terça-feira, 26 de abril de 2022

Meus 35 anos de Manchete: improvisando soluções na ‘melhor da galáxia’ • Por Roberto Muggiati

 

A edição número 1 da Manchete foi para as bancas comn data de 26 de abril de 1952,
há exatos 70 anos..

Primeiro, uma explicação: a “melhor da galáxia” era a revista Manchete, megassuperlativo que ganhou do Presidente Juscelino Kubitschek num almoço-homenagem a Justino Martins em 1975. JK tomou a palavra e, empolgado, viajou, num recado particular ao amigo Adolpho: “És um homem feliz, Bloch. Tens a melhor revista do Brasil. Indisputavelmente da América Latina; tens a melhor revista do mundo – quiçá da galáxia!”, proclamou o Presidente Bossa Nova (nem tanto, a julgar pela oratória...)  

No dia seguinte, aguardávamos na redação os exemplares da Manchete que tinha ido às bancas naquela manhã. Com sua verve típica, Alberto de Carvalho perguntou: “Já chegou a melhor da galáxia?” E assim a revista passou a ser alcunhada, na base da gozação.

Essa história me concerne particularmente. Depois de lançar a Manchete em 1952, Adolpho Bloch penou anos para encontrar um editor digno desse nome. Os cronistas Henrique Pongetti e Otto Lara Resende não sacavam nada de jornalismo. O primeiro editor que deu certo foi Hélio Fernandes. Botou a semanal ilustrada nos eixos e começou a vender revista. Seu único defeito: queria ser independente. Proibiu a entrada dos irmãos Karamabloch na redação. Eram três, então, Arnaldo, Boris e Adolpho. Não só estavam em superioridade numérica, mas também eram os donos. Hélio Fernandes dançou. De repente, como num passe de mágica, Arnaldo e Boris morreram e o caçula Adolpho passou a reinar absoluto em 1959. Apostou no correspondente da Manchete em Paris, o gaúcho Justino Martins, e o chamou para dirigir a revista no Rio. Tarimbado, com cacife de revisteiro, Justino deu conta do recado e a Manchete deslanchou. Aí Freud explica. Por um daqueles estranhos mecanismos do inconsciente, Adolpho não conseguia engolir o sucesso do Justino. Consolidada a hegemonia da Manchete no mercado, tentou tirar da direção da revista o “Índio” (assim menosprezava seu desafeto). Uma primeira tentativa, em 1968, com o chefe de redação Zevi Ghivelder, cria da casa, não vingou. Em 1971, Justino voltou triunfalmente, com um bônus. Uma trama urdida com a estilista e perfumista Madame Grès, ua ex-amante – ela alegou que queria contratar Justino como seu RP em Paris – lhe valeu um adicional de mil dólares mensais, pagos por Adolpho em dinheiro vivo à vista de toda a redação.

É aí que eu entro em cena. Jornalista desde 1954 na Gazeta do Povo de Curitiba, com dois anos de estudos no Centre de Formation des Journalistes de Paris, depois três anos em Londres no Serviço Brasileiro da BBC, voltei ao Rio e comecei como repórter especial na Manchete em 1965. Em 1968-69, fiz parte em São Paulo da equipe inicial da Veja, como editor de Artes e Espetáculos. De volta ao Rio, fui editor da Fatos&Fotos em 1969, depois chefe de redação do EleEla em 1971. Em 1972, Justino me chamou para ser o seu “segundo” na Manchete. Cinéfilo, viajava todo ano para o Festival de Cannes (ganhou até o apelido de “Cidadão Cannes”). Na sua ausência, eu editava a revista. Adolpho sentiu firmeza no meu trabalho e em 1975 e me colocou no lugar do Justino. Cinicamente comunicou ao “Índio” que ele fora promovido e iria editar uma nova revista... de jardinagem. E organizou uma feijoada de quatrocentos talheres em sua homenagem. A partir daí, merecer uma feijoada na Bloch equivaleria a uma forma sutil de defenestração. (Outro código blochiano: quando queria se livrar de um visitante importuno, Adolpho ordenava ao "escravo" mais próximo: “Traga para ele o melhor carro da casa...”)

Entre idas e vindas, na minha participação em 73% da existência da Manchete, acabei me tornando o editor que durou mais tempo no cargo. Justino voltou em 1981 para sua morte de um câncer fulminante dois anos depois, uma morte simbólica coincidindo com o lançamento da Rede Manchete de Televisão, o novo brinquedo que deixaria as revistas da Bloch à deriva. Voltei a ser editor da revista em 1984, doze anos depois fui trocado por uma troika paulistana, que durou pouco mais de um ano. Voltei à chefia em 1997, no Dia das Bruxas, para sair definitivamente em maio de 1999. Bloch Editores já caminhava então inexoravelmente para a falência, em 1º de agosto de 2000.

O trabalho numa revista semanal não era tão frustrante como aquele num jornal diário. Quando chegava às bancas já estava desatualizado e seu destino era embrulhar peixe. Esse dilema aumentou com a TV e com a internet. Já o hebdomadário criava seu próprio tempo. Namorava a notícia, é claro, mas fazia um jornalismo mais interpretativo e aprofundado. A Manchete tinha basicamente dois fechamentos: do “miolo”, às quintas-feiras; e da atualidade, às segundas. Nossa estratégia consistia em colocar no “miolo” matérias frias, culturais, entrevistas com pessoas que não corressem o risco de morrer antes do fechamento da edição na segunda (só faltava exigir atestado médico). Já na sexta adiantávamos a outra metade da revista, a parte traseira, deixando a metade dianteira do caderno para os acontecimentos do fim de semana e até da própria segunda. E havia ainda aquela margem de risco entre o fechamento na redação na segunda e o início da impressão na gráfica na terça. No golpe militar do Chile que assassinou Salvador Allende – em 11 de setembro de 1973 – tivemos de reabrir a revista. Já no assassinato de John Lennon numa noite de segunda-feira em Nova York, em 1980, optamos por não mexer na revista e anexar um caderno especial dedicado ao Beatle.

Mortes trágicas de celebridades sempre exigiram uma cobertura especial. Meu batismo de fogo foi o avião da Varig cheio de famosos que pegou fogo e caiu num campo de cebolas em Paris poucos minutos antes de pousar no aeroporto de Orly. Na véspera do embarque, Justino recebeu a visita da belíssima Regina Rozemburgo Léclery, acompanhada do ator Dominique Ruhle, ambos morreriam no acidente. Na noite de sexta-feira 13 de julho de 1973 aguardávamos as fotos, que vieram em malote especial da Varig, para antecipar o fechamento da edição. O pouso forçado sobre um campo de cebolas não teria causado um arranhão sequer nos passageiros. Eles morreram asfixiados pela fumaça a bordo e, atrelados a seus assentos, tiveram os corpos carbonizados quando o incêndio se alastrou tão forte que consumiu parte do teto. As imagens resultantes eram muito fortes. Justino se deixou levar por seu instinto animal de editor de fotos e publicou tudo. A reação da Varig foi imediata: cortou toda a publicidade nas publicações da Bloch e também o serviço de malotes.

