Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Bonequinha musical é luxo só
Por Eli Halfoun
Parece que a febre do “apertar cintos” provocada pela crise financeira mundial não preocupa tanto assim os ingleses, pelo menos os que se dedicam à produção de espetáculos musicais. Para promover o lançamento da versão musical de “Bonequinha de Luxo” (um dos mais famosos filmes estrelados por Audrey Hepburn em 1961) os produtores do espetáculo (em cartaz no palco do West End, em Londres, com Anna Ariel no papel título) fizeram o café da manhã mais caro do mundo. Os fabricantes do licor Chamboard bancaram a fartura, que não foi uma fartura qualquer servida para apenas 15 convidados. O cardápio (no caso menu cabe melhor) tinha, entre muitas outras delícias, croissants decorados e cobertos com ouro comestível e diamantes, geléias de groselha negra colhida na região francesa de Bar de Luc, uma xícara do sofisticado café Kopi Luak (cada xícara custa US$75), além de coquetéis preparados com champanhe Perrier Jouet Belle Epoque (custa US$ 1,5 mil a garrafa) e doses do licor Chamboard servido em garrafa incrustada de ouro, diamantes e pérolas (cada garrafa custa US$ 35 mil dólares). A brincadeira (essa é o que se pode chamar de brincadeira de bom gosto) custou US$ 35 mil dólares por pessoa. Aqui festa de lançamento é na base do salgadinho requentado e cerveja vagabunda e ainda por cima quente. Quem pode, pode.
Hebe americana sai de cena. Por enquanto...
Por Eli Halfoun
Enquanto por aqui se especula sobre o provável fim do Fantástico (a Globo não se pronuncia oficialmente até porque parece gostar da boataria), nos Estados Unidos, pelo menos no que diz respeito à televisão, as coisas ficam mais claras e comunicados oficiais acabam imediatamente com as especulações. Foi o que fez Oprah Winfrey, a mais respeitada apresentadora americana (uma espécie de Hebe Camargo de lá ou seria a Hebe a Oprah de cá?): Há dias (mais precisamente no último dia 20) Oprah anunciou em seu programa, que apresenta há duas décadas na CBS, o fim do “Oprah Winfrey Show”. Lá ao contrário do que costuma acontecer por aqui não haverá aquele jogo de empurra para tentar saber seu destino artístico. Ela se encarregou de dizer a verdade: está deixando a CBS para dedicar-se integralmente ao comando de uma nova emissora de televisão da qual é a dona. Ao praticamente despedir-se do público Oprah disse: “Amo tanto este programa que foi a minha vida. Eu o amo o bastante para saber a hora de dizer adeus”. Taí um exemplo que muitos profissionais da nossa televisão deveriam seguir.
Enquanto por aqui se especula sobre o provável fim do Fantástico (a Globo não se pronuncia oficialmente até porque parece gostar da boataria), nos Estados Unidos, pelo menos no que diz respeito à televisão, as coisas ficam mais claras e comunicados oficiais acabam imediatamente com as especulações. Foi o que fez Oprah Winfrey, a mais respeitada apresentadora americana (uma espécie de Hebe Camargo de lá ou seria a Hebe a Oprah de cá?): Há dias (mais precisamente no último dia 20) Oprah anunciou em seu programa, que apresenta há duas décadas na CBS, o fim do “Oprah Winfrey Show”. Lá ao contrário do que costuma acontecer por aqui não haverá aquele jogo de empurra para tentar saber seu destino artístico. Ela se encarregou de dizer a verdade: está deixando a CBS para dedicar-se integralmente ao comando de uma nova emissora de televisão da qual é a dona. Ao praticamente despedir-se do público Oprah disse: “Amo tanto este programa que foi a minha vida. Eu o amo o bastante para saber a hora de dizer adeus”. Taí um exemplo que muitos profissionais da nossa televisão deveriam seguir.
Água de coco é legal
A polêmica proibição de venda de coco na praia foi motivo de post e comentários neste paniscumovum. Hoje, nota no Globo, informa que o prefeito Eduardo Paes desfez a niciativa do seu secretário. Bom senso da autoridade e uma besteira a menos.
Até que a vida nos separe
por Eli Halfoun
Quem abriu uma pequena empresa mesmo que seja só para receber serviços prestados com nota fiscal (caso de muitos jornalistas) sabe que abrir a empresa é muito mais fácil do que livrar-se dela. Não basta fechar a porta e ir embora: antes disso existe toda uma complicada (desnecessária até) burocracia a ser cumprida. Abrir (empresa, é claro) é muito mais fácil do que fechar. O casamento é mais ou menos assim: casar é fácil, mas a separação é complicada. Era: para a maioria das separações não é mais necessário constituir advogado, pagar caro esperar durante anos a lentidão da Justiça. Desde 2007 quando foi sancionada a lei 11.441/07, a separação não consome mais do que 72 horas e custa menos do que R$ 300 quando realizada em cartório. Acabou aquela obrigação do “até que a morte nos separe”. Agora é só até que o cartório nos separe - o que tem funcionado bastante: desde que a lei entrou em vigor houve, em todo o Brasil, 40% de aumento em pedidos de divórcio via cartório. Tem muita gente descasando diariamente: no Rio são realizados 20 mil divórcios por ano nos 30 cartórios que possuem atribuições notarias. Até agora o Tribunal de Justiça do Estado fez 333.327 novos pedidos de divórcio consensual. Separar está bem mais fácil do que casar: hoje é possível o casal brigar no café da manhã e separar no jantar. Nesse caso talvez seja melhor não tomar mais café da manhã em casa ou passar a tomar café várias vezes até conseguir uma briguinha. Parece que a separação é consequência natural do casamento: segundo a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) O Judiciário brasileiro realiza em média, 260 mil separações, divórcios e inventários por ano, dos quais 70% são consensuais.. Está tão fácil divorciar-se que o número de casamentos tipo sessão passatempo pode aumentar até porque agora o casamento é “até que a vida nos separe”.
Quem abriu uma pequena empresa mesmo que seja só para receber serviços prestados com nota fiscal (caso de muitos jornalistas) sabe que abrir a empresa é muito mais fácil do que livrar-se dela. Não basta fechar a porta e ir embora: antes disso existe toda uma complicada (desnecessária até) burocracia a ser cumprida. Abrir (empresa, é claro) é muito mais fácil do que fechar. O casamento é mais ou menos assim: casar é fácil, mas a separação é complicada. Era: para a maioria das separações não é mais necessário constituir advogado, pagar caro esperar durante anos a lentidão da Justiça. Desde 2007 quando foi sancionada a lei 11.441/07, a separação não consome mais do que 72 horas e custa menos do que R$ 300 quando realizada em cartório. Acabou aquela obrigação do “até que a morte nos separe”. Agora é só até que o cartório nos separe - o que tem funcionado bastante: desde que a lei entrou em vigor houve, em todo o Brasil, 40% de aumento em pedidos de divórcio via cartório. Tem muita gente descasando diariamente: no Rio são realizados 20 mil divórcios por ano nos 30 cartórios que possuem atribuições notarias. Até agora o Tribunal de Justiça do Estado fez 333.327 novos pedidos de divórcio consensual. Separar está bem mais fácil do que casar: hoje é possível o casal brigar no café da manhã e separar no jantar. Nesse caso talvez seja melhor não tomar mais café da manhã em casa ou passar a tomar café várias vezes até conseguir uma briguinha. Parece que a separação é consequência natural do casamento: segundo a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) O Judiciário brasileiro realiza em média, 260 mil separações, divórcios e inventários por ano, dos quais 70% são consensuais.. Está tão fácil divorciar-se que o número de casamentos tipo sessão passatempo pode aumentar até porque agora o casamento é “até que a vida nos separe”.
Cuidado: o sal é o vilão dos seus olhos
por Eli Halfoun
Aquele salgadinho (salgado mesmo) fundamental para acompanhar um chope gelado e que você come sem culpa pode ser o vilão de seus olhos. Recente pesquisa publicada no American Journal of Epidemology revela que comer muito sal pode acelerar o aparecimento da catarata, responsável por cerca de 50% dos casos de cegueira no Brasil.
Entenda melhor: a catarata é um distúrbio comum a partir dos 65 anos e que leva a perda da transparência do cristalino, lente que fica atrás da pupila e é responsável por dar foco à visão. Oftalmologistas afirmam que não dá para prevenir o surgimento da catarata, mas é possível retardar e uma das formas é reduzir o consumo diário da quantidade de sal: comer muito sal acelera o aparecimento da catarata porque dificulta a manutenção da pressão do cristalino que para ficar transparente precisa estar com baixos níveis de sódio.
A orientação é que o consumo seja de no máximo seis gramas de sal por dia, equivalente a uma colher de chá. O alerta é importante já que segundo a Organização Mundial de Saúde “o brasileiro ingere o dobro ou até o triplo da quantidade de sal recomendada pelos médicos.”
Segundo o estudo desenvolver catarata ao longo da vida é praticamente inevitável porque o problema está diretamente ligado ao envelhecimento. Calma, nada de ficar apavorado: a cirurgia de catarata é simples e a mais comum entre os adultos (450 mil são realizadas anualmente pelo SUS) acima dos 65 anos. Sempre com resultados bastante satisfatórios em mais de 95% dos casos.
Mesmo assim não custa nada prevenir-se: de saída tire o saleiro da mesa, reduza o sal no preparo dos alimentos (aliás, comer virou um perigo já nos proíbem de quase tudo: gordura, açúcar, carne, os prazeres da “boa mesa”), elimine as latarias (conservas e todos os produtos industrializados) Não é só: além de cuidar da alimentação evite o excesso de radiação ultravioleta. Em outras palavras: proteja os olhos do sol usando óculos escuros (de boa qualidade) e chapéu. O sol causa danos que não se limitam à catarata: provoca também uma série de degenerações maculares.
Prevenir é como diz a sabedoria popular, o melhor remédio para viver mais e melhor. Afinal ainda temos muita coisa para enxergar,além de tiroteios e assaltos
Aquele salgadinho (salgado mesmo) fundamental para acompanhar um chope gelado e que você come sem culpa pode ser o vilão de seus olhos. Recente pesquisa publicada no American Journal of Epidemology revela que comer muito sal pode acelerar o aparecimento da catarata, responsável por cerca de 50% dos casos de cegueira no Brasil.
Entenda melhor: a catarata é um distúrbio comum a partir dos 65 anos e que leva a perda da transparência do cristalino, lente que fica atrás da pupila e é responsável por dar foco à visão. Oftalmologistas afirmam que não dá para prevenir o surgimento da catarata, mas é possível retardar e uma das formas é reduzir o consumo diário da quantidade de sal: comer muito sal acelera o aparecimento da catarata porque dificulta a manutenção da pressão do cristalino que para ficar transparente precisa estar com baixos níveis de sódio.
A orientação é que o consumo seja de no máximo seis gramas de sal por dia, equivalente a uma colher de chá. O alerta é importante já que segundo a Organização Mundial de Saúde “o brasileiro ingere o dobro ou até o triplo da quantidade de sal recomendada pelos médicos.”
Segundo o estudo desenvolver catarata ao longo da vida é praticamente inevitável porque o problema está diretamente ligado ao envelhecimento. Calma, nada de ficar apavorado: a cirurgia de catarata é simples e a mais comum entre os adultos (450 mil são realizadas anualmente pelo SUS) acima dos 65 anos. Sempre com resultados bastante satisfatórios em mais de 95% dos casos.
Mesmo assim não custa nada prevenir-se: de saída tire o saleiro da mesa, reduza o sal no preparo dos alimentos (aliás, comer virou um perigo já nos proíbem de quase tudo: gordura, açúcar, carne, os prazeres da “boa mesa”), elimine as latarias (conservas e todos os produtos industrializados) Não é só: além de cuidar da alimentação evite o excesso de radiação ultravioleta. Em outras palavras: proteja os olhos do sol usando óculos escuros (de boa qualidade) e chapéu. O sol causa danos que não se limitam à catarata: provoca também uma série de degenerações maculares.
