas e barracos de madeira que abrigava os operários -, a comitiva de candangos que envergava "roupa de domingo", mais do que suficiente para a "turma do sereno", que não tinha acesso aos salões nobres.
Manchete quis mostrar a Capital da Esperança e exibiu sem querer o contraste da crônica desigualdade social do Brasil. Pouco depois da inauguração, parte daquela mão-de-obra permaneceu na capital, trabalhando na continuidade das construções. A maioria partiu em busca de outros canteiros de obras.
Eram os invisíveis. Nunca se soube quantos, mas sabe-se hoje que se multiplicaram.
Foi preciso chegar a Covid-19 para o Brasil descobrir que tem um população não identificada. O auxílio de R$ 600,00 que o Congresso autorizou o governo a distribuir mostrou, 60 anos depois, a não existência de 46 milhões de brasileiros invisíveis, pouco menos do que a população da Argentina. Uma legião de filhos da pátria amada que não têm conta em banco, acesso à internet, nem CPF ativo, não participam de grupos no whatsapp, não sabem onde o IBGE mora.
Em 1958, dois anos antes das fotos acima, começou a fazer sucesso no Teatro de Arena, em São Paulo, uma peça que tinha como tema a vida operária. Era "Eles não usam black tie", de Gianfrancesco Guarnieri.
Pois é.
domingo, 26 de abril de 2020
Fotógrafos da Magnum registram o Diário da Pandemia em todo o mundo
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| Abril, 2020 - Foto Bruno Barbey. Diário da Pandemia/Magnum Photos |
* O site da Agência Magnum está publicando um diário fotográfico dos efeitos do coronavírus no mundo. Hoje, entre outras, é exibida a foto acima, onde o psiquiatra aposentado Marc Windisch recita poemas para confortar os poucos transeuntes. A Torre Eiffel é testemunha. A foto é de Bruno Barney, que fez inúmeras reportagens para Manchete e cobriu para a revista, várias vezes, o carnaval carioca.
* Abaixo, foto de Lorenzo Meloni mostra a Torre de Pisa às escuras, em quarentena. Com a entrada de turistas no país sob veto e o deslocamento interno de viajantes sob controle, a Itália exibe cenas inimagináveis como essa. A volta à normalidade vai demora: o governo italiano pode manter restrições ao turismo até o fim do ano.
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| Março, 2020. Foto de Lorenzo Meloni/Diário da Pandemia/ Magnum Photos |
VISITE O DIÁRIO DA PANDEMIA DA MAGNUM PHOTOS, AQUI
sábado, 25 de abril de 2020
Meu nome é Brasil, mas pode me chamar de "cabaré em chamas"
por Ed Sá
São duas expressões que bombam na internet em torno das notícias sobre o governo que respira por aparelhos e talvez seja mantido assim até 2022.
São interessantes essas criações do povo. "Pega fogo, cabaré" e "fogo no parquinho" simbolizam o pânico pra quem está lá dentro. Há outras no gênero para esse momento de tosquice política. "Sururu na zona", por exemplo, é coisa complicada, tal como está. "Zona" já diz tudo, acrescente o "sururu" e você terá uma bela encrenca. "Suruba sem lei" não é prática recomendada. Há que ter um mínimo de coordenação ou a conjuntura se descontrola. Em "briga de foice no escuro" , o sujeito não sabe de ondem vem o golpe. "Mais perdido do que cego em tiroteio" se encaixa bem na desorientação do Planalto. "Quem tem cu tem medo" justifica a "cautela" demonstrada por alguns ministros que tentam garantir a cadeira.
Juntas ou separadas, as falas do povo são mais verdadeiras do que coletivas e pronunciamentos.
Em matéria-bomba publicada hoje, The Intercept Brasil lança nos TTs uma expressão de profundo significado. É o título acima reproduzido de uma reportagem sobre uma investigação do MP. Leia AQUI
Canções contra o fascismo: Recorde esse belo dia 25 de abril em dose dupla
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| Itália Livre! A notícia da vitória sobre o fascismo e o nazismo. |
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| Portugal festeja o fim da ditadura fascista de Salazar. |
No dia 25 de abril de 1945, a resistência italiana, os heroicos partigiani, anunciaram no rádio a retomada dos últimos redutos fascistas e nazistas.
No dia 25 de abril de 1974, Portugal recuperou a liberdade depois de mais de 40 anos da ditadura fascista de Salazar.
Distantes no tempo, as duas conquistas tornaram célebres duas canções que marcaram aqueles dias e inspiram até hoje a reação dos povos contra o autoritarismo e e as ditaduras. Uma ameaça sempre presente. Que o diga o Brasil atual.