Algo parecido me aconteceu na cobertura da morte dos Mamonas Assassinas quando seu jatinho caiu na Serra da Cantareira, nos arredores de São Paulo, pouco antes da meia-noite de 2 de março de 1996. No dia seguinte, domingo à noite, antecipávamos o fechamento daquela edição. A mata densa, de difícil acesso, prejudicou a cobertura fotográfica. Em compensação, graças a nosso ótimo relacionamento com a divulgadora da EMI-Odeon, Marília Van Boekel Cheola (nobre como seu nome), tínhamos fotos fabulosas do grupo, que adorava posar com roupas coloridas e histriônicas. Pela primeira vez usamos telefotos em cor de jornais paulistas. O que recebíamos na redação eram quatro imagens nas versões ciano, magenta, amarelo e preto, que seriam combinadas na gráfica para compor uma foto em cores. Pelas chapas individuais, não podíamos visualizar a foto final. Os técnicos da gráfica simplesmente fizeram o seu trabalho, com tal esmero que a imagem saiu com uma qualidade rara para uma telefoto. Mostrava os corpos mutilados de alguns dos Mamonas. Os milhares de fãs não nos perdoaram e saímos com a fama de sensacionalistas inescrupulosos.

Vivíamos tempos estranhos em 1976. Em abril, morreu num acidente de automóvel suspeito a estilista Zuzu Angel, opositora tenaz da ditadura (teve um filho torturado e morto). Em agosto, correu um alerta falso da morte de JK num desastre de automóvel. Quinze dias depois, me liga o chefe de reportagem, João Luiz de Albuquerque, com a notícia da morte de JK quando seu carro se chocou com um ônibus na Via Dutra. Agora era para valer. Meia-noite de domingo pego um táxi e corro para a redação. Editor da revista, ocupo minha cadeira diante da mesa em L. A revista já estava com 80% de suas páginas fechadas, o “miolo” impresso. Retiramos todas as matérias que não fossem essenciais e ficamos com uns 40% daquele número para ser dedicado a JK. Recebo uma procissão de colaboradores, redatores e repórteres para refazer a pauta. Adolpho Bloch, Carlos Lacerda, David Nasser e Josué Montello escrevem artigos especiais. Eu só podia sair para ir ao banheiro quando a necessidade estivesse já no limite. Vagamente soube do velório de JK e do seu motorista Geraldo oito andares abaixo, no saguão de entrada do prédio. Vi pelas janelas quando o cortejo partiu para o aeroporto levando JK para ser enterrado em Brasília. Anoiteceu, de vez em quando me traziam um sanduíche com refrigerante para matar a fome. E muito cafezinho para turbinar a adrenalina. Adolpho e Cony voltaram de Brasília com as fotos do funeral, ainda a serem reveladas. A edição, fechada às três da manhã de terça-feira, foi uma maratona de 27 horas, durante as quais só me afastei da redação poucas vezes para ir ao banheiro. A última imagem que guardo do episódio foi a do Cony, de terno azul marinho, dormindo em posição fetal no banco de jacarandá maciço no hall dos elevadores. 

Na célebre foto de Gervásio Baptista na edição que registrou a inauguração de Brasília, em 1960, JK virou canhoto. Não por culpa do fotógrafo, mas do diretor de Arte que preferiu inverter a imagem em nome de uma suposta composição gráfica mais equilibrada.    


O erro foi corrigido 16 anos depois na capa da edição especial sobre a morte de JK.

Além do feito, digno do Livro Guinness, orgulho-me de ter corrigido um erro histórico e colocar na capa JK acenando a cartola com a mão direita na inauguração de Brasília. A foto de Gervásio Baptista publicada na capa da revista em abril de 1960, por uma destas regras idiotas de diagramação, foi invertida e um JK “canhoto” acenou a cartola com a mão esquerda.

Outro agosto, dois anos antes. Estamos saindo para o fim de semana quando Richard Nixon renuncia ao vivo pela TV, no rastro do escândalo de Watergate. Justino, com a bolsa da Air France a tiracolo, já estava mirando na sua piscina na Joatinga. Zevi Ghivelder chega e me diz: “Adolpho deu o OK, vamos fazer uma edição extra sobre o Nixon.” Dito e feito. Eu morava em Copacabana, dias antes cruzara na rua com o Heron Domingues, o icônico Repórter Esso. No Jornal Internacional da TV Globo, Heron pediu o adiamento das férias para noticiar a queda de Nixon. Um emocional. Morreu no dia seguinte de enfarto fulminante. 

Domingo, 1º de maio de 1994, nove da manhã, me refestelo (é le mot juste) num sofá do térreo, a família toda dormindo no andar de cima, para ver o GP de San Marino de Fórmula 1. Quando Ayrton Senna bateu na curva do Tamburello, me dei conta: acabou o domingo para mim, acabou a Fórmula 1, também. Segui para a redação, à tarde a correspondente em Roma Ivy Fernandes confirmava no hospital de Bolonha a morte do piloto. Antecipamos o fechamento naquela noite, a revista chegou às bancas na terça. Acordei cedo para ver o desembarque do corpo em São Paulo às seis da manhã de quarta-feira. Senti a comoção brutal que tomara conta do país. Propus uma edição extra, que fechamos depois do funeral na quinta.

Ainda 1994, manhã de quinta-feira 8 de dezembro. O divulgador de Tom Jobim, Marquinhos – eu o chamava de “Mosquitinho elétrico” – aparece na redação, o maestro teve um probleminha de saúde em Nova York, uma obstrução de artéria que requer “um simples Roto Rooter, ele vai tirar de letra”. Depois do almoço Marquinhos me comunica a morte do Tom. Abrimos imediatamente uma edição extra em homenagem ao compositor do século, Villa-Lobos no clássico, Jobim no popular. Editei comovido aquela homenagem, mas não posso omitir que  o Tom guardou muito tempo uma bronca comigo. Cobrindo a Noite Brasileira em Montreux-86, que se resumiu a uma briga de foice entre João Gilberto e Tom Jobim, cometi um pecadilho. Aderi à torcida pelo João, sozinho com seu banquinho e violão – e voz, é claro – contra a Banda Nova do Jobim, dez figuras, incluindo as dinastias Jobim (Tom, Paulo, Ana Lontra e Beth), Caymmi (Danilo e Simone) e Morelenbaum (Jacques e Paula) e não resisti a adjetivar o grupo de “nepotista”. Às vezes as palavras ferem mais do que agressões físicas. Mas Tom era um doce de pessoa e o tempo apagou qualquer ressentimento.

