É uma espécie de seita. Tem dogmas, tem sacerdotes, tem fiéis, tem templos e tem até beatos, beatas e semideuses. É o Mercado. Nos últimos anos, mais do que os eleitores, é essa entidade sombria que dirige os destinos de muitas nações e influencia políticos.
Alguns países, com instituições mais fortes e legítimas, impõem um certo controle à turba financeira, mesmo que esses controles tenham decaído na última década. Basta dizer que apesar da grande crise dos mercados em 2008 não foram aperfeiçoados os mecanismos de fiscalização dos sistemas financeiros globais.
Países desenvolvidos, dotados de uma grande mídia capitalista, como a brasileira, mas de pensamento variado e não manobrado em bloco corporativo como temos aqui, são mais críticos em relação à autonomia e a influência político-administrativa do Mercado. Aqui, a grande mídia reza ao lado do rentismo
Com instituições influenciáveis, o Brasil é campo aberto para a nova e lucrativa "religião". Se antes, o tráfico de dinheiro já se dava tranquilo e favorável para as diversas facções financeiras, com o golpe e o Mercado efetivamente no poder o terreno tornou-se ainda mais favorável.
A "religião" tem adoradores entre os economistas e porta-vozes entre os jornalistas. Depois de colocarem Temer no Planalto os interesses do Mercado e seus crentes parecem estar reavaliando o processo. Dizem que o ilegítimo só faria sentido se aprovasse as reformas. Se não tem condições para isso, o Mercado bate o martelo, mas, pregam os porta-vozes, Henrique Meireles e a equipe econômica que a seita botou lá têm que ficar, caso Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, assuma o poder.
Há rumores de que Maia "não gosta" de Meireles. Isso fez tocar o alarme dos jornalistas porta-vozes do Mercado. Hoje mesmo já batem tambores pela permanência de Meireles, ex-executivo da JBS e dileto funcionário de Joesley Batista. Títulos em primeira página informam que o Mercado pode retirar apoio a Temer. E fica claro que só nessa condição Temer cairá. Com Meireles e a equipe do Mercado no governo mantidos em seus postos. Em estado de úmida fé orgásmica, colunistas concordam.
Charge de Duke/Facebook |
O Mercado é governo e, com o forte apoio da velha mídia, interfere diretamente na administração. Pressiona, por exemplo, para o fim do BNDES como banco de fomento e defende que a instituição pratique juros de mercado para não configurar "concorrências desleal" com os gigantes financeiros. Os jornalistas porta-vozes na grande mídia concordam e fazem campanha para isso em suas colunas diárias. Com o pretexto de combater o suposto favorecimento político a grandes corporações, as forças do Mercado agem para decretar o fim do papel social do BNDES no apoio a médias e pequenas empresas.
A oração do Mercado que os seus fiéis mais rezam, descabelados e com vozes roucas de fanatismo, é o desmonte de toda e qualquer estrutura pública de interesse social e uma maior concentração de renda que se era inaceitável agora passa ao nível criminoso.
O Brasil certamente sairia ganhando se, um dia, os crentes e beatos da "religião" do Mercado obedecessem cegamente a um líder carismático e se reunissem em congresso na Guiana. Com Jim Jones.
2 comentários:
O que sinto vergonha alheia é a elite brasileira ser tão egoista e tão atrasada. Não ter olhos para que um país só é bom e desenvolvido se tem distribuição de renda decente. Leio esses jornais e TV tristemente reproduzindo as ideias feudais, ideias atrasadas e incivilizadas, de uma classe que tudo quer, que rouba do dinheiro público e aí ladrões como a gente ver não são apenas politicos mas grandes empresários. Pobre Brasil.
Totalmente legítima a ação das senadoras. Foi um protesto. Jornalistas mentem quando dizem que havia possibilidade de negociação. Até a promessa de veto do Temer a alguns absurdos que foi negociada até mesmo entre a base aliada a Camara e o próprio Temer que deu aval a negociação já disseram que não vão cumprir o acordo, isso é estelionato políticos. Acho que ações desse tipo devem ser repetidas em um Congresso dominado por corruptos e que fazem o jogo de poder dos corruptos.
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