Ouça Bella Ciao, a canção que foi a trilha sonora do comunicado dos partigiani nas rádios. AQUI
E ouça Grândola Vila Morena, a canção que foi a senha para a deflagração da Revolução dos Carvos, AQUI
Diversão na quarentena: o Circo Bolsonaro deu espetáculo na internet
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| Foto Carolina Antunes/PR |
por O.V.Pochê
Em uma sexta-feira com cara de qualquer dia - como são todos na quarentena - Bolsonaro garantiu diversão na sessão da tarde. O pronunciamento já foi especial. Um amontoado de ideias soltas, um samba - samba não, que ele não é disso - um hino marcial do presidente doido. O aquecimento da piscina, os cartões corporativos, Marielle, a facada, o namoro do filho etc. Pouco falou sobre o foco do problema - a interferência na PF - e o que falou o ex-ministro Sergio Moro logo desmentiu, com provas.
Mas o que intrigou a internet foi o movimento pendular do ministro da Saúde, Nelson Teich, o olhar de peixe morto, a inquietação. As redes sociais se perguntavam se ele estava bem. Houve quem explicasse que ele estava tentando "entender o vírus". Coisa que ele repete desde que tomou posse e nada mais fez.
O outro mistério era Paulo Guedes, o único de máscara, o único desprovido de paletó e o único sem sapato social. A dúvida era se ele estava apenas de meias ou de pantufas. Guedes consultava o relógio, parecia não ver a hora de voltar para o sofá. Aparentava ter sido convocado às pressas ou conduzido "coercitivamente" para reforçar a figuração do pronunciamento. Uma tarde de saltimbancos.
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Brasil revê filme antigo e mostra que tem um "cidadão acima de qualquer suspeita"
Em 1970 um filme levantou debates nos botecos cariocas. Era uma época em que cinema de rua era ponto de encontro e mesa de bar uma espécie de tribuna para opiniões sobre o que acabava de ser visto na tela. "Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita", do diretor Elio Petri com Gian Maria Voloté e Florinda Bolkan, marcou aquela geração.
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| No filme, Gian Maria Volonté representa a autoconfiança dos poderosos que se sentem livres para cometer crimes sem que a lei os alcance. |
Trata de abuso de poder, corrupção e manipulação da moral e da ética. Volonté é um chefe de policia tão confiante na sua impunidade que mata a amante e espalha na cena do crime um conjunto de provas contra ele mesmo. Movido por um tipo de vaidade, quer apenas demonstrar que, por mais que os colegas identifiquem autoria, jamais o responsabilizarão pelo assassinato. Afinal, é poderoso, tem posição hierárquica e se julga inatingível.
Se esse roteiro de arrogância lhe remeter a algum acontecimento que, nesse momento, abala o Brasil, você não está sozinho.
O personagem de Gian Maria Voloté acaba de ser clonado por Bolsonaro. Não que na ignorância que lhe é peculiar o capitão inativo saiba lá que filme é esse .
Nesse episódio de interferência na Polícia Federal para supostamente proteger a família, ele espalha todas as pistas e digitais possíveis. Desafia a lei. Faz questão de deixar claro que se sente impune e que pode cometer todos as irregularidades ou crimes que quiser contra a Constituição, como participar de manifestação que pede o fechamento do Congresso e do STF e pregar a volta da ditadura. É o nosso "cidadão acima de qualquer suspeita".
Pandemia é cultura: livros, filmes e reportagens investigativas contarão a história e os bastidores do ataque do corona...
Era inevitável. Nos próximos meses, a Covid-19 vai se transformar em produto cultural. Filmes, de ficção ou documentários, livros, reportagens investigativas, exposições de fotos... Como parte das disputas geopolíticas surgirão revelações, muitas fake news, documentos do Wikileaks ou equivalentes.
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| Foto Weibo/Reprodução |
A escritora chinesa Fang Fang sai na frente. Seu livro "Diário de Wuhan" começa a circular. São previstas edições em inglês, alemão e francês.
Fang é uma romancista conhecida na China, o que aumenta a repercussão do seu relato e já provoca polêmica no país desde a publicação de 60 textos na internet narrando o pavor, o desespero, a revolta na cidade isolada.
Fang é aplaudida por muitos chineses e criticada por outros, que alegam "traição". Muitos acham que a escritora não deveria ter levado ao exterior "motivos para a China ser criticada".