Outro fechamento histórico foi o de domingo, 4 de setembro de 1977. Como as bancas fechavam por causa do feriado na quarta, tínhamos de antecipar o lançamento da revista para a terça-feira. O assunto do momento era a morte da jovem Cláudia Lessin Rodrigues. O repórter Tarlis Baptista se considerava, com justiça, o dono da matéria. Dois meses antes, voltando de uma reportagem na Barra com o fotógrafo Adir Mera, viu uma aglomeração de bombeiros e policiais nas pedras da Avenida Niemeyer. Era o resgate do corpo de Cláudia, Manchete fez fotos exclusivas da morta, totalmente nua sobre as rochas beijadas pelas ondas. Adolpho, Jaquito e Oscar foram brincar de jornalista na redação. O fechamento se arrastou, naquele domingo quente, Tarlis telefonou dizendo que tinha um furo. Voltou às nove da noite de um encontro numa churrascaria do Meier com o detetive Jamil Warwar, encarregado do caso. Trazia um dossiê completo, incriminando o jovem Michel Frank e o cabeleireiro Georges Kour pela morte de Cláudia e pela tentativa de ocultação do corpo. O pai de Michel, Egon Frank,  era dono dos relógios Mondaine, grande anunciante da Bloch. Entendi a presença do Oscar no fechamento e ele confirmou minhas suspeitas ao ligar do meu telefone, na minha cara: “Meu caro Egon, o detetive nos deu com exclusividade o resultado da investigação. Fique tranquilo, não vamos publicar nada.” O Tarlis só faltou se jogar do oitavo andar. Frustração geral. Na semana seguinte, Valério Meinel da Veja publicou o dossiê Warwar e ganhou o Prêmio Esso de Reportagem daquele ano. Tempos depois, o David Klajmic, da publicidade, se aproximou solerte de mim e disse: “Muggiati, tem aqui um presentinho pra você.” Era um estojo contendo um autêntico Mondaine, recompensa por ter compactuado com a censura do Oscar. Em 2015, quando morreu o David, consignei em ata nesse Panis um dos grandes vexames por que passei como editor da Manchete: “Meu caro David, muito obrigado pelo reloginho Mondaine que, como todo relógio popular se esfacelou em poucos meses. Obrigado, mais do que tudo, pela lição de jornalismo – e de vida.” 

Prosseguindo com o anedotário: em 1982, Myrian Rios, casada com Roberto Carlos, encenou e estrelou O sonho de Alice, baseado na obra de Lewis Carroll. Dei matéria na Manchete e caprichei no título. Jô Soares tinha um quadro em Viva o Gordo com o bordão “Eu vou dar uma de Alice!” Intitulei a matéria A FAVORITA DO REI DÁ UMA DE ALICE. Sai a revista, o telefone toca na redação. Era Myrian Rios de São Paulo (o Salomão Schvartzman me entregou) contestando o título: “Olha aqui, Sr. Roberto Muggiati, sou a esposa legítima do Sr. Roberto Carlos, nenhuma favorita de harém, e não estou dando uma de Alice, e sua mãe ****” e por aí vai...

Mas a pior roubada aconteceu quando uma repórter mau-caráter, para conseguir emplacar uma notinha na seção “Gente”, que se resumia a uma foto e dez linhas, fez a Beatriz Segall trazer para o estúdio do Rio seu genro e filha – que faziam uma peça em São Paulo, enquanto ela começava uma novela no Rio – tudo por conta da Beatriz, prometendo que a foto seria capa da Manchete! Quando saiu a revista, recebi um telefonema, elegante, mas severo, da Beatriz, transmitindo-me sua indignação, bastante compreensível. Tentei explicar o jogo sujo da repórter e que na nossa pauta se tratava de uma matéria para a seção “Gente”, mas não havia como remediar tamanha injustiça. Coincidiu que Beatriz Segal estrelava na novela Vale Tudo, que passou meses girando em torno do enigma “Quem matou Odete Roitman?” Odete Roitman era ela. A mídia vivia à sua caça. Recebia a todos cordialmente, menos aos veículos da Bloch. Quantas capas Manchete e Amiga perderam por causa da desonestidade de uma repórter?

Justino Martins dizia: “Escrever é fácil, ou impossível.” Ele mesmo ilustrava sua máxima tentando escrever no dia do fechamento as 15 linhas da “Conversa com o leitor”, aquele textículo da página 3 em que o editor fazia uma síntese da edição. Pouca gente se dá conta do papel do telefone no trabalho de um editor de revistas. É uma ferramenta tão importante como a máquina de escrever ou a câmara fotográfica. E o editor não pode deixar de atender. Oitenta por cento das chamadas são chatices, pedidos de matéria, papo ocioso, mas uma das ligações pode ser uma informação preciosa de uma fonte confiável. Em meio à paginação das últimas matérias na segunda-feira, à leitura e correção do texto e das legendas dos leiautes a serem liberados para a gráfica, Justino sentava-se à máquina para escrever, datilografava duas ou três palavras e era interrompido por uma ligação. E assim ao longo de todo o fechamento.

Distanciado, como seu “segundo”, sem a trabalheira do chefe de redação, que era o Maurício Gomes Leite, eu ia aprendendo com as vicissitudes do Justino. Quando assumi o seu posto, procurei ser um pouco mais organizado. Tendo cursado até o quarto ano da faculdade de engenharia da Universidade Federal do Paraná – onde fui colega do Jaime Lerner – embora trabalhasse como jornalista desde os dezesseis anos, eu me iludia com a ideia de que talvez não tivesse perdido de todo uma “visão científica” das coisas. Talvez tivesse ficado algum resíduo na minha cabeça das aulas de cálculo infinitesimal ou de cálculo vetorial... Com relação à “Conversa com o Leitor”, minimizei o  estorvo dos telefonemas das segundas-feiras escrevendo-a no fim de semana, com geralmente de 70 a 80% da revista já definida.  Em casa, acordando cedo no dia do fechamento, podia ainda acrescentar três ou quatro linhas em função dos acontecimentos do sábado e do domingo. Aprendi também que a apresentação da revista não precisava necessariamente ser uma espécie de sumário, podia migrar para a crônica ou assumir um viés filosófico. Um bom exemplo é esta de 2 de junho de 1973.

"Conversa com o Leitor". Clique na imagem para ampliar

Libriano de 6 de outubro – num ninho de librianos que incluía Adolpho (8), Jaquito (10), Murilo Melo Filho (14), Vera Gertel (7), George Gurjan (4), Layrton Cabral (5), Jader Neves (13) – sempre procurei unir os opostos e criar com Adolpho e companhia estratégias para aumentar a venda da revista. De uma edição de Carnaval que vivia só dos três dias, criamos a edição pré-Carnaval, com destaque para o baile do Iate Clube “Uma Noite no Havaí” (produção exclusiva da Manchete, vamos abrir o jogo, com as melhores periguetes da praça), e a edição pós-Carnaval, com a capa produzida em nosso estúdio reunindo os destaques da folia. 

Roberto Muggiati entrega edição da Manchete com destaque para a Suíça ao embaixador Giovanni Enrico Bucher em 1967. Seria o terceiro embaixador sequestrado no Rio nos Anos de Chumbo e trocado, em janeiro de 1971, por 70 presos políticos.

As edições em língua estrangeira também faziam sucesso e traziam imenso prestígio. O grande hit foi a edição em russo, que o Presidente José Sarney entregou a Mikhail Gorbachev no Kremlin em 1986. 

É muita coisa para contar, vou fechar o meu relato com dois feitos da Manchete que humilhavam os jornais diários pela velocidade da cobertura e, ainda mais, pela pujança das cores.

