segunda-feira, 22 de agosto de 2022

A 'motociata' do coração de Pedro I


Reprodução Folha de 22/8/2022

Reprodução O Globo - 1972

por Flávio Sépia 

Em 1972, o período mais violento e infame da ditadura, Garrastazu Médici celebrava o Sesquicentenário da Indepêndencia do Brasil. Portugal, também sob uma ditadura, era governado por Marcelo Caetano, herdeiro político do ditador Antonio Salazar. E foi assim, com um pacto entre autocratas, que os restos mortais de Pedro I foram importados pelo Brasil. 

Aqui, o governo militar organizou uma longa peregrinação da ossada pelo país. Pedro I não teve descanso: passou cinco meses entrando e saindo de aviões e, pior, ouvindo discursos ufanistas de prefeitos e governadores. 

Meio século depois, a República continua a perturbar o imperador: o governo protomilitar de Jair Bolsonaro mandou vir de Portugal o coração do imperador acomodado em formol e guardado em algo parecido com um vidro de picles de luxo. O propósito: comemorar os 200 anos da Independência. 

A história registra muitos casos parecidos, todos mórbidosExpor o coração de alguém é o auge da invasão de privacidade? Talvez não. O Museu do Erotismo, em São Petersburgo guarda um vidro com álcool ou, quem sabe,  vodca, com o suposto pênis de Rasputin dotado de 28 cm. Tal medida e não seus poderes sensoriais podem explicar o sucesso do bruxo entre todos os gêneros da corte dos Romanov.

Lênin repousa embalsamado na Praça Vermelha, em Moscou. Repousa não é bem o termo. O mausoléu é visitado diariamente por milhares de turistas. É um paradoxo, mas o único período em que Lênin descansou foi durante a Segunda Guerra Mundial quando, por precaução, diante da ameaça nazista às portas de Moscou, o corpo foi levado para a Sibéria. 

Visitar o túmulo de Napoleão Bonaparte, em Paris, na igreja da Cúpula dos Inválidos, é também um progama turístico. O que nem todos os visitantes sabem é que falta algo aos restos mortais do "pequeno corso". Quando ele morreu no exílio, em 1821, o médico que fez a autópsia teria retirado o pênis, com o qual presenteou um padre da paróquia local. Desde então, o órgão percorreu roteiro impreciso. O padre, provavelmente, gostou do presente tanto que o guardou até a morte.  Só em 1916, a partícula napoleônica chegou a um colecionador britânico e entrou em um bizarro mercado de compra e venda. Em 1977, um urologista teria adquirido a "bimba', que tem literalmente em repouso apenas 4 cm. 

Comentaristas políticos supõem que Bolsonaro usará o resquício de D. Pedro como peça da campanha eleitoral. É possível. Entre os apoiadores do sujeito estão os monarquistas. Espera-se, pelo menos, para não extrapolar a bizarrice, que Bolsonaro não leve o coração para a anunciada motociata de 7 de setembro. 

Um comentário:

Isabela disse...

Que nojento tudo isso