por José Esmeraldo Gonçalves
A Copa do Mundo se aproxima e o assunto futebol ganha força fora do jornalismo especializado. As redes sociais questionam ultimamente se o torcedor deve comprar a nova camisa da seleção lançada essa semana. A discussão faz sentido e expõe opiniões distintas. Há quem ache que a camisa amarelinha deve ser resgatada do bolsonarismo que a tornou o uniforme de manifestações antidemocráticas. Outro grupo desistiu da amarelinha e considera que a extrema direita a emporcalhou de vez.
O Globo de hoje entra na polêmica, publica matéria de uma página sobre o assunto e revela que a CBF corre para lançar uma campanha com o objetivo de "despolitizar" a camisa.
Em 1970, com a seleção na última hora invadida por militares - havia tantos milicos na comissão técnica que até parecia o atual governo - uma discussão semelhante agitava a esquerda: torcer ou não pelo Tri que seria usado pelo marketing da ditadura? Na época, à medida que o Brasil brilhava no México, a genialidade e a garra de Pelé, Rivelino, Tostão, Carlos Alberto, Jairzinho, Gerson e Brito e companhia conquistaram os torcedores. Alguns presos políticos confessaram depois em entrevistas e livros que ficou difícil não torcer pela seleção.
Pouco antes do Natal de 1969, embora a data da edição indique 1º de janeiro de 1970, a Fatos & Fotos publicou uma capa com Simonal fantasiado de Pelé e Pelé vestido de Simonal (curiosamente, como se vê, a revista deu mais importância à dupla de ídolos do que à morte do general Costa e Silva que teve direito apenas a uma chamada).
O cantor vivia o auge do sucesso, era uma unanimidsde nacional. Dois anos depois dessa capa, contudo, ele preparou para si mesmo uma tremenda armadailha: convocou amigos da polícia para pressionar seu contador, Raphael Viviani, e forçá-lo a admitir que havia desviado dinheiro da empresa Wilson Simonal Produções. A polícia, sabe como é, sequestrou e torturou Viviani que denunciou o crime e acrescentou que Simonal havia presenciado tudo. O caso explodiu nos jornais e nas revistas. Ao final, em rumoroso julgamento, o artista, condenado por extorsão e sequestro, foi preso por alguns dias, mas logo ganhou o direito de cumprir a pena em prisão domiciliar. Nunca foi inocentado, como muitos pensam, e a pena talvez pior do que o veredito da lei e que praticamente acabou com a sua carreira foi o boicote e o cancelamento, como se diz hoje. Ele também foi chamado de dedo-duro por alguns artistas, mas essa acusação nunca foi provada nem virou processo. Simonal tentou, por várias vezes, retomar o sucesso, mas a marca de ligações com a ditadura foi mais forte.
Em 1975, a redação da Fatos & Fotos, que funcionava no sétimo andar do prédio do Russell, foi surpreendida pela chegada de Simonal, o próprio. O cantor estava acompanhado de uma figura da Bloch, da publicidade, com notórias ligações com o meio policial do regime militar. Os dois conversaram com o diretor da revista sobre o desejo de Simonal de dar uma entrevista para a FF falando sobre a carreira, os novos rumos e passos, mas pediam a "garantia" de que a matéria não voltasse a falar do caso policial que havia sido objeto de várias matérias na Fatos & Fotos e na Manchete. A entrevista, pelo menos naquela ocasião, não foi feita, apesar de Simonal conhecer o repórter escalado, Luiz Carlos de Assis, da Amiga.
O Simonal dos tempos de sucesso tinha intimidade com a Bloch. As três revistas semanais da editora fizeram centenas de reportagens e entrevistas com ele, que atendia a todas, inclusive posar produzido para capas em horas de estúdio.
Na última quinta-feira, a propósito, a página Grandes Esquadrões e Grandes Jogadores, do Facebook, reproduziu a capa da Fatos & Fotos e recordou a polêmica acima, mas o principal tema do post era uma história sensacional. Simonal tinha passe-livre nos treinos e na concentração da seleção de 70 e se imaginava bom em tudo. Os jogadores bolaram uma pegadinha para o cantor convencendo-o que, com a dispensa inesperada do jogador Rogério, ele poderia ser convocado para preencher a vaga. Já estava no México, dizia que era bom de bola, argumentaram, mas Zagalo, que entrou na brincadeira, queria que ele particiasse de um treino. Simonal teria acreditado na gozação e o "treino" foi um desastre.
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