Prevenir é como diz a sabedoria popular, o melhor remédio para viver mais e melhor. Afinal ainda temos muita coisa para enxergar,além de tiroteios e assaltos
domingo, 22 de novembro de 2009
Uma foto vale mil palavras? Depende do photoshop
O uso do Photoshop para corrigir defeitos em fotos, retocar curvas e cores de mulheres famosas, juntar na mesma foto ou eliminar personagens em determinada cena, tem sido debatido em redações. Há tanto exagero nos retoques que já existem até sites especializados em mostrar os vacilos dos editores e diretores de arte. Visite, neste link, o site Photoshop Disasters
Cante parabéns pro Mago
Paulo Coelho (na foto, reprodução do site do escritor) anuncia em seu blog um concurso para escolher vinte dos seus seguidores para serem convidados especias da sua festa de aniversário em março do ano que vem, na Áustria, em uma localidade perto de Viena. O concurso consiste em vinte perguntas que deverão ser respondidas até o fim do ano. Atenção: o convite não inclui passagem e hospedagem mas apenas o direito de participar da festa de aniversário do escritor. Confira no link Entre nessa festa
Gulodice oficial: Congresso ou panelão?
por Eli Halfoun
Se depender do que come às nossas custas daqui a pouco a turma da União, incluídos aí evidentemente deputados e senadores, que são mesmo, em sua maioria, do time “come e dorme”, estarão todos obesos. Recente levantamento mostrou que a turminha gulosa gastou de janeiro até setembro nada mais nada menos do que R$1,5 bilhão em alimentação, item no qual o dinheiro de nossos impostos foi, digamos, mais empregado (eles comem de montão e a população passa fome). O levantamento revela que o gasto total da União com seu pessoal foi até setembro de R$ 2,6 bilhões, o que equivale a cerca de R$ 32 milhões por mês, ou seja, perto de R$ 1 milhão por dia. O quesito (parece mesmo o samba do crioulo doido) alimentação gastou mais, mas não houve economia em diárias (foram gastos R$ 544 milhões). Em seguida estão as passagens quer consumiram R$ 487 milhões (a turminha adora viajar). O levantamento revela que entre os poderes o Executivo é o que gasta mais (cerca de R$ 1,89 bilhão) sendo R$ 958 milhões em alimentação, R$ 502 milhões em diárias e R$ 434 milhões em passagens. Do jeito que essa turma gulosa gasta em alimentação talvez o ideal seja transformar o Congresso em SPA, incluindo aí caminhadas diárias para emagrecer e economizar nas passagens.
Se depender do que come às nossas custas daqui a pouco a turma da União, incluídos aí evidentemente deputados e senadores, que são mesmo, em sua maioria, do time “come e dorme”, estarão todos obesos. Recente levantamento mostrou que a turminha gulosa gastou de janeiro até setembro nada mais nada menos do que R$1,5 bilhão em alimentação, item no qual o dinheiro de nossos impostos foi, digamos, mais empregado (eles comem de montão e a população passa fome). O levantamento revela que o gasto total da União com seu pessoal foi até setembro de R$ 2,6 bilhões, o que equivale a cerca de R$ 32 milhões por mês, ou seja, perto de R$ 1 milhão por dia. O quesito (parece mesmo o samba do crioulo doido) alimentação gastou mais, mas não houve economia em diárias (foram gastos R$ 544 milhões). Em seguida estão as passagens quer consumiram R$ 487 milhões (a turminha adora viajar). O levantamento revela que entre os poderes o Executivo é o que gasta mais (cerca de R$ 1,89 bilhão) sendo R$ 958 milhões em alimentação, R$ 502 milhões em diárias e R$ 434 milhões em passagens. Do jeito que essa turma gulosa gasta em alimentação talvez o ideal seja transformar o Congresso em SPA, incluindo aí caminhadas diárias para emagrecer e economizar nas passagens.
Salve o feijão-maravilha dos escravos e dos senhores
por Eli Halfoun
“Fulano está batendo um prato de feijão com arroz” ou “mulher, bota mais água no feijão que estou levando um amigo para jantar” – essas são expressões populares, de certa forma, que pretendem mostrar que feijão é comida de pobre. Não é e nunca foi: ao contrário do que conta a história o feijão não frequentava apenas os pratos dos escravos, mas também a mesa dos “senhores”, que foram os criadores da nossa tradicional feijoada. Com base em depoimentos do pintor francês Jean –Baptiste Debret, que desembarcou no Brasil em 1816 e viveu no Rio ao longo do século 19, o pesquisador Almir Chaiban El-Kareh, da Universidade Federal Fluminense, quer mostrar que a feijoada, como é servida até hoje, não surgiu com os escravos que utilizavam sobras de carne, mas sim nas famílias ricas “porque na época os miúdos eram valorizados pelas elites. Os ricos comiam refeições com feijão incrementados com diversos tipos de carne, enquanto os pobres comiam feijão ralo com pequenos pedaços de carne-seca” como, aliás, acontece até hoje. Até agora a informação é de que a feijoada surgiu como invenção dos escravos que juntariam sobras de carnes não aproveitadas pelos ”senhores” ou como também conta a história seria uma invenção de famílias de poucas posses que requentariam sobras de refeições para reforçar a alimentação. A tese do pesquisador Almir Chaib, mostra que a feijoada foi criada para servir como comida para as elites do século 19. Mesmo assim no começo os ricos não admitiam a preferência pelo já na época feijão nosso de cada dia e como escreveu Debret “os pequenos comerciantes comiam feijão com um pedaço de carne-seca e farinha, regado com muita pimenta, mas faziam as refeições escondidos de todos no fundo das lojas”. Só a partir de 1830, pobres e ricos comiam feijão (existem no mundo 4.600 grãos classificados como feijão) com carne seca todos os dias, o que acabou fazendo o feijão sobressair e conseguir mudar hábitos europeus de alimentação, deixando o cozido português apenas como opção. Aqui a feijoada ganhou ritmo de festa (aliás, é praticamente sinônimo de festa), mas quando é completa ainda é um prato permitido apenas para os “senhores” que nos finais de semana, faça chuva ou faça sol,“caem” de boca em uma suculentas feijoada e deixam de lado os conselhos de cardiologistas que acham a feijoada um veneno para o coração porque é repleta de gorduras, mas eles, os cardiologistas, também não resistem ao saboroso e mais popular de nossos raros típicos. Afinl, feijão tem gosto de festa. Ou não tem?
Imprensa americana está imprensada
por Eli Halfoun
A crise financeira atinge violentamente o até então forte mercado editorial dos Estados Unidos obrigando grandes editoras a fazerem verdadeiros malabarismos (como, aliás, sempre aconteceu por aqui) para diminuir os prejuízos. É, por exemplo, o caso da editora Condé Nast, responsável por, entre outras revistas, a Vogue, que é um sucesso mundial. A editora está buscando fora do país (parece que lá nos States só socorrem os bancos e as montadoras de automóveis) alternativas. De saída, quer reajustar royalties e “empurrar” mais alguns títulos. No Brasil, a Conde Nast conversa com a Carta Editorial, que edita a Vogue por aqui, mas a editora não mostrou nenhum interesse (a maré tá braba mesmo com “uma marolinha”) em passar a editar também uma versão brasileira da revista Gentlemen's Quartely, o que pode fazê-la perder os direitos de publicação da Vogue já que a Editora Globo, com a qual foram iniciadas negociações, só aceita ficar com a Gentlemen’s se puder ficar também com a Vogue. Muitas letrinhas ainda voarão até o final dessa história até porque a Carta Capital tem segundo se comenta, um longo contrato de exclusividade para publicar a Vogue brasileira, mas como no Brasil tem jeitinho pra tudo Globo e Carta Capital podem ficar sócias pelo menos nesse projeto, o que seria uma boa, principalmente para nó, jornalistas realmente profissionais.
A crise financeira atinge violentamente o até então forte mercado editorial dos Estados Unidos obrigando grandes editoras a fazerem verdadeiros malabarismos (como, aliás, sempre aconteceu por aqui) para diminuir os prejuízos. É, por exemplo, o caso da editora Condé Nast, responsável por, entre outras revistas, a Vogue, que é um sucesso mundial. A editora está buscando fora do país (parece que lá nos States só socorrem os bancos e as montadoras de automóveis) alternativas. De saída, quer reajustar royalties e “empurrar” mais alguns títulos. No Brasil, a Conde Nast conversa com a Carta Editorial, que edita a Vogue por aqui, mas a editora não mostrou nenhum interesse (a maré tá braba mesmo com “uma marolinha”) em passar a editar também uma versão brasileira da revista Gentlemen's Quartely, o que pode fazê-la perder os direitos de publicação da Vogue já que a Editora Globo, com a qual foram iniciadas negociações, só aceita ficar com a Gentlemen’s se puder ficar também com a Vogue. Muitas letrinhas ainda voarão até o final dessa história até porque a Carta Capital tem segundo se comenta, um longo contrato de exclusividade para publicar a Vogue brasileira, mas como no Brasil tem jeitinho pra tudo Globo e Carta Capital podem ficar sócias pelo menos nesse projeto, o que seria uma boa, principalmente para nó, jornalistas realmente profissionais.
A "verba indenizatória" do Aécio Neves
por JJcomunic
Há anos a Folha de São Paulo lutava na justiça para ter acesso às notas fiscais entregues à Câmara pelos deputados para justificar a tal "verba indenizatória". Conseguiu. Está na edição de hoje. O jornal obteve informações de cerca de 70 mil notas. É uma amostra quase mínima do reembolso criado em 2001. A Folha publica matéria com a primeira avaliação. Bingo! Há notas de empresas fantasmas, endereços fictícios etc. Os deputados juntam a papelada para justificar o adicional mensal de R$15 mil. Haja recibo de aluguel de carro, de seguranças, de pagamentos de "consultoria", empresa de táxi aéreo instalada em cidade que nem pista de pouso tem...
E, não faltou dizer na reportagem, a caixa-preta da "verba indenizatória" foi criada em 2001 por Aécio Neves, quando era presidente da Câmara. O próprio, o Aécio presidenciável do PSDB. O mineiro inventou o benefício como uma forma de dar aumento aos colegas e a si próprio. Diz a Folha "o uso do dinheiro era flexível, bastando apresentar uma nota fiscal e alegar que a despesa era relacionada ao exercício do mandato". Vamos raciocinar? O objetivo da "verba" era dar um aumento disfarçado aos deputados. Certo? Supondo que eles gastassem o extra em despesas verdadeiras, não sobraria nada para o bolso de suas excelências e então não seria aumento. Certo? Daí que, para engordar as contas das figuras, só mesmo criando despesas fictícias. Uai, sô, elementar!
Há anos a Folha de São Paulo lutava na justiça para ter acesso às notas fiscais entregues à Câmara pelos deputados para justificar a tal "verba indenizatória". Conseguiu. Está na edição de hoje. O jornal obteve informações de cerca de 70 mil notas. É uma amostra quase mínima do reembolso criado em 2001. A Folha publica matéria com a primeira avaliação. Bingo! Há notas de empresas fantasmas, endereços fictícios etc. Os deputados juntam a papelada para justificar o adicional mensal de R$15 mil. Haja recibo de aluguel de carro, de seguranças, de pagamentos de "consultoria", empresa de táxi aéreo instalada em cidade que nem pista de pouso tem...
E, não faltou dizer na reportagem, a caixa-preta da "verba indenizatória" foi criada em 2001 por Aécio Neves, quando era presidente da Câmara. O próprio, o Aécio presidenciável do PSDB. O mineiro inventou o benefício como uma forma de dar aumento aos colegas e a si próprio. Diz a Folha "o uso do dinheiro era flexível, bastando apresentar uma nota fiscal e alegar que a despesa era relacionada ao exercício do mandato". Vamos raciocinar? O objetivo da "verba" era dar um aumento disfarçado aos deputados. Certo? Supondo que eles gastassem o extra em despesas verdadeiras, não sobraria nada para o bolso de suas excelências e então não seria aumento. Certo? Daí que, para engordar as contas das figuras, só mesmo criando despesas fictícias. Uai, sô, elementar!
