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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Fotomemória: Marisa Berenson no susto, ou quase. Por Guina Araújo Ramos

Marisa Berenson - Rio, 1978 - Foto Guina Araújo Ramos

por Guina Araújo Ramos (do Blog Bonecos da História)

Ao recordar (em Ivan Locci e os perigos que ressurgem) o drama do garoto italiano que foi vítima, no início da década de 1980, de pesadas queimaduras causadas pelo uso descuidado do álcool 70° - um risco que retorna agora, espécie de subproduto da pandemia do COVID-19 - pude também relembrar o seu benfeitor, o cirurgião-plástico Ivo Pitanguy, que praticamente refez nele um rosto quase destruído.

O garoto foi beneficiado pela assumida missão caridosa de Pitanguy, uma obra social (mas pessoal) a que se doava, enquanto atendia, em paralelo, seus muitos clientes, todos famosos, abonados e fundamentalmente vaidosos, e sempre, dadas as circunstâncias, altamente discretos.

Foi bem o caso da estrela cinematográfica, modelo, design de joias, vegetariana holística etc, a atriz Marisa Berenson.



Se a fotografei, em 1978, foi no mais puro estilo paparazzo, na sua saída, altas horas da noite, da clínica do nosso sempre bem relembrado Ivo Pitanguy, que a atendera de forma dita “emergencial”, por conta de um acidente de trânsito em Angra dos Reis, durante as filmagens de uma produção multinacional, Greed, conforme o texto do coleguinha José de Arimatéia na matéria da revista Manchete, de título um pouco exagerado... Um filme que ficou praticamente desconhecido, uma surrealista história que vai do roubo de esmeraldas a um ciclone que causa naufrágios, e que, tendo mesmo ganância como mote, acabou recebendo o estranho título de “O Peixe Assassino”, e vou tentar assistir.

Foram poucas as minhas experiências como paparazzo, e geralmente frustradas, como no caso de Ronnie Von em lua-de-mel no Copacabana Palace (que depois eu conto).

Pois daquela vez deu certo!... Fiquei desde a tarde de plantão na Rua D. Mariana, em Botafogo, sabíamos que ela estava lá. Por volta de dez da noite, veio meu substituto, o colega Paulo Soler (um estudante de Engenharia que, por vários anos, fez o plantão da noite da Bloch Editores, e é hoje Tecnologista em Propriedade Industrial no INPI, Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

É exatamente Paulo Soler que aparece na foto da saída do carro da clínica, que fiz do outro lado da rua, com o equipamento da empresa, Nikon F com lente normal e flash Metz tipo “tocha”, um conjunto muito pesado, mas, numa hora dessas, bastante eficiente (apesar de criar sombras na lateral direita do objeto, se a imagem tinha fundo claro).

Esta foto já salvava a matéria, o emprego, quiçá, a pátria!... Mas, fiquei feliz, minha estratégia era tão correta que me dei bem demais! Quando o carro virou à esquerda, pegando a mão da rua, apenas me aproximei da janela (para evitar o reflexo do flash no vidro), enquadrei a artista, que percebi postada no lado esquerdo do banco de trás e fiz a foto. Tudo praticamente no susto, embora, visto o resultado, possa parecer uma foto posada.

Tenho para mim que, não tendo sofrido qualquer notável mácula no seu muito apreciado rosto, ela ficou até satisfeita de ser assim fotografada: afinal, era a prova de que saíra incólume do acidente.
Pelo menos, é como interpreto seu belo meio sorriso ao encarar o flash (e ficaram lindos os seus olhos!), mostrado não ter se assustado com o intempestivo fotógrafo, mais um entre tantos...

Ficamos todos bem, eu, Arimatéia e Soler nos nossos trabalhos para a Bloch, e Marisa Berenson, voltando ao set de filmagem e à sua espetacular carreira profissional.

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