Fotomemória: Marisa Berenson no susto, ou quase. Por Guina Araújo Ramos
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| Marisa Berenson - Rio, 1978 - Foto Guina Araújo Ramos |
por Guina Araújo Ramos (do Blog Bonecos da História)
Ao recordar (em Ivan Locci e os perigos que ressurgem) o drama do garoto italiano que foi vítima, no início da década de 1980, de pesadas queimaduras causadas pelo uso descuidado do álcool 70° - um risco que retorna agora, espécie de subproduto da pandemia do COVID-19 - pude também relembrar o seu benfeitor, o cirurgião-plástico Ivo Pitanguy, que praticamente refez nele um rosto quase destruído.
O garoto foi beneficiado pela assumida missão caridosa de Pitanguy, uma obra social (mas pessoal) a que se doava, enquanto atendia, em paralelo, seus muitos clientes, todos famosos, abonados e fundamentalmente vaidosos, e sempre, dadas as circunstâncias, altamente discretos.
Foi bem o caso da estrela cinematográfica, modelo, design de joias, vegetariana holística etc, a atriz Marisa Berenson.
Se a fotografei, em 1978, foi no mais puro estilo paparazzo, na sua saída, altas horas da noite, da clínica do nosso sempre bem relembrado Ivo Pitanguy, que a atendera de forma dita “emergencial”, por conta de um acidente de trânsito em Angra dos Reis, durante as filmagens de uma produção multinacional, Greed, conforme o texto do coleguinha José de Arimatéia na matéria da revista Manchete, de título um pouco exagerado... Um filme que ficou praticamente desconhecido, uma surrealista história que vai do roubo de esmeraldas a um ciclone que causa naufrágios, e que, tendo mesmo ganância como mote, acabou recebendo o estranho título de “O Peixe Assassino”, e vou tentar assistir.
Foram poucas as minhas experiências como paparazzo, e geralmente frustradas, como no caso de Ronnie Von em lua-de-mel no Copacabana Palace (que depois eu conto).
Pois daquela vez deu certo!... Fiquei desde a tarde de plantão na Rua D. Mariana, em Botafogo, sabíamos que ela estava lá. Por volta de dez da noite, veio meu substituto, o colega Paulo Soler (um estudante de Engenharia que, por vários anos, fez o plantão da noite da Bloch Editores, e é hoje Tecnologista em Propriedade Industrial no INPI, Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
É exatamente Paulo Soler que aparece na foto da saída do carro da clínica, que fiz do outro lado da rua, com o equipamento da empresa, Nikon F com lente normal e flash Metz tipo “tocha”, um conjunto muito pesado, mas, numa hora dessas, bastante eficiente (apesar de criar sombras na lateral direita do objeto, se a imagem tinha fundo claro).
Esta foto já salvava a matéria, o emprego, quiçá, a pátria!... Mas, fiquei feliz, minha estratégia era tão correta que me dei bem demais! Quando o carro virou à esquerda, pegando a mão da rua, apenas me aproximei da janela (para evitar o reflexo do flash no vidro), enquadrei a artista, que percebi postada no lado esquerdo do banco de trás e fiz a foto. Tudo praticamente no susto, embora, visto o resultado, possa parecer uma foto posada.
Tenho para mim que, não tendo sofrido qualquer notável mácula no seu muito apreciado rosto, ela ficou até satisfeita de ser assim fotografada: afinal, era a prova de que saíra incólume do acidente.
Pelo menos, é como interpreto seu belo meio sorriso ao encarar o flash (e ficaram lindos os seus olhos!), mostrado não ter se assustado com o intempestivo fotógrafo, mais um entre tantos...
Ficamos todos bem, eu, Arimatéia e Soler nos nossos trabalhos para a Bloch, e Marisa Berenson, voltando ao set de filmagem e à sua espetacular carreira profissional.
MAIS MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA AQUI
quinta-feira, 23 de abril de 2020
Comunicação: governo quer imprensa "cor de rosa" na pandemia e faz peça publicitária com estética europeia, só com crianças brancas
O general está preocupado com as senhoras idosas que podem ficar deprimidas com tantos números de contaminados e mortos divulgados na horado jantar. A verdade negativa não interessa. Mais ou menos essa é linha de Kim-Jong-Un e de países como o Turcomenistão, que até proibiu a palavra coronavírus.
Curiosamente, o general não critica o chefe dele, o capitão inativo, que prestigia aglomerações descontroladas e favorece a propagação do vírus, do qual o grupo de risco das velhinhas é a vítima maior. Se não quiser ler notícias ruins, e virão muitas por aí, melhor o general tirar uma licença e curtir uma quarentena no Disney World. Mickey, Pateta, Donald e os sobrinhos não estão no grupo de risco - só Tio Patinhas, o único em isolamento - e até agora não perderam nenhum parente. Lá só tem notícia boa.