O cajueiro do Vieira (do Lamas)
por Gonça
Vieira, o mais antigo garçom do Lamas, comemorou 70 anos de idade, 35 de casa, e anuncia sua aposentadoria neste fim de ano. Durante anos, gerações de jornalistas da Manchete frequentaram o Lamas no endereço original, no Largo do Machado, e no atual, na Marquês de Abrantes. Ney Bianchi, Carlinhos de Oliveira, Henrique Diniz, Monteirinho, Ronaldo Bôscoli, Sérgio de Souza, Wilson Pastor, Sergio Ryff, muitos e saudosos amigos foram atendidos pelo bom Vieira. Em torno de um chope bem tirado e pratos como os famosos filé mignon à francesa ou à oswaldo aranha, o filé à milanesa ou a canja especial, reuniam-se outros colegas das revistas da Bloch como Machadinho, Alberto Carvalho, Orlandinho, Marcelo Horn, Jussara, Regina d'Almeida, Egberto, Maria Alice, Deborah, Raul Silvestre (da TV Manchete)...
Há quase 20 anos, um fotógrafo da Manchete trouxe do Nordeste uma caixa de cajus, que distribuiu na redação. Levei alguns ao Lamas, pedimos uma boa cachaça e ali mesmo demos um destino honroso ao caju nordestino como excelente tira-gosto que é. O Vieira, que nos atendia, tinha acabado de comprar um sítio no interior do Estado, esse mesmo aonde deve ir agora desfrutar da sua merecida aposentadoria, gostou do visual do caju: "Não joguem as castanhas fora. Guardem pra mim que vou plantar no meu sítio".
Dependendo do solo, um cajueiro leva de três a cinco anos para dar frutos. Voltávamos ao Lamas nos anos seguintes e o Vieira não esquecia de dar notícia: "Vingou!"; "Tá lá crescendo"; "Tá florando!".
Deixei a Manchete, fui trabalhar em outras redações, as idas ao Lamas se tornaram raras, infelizmente. Estive lá depois de uma das saídas do tradicional bloco dos jornalistas, o Imprensa que Eu Gamo, há uns três anos, mas naquele dia não encontrei o Vieira. Fiquei sem notícias do cajueiro. Mas torço para que ainda esteja lá, com seus frutos, à espera do dono do sítio. Saúde, amigo Vieira!
Ui! A emoção fluiu!
O livro branco das privatizações nos anos 90 ainda vai ser publicado. Enquanto isso, é recolher pequena pérolas soltas por aí. Ex-diretora do BNDES de 1993 a 1996, quando a onda de privatização aceitava moeda podre e varria o país de alto a baixo, Elena Landau deixou, como diria o chavão de uma atriz da Globo, "a emoção fluir" em entrevista a Mônica Bergamo, hoje, na Folha de São Paulo. Um trecho da coluna: "Como investidora, Landau é, digamos ideológica. Não investe em ações de empresa com participação estatal. 'Não compro Petrobrás por questão de princípio. Não entro em sociedade de economia mista. Não gosto de coisa que tem o governo administrando'".
E pensar que com todo esse ódio no coraçãozinho, a economista esteve à frente de um banco público. Faz sentido.
E pensar que com todo esse ódio no coraçãozinho, a economista esteve à frente de um banco público. Faz sentido.
Cartaz de Obama vai parar na justiça
Deu no New York Times: o famoso cartaz de campanha de Barack Obama virou objeto de colecionador mas foi parar nos tribunais. O criador do cartaz, o artista plástico Shepard Fairey se "inspirou" em uma foto da AP, que corre atrás do prejuízo. Fairey admitiu o plágio. Precisava?
Com a corda no pescoço
por Eli Halfoun
A nudez da escritora e apresentadora Fernanda Young estampada na revista Playboy não agradou, como era de se esperar, a gregos e troianos (na verdade não agradou nem a uns e nem aos outros), mas tem rendido, além de críticas e piadas, algumas discussões, certamente inúteis. A mais recente se desenvolve em torno dos nós que atam Fernanda em algumas fotos. Agora a gente fica sabendo que os nós são do shibari, técnica milenar japonesa usada artisticamente para amarrar objetos, pacotes ou mulheres como Fernanda fez questão de mostrar. A corda tradicional japonesa utilizada para shibari é de cânhamo e quando é usada para amarração sexual ganha o apropriado nome de kinbaku. Há quem garanta que nas fotos de Fernanda a amarração sexual está mais para origami do que para fantasia sadomasô. Quem bom que esclareceram: como é que íamos poder dormir sem saber disso? (Foto: Divulgação/Playboy)
Praias fora de ordem
por Gonça
A prefeitura anuncia "choque de ordem nas praias". Por que não apenas ordem e que seja fiscalização permanente, metódica, e não surtos com jeito de jogada marqueteira? Basta caminhar pela orla para apontar numerosas infrações à lei. Como bicicletas fora da ciclovia circulando a toda velocidade nas avenidas interrompidas ao tráfego, na cara dos guardas municipais, entre idosos, crianças que brincam e demais pedestres. Quando ocorrer um grave acidente, e só aí - colisões ocorrem a toda hora -, as autoridades vão partir para outro inútil "choque de ordem". As barulhentas bombas hidráulicas com motor a gasolina que abastecem os chuveiros infernizam com altos decibéis a vida de que passa por ali. Alguém se preocupa com isso? Não, apenas os ouvidos de quem vai à praia. São ilegalidades flagrantes, não combatidas. Mas a prefeitura resolveu dar prioridade ao combate à venda de coco na areia. A alegação é que o coco polui e que será substituido por produtos industrializados. E as embalagens dos produtos industrializados não poluem? A medida dará aos quiosques o monopólio de venda de coco? Um breve replay: o ex-prefeito César Maia, em polêmica licitação que foi parar na justiça, concedeu a uma empresa a administração de todos os quiosques da orla. A empresa cobra aluguel dos espaços, indica os produtos que podem ser vendidos e abastece a rede. Não há muito tempo, a mesma empresa tentou banir dos quiosques o coco, trocando-o por produto industrializado. Não deu certo. Cariocas, turistas e toda a torcida do Vasco preferem o produto natural. Bom ficar de olho. A quem essa proibição, travestida de supostos "bons propósitos" (higiene, ecologia etc), beneficiará? Diria que a prefeitura está precisando de um choque de transparência. (Bombas barulhentas. Foto:Jussara Razzé)
A prefeitura anuncia "choque de ordem nas praias". Por que não apenas ordem e que seja fiscalização permanente, metódica, e não surtos com jeito de jogada marqueteira? Basta caminhar pela orla para apontar numerosas infrações à lei. Como bicicletas fora da ciclovia circulando a toda velocidade nas avenidas interrompidas ao tráfego, na cara dos guardas municipais, entre idosos, crianças que brincam e demais pedestres. Quando ocorrer um grave acidente, e só aí - colisões ocorrem a toda hora -, as autoridades vão partir para outro inútil "choque de ordem". As barulhentas bombas hidráulicas com motor a gasolina que abastecem os chuveiros infernizam com altos decibéis a vida de que passa por ali. Alguém se preocupa com isso? Não, apenas os ouvidos de quem vai à praia. São ilegalidades flagrantes, não combatidas. Mas a prefeitura resolveu dar prioridade ao combate à venda de coco na areia. A alegação é que o coco polui e que será substituido por produtos industrializados. E as embalagens dos produtos industrializados não poluem? A medida dará aos quiosques o monopólio de venda de coco? Um breve replay: o ex-prefeito César Maia, em polêmica licitação que foi parar na justiça, concedeu a uma empresa a administração de todos os quiosques da orla. A empresa cobra aluguel dos espaços, indica os produtos que podem ser vendidos e abastece a rede. Não há muito tempo, a mesma empresa tentou banir dos quiosques o coco, trocando-o por produto industrializado. Não deu certo. Cariocas, turistas e toda a torcida do Vasco preferem o produto natural. Bom ficar de olho. A quem essa proibição, travestida de supostos "bons propósitos" (higiene, ecologia etc), beneficiará? Diria que a prefeitura está precisando de um choque de transparência. (Bombas barulhentas. Foto:Jussara Razzé)
Século 21 é o fim de tudo
por Eli Halfoun
São freqüentes as discussões sobre o futuro do jornalismo – uma discussão que não deixa de ser necessária, mas que de certa forma acaba sempre deixando de lado um olhar para o futuro do jornalista que vê o mercado de trabalho achatar-se cada vez mais, é mal pago e não tem perspectiva de conquistar uma boa aposentadoria até porque muitos profissionais são obrigados a trabalhar como “frilas”, outra imposição do mercado. Vem mais discussão por aí: quem está de volta ao Brasil é Tom Wolfe, criador do New Journalism e autor do livro Fogueira das Vaidades que em 1990 virou filme com Tom Hanks, Bruce Willis e Melanie Griffith. Tom Wolfe, que participou, recentemente, do Festival Literário de Paraty promete palestras interessantes e confessa sua preocupação com três temas e revela que “se a genética diz que somos todos resultados de uma programação, não existe livre arbítrio e não temos culpa de nada". Outra preocupação de Wolfe é com o avanço da pornografia e ainda e com a defesa de Nietzche: “ele previu o nazismo, as duas Guerras Mundiais e a falência total dos valores no século 21”. Quer dizer: estamos a caminho do fundo do poço.
São freqüentes as discussões sobre o futuro do jornalismo – uma discussão que não deixa de ser necessária, mas que de certa forma acaba sempre deixando de lado um olhar para o futuro do jornalista que vê o mercado de trabalho achatar-se cada vez mais, é mal pago e não tem perspectiva de conquistar uma boa aposentadoria até porque muitos profissionais são obrigados a trabalhar como “frilas”, outra imposição do mercado. Vem mais discussão por aí: quem está de volta ao Brasil é Tom Wolfe, criador do New Journalism e autor do livro Fogueira das Vaidades que em 1990 virou filme com Tom Hanks, Bruce Willis e Melanie Griffith. Tom Wolfe, que participou, recentemente, do Festival Literário de Paraty promete palestras interessantes e confessa sua preocupação com três temas e revela que “se a genética diz que somos todos resultados de uma programação, não existe livre arbítrio e não temos culpa de nada". Outra preocupação de Wolfe é com o avanço da pornografia e ainda e com a defesa de Nietzche: “ele previu o nazismo, as duas Guerras Mundiais e a falência total dos valores no século 21”. Quer dizer: estamos a caminho do fundo do poço.
A dolorosa realidade da aposentadoria
por Eli Halfoun
Agora que a aposentadoria está outra vez no foco das discussões (discute-se muito, mas nunca se resolve nada) e com a possibilidade de o governo vetar os índices reais de aumento que os nossos ex-trabalhadores precisam é bom relembrar que é uma dolorosa ilusão acreditar que quando a aposentadoria chegar depois de muitos anos de labuta intensa o trabalhador poderá descansar e usufruir merecido descanso. Nada disso: a baixa remuneração das aposentadorias e o alto custo de vida obrigam aposentados a voltar ao mercado de trabalho para complementar a renda. Descansar pra que?
Essa é uma das conclusões do Relatório Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho. Aposentados entre 50 e 64 anos são os que mais retornam ao serviço e só em 2006 foram 4.196.286 (aumento de 9,77% em relação à 2005). Uma prova concreta de que o que a Previdência paga não dá nem para a saída. Agora nem se fala. Especialistas avaliam que a necessidade de rendimento extra é a principal razão, mas destacam também o fato das empresas estarem buscando funcionários com experiência”. Estudos mostram que a única faixa com maior retração de emprego é a entre 16 e 17 anos. Portanto, olhemos para nossos velhos e também para nossos jovens.
A aposentadoria é um fenômeno historicamente recente, instituído na sociedade industrial como um direito adquirido pelos trabalhadores. Mas não dá para negar que a passagem do trabalho ao repouso é acompanhada de modificações que marcam profundamente a vida dos indivíduos. Associações de defesa do aposentado atribuem a obrigatoriedade de voltar ao trabalho ao achatamento das aposentadorias e pensões, resultado de uma política e um comportamento social que estigmatiza e excluiu os direitos de cidadania dos idosos e, portanto, dos aposentados.
