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domingo, 22 de novembro de 2009

Salve o feijão-maravilha dos escravos e dos senhores



por Eli Halfoun
“Fulano está batendo um prato de feijão com arroz” ou “mulher, bota mais água no feijão que estou levando um amigo para jantar” – essas são expressões populares, de certa forma, que pretendem mostrar que feijão é comida de pobre. Não é e nunca foi: ao contrário do que conta a história o feijão não frequentava apenas os pratos dos escravos, mas também a mesa dos “senhores”, que foram os criadores da nossa tradicional feijoada. Com base em depoimentos do pintor francês Jean –Baptiste Debret, que desembarcou no Brasil em 1816 e viveu no Rio ao longo do século 19, o pesquisador Almir Chaiban El-Kareh, da Universidade Federal Fluminense, quer mostrar que a feijoada, como é servida até hoje, não surgiu com os escravos que utilizavam sobras de carne, mas sim nas famílias ricas “porque na época os miúdos eram valorizados pelas elites. Os ricos comiam refeições com feijão incrementados com diversos tipos de carne, enquanto os pobres comiam feijão ralo com pequenos pedaços de carne-seca” como, aliás, acontece até hoje. Até agora a informação é de que a feijoada surgiu como invenção dos escravos que juntariam sobras de carnes não aproveitadas pelos ”senhores” ou como também conta a história seria uma invenção de famílias de poucas posses que requentariam sobras de refeições para reforçar a alimentação. A tese do pesquisador Almir Chaib, mostra que a feijoada foi criada para servir como comida para as elites do século 19. Mesmo assim no começo os ricos não admitiam a preferência pelo já na época feijão nosso de cada dia e como escreveu Debret “os pequenos comerciantes comiam feijão com um pedaço de carne-seca e farinha, regado com muita pimenta, mas faziam as refeições escondidos de todos no fundo das lojas”. Só a partir de 1830, pobres e ricos comiam feijão (existem no mundo 4.600 grãos classificados como feijão) com carne seca todos os dias, o que acabou fazendo o feijão sobressair e conseguir mudar hábitos europeus de alimentação, deixando o cozido português apenas como opção. Aqui a feijoada ganhou ritmo de festa (aliás, é praticamente sinônimo de festa), mas quando é completa ainda é um prato permitido apenas para os “senhores” que nos finais de semana, faça chuva ou faça sol,“caem” de boca em uma suculentas feijoada e deixam de lado os conselhos de cardiologistas que acham a feijoada um veneno para o coração porque é repleta de gorduras, mas eles, os cardiologistas, também não resistem ao saboroso e mais popular de nossos raros típicos. Afinl, feijão tem gosto de festa. Ou não tem?