• Para sair nas bancas na quarta-feira com uma cobertura completa da premiação do Oscar, que acontecia nas noites de segunda para a madrugada de terça, paginávamos na abertura da revista as fotos dos cinco principais indicados, os filmes na primeira página dupla, os atores principais e coadjuvantes numa segunda página dupla, e os prêmios de direção, música, etcetera numa terceira página dupla, com mais espaço para o texto. Todo esse material fotográfico era adiantado para a impressão. O texto era sempre mais fácil de processar, podia ficar para o final. À meia-noite da segunda-feira eu seguia para a redação com um redator especializado – primeiro Wilson Cunha, depois, quando ele foi para a TV, Celso Arnaldo vinha de São Paulo, eram ambos feras. Às seis da manhã, com os textos finalizados, íamos para casa dormir o sono dos justos.

• A eleição presidencial nos Estados Unidos era sempre na primeira terça-feira de novembro, data ingrata para a Manchete. O resultado só saía na madrugada de quarta-feira. Como explicar que Manchete, nas primeiras horas da manhã, chegava às bancas com o vencedor na capa e na matéria de abertura? Um segredo muito simples – que nunca revelamos – deixando a concorrência atônita. Tratava-se de uma escolha binária. Por exemplo, em 1992, a confrontação foi entre George Bush, pai, que tentava a reeleição, e Bill Clinton. A redação aprontou duas capas, a matéria de abertura de seis páginas com o perfil do vencedor. Os cilindros foram gravados na gráfica e ficaram prontos para rodar. Opção A, Clinton. Opção B, Bush. Confirmado o resultado, nosso correspondente Sérgio Alberto da Cunha ligou diretamente de Nova York para a gráfica em Parada de Lucas e mandou rodar a opção A, Clinton. Os cilindros do derrotado iriam para o lixo, mas valia o investimento, do ponto de vista jornalístico. (Tenho uma prova impressa preciosa da capa e da matéria do Bush, o vencido, posando como Presidente, o dia que encontrar mostro no Panis). Os coleguinhas dos jornais não podiam acreditar como eles iam às bancas sem o resultado da eleição, enquanto a Manchete ostentava vitoriosa o Bil Clinton na capa. Quanto aos leitores, muitos deviam suspeitar de alguma operação mediúnica – uma revista com a velocidade instantânea da televisão...

Na minha visão pessoal e afetiva, a Manchete acabou na hora certa. Não me vejo fazendo uma edição sobre a tragédia das Torres Gêmeas e de todas as desgraças deste novo século infeliz. Hoje eu me sinto à vontade escrevendo sobre o que quero, à hora que quero, ou não escrevendo nada.

A vida é tão rica que ninguém jamais conseguirá aprisiona-la numa página rabiscada de meras palavras.

PS • A memória é um animal curioso. Das 2519 edições semanais publicadas da Manchete, devo ter feito umas 1500. Feito no sentido físico, um trabalho de ourivesaria, artesanal, como aquele descrito por Benvenuto Cellini em sua autobiografia Vita – embora seja pretencioso comparar algo descartável como uma revista com as joias que Cellini fazia para os papas e aristocratas. Se tivesse agora diante de mim uma coleção completa das revistas, eu seria capaz de evocar – como Proust com a sua madeleine – o que acontecia em minha vida no momento em que cada Manchete estava nas bancas. Até mesmo aqueles primeiros exemplares a partir de 1952, comprados em Curitiba por meu pai, que eu guardava em meu quarto na casa do alto da Alameda Carlos de Carvalho, aos catorze anos. Nas páginas sobre a morte de John Lennon vejo o nascimento iminente de meu primeiro filho, em final de dezembro de 1980. Na revista de 8 de maio de 1985 – os primeiros tempos da infausta presidência Sarney, depois de 21 anos de ditadura militar, deveria – lembro a manhã silenciosa da sexta-feira anterior em que chego cedo, o Alberto pouco depois – a redação na penumbra, poucas luzes acesas – e ele me diz “Nasceu e morreu.” Em momentos de comoção falava para dentro. Ou eu não quis ouvir. “Pô, Alberto! Quem nasceu e morreu?” Então ele fala clara e pausadamente: “Muggiati, o Narceu morreu.” Narceu de Almeida, 52 anos, um santo homem, companheiro de noites de jazz na Swinging London, foi ele quem me fez entrar para a Manchete. A revista de julho de 1984 com Michael Jackson na capa. Lena tinha perdido as gêmeas, e eu, reconduzido à direção da revista, ganhei um presente de grego do Jaquito, uma “viagem-piscina” (expressão justiniana, vai, bate a mão na outra borda e volta), um voo na sexta à noite para Miami, conexão sob ameaça de tufão para Jacksonville, no extremo  norte da Flórida, o megashow da turnê Victory (o Michael Jackson triunfal de Thriller dando uma mãozinha para os irmãos), um domingo inteiro apascentando no aeroporto de Miami, a volta num voo noturno para o Rio e o fechamento de segunda, fazendo as vezes de editor e repórter. 

Enfim, pequenos dramas familiares, a perda dos pais, o nascimento da filha, aporrinhações com o fisco e, como dizia o Bardo, “dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita”, estão grudados às páginas da revista como em papel pega-mosca.

Fechando tudo, de volta ao Bardo, via Aldous Huxley:

 “But thought's the slave of life, and life time's fool; And time, that takes survey of all the world, Must have a stop”.

“Mas o pensamento é escravo da vida e a vida é a tola do tempo; E o tempo, que cobre o mundo inteiro, Tem de parar”.


70 anos - Em um dia como hoje, em 26 de abril de 1952, a revista Manchete chegava às bancas pela primeira vez.

 

A Manchete deixou de circular em agosto de 2000. Oito anos depois, um pequeno grupo de ex-funcionários da editora lançou o livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou (Desiderata). São relatos autênticos onde cada um, no seu próprio estilo, conta sua vivência nas revistas da Bloch Editores. Não são histórias oficiais. É a visão livre de colegas de vários setores. O livro também aborda o capitulo histórico de lancamento da revista em 1952, as dificuldades iniciais, a evolução jornalistica, a admirável qualidade gráfica. Manchete cresceu com o Brasil que se industrializava, falou com a classe média que crescia e consumia no ambiente de uma democracia que chegou a vencer graves crises desde 1954 mas sucumbiu em um golpe militar, o de 1964, que amordaçou o pais durante 21 anos. Como a maior parte dos principais veiculos jornalísticos, Manchete apoiou o golpe. O Aconteceu na Manchete não esconde esse perfil desfavorável, nem esse, nem outros, nem deixa de reconhecer a importância da empresa que se tornou uma das maiores editoras de revistas do país e se impôs pela qualidade dos seus conteúdos jornalísticos e gráficos. A coletânea é um mapa do caminho para desvendar os bastidores do complexo de prédios da Rua do Russell, no Rio de Janeiro. 