Estudos mostram que entre 1991 e 2000 o número de aposentados no Brasil cresceu em média 35%. Calcula-se que só no Rio estejam cerca de 1,5 milhões de idosos aposentados, quase todos obrigados a abrir mão da justa sombra e água fresca para retornar, por absoluta necessidade financeira, ao mercado de trabalho, que não lhes oferece muito e nem os trata com respeito. Parece que voltamos ao passado aos períodos históricos quando idosos eram encarados, na maioria das vezes, como sendo “inúteis” ou “sobrantes” por estarem fora do processo produtivo.
Os aposentados estão isso sim é recebendo pouco - cada vez menos - e pagando caro por conta de uma política que nunca os tratou com atenção. É preciso - e já - olhar para o presente e o futuro e retribuir aos aposentados o que com trabalho conquistaram: uma real aposentadoria.
Agora que a aposentadoria está outra vez no foco das discussões (discute-se muito, mas nunca se resolve nada) e com a possibilidade de o governo vetar os índices reais de aumento que os nossos ex-trabalhadores precisam é bom relembrar que é uma dolorosa ilusão acreditar que quando a aposentadoria chegar depois de muitos anos de labuta intensa o trabalhador poderá descansar e usufruir merecido descanso. Nada disso: a baixa remuneração das aposentadorias e o alto custo de vida obrigam aposentados a voltar ao mercado de trabalho para complementar a renda. Descansar pra que?
Essa é uma das conclusões do Relatório Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho. Aposentados entre 50 e 64 anos são os que mais retornam ao serviço e só em 2006 foram 4.196.286 (aumento de 9,77% em relação à 2005). Uma prova concreta de que o que a Previdência paga não dá nem para a saída. Agora nem se fala. Especialistas avaliam que a necessidade de rendimento extra é a principal razão, mas destacam também o fato das empresas estarem buscando funcionários com experiência”. Estudos mostram que a única faixa com maior retração de emprego é a entre 16 e 17 anos. Portanto, olhemos para nossos velhos e também para nossos jovens.
A aposentadoria é um fenômeno historicamente recente, instituído na sociedade industrial como um direito adquirido pelos trabalhadores. Mas não dá para negar que a passagem do trabalho ao repouso é acompanhada de modificações que marcam profundamente a vida dos indivíduos. Associações de defesa do aposentado atribuem a obrigatoriedade de voltar ao trabalho ao achatamento das aposentadorias e pensões, resultado de uma política e um comportamento social que estigmatiza e excluiu os direitos de cidadania dos idosos e, portanto, dos aposentados.
Estudos mostram que entre 1991 e 2000 o número de aposentados no Brasil cresceu em média 35%. Calcula-se que só no Rio estejam cerca de 1,5 milhões de idosos aposentados, quase todos obrigados a abrir mão da justa sombra e água fresca para retornar, por absoluta necessidade financeira, ao mercado de trabalho, que não lhes oferece muito e nem os trata com respeito. Parece que voltamos ao passado aos períodos históricos quando idosos eram encarados, na maioria das vezes, como sendo “inúteis” ou “sobrantes” por estarem fora do processo produtivo.
Os aposentados estão isso sim é recebendo pouco - cada vez menos - e pagando caro por conta de uma política que nunca os tratou com atenção. É preciso - e já - olhar para o presente e o futuro e retribuir aos aposentados o que com trabalho conquistaram: uma real aposentadoria.
sábado, 21 de novembro de 2009
Viagem visual (com André Cypriano) ao Presídio da Ilha Grande e à Rocinha
Desde 1993, André Cypriano focaliza um facção criminosa dentro e fora dos presídios cariocas. Um trabalho que começou quando o fotógrafo foi ao Instituto Penal Cândido Mendes, o famoso e de triste memória presídio da Ilha Grande. Cypriano publicou um belíssimo livro - O Caldeirão do Diabo - Editora Cosac & Naify - com essas fotos. Na revista Imprensa, rubrica Ensaio, edição 251, há uma matéria sobre o fotógrafo paulistano ganhador do New Works Award, de 1998, e do Mother Jones International, de 1999. Nas reproduções, a capa e uma foto interna do livro O Caldeirão do Diabo. Acesse aqui o site André Cypriano (vá até à aba Portfolios, no canto superior direito da homepage) e veja fotos do presídio e um belíssimo ensaio sobre a Rocinha.
Tempo perdido (deu na revista Fatos, em 1986)
por Gonça
O Secretário-geral da reunião climática da ONU, Yvo de Boer, avalia que o Brasil terá um papel importante, como líder do bloco dos países em desenvolvimento e autor de iniciativas concretas para a redução da emissão dos gases-estufa. A Convenção de Mudanças Climáticas, que acontecerá em Copenhague, reunirá 192 países mas a busca de um acordo será complicada. China e Estados Unidos, apesar das promessas de campanha de Barack Obama, já anunciaram, no velho estilo Bush, que não vão assumir um compromisso de metas. Juntos, os dois países respondem por 40% das emissões globais e dependem de fontes de energia poluente. O Brasil avança, oferece metas, mas mostra contradições internas que podem comprometer a anunciada liderança ambiental. Por pressões de grupos privados associados a políticos, o governo tem autorizado a construção de usinas a carvão e de siderúrgicas a carvão vegetal, instalações altamente poluentes e danosas ao meio ambiente. Isso quando a oferta de gás natural, que polui menos, está crescendo. O fato é que enquanto cada país luta pelo que considera serem seus interesses econômicos, o mundo está perdendo o tempo e a batalha contra o aquecimento global. Em 1986, duarante uma reunião do Subcomitê de Poluição Ambiental do Senado dos Estados Unidos, o senador John Chaffe assegurou: "É possível que através de sua ignorância ou indiferença, o homem estaja alterando de forma irreversível a capacidade da nossa atmosfera suportar a vida". Vão-se 23 anos. Este, um dos primeiros alertas, foi publicado pela extinta revista Fatos (publicação semanal de informação e análise da Bloch Editores que durou cerca um ano e meio e foi fechada por motivos políticos). De lá pra cá, muita conversa e poucos avanços. (Na reprodução, matéria publicada na revista Fatos em julho de 1986)
No ar, amanhã, o novo RJTV
Na próxima segunda-feira, dia 23, o RJTV exibirá novo visual e novos apresentadores. A jornalista Ana Paula Araújo vai apresentar a primeira edição do telejornal, às 11h55. O uso teleprompter será dispensado na apresentação das reportagens, com foco no serviço à comunidade. A bancada será menor e o estúdio facilitará a movimentação dos jornalistas, convidados e comentaristas. Entre eles, o ex-capitão do Bope e autor do livro Elite da Tropa (com Luiz Eduardo Soares e André Batista), Rodrigo Pimentel, que fará sua estreia na TV. De segunda a sexta-feira, ele será o responsável pela análise de segurança pública no Rio de Janeiro. Pimentel dará dicas para os moradores da cidade. Outra nova participação é a do médico Luís Fernando Correia, que, de terça a sexta-feira, vai tirar dúvidas dos telespectadores na área de saúde e bem-estar. O repórter Edimílson Ávila também estará no estúdio diariamente, com informações sobre trânsito e eventos nas ruas da cidade. Próximo ao fim de semana, Fábio Júdice apresentará notícias na coluna sobre cultura e entretenimento. No esporte, às segundas e quintas-feiras, Luís Roberto e Júnior discutirão a rodada de futebol, entre outras modalidades. O ‘RJTV 2ª edição’, às 18h45, também estará renovado. O apresentador Márcio Gomes assumirá o telejornal em novo cenário, com as últimas notícias do dia no Rio de Janeiro.
O 'RJTV 1ª edição' é exibido de segunda-feira a sábado, às 11h55. O ‘RJTV 2ª edição’ vai ao ar, de segunda-feira a sábado, às 18h45. (Informações da Central Globo de Comunicação. Na foto, Ana Paula Araújo. Crédito: Divulgação/TV GLOBO / Isac Luz)
O 'RJTV 1ª edição' é exibido de segunda-feira a sábado, às 11h55. O ‘RJTV 2ª edição’ vai ao ar, de segunda-feira a sábado, às 18h45. (Informações da Central Globo de Comunicação. Na foto, Ana Paula Araújo. Crédito: Divulgação/TV GLOBO / Isac Luz)
Sai pra lá, gordinha
por Eli Halfoun
Sabe aquelas senhoras rechonchudas que faziam a alegria dos pintores e literalmente enchiam os salões de festa da antiga? Pois é, hoje elas não passariam (e não só porque não caberiam) pela porta de qualquer atelier. Enquanto “nas antigas” as gordinhas (só para usar um termo mais gentil) eram retratos da beleza hoje são sinônimos de doenças e falta de cuidados com o corpo. Se for verdade que somos aquilo que comemos estamos comendo mal, muito mal, embora não se possa negar que os alimentos menos ou nada saudáveis são os mais saborosos. A dieta do brasileiro está recheada de carboidratos, açucares e gorduras. Resultado: já temos gordinhos e gordinhas demais, o que significa dizer que não demora muito teremos mais e mais pessoas com diabetes, acidentes vasculares cerebrais e infartos. Recente estudo revela que 43,3% da população estão com sobrepeso e 13% já estão obesos. O estudo mostra também que em 1996 13,4% das crianças com menos de cinco anos eram atingidas pela desnutrição. O quadro mudou: em 2006 a desnutrição caiu para 6,7% (uma queda de 50% em dez anos). Há quem acredite que se o Brasil mantiver o ritmo, a desnutrição será praticamente nula entre 10 a 15 anos, mas em compensação seremos um país de gordinhos. É preocupante: se o acesso a alimentação contribui para a redução da desnutrição, por outro lado está proporcionando o aumento na estatura do brasileiro, ou seja, a má alimentação associada a falta de prática de exercícios físicos e, em conseqüência o sobrepeso é responsável por doenças evitáveis (diabetes, acidentes vasculares cerebrais, infartos), males para os quais os jovens se encaminham no prato nosso de cada dia: de acordo com a coordenação de Doenças não Transmissíveis, do Ministério da Saúde “os jovens estão se alimentando mal e não estão praticando esportes”, o que resultou no crescimento da Massa Corporal (já estamos com 82%) dos adolescentes entre 10 a 19 anos.No Brasil quem passou, enfim, a poder comer pelo menos uma vez ao dia, é obrigado a recorrer, por conta dos custosa daqueles qualificados como alimentos saudáveis, aos carboidratos (arroz, macarrão, batata e pão, principalmente) e aos açucares, especialmente as sobremesas mais baratas como goiabadas, marmeladas, docinhos vendidos em camelôs, e biscoitos. Sabemos todos que a alimentação inadequada é uma das causadoras da obesidade. Essa é também uma das maiores preocupações dos Estados Unidos (continuamos copiando as besteiras de lá), onde os rechonchudos não conseguem fazer seguros de vida. Deixemos os americanos pra lá: aqui o que se faz necessariamente urgente é ensinar (até nas escolas) que alimentação saudável é vida. Gordura não é sinal de saúde. Nem de beleza. (Foto; Reprodução de matéria de capa recente da revista Glamour só com modelos que o editor considerou "gordas")
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
O Airbus A380 decolou hoje de Paris para Nova York. É o primeiro vôo comercial do gigante
Com mais de 500 passageiros a bordo, um Airbus A380 da Air France deixou o aeroporto parisiense de Roissy-Charles de Gaulle, nesta sexta-feira, com destino a Nova York. É o primeiro vôo comercial do maior avião de passageiros do mundo. Na classe econômica, cada passagem saiu por mil euros. Alguém se habilita? No próximo dia 23, começarão os vôos regulares. Na sequência, o Airbus no CDG; a classe econômica; a cabine especial; e o vôo (Fotos: Divulgação/Air France/Airbus)
Gutemberg vai tomar lexotan...
por JJcomunic
A crise das publicações impressas tem sido objeto de debates e de preocupação no meio jornalístico. Uma matéria assinada por Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa, fundamenta esse fenômeno.
Diz Castilho, que "quando se analisa os dados reais percebe-se que a situação é muito mais grave do que imaginamos e que a busca por novos modelos de negócios é ainda mais urgente do que se previa".