Só crianças brancas em um país onde negros são maioria. Nem original a foto é: os criadores da peça, talvez por sonolência ou preguiça, apenas foram ao Google, descolaram um banco de imagens e escolheram a foto que, para eles, mais representa o Brasil.
As redes sociais pegaram a comunicação do Planalto no flagra e descobriram que a mesma foto das crianças europeias já foi usada em várias campanhas internacionais.
Fotojornalismo: o trabalho que não pode ser remoto...
Repórteres fotográficos estão na linha de frente da cobertura da pandemia de COVID-19 na América Latina
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| Velório improvisado na mala do carro em São Paulo. Foto: Yan Boechat (link abaixo) |
por Julio Lubianco - do Blog Jornalismo nas Américas
A pandemia do Covid-19 mudou a rotina de jornalistas no mundo inteiro. A regra é trabalhar de casa e na América Latina muitas redações se adaptaram à situação. Isso vale para repórteres, editores e designers.
No entanto, um grupo de profissionais de imprensa não têm esta possibilidade: fotojornalistas precisam estar nas ruas para retratar a crise de perto. No caso deles, a rotina foi alterada, com medidas de segurança e proteção comparáveis às necessárias na cobertura de conflitos armados.
É o caso do brasileiro Yan Boechat, que tem ampla experiência na cobertura de conflitos armados pelo mundo, em lugares como Afeganistão, Líbano e Iraque. Atualmente, está engajado na cobertura da pandemia nas ruas de São Paulo, a maior cidade da América Latina, e tem encontrado semelhanças com as guerras que cobriu:
“Estamos num processo inicial de algo que talvez se pareça com situação de conflito, com muitas vítimas e a incapacidade dos serviços de saúde de tratar todo mundo. Há um paralelo também com a incerteza sobre como a situação vai se desenrolar, sem saber o que vai acontecer. Eu fico angustiado de não saber se estou indo para o lugar certo, de não estar cobrindo a coisa certa”, disse Boechat ao Centro Knight.
Como freelancer, publicou reportagens sobre a pandemia de coronavírus na Folha de S. Paulo e no Yahoo Notícias. Na falta de repórteres de texto que o acompanhem, ele mesmo apura e escreve as reportagens, já que passou boa parte da carreira como repórter e editor de texto antes de incorporar a fotografia no rol seu rol de atividades.
“A cobertura tem sido muito remota. Não tem muita gente fazendo matéria. Tem gente, mas é pouco. Encontrei fotógrafo de um grande jornal numa favela. Ele relatou que estava ali sozinho porque nenhum repórter quis ir pra rua. É óbvio que tem risco envolvido e cada um sabe do risco a que quer se expor. Uma crise como essa, que é uma crise humana, o foco principal das histórias é gente morrendo, perdendo a vida. Fazer a cobertura remotamente a torna fria, distante. É um momento de o repórter estar na rua, mas entendo quem não quer correr esse risco, é uma decisão particular”, disse Boechat.
Para minimizar o risco de contágio, tem se equipado com máscaras e luvas, além de desinfetar todo o equipamento fotográfico que carrega diariamente. Em busca de histórias, o jornalista tem feito plantões nos cemitérios e grandes hospitais da cidade, além de visitar áreas periféricas e pobres da cidade. E foi graças ao trabalho na rua que pôde antecipar o que os números confirmaram mais tarde: o aumento do número de mortes e o desafio de enterrar vítimas do coronavírus.
“Fui no cemitério, dei plantão em porta de cemitério, para ver se estava aparecendo vítima da Covid-19. Encontrei bastante vítimas quando os números ainda não mostravam isso. (...) A questão das despedidas solitárias, a incerteza de como a se morte se deu, é um assunto que veio à tona. É uma parte muito doída deste processo. Não pode ver o corpo, não poder olhar nem dar o último adeus”.
Risco adicional para freelancer sem contrato fixo
Para o salvadorenho Juan Carlos, uma das maiores preocupações na cobertura da pandemia é o risco de se contaminar e precisar interromper o trabalho. Como freelancer para publicações estrangeiras, ele é responsável por garantir a própria segurança, seu seguro de saúde e do seu equipamento.
"Sair para cobrir essa pandemia é como cobrir uma frente de batalha. Quando você está em uma zona de conflito ou zona de risco de pandemia, precisa fazer um plano de preparação, pensar nas situações que pode encontrar e como sair delas. O mesmo aqui. Você precisa ter sua atenção em 1000%, como em uma zona de conflito. (...) Nós, como freelancers, não temos seguro de saúde. Você se fornece tudo. Ninguém responderá por você", disse ao Centro Knight Juan Carlos, que, entre outros conflitos, cobriu a Batalha de Mossul, no Iraque.
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