Este modesto blog nasceu um 2009 com o propósito de ser uma extensão do livro na internet. Tem procurado cumprir essa missão de preservar memórias jornalísticas. Uma grande perda para a história da Manchete foi, como se sabe, o sumiço do arquivo fotográfico, leiloado e arrematado por um advogado. Não se sabe o que foi feito do acervo, um dos maiores  da imprensa brasileira. Se foi picotado e vendido a quilo, por exemplo, se está largado em um galpão qualquer ou se, diria um otimista, está escondido mas preservado e um dia ressurgirá das cinzas. De qualquer forma, a notícia ruim felizmente foi amenizada pela Biblioteca Nacional ao digitalizar para o setor de períodicos da instituição a coleção da Manchete. Evitou-se a perda totalE o livro Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou está esgotado, mas é possível encontrá-lo em sebos digitais e também tornou-se uma fonte de consulta para universidades, pesquisadores e novas gerações curiosas sobre o jornalismo pré-internet.  

E se a SAF sifu?

 

por O.V.Pochê

A notícia está no Globo de hoje. Claro que o dono do Cruzeiro deverá recorrer, negociar a dívida para pagar em 50 anos, como empresários costumam fazer nesses casos. Afinal, o Refis está aí pra dá moleza pra quem pode.

Só como exercício de imaginação, especulemos que a pendência chegue ao extremo e a Receita Federal desapropie o Cruzeiro como garantia ao pagamento da dívida. Viraria Leão Futebol Clube? Ou o Cruzeiro SAF revendido para o rico Centrão? 

O torcedor pode enviar perguntas para a Toca da Raposa. E descobrir afinal porque ela tem esse nome. 



Bala perdida agora é oficial

 





Reproduções Twitter

Frase do dia: só mudando

 "A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Somos a mudança que procuramos."

Barack Obama

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Carnaval 2022 - Os orixás e a cultura negra levam o samba de volta à passarela carioca

 

Exu no topo do mundo da Grande Rio. Foto de Gabriel Monteiro/Riotur/Divulgação.

Paolla Oliveira, de Pomba Gira reinando na terra. Foto de Gabriel
Monteiro/Rio Tur/Divulgação


...A atriz ousou na avenida. Foto de Gustavo Domingues/Riotur/Divulgação



Depois de dois anos a plateia do Sambódromo carioca pós-pandemia voltou a abraçar o samba da Imperatriz. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação

A cantora Iza em foto de Marcelo Piu para a Riotur/Divulgação. Por todos os motivos, ela foi o símbolo... 

da Imperatriz na alegria reconquistada após o cancelamento dos desfiles em nome da saúde. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação



Por falar em alegria, a Viradouro contou a vibração do carnaval de 1919, após a pandemia mundial de Gripe Espanhola naquele ano. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação 

O lado tragicômico também compareceu. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação

No voo da ficção da Viradouro, a chave do Rio de Janeiro chegou via drone para o Rei Momo daquele ano. Foto de Rodrigo Gorosito/Riotur/Divulgação



Um trio imbatível de gênios da Mangueira (Jamelão, Cartola e Delegado) reviveu na avenida através de sósias perfeitos. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação

A Mangueira reocupa a passarela, agora com nova iluminação.
Foto de Fernando Maia/Riotur/Divulgação

Samba tem consciência. Veja o recado da Baija Flor na foto de Douglas Shineidr
para Riotur/Divulgação 



Vila Isabel celebrou Martinho da Vila. E a plateia delirou. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação

E a mesma Vila plena e colorida no sambódromo carioca. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação



Vivane Araújo, grávida, no Salgueiro. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação

Lucinha Nobre e a bandeira da Portela. Foto de Gustavo Domingues/Riotur/Divulgação



Na capa da IstoÉ: quando o crime é piada para o novo governo militar



domingo, 24 de abril de 2022

Na capa do Libération: Lição francesa

A vitória de Emmanuel Macron sobre a representante da extrema direita Marine Le Pen é um alívio. A notícia ruim é o aumento do apoio ao fascismo na França. O risco permanece. Macron tem agora a responsabilidade de reconquistar a confiança da população e corrigir erros cometidos no primeiro mandato. A aposta no liberalismo e a insensibilidade diante de questões sociais foram fatores explorados pela extrema direita. Há semelhanças com o Brasil. Aqui também o neoliberalismo selvagem criou as bases para o surgimento de uma líder fascista.
Macron admitiu no discurso da vitória que muitos franceses votaram nele não como aval ao seu governo mas para proteger a democracia ameaçada. Várias correntes de pensamento se uniram para afastar a ameaça que Le Pen representa. É  a lição translúcida que o resultado eleitoral na França oferece ao Brasil. Em outubro também votaremos para defender a democracia e afastar as milícias fascistas. Aqui também a união contra trogloditas será decisiva.

Frase do dia: segunda chance


"Se, pelo menos, pudéssemos viver duas vezes: a primeira vez, para cometer todos os inevitáveis erros; a segunda, para lucrar com eles.”

D.H. Lawrence

Virou réptil

 

Veja "o fascista que vira jacaré no samba em SP. Clique no link.
https://twitter.com/senadorhumberto/status/1518181908630364160?t=d3PZdXyIwpSacJhXsBYsiQ&s=19

sábado, 23 de abril de 2022

Frase do Dia: anotação

 Do Diário de Franz Kafka, dia 2 de agosto de 1914, início da Primeira Guerra Mundial:

"A Alemanha declarou guerra à Rússia. - À tarde, natação." 


sexta-feira, 22 de abril de 2022

Memórias da redação: Irineu da Manchete, Irénée do Le Monde • Por Roberto Muggiati

Um filósofo na redação.

Estudante pobre em Paris, com um amigo que cursava psiquiatria, o jovem brasileiro costumava frequentar o cabaré existencialista Rose Rouge.
  Ficavam em pé no bar e, quando muito, consumiam uma cervejinha. Certa noite, em 1952, um créole da Luisiana juntou-se a eles. Viu logo que eram estudantes, condoeu-se da sua sorte: “Mes enfants, je vous invite à boire, les Cognacs sont à moi...” Era o famoso clarinetista Sidney Bechet, que também colocou o saxofone soprano na linha de frente do jazz. Nos anos 1940, com o surgimento do bebop, os velhos gigantes de Nova Orleans caíram no ostracismo. Bechet montou uma alfaiataria para garantir o seu sustento. Ao participar do Festival de Jazz de Paris em 1949, fez tanto sucesso que resolveu se mudar para a França, onde teve uma calorosa acolhida.Naquela noite, Bechet estava sorumbático. Contou aos novos amigos que tinha composto uma bela chanson française, afinal, a França e la Nouvelle Orléans tinham uma relação antiga, desde o final do século 17, quando a Luisiana se tornou colônia francesa. Sidney mal acabara de tocar sua música e a plateia, além de lhe sonegar aplausos, se queixou: “Mais c’est pas du jazz.” Petite Fleur só se tornaria um hit em 1959, com a gravação pelo músico inglês de dixieland Chris Barber, que chegou ao 3º lugar nas paradas britânicas e 5º nos Estados Unidos. Bechet morreu em maio, aos 62 anos, sem saber do seu imenso sucesso.O brasileiro que teve o privilégio da companhia do grande Bechet era Antonio Deusdedit da Cruz Guimarães, que se tornaria um jornalista de renome internacional como Irineu Guimarães. Antes de se fixar na imprensa, ele teve uma curiosa trajetória: nascido em Tamboril, CE, em 21 de julho de 1929, seguiu primeiro a vocação religiosa. Seminário em Fortaleza, convento dos dominicanos em São Paulo e daí, num passo largo, o mosteiro de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, na França. Mas, pouco antes de ser ordenado padre, Irineu abandonou a carreira religiosa para se matricular na Sorbonne, em Paris, onde se doutorou em filosofia. Ainda outra guinada e ele iniciaria a carreira de jornalista no Le Monde, em Paris, onde conservaria o nome dado pelos dominicanos, afrancesado para Irénée.