E continua o autor do artigo: "Quando você descobre que a Folha de S.Paulo, considerada um dos três mais influentes jornais do país, vendeu em média 21.849 exemplares diários em bancas em todo o território nacional entre janeiro e setembro de 2009, é possível constatar a abissal queda de circulação na chamada grande imprensa brasileira. Em outubro de 1996, a venda avulsa de uma edição dominical da Folha chegava a 489 mil exemplares. Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC) a Folha é o vigésimo quarto jornal em venda avulsa na lista dos 97 jornais auditados pelo instituto, atrás do Estado de S.Paulo, em 19o lugar e O Globo, em 15o lugar. Somados os três mais influentes jornais brasileiros têm uma venda avulsa de quase 96 mil exemplares diários, o que corresponde a magros 4,45% dos 2.153.891 jornais vendidos diariamente em banca nos primeiros nove meses de 2009.São números muito pequenos comparados ao prestígio dos três jornalões, responsáveis por boa parte da agenda pública nacional. Globo, Folha e Estado compensam sua baixa venda avulsa com um considerável número de assinantes, o que configura a seguinte situação: os três jornais dependem mais do que nunca das classes A e B, que são maioria absoluta entre os assinantes, já que a população de menor renda é a principal cliente nas compras avulsas em bancas. (...) O atual perfil da imprensa brasileira mostra que os três grandes jornais nacionais agarram-se à classe média para manter assinantes e influenciar na agenda política do país, mesmo com tiragens reduzidíssimas, correspondentes a menos de 5% da média da venda avulsa nacional."
Leia a matéria completa no link A crise das publicações impressas
Deu no jornal...
por Omelete
...vazou o silicone da cantora Amy Winehouse, que havia turbinado os seios... Após derramar a meleca e murchar a peitola, a inglesa foi internada (em um hospital, não em uma borracharia). Que o acidente sirva de alerta para as melancias, abóboras, moranguinhas que se preparam para desfilar no Sambódromo. Ou a passarela terá que ser revestida por tapete anti-derrapante. Diz o jornal que a encrenca Amy tem feito várias cirurgias porque está preocupada com a aparência. E não é que ela tem razão!
Pra não esquecer (do baú do paniscumovum)
por Gonça
Para colar na parede das salas de aula das faculdades de Comunicação: era assim que algumas páginas da revista EleEla voltavam de Brasília nos tempos da ditadura. O alvo do carimbo, um arrogante VETADO (dá para imaginar o prazer quase sádico com que o censor socava a página antes de se gabar do feito ajoelhado sobre os coturnos poderosos de então) não eram apenas os ensaios fotográficos mas reportagens de comportamento e entrevistas consideradas "subversivas".
Para colar na parede das salas de aula das faculdades de Comunicação: era assim que algumas páginas da revista EleEla voltavam de Brasília nos tempos da ditadura. O alvo do carimbo, um arrogante VETADO (dá para imaginar o prazer quase sádico com que o censor socava a página antes de se gabar do feito ajoelhado sobre os coturnos poderosos de então) não eram apenas os ensaios fotográficos mas reportagens de comportamento e entrevistas consideradas "subversivas".
Os pernas-de-pau do gol mil de Pelé
por Eli Halfoun
Nos últimos dias a televisão e os jornais têm dedicado um bom espaço para relembrar o milésimo gol de Pelé, mas ninguém lembrou que na época um Pelé em prantos pediu para que se tirassem os meninos das ruas, do abandono, da subvida. O então jovem Pelé foi chamado de demagogo, de aproveitador de uma situação esportiva para fazer um “discurso social”. Hoje ao mesmo tempo em que reverenciamos o histórico gol mil de Pelé é ainda possível perceber que ele estava coberto de razão: quatro décadas depois o Brasil tem 1,8 milhões de crianças entre 15 e 17 anos fora das salas de aula e quase todas envolvidas com o crime. Não as teria se a palavras choramingadas por tivessem pelo menos sido ouvidas. Assim mais do que um fato esportivo o milésimo gol de Pelé poderia ter sido um gol de vida. Foi o abandono para o qual Pelé chamou atenção que colocou nas cadeias do Brasil mais de 22.700 presos, hoje com idades variando entre 40 e 60 anos, ou seja, os que na época eram as crianças para as quais Pelé pedia apoio e atenção. Meninos de ruas se espalham aos montes por todas as esquinas do Brasil, muitos usando a camisa 10 (nem sabem direito o que é) que Pelé transformou em símbolo de competência dentro de campo, mas que as autoridades - aquelas que adoram e adoram aparecer ao lado de Pelé – não conseguiram transformar em símbolo de nada, provando uma vez mais que não passam de uns pernas-de-pau.
Nos últimos dias a televisão e os jornais têm dedicado um bom espaço para relembrar o milésimo gol de Pelé, mas ninguém lembrou que na época um Pelé em prantos pediu para que se tirassem os meninos das ruas, do abandono, da subvida. O então jovem Pelé foi chamado de demagogo, de aproveitador de uma situação esportiva para fazer um “discurso social”. Hoje ao mesmo tempo em que reverenciamos o histórico gol mil de Pelé é ainda possível perceber que ele estava coberto de razão: quatro décadas depois o Brasil tem 1,8 milhões de crianças entre 15 e 17 anos fora das salas de aula e quase todas envolvidas com o crime. Não as teria se a palavras choramingadas por tivessem pelo menos sido ouvidas. Assim mais do que um fato esportivo o milésimo gol de Pelé poderia ter sido um gol de vida. Foi o abandono para o qual Pelé chamou atenção que colocou nas cadeias do Brasil mais de 22.700 presos, hoje com idades variando entre 40 e 60 anos, ou seja, os que na época eram as crianças para as quais Pelé pedia apoio e atenção. Meninos de ruas se espalham aos montes por todas as esquinas do Brasil, muitos usando a camisa 10 (nem sabem direito o que é) que Pelé transformou em símbolo de competência dentro de campo, mas que as autoridades - aquelas que adoram e adoram aparecer ao lado de Pelé – não conseguiram transformar em símbolo de nada, provando uma vez mais que não passam de uns pernas-de-pau.
Se João Saldanha tivesse um blog...
# "A imprensa, mesmo dita liberal (um liberal séc XVIII) está submetida sempre a interesses até de sobrevivência. Quando você vai escrever, na véspera de Natal, um artigo sobre Papai Noel, você tem que perguntar: contra ou a favor?"
# Lembro uma vez que o presidente Geisel, que nunca foi a um campo de futebol, perguntou ao Heleno Nunes: - "Como é que vai o futebol, Heleno? E o Heleno respondeu: "- Pois é, presidente, temos jogos quase todos os dias; só não temos nas segundas e sextas-feiras". E ele, então, perguntou: "-Mas por que não às segundas e sextas?" É a "Maria Antonieta" do esporte."
#Esses milicos entraram e inventaram concentrações, caderninhos etc. Existe até um que virou treinador de goleiro e escreveu três livros sobre isso e nunca chutou uma bola." (De João Saldanha na coletânea Esporte e Poder - Org. Gilda Korf Dieguez - Editora Vozes)
# Lembro uma vez que o presidente Geisel, que nunca foi a um campo de futebol, perguntou ao Heleno Nunes: - "Como é que vai o futebol, Heleno? E o Heleno respondeu: "- Pois é, presidente, temos jogos quase todos os dias; só não temos nas segundas e sextas-feiras". E ele, então, perguntou: "-Mas por que não às segundas e sextas?" É a "Maria Antonieta" do esporte."
#Esses milicos entraram e inventaram concentrações, caderninhos etc. Existe até um que virou treinador de goleiro e escreveu três livros sobre isso e nunca chutou uma bola." (De João Saldanha na coletânea Esporte e Poder - Org. Gilda Korf Dieguez - Editora Vozes)
Se Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) tivesse um blog...
# "A minissaia era lançada no Rio e execrada em Belo Horizonte, onde o delegado de costumes (inclusive costumes femininos) declarava aos jornais que prenderia o costureiro francês Pierre Cardin caso aparecesse na capital mineira 'para dar espetáculos obscenos, com seus vestidos decotados e saias curtas'. Toda essa cocorocada em Minas iria influenciar um deputado estadual de lá Lourival Pereira da Silva que fez um discurso na Câmara sobre o tema "Ninguém levantará a saia da mulher mineira".
# Bucólico lembra nome de remédio antigo... duas gotas de bucólico para sua asma."
# "É como disse aquela saúva: ou o Brasil acaba com a besteira, ou a besteira acaba com o Brasil." (de O Pasquim - Antologia - Volume I - 1969-1971 - Editora Desiderata)
# Bucólico lembra nome de remédio antigo... duas gotas de bucólico para sua asma."
# "É como disse aquela saúva: ou o Brasil acaba com a besteira, ou a besteira acaba com o Brasil." (de O Pasquim - Antologia - Volume I - 1969-1971 - Editora Desiderata)
Se Leila Diniz tivesse um blog...
# "Se eu quisesse fazer (*), eu estava rica. Em São Paulo, o que liga pro hotel é industrial, fazendeiro, etc. pra dizer: então vamos jantar e tal. A gente tem de dizer: companheiro, o caso não é esse, não é bem assim etc. Eu fico danada. Um dia disse pra um cara: meu amigo, se você por acaso me encontrasse, fosse ao cinema, fosse jantar, eu podia até dar para você, mas assim não. O cara naquela de vamos e tal, aí fica chato paca, não é? O cara está querendo pagar uma (*), deve ser um (*) de cama."
# "Eu deixei de ser professora por covardia porque eu tinha de brigar muito com os pais, e com os dieretores do colégio. (...) Na minha sala, eu aboli a mesa da professora, não existia, minha mesa era igual à deles, minhas coisas eram guardadas como a deles, eu mexia nas coisas deles tanto quanto eles mexiam nas minhas, não tinha problema. A gente trocava lanche, eu levava coca-cola e eles gostavam mais do que leite e a gente trocava, eu fazia a maior zona. As mães, porém, não gostavam."
# "Quebro a cara toda hora. Mas só me arrependo das coisas que não fiz. Das coisas que fiz, não me arrependo nada. Só me arrependo do que deixei de fazer por preconceito, problemas e neurose. Já amei muita gente, já corneei essa gente e elas já entenderam e não teve problema nenhum. Somos todos uma grande família."
# "Censuram filmes e não censuram programas em que as pessoas, pra casar, são vendidas como alface, ou são esculhambadas como se fossem cocô, como acontece nos programas do Flávio Cavalcanti. Aí, digo que é burrice minha porque não quero achar que as pessoas sejam tão (*) assim."
# "Na minha caminha dorme algumas noites, mais nada. Nada de estabilidade"
# "No fundo, sou uma mulher meiga, adoro amar, não quero brigar nunca, e queria mesmo é fazer amor sem parar. Eu adoraria isso. Mas enquanto não posso, não vou me acomodar a uma série de coisas (*) que pra mim não significam nada." (de O Pasquim - Antologia - Volume I - 1969-1971 (Editora Desiderata)
# "Eu deixei de ser professora por covardia porque eu tinha de brigar muito com os pais, e com os dieretores do colégio. (...) Na minha sala, eu aboli a mesa da professora, não existia, minha mesa era igual à deles, minhas coisas eram guardadas como a deles, eu mexia nas coisas deles tanto quanto eles mexiam nas minhas, não tinha problema. A gente trocava lanche, eu levava coca-cola e eles gostavam mais do que leite e a gente trocava, eu fazia a maior zona. As mães, porém, não gostavam."
# "Quebro a cara toda hora. Mas só me arrependo das coisas que não fiz. Das coisas que fiz, não me arrependo nada. Só me arrependo do que deixei de fazer por preconceito, problemas e neurose. Já amei muita gente, já corneei essa gente e elas já entenderam e não teve problema nenhum. Somos todos uma grande família."
# "Censuram filmes e não censuram programas em que as pessoas, pra casar, são vendidas como alface, ou são esculhambadas como se fossem cocô, como acontece nos programas do Flávio Cavalcanti. Aí, digo que é burrice minha porque não quero achar que as pessoas sejam tão (*) assim."
