No próximo dia 1°, uma quarta-feira, a falência da Bloch Editores completa 18 anos.
Não é uma data para comemorar.
Não apenas pelo fim de milhares de empregos, mas pelo surrealismo de um processo falimentar demorar tanto. É uma triste tradição brasileira. Ainda há profissionais da extinta Bloch que não foram indenizados. Outros, a maioria, receberam indenizações trabalhistas, mas a Massa Falida ainda lhes deve boa parte da correção monetária sobre esses valores, decorridos anos do fim da empresa.
Massas falidas são autofágicas. Quanto mais demora a conclusão mais a estrutura burocrática e de manutenção consome parte dos bens que deveriam garantir os direitos preferenciais dos trabalhadores e dos demais credores.
Foi há pouco mais de 10 anos que Carlos Heitor Cony publicou a crônica acima, na Folha de São Paulo. Em um trecho, Cony cita um conselho para que cada um (dos funcionários) vá à luta. A partir daquele momento ficou claro que seria mesmo cada um por si e a burocracia contra todos na angustiante busca pelos seus direitos. Cony descreve um dia que, para muitos, foi o primeiro de um tempo de dificuldades, de desesperança.
Durante três ou quatro anos, milhares de ex-funcionários entraram com processos, como é de praxe. Praticamente nada aconteceu, como também é de praxe em falências que invariavelmente levam a uma via crucis. Houve um ex-funcionário que preferiu acreditar que a tática do "cada um por si" levaria à apatia, à inação, à derrota. José Carlos Jesus buscou canais junto às autoridades e mobilizou colegas que, unidos, criaram a Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores. Foram realizadas dezenas de assembleias no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Os credores trabalhistas deixaram de ser invisíveis e se fizeram presentes diante das autoridades. Os pagamentos dos valores principais começaram a ser realizados, assim como, tempos depois, o pagamento de algumas parcelas da correção monetária.
Há cerca de quatro anos, mudanças de orientação impostas pelo síndico da Massa Falida da Bloch Editores simplesmente interromperam a quitação da correção monetária. Por uma questão de reconhecimento e respeito, José Carlos Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores, tem ressaltado as atuações da Dra. Juíza Maria da Penha Nobre Mauro, da 5ª Vara Empresarial, e do Promotor Público Dr. Leonardo Marques, destacando a atenção e a sensibilidade que demonstram, ao rigor da lei, às posições dos credores trabalhistas. "Com isso contam os ex-funcionários da Bloch" - completa José Carlos - "para serem atendidos com dignidade ao solicitarem a liberação do pagamento de mais uma parcela da correção monetária".
Para os ex-funcionários, o desafio, agora, com a falência alcançando a maioridade, é permanecerem unidos para voltarem a ser ouvidos nas suas reivindicações, que nada mais são do que o cumprimento de acordos e a restauração de direitos legítimos.
O rastro da falência. A antiga imagem é de uma das mesas abandonadas no laboratório fotográfico da Bloch. Foto bqvManchete |
Massas falidas, independentemente de quem as administra, cuidam, quando cuidam, dos números, das indenizações. Ao recordar o dia dramático em que o edifício da Manchete foi lacrado e os funcionários que ali trabalhavam receberam ordens para deixar o local em questão de minutos, Cony assinala o dano que ninguém indeniza: o dano moral que atingiu quem viveu um dia daqueles.
"Um dia para não esquecer", nas palavras do saudoso jornalista e escritor.
4 comentários:
Trabalhei 14 anos no parque gráfico de parada de Lucas,na brigada de incêndio,os dois últimos anos foram os piores da minha vida. Sem salário,sem água e luz! Mas mantendo a esperança,que a situação poderia voltar ao normal. Tudo que consegui com suor e muito trabalho,construir uma família e criar meus filhos,agradeço ao sr Adolfo bloch!ainda tenho esperança de receber a correção monetária da minha indenização! Obrigado a esse blog,pela atenção dada aos ex funcionários da nossa querida e extinta bloch editores...
Mappin, Encol, tem um monte de empresas que faliram a muito tempo e steahoje a justiça enrola os prejudicados. Iso e Brsil
Varig tambem faliu e deixou injustiça. Os mais fracos sempre perdem
Mensagens encaminhadas ao blog por José Carlos, presidente da CEEBE:
Muito triste, amigo.
O mesmo ocorreu no Parque Gráfico. Deixamos nossa juventude e adorávamos o que fazíamos.
Sem palavras.
Gd abraço, podes contar comigo.
Genilda.
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Prezado amigo, de fato tem sido uma vida de muita luta e vc o nosso protagonista desta guerra, sem o qual não chegaríamos aonde chegamos.
Muita coisa a fazer e sabemos disso. Santos
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Muito triste, Zé sempre grata a você torcendo que
aconteça alguma coisa "boa" . Já sofremos
muito!
Bjs e ótimo dia
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