Casório à francesa comme il faut.


O pai que todo mundo queria.


Casou-se com a francesa Marie Colette Roux em 1957 e decidiu voltar para o Brasil. O casal teve os filhos Michel e Christine. Irineu era correspondente do
Le Monde no Rio quando o país sofreu o rude choque do golpe militar de 1964. Se a sociedade civil era abalada, a imprensa mais ainda, pela censura que, se foi relativamente branda na fase light da ditadura (1964-68), se tornaria absoluta depois do AI-5. As dificuldades eram ainda maiores para um jornal independente de um país democrático, a França, que se sentia no dever de denunciar os desmandos e violências do regime militar.



Muito jornalista foi preso naquele período, era um risco natural da profissão. Mas Irineu Guimarães foi preso nada menos do que 19 vezes. Da última, ficou desaparecido por um longo tempo. Seu respeito à verdade incomodava profundamente a ditadura militar. O filho de Irineu, Michel, contou-me recentemente detalhes daquela prisão: “Os policiais arrombaram a porta do nosso apartamento em Santa Teresa e meu pai exclamou: ‘O que é isso ? Um assalto ?’ Rasgaram com faca o sofá e o berço da minha irmã procurando, segundo eles, armas escondidas. Nada encontraram, mas aquilo foi uma forma de intimidar a família toda. Levaram meu pai que ficou ‘sumido’ vários dias.”

Irineu só seria solto depois que, ao saber do ocorrido pelo embaixador da França no Brasil, o Presidente Charles De Gaulle declarou pela TV francesa que “estava muito preocupado com o desaparecimento do correspondente do jornal Le Monde no Brasil.”

Antes, com o jornalista Régis Debray, durante a cobertura da morte de Che Guevara na selva boliviana, Irineu foi preso e expulso do país. Fez questão de entregar pessoalmente ao irmão de  Guevara, na Bolívia, os últimos testemunhos e fotografias daquele que iria se tornar um mito revolucionário do século.



No início dos anos 1970, a convite de Adolpho Bloch, Irineu Guimarães foi convidado a integrar a redação da Manchete e também atuar como repórter internacional. Acompanhou a Revolução dos Cravos em Portugal e os movimentos de independência de países africanos, em particular as guerras civis de Angola e Moçambique. Quando foi ao Chile cobrir a queda de Allende no golpe sanguinário do general Augusto Pinochet e viu o Estádio Nacional de Santiago coalhado de corpos de estudantes disse que aquele foi seu último ato de bravura. Na redação da revista – eu era o editor na época – Irineu não só era um excelente copidesque, como tradutor ágil do inglês e francês, qualidades muito valorizadas, pelos serviços exclusivos que a Manchete tinha com a revista Time e com as principais agências francesas de reportagens.

O episódio com Sidney Bechet em Paris me foi contado pela jornalista Ana Lúcia Bizinover, melhor amiga/amigo do Irineu em todos os anos da Bloch. Ela lembra:

“Conheci  o Irina nos primeiros dias de 73 . Vinha de ressaca do Réveillon por aquela rua do Novo Mundo. Ajudei-o a chegar à  Manchete. Era a rua Silveira Martins, que margeia os jardins do Palácio da República. Do outro lado havia um bar frequentado pelo pessoal da Manchete. Eu estava com meu fusca estacionado à porta desse bar e o Irineu, que já devia ter tomado umas e outras, falou bem alto:

– Olha aí uma candidata ao forno crematório! 

 O que eu chorei... Claro, ele pediu desculpas pela brincadeira de mau gosto. Na sequência viajou à Europa a serviço e me mandou uma carta linda “pour se faire pardonner”. Guardo a carta até hoje. Ficamos amigos para sempre. Ia às festas da família. Até o fim almoçávamos juntos uma vez por mês (Irineu morreu em 2005, aos 76 anos). Conheci o Michel e a Christine adolescentes. Michel tem 63 anos, é engenheiro aposentado e mora no Sul da França. Christine morreu no ano passado, demorei a saber. Pouco antes me deu um exemplar de Le Rouge et le Noir com anotações do Irineu, ela sabia que eu tinha paixão por esse livro.”



A “Santa Ceia”, circa 1977: Alberto de Carvalho, Ivan Alves, Wilson Cunha, Flávio de Aquino, Sammy Davis Jr (ao fundo), Roberto Muggiati, Heloneida Studart, R. Magalhães Jr, Wilson Passos, Argemiro Ferreira, Pedro Guimarães, Ney Bianchi, Carlos Heitor Cony e Irineu Guimarães. Toda vez que o Cony entrava na redação o Irineu batia palmas e dizia: “Salve o único cristão que passou a perna num judeu!”


Irineu ainda estava na Manchete em 1979 quando a abertura política azedou as relações entre empregados e patrões na Bloch. Uma segunda-feira, dia de fechamento da revista, em adesão ao movimento de todas as redações cariocas, os jornalistas da Bloch fizeram uma greve simbólica de silêncio e paralisação dos trabalhos durante uma hora. Adolpho Bloch investiu ensandecido contra a redação da Manchete. Irineu foi seu principal alvo:

– E o padre não quer rezar? Será que fez voto de silêncio?!

Ironicamente, Adolpho estava na pista certa. Assim que se aposentou Irineu traduziu, a pedido dos monges trapistas do Paraná – ordem conhecida por seu rigoroso voto de silêncio, o livro francês Les Mystères de la Trappe, edição bilingue em latim e português, uma obra-prima da paciência, fruto do seu conhecimento do latim, publicada no Brasil com o título de Os Cistercienses. Talvez o entrevero com Adolpho tenha pesado na decisão, mas há muito tempo Irineu sentia que devia ser mais valorizado profissionalmente. Acabou saindo da Bloch para ser produtor do noticiário internacional da TV Globo. Depois foi para o IBGE onde se aposentou como editor-geral das publicações. 

Uma das últimas vezes que estivemos juntos foi numa feijoada de sábado na casa do Cícero Sandroni no Cosme Velho. Diverti-me à beça assistindo a um intenso duelo verbal entre ele e Mário Pontes, discutindo os méritos e apontando os defeitos de suas respectivas cidades, Tamboril e Nova Russas, distantes apenas 30 quilômetros uma da outra. Foi um misto de tiroteio verbal no OK Corral e desafio de repentistas nordestinos inesquecível.

Frase do dia

 "A crase não foi feita para humilhar ninguém.”