# "Na minha caminha dorme algumas noites, mais nada. Nada de estabilidade"
# "No fundo, sou uma mulher meiga, adoro amar, não quero brigar nunca, e queria mesmo é fazer amor sem parar. Eu adoraria isso. Mas enquanto não posso, não vou me acomodar a uma série de coisas (*) que pra mim não significam nada." (de O Pasquim - Antologia - Volume I - 1969-1971 (Editora Desiderata)
A nova sinfonia da Cidade Maravilhosa
por Eli Halfoun
O Rio de Janeiro de encantos mil continua sendo o coração do Brasil, mas a trilha sonora mudou: O som de trompetes e taróis em ritmo alegre de marcha foram substituídos pelo som de tiros – uma sinfonia que nos assusta. Não vamos nos acostumar, embora 70% dos cariocas admitam ouvir tiros de vez em quando, enquanto 30% da população garantam ouvir o barulho de tiros sempre.
Esse é o resultado de pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. O estudo traçou um novo mapa da cidade conforme a intensidade do barulho de tiros e destacou que “a existência ou proximidade de favelas são fatores que acendem o sinal vermelho”.
Culpam as favelas, mas não é bem assim: o som da violência não é provocado pela maioria de trabalhadores que habita as favelas. É quase sempre resultado das invasões policiais com seus “caveirões” e armas nos morros ou favelas do asfalto. O estudo revela que “o aumento de freqüência de barulho de tiros e proximidade com locais dominados por traficantes armados levam a interpretar errado o barulho”.
O milhão e meio de moradores das 513 comunidades faveladas listadas pelo IBG até o ano 2000 é de trabalhadores. Por falta de opções de moradia a cada mês surgiu, nos últimos dez anos, uma nova favela com 50 casas. Em 1991 havia 384 favelas no Município do Rio de Janeiro. Em 2000 o número aumentou em 30,2%. No Estado do Rio o número de áreas carentes subiu de 661 para 811 (acréscimo de 22,7%).
A partir desse mapa do som da violência é preciso fazer um outro tipo de barulho para orientar políticas públicas já que a pesquisa reflete a sensação de insegurança dos cariocas.
O Rio de Janeiro de encantos mil continua sendo o coração do Brasil, mas a trilha sonora mudou: O som de trompetes e taróis em ritmo alegre de marcha foram substituídos pelo som de tiros – uma sinfonia que nos assusta. Não vamos nos acostumar, embora 70% dos cariocas admitam ouvir tiros de vez em quando, enquanto 30% da população garantam ouvir o barulho de tiros sempre.
Esse é o resultado de pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. O estudo traçou um novo mapa da cidade conforme a intensidade do barulho de tiros e destacou que “a existência ou proximidade de favelas são fatores que acendem o sinal vermelho”.
Culpam as favelas, mas não é bem assim: o som da violência não é provocado pela maioria de trabalhadores que habita as favelas. É quase sempre resultado das invasões policiais com seus “caveirões” e armas nos morros ou favelas do asfalto. O estudo revela que “o aumento de freqüência de barulho de tiros e proximidade com locais dominados por traficantes armados levam a interpretar errado o barulho”.
O milhão e meio de moradores das 513 comunidades faveladas listadas pelo IBG até o ano 2000 é de trabalhadores. Por falta de opções de moradia a cada mês surgiu, nos últimos dez anos, uma nova favela com 50 casas. Em 1991 havia 384 favelas no Município do Rio de Janeiro. Em 2000 o número aumentou em 30,2%. No Estado do Rio o número de áreas carentes subiu de 661 para 811 (acréscimo de 22,7%).
A partir desse mapa do som da violência é preciso fazer um outro tipo de barulho para orientar políticas públicas já que a pesquisa reflete a sensação de insegurança dos cariocas.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Claudia Jackson ou Michael Leitte
Lua Nova: o filme arrasa-quarteirão da temporada
"Lua Nova", que estreia nesta 6ª feira (20) em 602 salas em todo o Brasil, promete lotar os cinemas. Mesmo que você não curta "Crepúsculoi" já deve ter ouvido falar que a série é um espantoso fenômeno. Os livros de Stephenie Meyers enfeitiçam exércitos de adolescentes.
O filme começa a ser exibido à meia-noite de amanhã. Já foram vendidos, antecipadamente, mais de 100 mil ingressos. "Lua Nova" dirigido por Chris Weitz, é mistura romantismo com lobisomens. Dizem que é uma droga. Não importa. É o hit do verão que se anuncia. Duvida? Confira, a partir de amanhã, nas filas de um cinema perto de você.
Lula, o bom filho do cinema
Foto: Divulgação
Por Eli Halfoun
Antes mesmo de ser visto pelo personagem principal, o filme Lula, o filho do Brasil, trilha um incontestável caminho de sucesso: vai virar minissérie, além, é claro, de DVD com venda garantida: será disponibilizado ao público por R$ 10, o que sem dúvida dificultará a venda de DVDs piratas. Lula, o filme, será exibido em 432 salas cinematográficas em todo o país. A primeira dama, Marisa, já viu o filme no Festival de Cinema de Brasília, mas o presidente, ou melhor, o personagem principal, só o assistirá no próximo dia 28 nos estúdios da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo. A produção do filme consumiu R$ 12 milhões de reais sem o apoio financeiro da Lei Rounet, mas com a participação de vários empresários que não se importaram em botar a mão no bolso para ficar bem na fita. Como não poderia deixar de acontecer Lula, o filho do Brasil, virou tema de blogs nos quais é aplaudido e criticado, além de inspirar piadas. O jornalista Tutty Vasques, por exemplo, diz que o DEM liberou sua bancada para assistir o filme, só que com uma grande ressalva: quem chorar alto no cinema, será expulso do partido.
O filme sobre Lula está provando todo tipo de reação, inclusive a de inveja: agora é o senador José Sarney que quer botar a cara na tela (quando é preciso ele não dá as caras). O presidente do Senado quer ver sua cara no cinema, mas, como sempre, às nossas custas: a ideia é usar a TV Senado, que ele comanda, para fazer documentários sobre os grandes estadistas brasileiros entre os quais sem modéstia ele se inclui. Sarney também pensa em resgatar um velho documentário (dirigido por Fernando Barbosa Lina) que teve alguns trechos exibidos há dois meses em um canal do Paraná. Agora Sarney quer mais (sempre quer): o plano é exibir o documentário por todo o país em redes de televisão educativa. Que assim deixarão de ser educativas.
Dinheiro na mão é vendaval
Por Eli Halfoun
Não dá pra negar: a única coisa garantida na vida, além da morte, é emprego público e não é à-toa que todo mundo quer um não só por causa da moleza que costuma ser, mas também e principalmente porque paga muito bem, não atrasa salários e não manda ninguém embora, como acontece frequentemente nas empresas privadas. Só para ter uma idéia: de janeiro a setembro desse ano os salários dos funcionários federais (na União a boca é ainda melhor) incluindo ativos, inativos, pensionistas, diretos, indiretos intergovernamentais para mais de 2,2 milhões de brasileiros consumiram R$ 118 bilhões. Recente levantamento mostra que a média salarial entre todos os poderes é, hoje, de R$ 6.75 mensais. Os funcionários mais bem pagos são do judiciário, com média mensal de R$ 19,1. Em seguida estão os servidores do Legislativo, com média mensal de R$ 12,7 mil enquanto a média salarial do funcionário do Executivo é de R$ 5,4 mil (civil) e R$ 3,8 mil (militar). Sabe quem paga tudo isso?
Não dá pra negar: a única coisa garantida na vida, além da morte, é emprego público e não é à-toa que todo mundo quer um não só por causa da moleza que costuma ser, mas também e principalmente porque paga muito bem, não atrasa salários e não manda ninguém embora, como acontece frequentemente nas empresas privadas. Só para ter uma idéia: de janeiro a setembro desse ano os salários dos funcionários federais (na União a boca é ainda melhor) incluindo ativos, inativos, pensionistas, diretos, indiretos intergovernamentais para mais de 2,2 milhões de brasileiros consumiram R$ 118 bilhões. Recente levantamento mostra que a média salarial entre todos os poderes é, hoje, de R$ 6.75 mensais. Os funcionários mais bem pagos são do judiciário, com média mensal de R$ 19,1. Em seguida estão os servidores do Legislativo, com média mensal de R$ 12,7 mil enquanto a média salarial do funcionário do Executivo é de R$ 5,4 mil (civil) e R$ 3,8 mil (militar). Sabe quem paga tudo isso?
Um jogo de xadrez que não dá cadeia
Por Eli Halfoun
Acredite se quiser: se Lula pudesse concorrer à Presidência da República ganharia com facilidade. Quem faz essa constatação é o sociólogo e marqueteiro Antonio Lavareda, que acumula enorme experiência com pesquisas e bastidores de campanhas eleitorais. Lavareda revela ainda que “tem cidades com menos de 20 mil eleitores no Nordeste, aonde a aprovação de Lula chega a 98% Para quem quer conhecer os bastidores das campanhas políticas, Antonio Lavareda lança no próximo 26 um livro considerado imperdível. É “Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais” no qual revela episódios de seu trabalho, especialmente para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2010. O presente também merece análise de Lavareda que, entre outras coisas, diz: 1) não há espaço para novos nomes na próxima eleição presidencial;
2) uma chapa pura tucana formada por Serra e Aécio seria imbatível;
3) Marina Silva levará boa parte da militância petista e
4) a chapa Dilma-Ciro (ele como vice) não daria certo “porque o deputado se comportaria como candidato a presidente e não a vice”.
Política é mesmo um jogo de xadrez e nós, eleitores, somos as peças mais usadas e depois jogadas em um canto qualquer.
Acredite se quiser: se Lula pudesse concorrer à Presidência da República ganharia com facilidade. Quem faz essa constatação é o sociólogo e marqueteiro Antonio Lavareda, que acumula enorme experiência com pesquisas e bastidores de campanhas eleitorais. Lavareda revela ainda que “tem cidades com menos de 20 mil eleitores no Nordeste, aonde a aprovação de Lula chega a 98% Para quem quer conhecer os bastidores das campanhas políticas, Antonio Lavareda lança no próximo 26 um livro considerado imperdível. É “Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais” no qual revela episódios de seu trabalho, especialmente para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2010. O presente também merece análise de Lavareda que, entre outras coisas, diz: 1) não há espaço para novos nomes na próxima eleição presidencial;
2) uma chapa pura tucana formada por Serra e Aécio seria imbatível;
3) Marina Silva levará boa parte da militância petista e
4) a chapa Dilma-Ciro (ele como vice) não daria certo “porque o deputado se comportaria como candidato a presidente e não a vice”.
Política é mesmo um jogo de xadrez e nós, eleitores, somos as peças mais usadas e depois jogadas em um canto qualquer.
O apagão, o governo e a oposição
Nota do Paniscumovum - Na cobertura da imprensa sobre o recente apagão, predominou o foco político, a ótica marcadamente eleitoral. Este blog abordou o assunto através de vários posts e comentários de leigos no assunto, naturalmente, onde, e aí se justifica, o ângulo foi igualmente político. Por isso, agradecemos e publicamos a seguir dois artigos do engenheiro José Antonio Feijó de Melo. Sai o curto-circuito político e entra uma análise técnica. Está aí o que faltou dizer.
Eng. José Antonio Feijó de Melo
Recife,16 de Novembro de 2009
Curioso o nosso País, onde importantes acontecimentos dos quais se poderiam retirar conclusões e ensinamentos valiosos tornam-se apenas campo de disputa entre “os a favor e os contra”, no mais puro estilo de debate “perde-ganha”, onde na verdade todos acabam perdendo.
O saudoso Noel Rosa já cantava que “O samba, a prontidão e outras bossas são nossas coisas, são coisas nossas”. Pois é, esta é uma das “outras bossas” tão caracteristicamente autênticas da nossa cultura, o arraigado maniqueísmo.
No Brasil, tudo tem de se ajustar a esta regra. “Ou se é a favor ou se é do contra”, não importando o verdadeiro mérito da questão que estiver em jogo.
