sexta-feira, 14 de julho de 2017

Para se livrar de processo, Temer só precisou adicionar alguns deputados como "amigos" e bloquear outros

por O.V. Pochê 
Na série House of Cards, o político Francis Underwood tem colado na parede da sua sala um mapa com a previsão de votos dos deputados e senadores. É como se fosse a sala de controle e de manipulação de uma usina de energias suspeitas. Na trama do seriado, o mural funciona.

Na vida real, pelo menos a de Brasília, parece um recurso analógico demais, inocente demais.

Repare nas fotos abaixo. A primeira mostra o plenário dos deputados americanos, na Câmara dos Representantes, no Capitólio, em Washington. Coisa mais antiga, de país pobre. Veja que, ao contrário da nossa rica Câmara, eles não têm, cada um, um laptop novinho à disposição no plenário. Isso sem falar que os nossos representantes ainda dispõem de poderosos desktops nos seus gabinetes e nos plenários das Comissões. Claro que nossos deputados ganham bem mais do que os seus colegas americanos, mas os gringos podiam ser mais antenados, pôxa, painel de cartolina para controlar votos?!.

Plenário da Câmara dos Representantes, no Capitólio: deputados sem-computador
usam anotações em papel. Foto: Reprodução Facebook

Deputados brasileiros informatizados na sala das Comissões. Foto: Câmara dos Deputados

Underwood vive se estressando diante do seu tosco painel para saber como votam os deputados e o que poderá oferecer para adquirir suas consciências.

Aqui, praticamente on line, Temer logo descobriu as intenções de voto dos seus aliados hesitantes e, com uma velocidade de computador da Nasa, fez um acelerado troca-troca de deputados até garantir folgada maioria na Comissão de Constituição e Justiça. Claro que out of line a sedução presidencial não estava apenas no "homem até bonito", como já definiu um jornalista participante de uma famosa coletiva festiva com o ilegítimo. Mas os operadores de Temer mostraram agilidade para enquadrar votos, sem estresse, e com espantoso poder de convencimento. Dizem até que formaram dois grupos no what's app: o "É nóis" e  o "Aqui é Temer".

Para falar com seus deputados, Temer só precisa mandar um zap diretamente ao plenário principal, gabinete ou salas das Comissões e adicioná-los como amigos no Facebook e curtir seus votos. Os infiéis podem ser impiedosamente bloqueados.

Francis Underwood invejaria.

Um comentário:

J.A.Barros disse...

O Congresso virou um balcão de negócios. Quem oferecia mais ganhava o seu voto. Temer com a caneta na mão foi o maior vendedor de facilidades. Distribui emendas parlamentares a torto e a direita. O que mais ganhou foi o novo relator – de araque – com mais de 5 milhões de reais.