FERREIRA GULLAR,  explicação de como a dúvida entre “a domicílio, em domicílio, à domicílio” gerou “DELIVERY”.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Meu encontro com a Rebordosa. Valeu, Angeli




Clique nas imagens para ampliar

por José Esmeraldo Gonçalves 

Aos 65 anos, Angeli anunciou o ponto final da sua carreira. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo. O cartunista fez uma longa e brilhante trajetória de 50 anos.  Após um diagnóstico de afasia progressiva, ele deixa um mundo de personagens que ajudaram várias gerações a decifrar o Brasil profundo, não o dos grotões, mas o que está em nós. Gerações que, uma a uma, Angeli desconstruiu com humor. Quem não se identificou com o universo do cartunista? Meia Oito, o esquerdista desbotado, Wood & Stock, os velhos hippies embalados por LSD vencido, os Skrotinhos, Mara Tara, Ritchi Pareide, Osgarmo e... a Rebordosa. 

O único jornalista que conseguiu entrevistar a adorável porra louca foi um Benedito Paixão, um correspondente no Paraguai criado pelo pai da Rebordosa.  

Não entrevistei a Rebordosa mas tive um date-supresa com a junkie mais chamosa do Brasil. 

Em fins de 1986, a jornalista Regina Valadares, que editava a Criativa, me pediu para escrever um texto sobre o ano que terminava. Devo lembrar que 1986 foi uma merda. O Brasil era governado por José Sarney. Isso já diz tudo? Não. Foi também o ano em que a seleção perdeu a Copa; foi anunciada a passagem do cometa Halley e ninguém viu; a nova moeda, o Cruzado, pirou os brasileiros. E, por falar em Kiev, 1986 foi o ano do acidente nuclear de Chernobyl. É mole ou quer mais? Revista publicada passei em uma banca da Rua Voluntários e comprei a Criativa. Custava Cz$ 20,00. Estava lá a matéria "1986- O que já era sem nunca ter sido". A ilustração encomendada pela Regina não poderia ser mais adequada. Em charge criada especialmente, ocupando quase uma página inteira, a Rebordosa era minha parceira naquela sinistra retrospectiva do ano. 

O Brasil era o próprio caos, mas o ano terminou bem pra mim, que vi de perto a Rebordosa na banheira virando a folhinha de um ano que ninguém aguentou. Só enchendo a cara.  Valeu, Angeli.

* Angeli publicou hoje no Twitter a mensagem abaixo: 





Fotomemória: Roberto e Erasmo by night

 

Roberto e Erasmo Carlos, 1966. Foto Manchete/Zigmunt Haar


“Roberto Carlos e Erasmo Carlos sempre rodeados de belas garotas”. É o que destaca a Revista Manchete de 22 de janeiro de 1966.
Naquele ano Roberto Carlos lançou um disco com grandes hits como “Eu te darei o céu”, “Esqueça”, “Nossa Canção”, “Namoradinha de um amigo meu” e “Negro gato."
A foto e as informações acima foram garimpadas pelo site História. O Panis Complementa: a foto foi publicada pela Manchete como parte de uma matéria maior com o cantor - "Roberto Carlos - um fenômeno entre fenômenos" - assinada por Odacir Soares, com fotos de Zigmunt Haar. A legenda não identifica as acompanhantes de Roberto, que acaba de comemorar 81 anos, e Erasmo supostamente na noite paulista. Uma curiosidade:  o grupo comportado parecia dividir uma Coca-Cola. Ou a mesa foi reformatada antes da foto em nome da imagem certinha dos ídolos da Jovem Guarda. Sobrou apenas uma taça (esquecida?) à frente de  Erasmo.


Publimemória: quando a banca era de jornal

 

Campanha da Abril no começo da década de 1970. Clique na imagem para ampliar.

por José Esmeraldo Gonçalves

Algumas poucas resistem bravamente. Eram pontos de referência da notícia. Acima, a reprodução de uma campanha publicitária da Editora Abril no começo dos anos 1970. A banca vista como uma biblioteca. O que, de fato era. Bem de época essa foto. O minivestido da jovem de verde contrasta com a formalidade de senhora, o engravatado da Av. Paulista, o rapaz que "tira uma casquinha", expressão da época, no jornal do dia. Claro que a cena é montada. a Abril escondeu todas as revistas da Bloch, incluindo a Manchete, então a semanal líder do país. Escapou uma Amiga, pouco acima da cabeça do jornaleiro. 

As bancas estão em extinção, a maioria virou um arremedo de loja de conveniência, a Bloch que era sólida se desmanchou no ar, a Abril foi despedaçada, vendida para o mercado financeiro e perdeu relevância, os impressos agonizam em morte lenta há alguns anos e, no Brasil, aguardam apenas um samaritano que lhes desligue os aparelhos (*).  A campanha da Abril é o TBT (Throwback Thursday.) de hoje, o regresso das quintas-feiras, como marca a famosa hastag das redes sociais. Ou, como escreveu Drummond sobre sua Itabira, "é apenas uma fotografia na parede". 

Já o jornalismo foi renovado pela tecnologia, ampliou seu alcance e é cada vez mais importante para a democracia, como se vê nesses tempos de trevas e de aloprados no Brasil atual. As "bancas? Foram para a nuvem. Até a moça de verde, hoje provavelmente uma avó antenada, agora pode acessá-las com um simples clique.

(*) Vale observar que embora os veículos estejam em transformação em todo o mundo, em capitais como Paris e Lisboa a maioria das bancas ainda vende numerosos títulos de jornais e revistas... impressos. Em países subdesenvolvidos (sim, o rótulo que a mídia trocou por "em desenvolvimento", está de volta trazido pela realidade), a crise é bem mais aguda e agravada pela nossa péssima distribuição de renda, pelo desprezo à Educação. 

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Mídia: Donald Trump quer acabar com os debates presidenciais na próxima campanha eleitoral


O jornal The Atlantic levantou a bola: uma instituição eleitoral dos Estados Unidos, o debate presidencial, corre sério risco de acabar.  

A ultra direita pró-Donald Trump domina o Comitê Nacional Republicano que, na semana passada, votou para boicotar a Comissão de Debates Presidenciais em 2024. Essa ofensiva antidemocrática das facções de Trump era esperada. Em 2020, o então candidato não obedecia às regras acordadas para o primeiro, ignorava a cronometragem, gritava, xingava Joe Biden. No segundo debate, ausentou-se sob a alegação de estar com sintomas de Covid-19 e recusou a proposta de um debate virtual. Para o terceiro debate, os organizadores incluiram na mesa de som um botão "mute" para evitar que Trump ultrapassasse o tempo. Não é que os republicanos não gostem das regras dos debates, ele detestam debater simplesmente porque os conteúdos saem dos seus controles. Suas falsas versões para os fatos são expostas a uma grande audiência. A ultra direita fica mais confortável com a desenvoltura das fake news nas suas próprias redes sociais, com os robôs e o impulsionamento. Por isso, prefere que seu candidato não participe de debates na próxima campanha eleitoral.

O que isso tem a ver com o Brasil? Bolsonaro também tem aversão ao debate. Mostrou isso em 2018. É possível que o exemplo dos formuladores da campanha de Trump, de quem eles copiam a estratégia digital, leve Bolsonaro a desistir de vez do formato, sem sequer fingir que vai participar. Ele também se sente mais à vontade produzindo fake news em cascata. 

Frase do Dia: humanos, fora

 “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.”