Como não poderia deixar de ser, este maniqueísmo encontra o seu mais fértil campo de reprodução nas relações entre governo e oposição, sejam eles quais forem, em qualquer época que for, qualquer que seja o tema em discussão. Se o governo propõe, a oposição é contra. Se a oposição propõe, o governo é contra. Em geral, em nenhum momento, oposição ou governo admitem que o outro lado pode estar propondo, ou realizando, algo positivo para o País, que seja para o benefício de todos e que assim devesse merecer apoio, até mesmo contribuição para o seu aperfeiçoamento. Não, a regra é ser contra e tentar desmontar o que o outro lado pretende fazer. É claro que esta atitude está espalhada por toda sociedade: imprensa, organizações sociais, empresariado, enfim todos, até os cidadãos individualmente.
O apagão ocorrido no último dia 10 constitui um exemplo perfeito desta “nossa bossa” maniqueísta. Com efeito, de imediato a grande imprensa procurou definir o culpado e logo postulou que este é o governo. Então, os líderes da oposição seguiram na mesma linha, atribuindo ao governo todas as responsabilidades pelo ocorrido, inclusive procurando tirar vantagem eleitoral com a tentativa de “fulanizar” tais responsabilidades.
E como sempre acontece nesses casos, logo surgiram técnicos e pseudo-técnicos que, por meio de declarações à imprensa partiram para condenar os supostos responsáveis pelo setor elétrico, naturalmente o governo, afirmando que o apagão ocorreu por falta de investimentos e/ou pela falta de modernização das instalações, com a introdução de sistemas informatizados, entre outras propostas sem fundamento.
Até mesmo o governo assumiu posição precipitada através do Sr. Ministro das Minas e Energia que, parecendo querer se colocar na defensiva, resolveu diagnosticar como causa do apagão a queda de um raio. Uma coisa que de fato ele não podia saber, mesmo porque não lhe cabia saber, pois o governo não tem responsabilidade direta sobre a operação do sistema elétrico brasileiro e nem dispõe de informações em tempo real sobre o assunto. Isto sem se falar na complexidade técnica intrínseca que envolve o caso.
Portanto, pode parecer incrível, mas ninguém, nem os políticos, nem a imprensa, aí incluídos os chamados formadores de opinião, nem as organizações sociais, nem os técnicos que opinaram e, por absurdo que possa parecer, nem mesmo o próprio governo resolveu parar um instante para pensar um pouco sobre a verdadeira realidade da ocorrência e, assim, poderem contribuir para a apuração do que de fato aconteceu. Não, todos preferiram seguir a “velha bossa” muito nossa do mais puro maniqueísmo.
De parte do governo, a atitude correta, sim, seria mesmo vir a público rapidamente, mas não para dizer o que disse o Sr. Ministro Edison Lobão. O que o governo deveria dizer seria mais ou menos o seguinte: “que considerava a ocorrência de suma gravidade e que estava exigindo do Operador Nacional do Sistema – ONS uma rápida e detalhada investigação técnica para o completo esclarecimento dos fatos”. Naturalmente, o resultado da investigação indicaria as providências a serem eventualmente adotadas.
E por que o ONS? Porque é o ONS quem comanda o sistema interligado nacional (SIN) e detém todas as informações em tempo real de como o sistema esta operando e de tudo que acontece, inclusive com os respectivos registros. Este comando se faz automaticamente a partir do Centro Nacional localizado em Brasília e de quatro Centros Regionais situados em Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília e Recife
Normalmente a operação de todo o SIN é prévia e integralmente programada pelo ONS, tudo operando automaticamente de forma computadorizada, com o mínimo de interferência humana. Na hipótese de necessidade, são os operadores do ONS que tomam as decisões do que deve ou não ser feito. Os operadores das usinas, linhas e subestações das empresas proprietárias dessas instalações obedecem às ordens do ONS e não têm autonomia para intervir nas condições de operação de qualquer dispositivo do sistema sem a prévia e expressa autorização dos centros operacionais do ONS, salvo em condições especiais de emergência.
Os complexos sistemas de comando, controle e, em especial, de proteção de todas as instalações do SIN (usinas, linhas, subestações e seus diversos dispositivos componentes) são previamente ajustados segundo cálculos realizados pelo próprio ONS de acordo com as características dos equipamentos e do sistema nas suas diferentes configurações.
Portanto, é o ONS quem pode saber o que de fato ocorreu e quem tem de prestar informações ao governo e à sociedade. O seu Diretor-Geral, Dr. Hermes Chipp, deveria ter sido o primeiro a falar oficialmente para o público sobre as possíveis causas do apagão e não o Sr. Ministro Edison Lobão. Mas, estranhamente, o Dr. H. Chipp não apareceu e o outro Diretor do ONS, Dr. Luiz Barata, quando apareceu não parecia estar na condição de quem na verdade representava a entidade responsável pela operação do sistema elétrico nacional.
A desastrada intervenção do Sr. Ministro, acabou puxando para o governo e para o poder público em geral uma responsabilidade que de fato não lhes cabe. O ONS é uma organização privada, da qual fazem parte todas as empresas e entidades que atuam institucionalmente no setor elétrico nacional, privadas e estatais, onde as empresas privadas são absoluta maioria. O ONS é custeado por um dos encargos específicos cobrados nas tarifas a todos os consumidores e os seus dirigentes não são designados pelo governo, mas escolhidos pelos seus próprios integrantes.
Em sendo assim, a oposição e a imprensa erraram grosseiramente ao atribuir responsabilidade ao governo. No caso, ao governo, em nome do poder concedente, cabe de fato cobrar responsabilidades do ONS e, eventualmente, dos agentes (empresas) que venham a ser envolvidos com alguma participação no episódio.
Também erraram aqueles que se apressaram em afirmar que o problema fora causado pela falta de investimentos, particularmente para a modernização das instalações com a introdução de computação etc. Bobagem pura de quem não conhece o setor elétrico. O sistema interligado nacional opera com a tecnologia mais avançada do mundo e está sempre sendo atualizado. Os recursos de informática são empregados em larga escala, desde quando nem se falava em Internet. A informatização do sistema começou ainda nos anos 70 do século passado e foi efetivamente implantada nos anos 80, com a entrada em operação do chamado Sistema de Controle Supervisório que, somente para salientar o seu grau de sofisticação tecnológica para a época, um colega engenheiro costumava designá-lo como “Sistema de Controle Supervisionário”. E de lá para cá tudo avançou ainda mais, sempre incorporando os novos recursos tecnológicos mais modernos. Para se ter uma melhor idéia, os sistemas não são apenas informatizados, mas, além disso, possuem computadores redundantes, onde se um falhar o outro que está ao seu lado, supervisionando, automaticamente assume as suas funções. A propósito dispensam-se maiores comentários.
Do mesmo modo, não se pode falar na falta de investimento. As instalações existentes e os seus sistemas de comando, controle e proteção estão de acordo com as necessidades atuais e para os próximos anos, enquanto a expansão para atender ao crescimento do consumo está programada.
Aí, erraram mais uma vez a oposição, a imprensa e os técnicos, que seguindo o tradicional maniqueísmo de culpar o governo, o acusaram pela falta de investimentos no setor. Se realmente estivesse faltando investimento, a culpa não poderia ser atribuída simplesmente ao governo, mas sim também ao setor privado. Esqueceram que no modelo vigente no setor elétrico brasileiro, não cabe ao governo fazer investimentos na implantação de novas instalações. Ao contrário, o governo não pode fazer tais investimentos por vontade própria. Todas as novas instalações, sejam usinas, linhas ou subestações, têm que ser implantadas mediante processo licitatório em que os investidores privados assumem a obrigação de construir e explorá-las comercialmente. As empresas estatais também podem participar das licitações, mas até agora somente têm podido fazê-lo em sociedade com empresas privadas e obrigatoriamente em posição minoritária.
Ao governo, de fato, através da EPE, cabe apenas a responsabilidade pelo planejamento indicativo da expansão do sistema, para que se possam promover as correspondentes licitações. E isto tem sido feito.
Para concluir, cabem ainda alguns comentários específicos sobre o apagão em si mesmo. Conforme já foi mencionado, o ONS tem condições de levantar toda a sequência de eventos que levou ao apagão, pois o sistema dispõe de todos os registros, tornando possível saber com precisão como tudo ocorreu.
Porém, apenas a título de especulação, é fora de dúvida que alguma coisa anormal aconteceu em algum ponto do sistema, tudo indica em Itaberá, que desencadeou todo o ocorrido. Como nenhum equipamento, ao final, mostrou-se danificado, é lícito supor que este acontecimento foi de pequena monta. Assim, embora seja possível, não é o mais provável que a primeira atuação de algum dispositivo de proteção tenha ordenado o desligamento simultâneo das três linhas de 750 kV de corrente alternada Itaipu-Itaberá, mas apenas de uma das linhas. E então, a partir daí, alguma coisa não funcionou adequadamente, desligando também as outras duas linhas. O Operador pode saber exatamente como isto aconteceu, se as atuações da proteção foram corretas ou indevidas e se alguma falha existiu, humana ou de instrumentos.
Do mesmo modo, precisa-se verificar se as duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua Itaipu-Ibiuna também foram desligadas simultaneamente com as linhas de 750 kV acima citadas, ou não. Na verdade, isto não é provável, pois em principio não haveria razão específica para tal. Elas devem ter sido desligadas com algum retardo em relação às três outras e é preciso verificar como e por que isto ocorreu. Com certeza, os registros do ONS mostrarão as razões.
Além de tudo, tanto as linhas de 750 kV como as de 600 kV possuem dispositivos de religamento automático rápido. Ao que tudo indica esses dispositivos não atuaram. Por quê? O fato é que com o desligamento das cinco linhas, provocando o que se chama uma rejeição de carga enorme, a usina de Itaipu ficou completamente isolada do sistema brasileiro, apenas com a pequena carga do Paraguai. Nestas condições, teve de ser totalmente paralisada. Porem, a recomposição de Itaipu não deve ter demorado mais do que 30 minutos, razão por que a carga do Paraguai pôde ser religada com certa rapidez. Enquanto isto, o sistema brasileiro, muito mais complexo, enfrentava outros problemas.
Por outro lado, algo também não funcionou como devia no “esquema de alívio de carga”, que deveria promover o rápido e seletivo desligamento de cargas de menor relevância para compensar a falta de geração decorrente da saída total de Itaipu. Sabe-se que em outras ocasiões este esquema funcionou a contento, mas desta vez, embora algumas cargas tenham sido desligadas no Nordeste, no Sul e em alguns outros pontos, ao que parece não foram em volume nem em rapidez suficientes, de modo que o sistema acabou perdendo outras usinas, como as nucleares de Angra dos Reis. Em outras palavras, os limites de estabilidade foram ultrapassados, resultando no colapso total das áreas de maior carga do sistema interligado.
Mas, em tudo isto uma coisa parece certa. O problema foi estritamente de natureza técnica e o governo, não explicitamente por sua atuação, nada teve a ver com este apagão. Se houve alguma falha, e estou inclinado a crer que houve, ou foi um erro humano na operação, ou foi o mau funcionamento ocasional de algum dispositivo do sofisticado sistema de proteção.
E para que não se diga que este trabalho não constitui uma ação independente, e que teria por finalidade apenas defender o governo, aqui vai o registro de que o autor discorda profundamente da opção que este governo adotou para o modelo do setor, mantendo a filosofia mercantil implantada no governo anterior, a qual, em pouco mais de dez anos, fez as tarifas brasileiras pularem do grupo das mais baixas do mundo, para o lado das mais altas, superiores até a valores cobrados em países ricos do chamado G-7, além de adotar critérios operacionais que conduzem à permanente ameaça de crise na hipótese de que o regime anual de chuvas nas principais bacias não seja favorável. (Na foto, ou antifoto, Ipanema às escuras)
Eng. José Antonio Feijó de Melo
Recife,16 de Novembro de 2009
Curioso o nosso País, onde importantes acontecimentos dos quais se poderiam retirar conclusões e ensinamentos valiosos tornam-se apenas campo de disputa entre “os a favor e os contra”, no mais puro estilo de debate “perde-ganha”, onde na verdade todos acabam perdendo.
O saudoso Noel Rosa já cantava que “O samba, a prontidão e outras bossas são nossas coisas, são coisas nossas”. Pois é, esta é uma das “outras bossas” tão caracteristicamente autênticas da nossa cultura, o arraigado maniqueísmo.
No Brasil, tudo tem de se ajustar a esta regra. “Ou se é a favor ou se é do contra”, não importando o verdadeiro mérito da questão que estiver em jogo.
Como não poderia deixar de ser, este maniqueísmo encontra o seu mais fértil campo de reprodução nas relações entre governo e oposição, sejam eles quais forem, em qualquer época que for, qualquer que seja o tema em discussão. Se o governo propõe, a oposição é contra. Se a oposição propõe, o governo é contra. Em geral, em nenhum momento, oposição ou governo admitem que o outro lado pode estar propondo, ou realizando, algo positivo para o País, que seja para o benefício de todos e que assim devesse merecer apoio, até mesmo contribuição para o seu aperfeiçoamento. Não, a regra é ser contra e tentar desmontar o que o outro lado pretende fazer. É claro que esta atitude está espalhada por toda sociedade: imprensa, organizações sociais, empresariado, enfim todos, até os cidadãos individualmente.
O apagão ocorrido no último dia 10 constitui um exemplo perfeito desta “nossa bossa” maniqueísta. Com efeito, de imediato a grande imprensa procurou definir o culpado e logo postulou que este é o governo. Então, os líderes da oposição seguiram na mesma linha, atribuindo ao governo todas as responsabilidades pelo ocorrido, inclusive procurando tirar vantagem eleitoral com a tentativa de “fulanizar” tais responsabilidades.
E como sempre acontece nesses casos, logo surgiram técnicos e pseudo-técnicos que, por meio de declarações à imprensa partiram para condenar os supostos responsáveis pelo setor elétrico, naturalmente o governo, afirmando que o apagão ocorreu por falta de investimentos e/ou pela falta de modernização das instalações, com a introdução de sistemas informatizados, entre outras propostas sem fundamento.
Até mesmo o governo assumiu posição precipitada através do Sr. Ministro das Minas e Energia que, parecendo querer se colocar na defensiva, resolveu diagnosticar como causa do apagão a queda de um raio. Uma coisa que de fato ele não podia saber, mesmo porque não lhe cabia saber, pois o governo não tem responsabilidade direta sobre a operação do sistema elétrico brasileiro e nem dispõe de informações em tempo real sobre o assunto. Isto sem se falar na complexidade técnica intrínseca que envolve o caso.
Portanto, pode parecer incrível, mas ninguém, nem os políticos, nem a imprensa, aí incluídos os chamados formadores de opinião, nem as organizações sociais, nem os técnicos que opinaram e, por absurdo que possa parecer, nem mesmo o próprio governo resolveu parar um instante para pensar um pouco sobre a verdadeira realidade da ocorrência e, assim, poderem contribuir para a apuração do que de fato aconteceu. Não, todos preferiram seguir a “velha bossa” muito nossa do mais puro maniqueísmo.
De parte do governo, a atitude correta, sim, seria mesmo vir a público rapidamente, mas não para dizer o que disse o Sr. Ministro Edison Lobão. O que o governo deveria dizer seria mais ou menos o seguinte: “que considerava a ocorrência de suma gravidade e que estava exigindo do Operador Nacional do Sistema – ONS uma rápida e detalhada investigação técnica para o completo esclarecimento dos fatos”. Naturalmente, o resultado da investigação indicaria as providências a serem eventualmente adotadas.
E por que o ONS? Porque é o ONS quem comanda o sistema interligado nacional (SIN) e detém todas as informações em tempo real de como o sistema esta operando e de tudo que acontece, inclusive com os respectivos registros. Este comando se faz automaticamente a partir do Centro Nacional localizado em Brasília e de quatro Centros Regionais situados em Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília e Recife
Normalmente a operação de todo o SIN é prévia e integralmente programada pelo ONS, tudo operando automaticamente de forma computadorizada, com o mínimo de interferência humana. Na hipótese de necessidade, são os operadores do ONS que tomam as decisões do que deve ou não ser feito. Os operadores das usinas, linhas e subestações das empresas proprietárias dessas instalações obedecem às ordens do ONS e não têm autonomia para intervir nas condições de operação de qualquer dispositivo do sistema sem a prévia e expressa autorização dos centros operacionais do ONS, salvo em condições especiais de emergência.
Os complexos sistemas de comando, controle e, em especial, de proteção de todas as instalações do SIN (usinas, linhas, subestações e seus diversos dispositivos componentes) são previamente ajustados segundo cálculos realizados pelo próprio ONS de acordo com as características dos equipamentos e do sistema nas suas diferentes configurações.
Portanto, é o ONS quem pode saber o que de fato ocorreu e quem tem de prestar informações ao governo e à sociedade. O seu Diretor-Geral, Dr. Hermes Chipp, deveria ter sido o primeiro a falar oficialmente para o público sobre as possíveis causas do apagão e não o Sr. Ministro Edison Lobão. Mas, estranhamente, o Dr. H. Chipp não apareceu e o outro Diretor do ONS, Dr. Luiz Barata, quando apareceu não parecia estar na condição de quem na verdade representava a entidade responsável pela operação do sistema elétrico nacional.
A desastrada intervenção do Sr. Ministro, acabou puxando para o governo e para o poder público em geral uma responsabilidade que de fato não lhes cabe. O ONS é uma organização privada, da qual fazem parte todas as empresas e entidades que atuam institucionalmente no setor elétrico nacional, privadas e estatais, onde as empresas privadas são absoluta maioria. O ONS é custeado por um dos encargos específicos cobrados nas tarifas a todos os consumidores e os seus dirigentes não são designados pelo governo, mas escolhidos pelos seus próprios integrantes.
Em sendo assim, a oposição e a imprensa erraram grosseiramente ao atribuir responsabilidade ao governo. No caso, ao governo, em nome do poder concedente, cabe de fato cobrar responsabilidades do ONS e, eventualmente, dos agentes (empresas) que venham a ser envolvidos com alguma participação no episódio.
Também erraram aqueles que se apressaram em afirmar que o problema fora causado pela falta de investimentos, particularmente para a modernização das instalações com a introdução de computação etc. Bobagem pura de quem não conhece o setor elétrico. O sistema interligado nacional opera com a tecnologia mais avançada do mundo e está sempre sendo atualizado. Os recursos de informática são empregados em larga escala, desde quando nem se falava em Internet. A informatização do sistema começou ainda nos anos 70 do século passado e foi efetivamente implantada nos anos 80, com a entrada em operação do chamado Sistema de Controle Supervisório que, somente para salientar o seu grau de sofisticação tecnológica para a época, um colega engenheiro costumava designá-lo como “Sistema de Controle Supervisionário”. E de lá para cá tudo avançou ainda mais, sempre incorporando os novos recursos tecnológicos mais modernos. Para se ter uma melhor idéia, os sistemas não são apenas informatizados, mas, além disso, possuem computadores redundantes, onde se um falhar o outro que está ao seu lado, supervisionando, automaticamente assume as suas funções. A propósito dispensam-se maiores comentários.
Do mesmo modo, não se pode falar na falta de investimento. As instalações existentes e os seus sistemas de comando, controle e proteção estão de acordo com as necessidades atuais e para os próximos anos, enquanto a expansão para atender ao crescimento do consumo está programada.
Aí, erraram mais uma vez a oposição, a imprensa e os técnicos, que seguindo o tradicional maniqueísmo de culpar o governo, o acusaram pela falta de investimentos no setor. Se realmente estivesse faltando investimento, a culpa não poderia ser atribuída simplesmente ao governo, mas sim também ao setor privado. Esqueceram que no modelo vigente no setor elétrico brasileiro, não cabe ao governo fazer investimentos na implantação de novas instalações. Ao contrário, o governo não pode fazer tais investimentos por vontade própria. Todas as novas instalações, sejam usinas, linhas ou subestações, têm que ser implantadas mediante processo licitatório em que os investidores privados assumem a obrigação de construir e explorá-las comercialmente. As empresas estatais também podem participar das licitações, mas até agora somente têm podido fazê-lo em sociedade com empresas privadas e obrigatoriamente em posição minoritária.
Ao governo, de fato, através da EPE, cabe apenas a responsabilidade pelo planejamento indicativo da expansão do sistema, para que se possam promover as correspondentes licitações. E isto tem sido feito.
Para concluir, cabem ainda alguns comentários específicos sobre o apagão em si mesmo. Conforme já foi mencionado, o ONS tem condições de levantar toda a sequência de eventos que levou ao apagão, pois o sistema dispõe de todos os registros, tornando possível saber com precisão como tudo ocorreu.
Porém, apenas a título de especulação, é fora de dúvida que alguma coisa anormal aconteceu em algum ponto do sistema, tudo indica em Itaberá, que desencadeou todo o ocorrido. Como nenhum equipamento, ao final, mostrou-se danificado, é lícito supor que este acontecimento foi de pequena monta. Assim, embora seja possível, não é o mais provável que a primeira atuação de algum dispositivo de proteção tenha ordenado o desligamento simultâneo das três linhas de 750 kV de corrente alternada Itaipu-Itaberá, mas apenas de uma das linhas. E então, a partir daí, alguma coisa não funcionou adequadamente, desligando também as outras duas linhas. O Operador pode saber exatamente como isto aconteceu, se as atuações da proteção foram corretas ou indevidas e se alguma falha existiu, humana ou de instrumentos.
Do mesmo modo, precisa-se verificar se as duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua Itaipu-Ibiuna também foram desligadas simultaneamente com as linhas de 750 kV acima citadas, ou não. Na verdade, isto não é provável, pois em principio não haveria razão específica para tal. Elas devem ter sido desligadas com algum retardo em relação às três outras e é preciso verificar como e por que isto ocorreu. Com certeza, os registros do ONS mostrarão as razões.
Além de tudo, tanto as linhas de 750 kV como as de 600 kV possuem dispositivos de religamento automático rápido. Ao que tudo indica esses dispositivos não atuaram. Por quê? O fato é que com o desligamento das cinco linhas, provocando o que se chama uma rejeição de carga enorme, a usina de Itaipu ficou completamente isolada do sistema brasileiro, apenas com a pequena carga do Paraguai. Nestas condições, teve de ser totalmente paralisada. Porem, a recomposição de Itaipu não deve ter demorado mais do que 30 minutos, razão por que a carga do Paraguai pôde ser religada com certa rapidez. Enquanto isto, o sistema brasileiro, muito mais complexo, enfrentava outros problemas.
Por outro lado, algo também não funcionou como devia no “esquema de alívio de carga”, que deveria promover o rápido e seletivo desligamento de cargas de menor relevância para compensar a falta de geração decorrente da saída total de Itaipu. Sabe-se que em outras ocasiões este esquema funcionou a contento, mas desta vez, embora algumas cargas tenham sido desligadas no Nordeste, no Sul e em alguns outros pontos, ao que parece não foram em volume nem em rapidez suficientes, de modo que o sistema acabou perdendo outras usinas, como as nucleares de Angra dos Reis. Em outras palavras, os limites de estabilidade foram ultrapassados, resultando no colapso total das áreas de maior carga do sistema interligado.
Mas, em tudo isto uma coisa parece certa. O problema foi estritamente de natureza técnica e o governo, não explicitamente por sua atuação, nada teve a ver com este apagão. Se houve alguma falha, e estou inclinado a crer que houve, ou foi um erro humano na operação, ou foi o mau funcionamento ocasional de algum dispositivo do sofisticado sistema de proteção.
E para que não se diga que este trabalho não constitui uma ação independente, e que teria por finalidade apenas defender o governo, aqui vai o registro de que o autor discorda profundamente da opção que este governo adotou para o modelo do setor, mantendo a filosofia mercantil implantada no governo anterior, a qual, em pouco mais de dez anos, fez as tarifas brasileiras pularem do grupo das mais baixas do mundo, para o lado das mais altas, superiores até a valores cobrados em países ricos do chamado G-7, além de adotar critérios operacionais que conduzem à permanente ameaça de crise na hipótese de que o regime anual de chuvas nas principais bacias não seja favorável. (Na foto, ou antifoto, Ipanema às escuras)
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