GEORGE ORWELLA revolução dos bichos

Memórias - "Eu vi a Copa de 50 em Curitiba" - Por Roberto Muggiati (*)

Estádio Durival Britto e Silva. Foto Acervo Cid Destefani

Piá de 12 anos, já viciado em futebol, assisti deslum­­bra­­do com meu pai aos dois jogos que aconteceram no estádio da Vila Capanema

Eu estava lá, posso afirmar com orgulho. Assisti aos dois jogos da Copa de 1950 em Curitiba. Não exatamente da arquibancada coberta, mas, pela primeira vez, nas gerais. Eu era sócio do Clube Atlético Ferroviário e o seu estádio, o Durival Britto e Silva, era o meu quintal.

Na verdade, ficava longe de minha casa, no alto da Carlos de Carvalho. Em 1949, no primeiro ano do ginásio, com o Colégio Estadual do Paraná ainda ocupando o acanhado prédio da Ébano Pereira, nossas aulas de educação física eram no estádio da Vila Capanema.

Naquelas manhãs frias de Curitiba, eu pegava dois ônibus até a estação da RVPSC (parece a sigla de répondez s’il vous plaît, mas era a da Rede Viação Paraná-Santa Catarina, que durou de 1942 a 1957). Ali começavam os domínios da Rede, que incluíam o estádio e o time do Ferroviário, fundado em 1930 por funcionários da ferrovia.

Para não pegar um terceiro ônibus, eu escalava as bases da Ponte Preta (segundo Dalton Trevisan, "a única ponte da cidade sem rio por baixo") e seguia através e ao longo dos trilhos até os muros dos fundos do Durival Britto, que eu pulava acrobaticamente e ganhava acesso às quadras de esporte (até hoje o estádio é rodeado por uma pista de corrida).

Assisti ali a muitos torneios-início, um ritual da época, tipo de apresentação dos times na abertura do campeonato. Numa espécie de quermesse dominical, a partir das dez da manhã, cerca de 15 a 20 equipes se enfrentavam em jogos-relâmpago de 20 minutos. No caso de empate, decidiam nos pênaltis. E assim iam se classificando e eliminando até só restarem duas, que decidiam no fim da tarde numa partida de uma hora.

Projetado pelo arquiteto Rubens Maister, o Durival Britto e Silva (nome do superintendente da RVPSC) foi inaugurado em 23 de janeiro de 1947, numa partida noturna que confirmou a excelência do sistema de refletores, mas não a do time da casa, o Ferroviário, que apanhou do Fluminense por 5 x 1 (com gol inaugural de Careca).

Na época, o estádio era o terceiro maior do Brasil, depois de São Januário e do Pacaembu. Tinha uma bela concha acústica, onde assisti certa vez a um show da orquestra de Xavier Cugat, o Rei da Rumba, estrela dos musicais da Metro. O espetáculo foi uma lástima, com meia dúzia de gatos pingados e um torcedor fanático e mentalmente desequilibrado importunando o maestro a toda hora.

O Paraquedista era uma espécie de Fantasma da Ópera e Corcunda de Nôtre Dame de plantão no Durival Britto. Cugat tinha seus cacoetes consagrados: casava sempre com suas rumbeiras (a da ocasião era a curvilínea Abbe Lane), mas suas relações mais estáveis eram com os cãezinhos chihuahua que levava sempre no bolso do bem cortado summer-jacket. Como passou a infância em Cuba e a juventude em Los Angeles, eu o considerava um latino típico. Só tempos depois soube que era Catalão, da mesma região de Salvador Dali, onde fora batizado com o sonoro nome de Francesc d’Asis Xavier Cugat Mingall de Bru i Deulofe.

Foi a qualidade das instalações do Durival Britto que garantiu a Curitiba a escolha como uma das sedes da Copa de 1950 (as outras, além de Rio e São Paulo, foram Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Assim foi que, no domingo, 25 de junho, eu e meu pai nos instalamos nos bancos de madeira das gerais, à esquerda da torre do relógio, para acompanhar Espanha versus Estados Unidos. (Pedro Stenghel Guimarães, que assinava a coluna "Do meu degrau nas gerais", postulava que a geral era o lugar correto para se apreciar bom futebol).

O futebol não foi grande coisa. Houve quem gostasse mais da preliminar, na qual o Inter­­na­­cional de Campo Largo bateu o União da Lapa por 1 a 0, numa empolgante peleja. Os EUA, que tinham disputado a primeira Copa em 1930, voltavam a participar. Souza fez o primeiro gol, aos 17 minutos. Os espanhóis viraram no segundo tempo, com dois gols de Basora e um de Zarra. O juiz, ou referee (ainda se usava a expressão) foi o polêmico Mário Vianna, mas não teve muito trabalho. Os espanhóis com seu uniforme grená, os americanos de camisa branca com faixa diagonal e calções azuis.

Na quinta-feira seguinte, os EUA se tornavam a maior zebra na história das Copas. Inventores do esporte, os ingleses participavam pela primeira vez de um Mundial e chegaram como favoritos. Os americanos tinham uma equipe amadora, formada por imigrantes e eliminaram os ingleses por 1 a 0, em Belo Ho­­rizonte. O autor do gol foi Gaet­jens, nascido no Haiti. Em 2005, um filme celebrou o feito, The Game of their Lives/Duelo de Campeões. (As cenas do jogo em Belo Horizonte foram rodadas no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, no Rio.)

Naquela mesma quinta-feira, 29, Paraguai e Suécia empatavam por dois gols em Curitiba. Os suecos com camisas amarelas e calções azuis, meias amarelas e azuis, o Paraguai com calções escuros e camiseta listrada branca e vermelha, a única seleção de mangas curtas. A Suécia se classificaria para a fase final, ga­­nhando por 3 a 1 da Espanha, mas perdendo do Brasil (7 x 1) e do Uruguai (3 x 2).

A goleada do Brasil e o escore apertado do Uruguai indicavam uma barbada brasileira na finalíssima do Maracanã em 16 de julho. E tinha mais: pelo critério de pontuação da época, o Brasil só precisava de um empate para ser campeão — e foi campeão até os 34 minutos do segundo tempo, quando aconteceu o fatídico gol de Ghiggia. Este jogo ouvi pelo rádio ao lado do meu avô Eugênio, cego, e choramos lágrimas copiosas.

Tudo bem, o Brasil foi o único país a participar das 19 Copas até agora. É pentacampeão, com uma taça a mais do que a Itália, duas a mais do que a Alemanha, três a mais do que Argentina e Uruguai, quatro a mais do que França e Inglaterra — "a taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa..." Tudo bem, mas até hoje ainda sinto o gosto amargo daquelas lágrimas de 60 anos atrás.

(*) Artigo publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo em 29/05/2010.

Você poderá ver mais fotos no link abaixo:

https://www.gazetadopovo.com.br/esportes/copa/2010/eu-vi-a-copa-de-50-em-curitiba-0u7vnhqnbm5bdcj1wtp8fzxhq/

Henrique Koifman na BandNews FM

 

Henrique Koifman, que foi repórter da Manchete e EleEla lança programa na BandNewsFM e no streaming.

O Pinóquio da Terceira Via também m bombou no Twitter