quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Biden viajou na maionese e posou com boné de Trump. A gafe ganhou espaço na mídia e prejudicou a repercussão da vitória de Kamala em debate que deixou Trump tonto


por Flávio Sépia 

A democrata Kamala Harris deu um mata-leão em um aparvalhado Donald Trump durante o debate presidencial. A repercussão na mídia espelhou a superioridade de Kamala. Os democratas comemoraram. 

Tudo perfeito se não fosse o descompasso de Joe Biden. No dia seguinte, ele visitou um quartel de bombeiros e um trumpista se aproveitou do chip desgastado do presidente e lhe entregou um boné da campanha de Trump. Biden provavelmente sem ter ideia do que do o boné representava posou para fotos com o dito cujo. Trump adorou. As redes sociais se dividiram entre críticas a Biden, dos apoiadores de Kamala  evidentemente, e gozações dos republicanos. Se o partido Democrata não quiser levar outra rasteira dessas terá que monitorar Biden. O homem é um perigo.

A Casa Branca teve que agir rápido e costurou às pressas uma versão que não se sustenta em pé. Alegou que Biden estava "defendendo o bipartidarismo". Então, tá 



segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O Globo de hoje publica matéria sobre o primeiro voo de asa delta realizado no Rio de Janeiro. Foi há 50 anos. A propósito da data, reveja post do Panis sobre um outro e improvável voador: Doval, o craque que brilhou no Flamengo. Em 1975, ele tentou aprender a voar...

 

Rio, 1975. Doval tenta decolar em asa delta.. Em matéria na...

...Fatos & Fotos, eu e o fotógrafo Hugo de Góes registramos o treino do gringo do Flamengo. 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em julho de 1974, há 45 anos, o francês Stephan Segonzac decolou da Pedra Bonita para o primeiro voo de asa delta no Brasil. Dias depois, assombrou a cidade ao pular do Corcovado e pousar no Jockey Club.

No ano seguinte o carioca Luís Cláudio já fazia os primeiros voos e se tornava instrutor para dezenas de interessados no novo esporte.

Na época, o atacante Doval era ídolo no Flamengo e o argentino mais carioca que os hermanos já mandaram para o Rio. Fora do campo, ele praticava surfe, fazia aulas de pilotagem no autódromo e treinava tiro no stand do clube. Não demorou a se interessar pelas asas que via aterrissar na Praia do Pepino.

Em agosto de 1975, a Fatos & Fotos me mandou cobrir as primeiras aulas do gringo com o instrutor pioneiro, o Luís Cláudio. As lições iniciais aconteciam em Jacarepaguá, aproveitando o declive de um pequeno morro. Doval logo provou que era muito melhor em fazer a bola voar do que ele mesmo sair do chão.

Depois de algumas tentativas, o instrutor assinalou a dedicação do aluno, mas não deixou de ironizar: "Ele já conseguiu passar quase três minutos sem encostar o pé no chão".

Doval foi três vezes campeão carioca, duas pelo Flamengo e uma pelo Fluminense. Morreu em 1991, aos 47 anos, vítima de infarto. Três dias antes, ele viu o Fla jogar pela última vez, em Buenos Aires, contra o Estudiantes de La Plata pela Supercopa Libertadores. O rubro-negro perdeu (2X0). Ele chegou a visitar a delegação do Flamengo no hotel que hospedava os brasileiros.

Trump sugere que em caso de derrota eleitoral terá sido vítima de fraude. O candidato já condenado pela justiça não apresenta provas da acusação. Com isso, sinaliza que não aceitará a eventual vitória de Kamala Harris

 


Matéria do Washington Post, hoje, destaca manobra eleitoral de Donald Trump: antecipar suspeita sobre o resultado da votação estadunidenses, mas apenas no caso de perder. Se ganhar, "jura" botar na cadeia oponentes que tenham tentado impedir sua vitória. A estratégia do magnata indica que ele não aceitará o resuiltado da eleição em caso de vitória da democrata Kamala Harris annuciada 
Trump já fez essa acusação antes mas nunca apresentou  apresentou provas ou evidências de fraude eleitoral. 

sábado, 7 de setembro de 2024

ABI e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro apresentam o documentário "Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazônia" no próximo dia 12/9, quinta-feira, às 18h.



por Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (*)

ABI e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro apresentam o documentário "Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazôniaa", que companha o repórter Daniel Camargo e os fotógrafos João Laet e Tom Phillips cobrindo as buscas pelo seu amigo, o jornalista Dom Phillips, assassinado na Amazônia em junho de 2022. A experiência muda sua visão sobre os conflitos na região.

Após o assassinato do jornalista Dom Phillips, no Amazonas, seu parceiro de reportagem, Daniel Camargos, da Repórter Brasil, embarca em uma jornada reflexiva sobre o papel dos jornalistas que cobrem os conflitos por recursos naturais na maior floresta do mundo. Ao descobrir o modo violento como seu amigo foi morto, ele se pergunta: vale a pena seguir neste ofício e terminar como Dom?

A resposta vem em outras coberturas pela Amazônia, quando Daniel conhece os Guajajara, no Maranhão. Eles se organizam para enfrentar os invasores que derrubam árvores dentro da sua terra. Os guerreiros Guajajara acumulam perdas de amigos e parceiros, com 50 mortes nos últimos 20 anos. Para eles, não há outro nome para o que vivem: é uma guerra.

Daniel segue para o Pará, viajando longas distâncias para chegar às aldeias munduruku mais distantes das cidades. Ali, no meio da floresta que deveria estar saudável, crianças caem com dor nas pernas, idosos perdem a visão e bebês nascem com problemas neurológicos incapacitantes – consequências da contaminação por mercúrio usado nos garimpos. Apesar do horror, as comunidades se recusam a sair e seguem denunciando os invasores.

A resiliência dos povos indígenas ajuda Daniel a aceitar a perda de seu amigo e muda o modo como o repórter enxerga o seu papel na cobertura das muitas guerras em curso na Amazônia.

O filme ganhou o 40º Prêmio Direitos Humanos De Jornalismo, concedido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul em 2023. O documentário também foi indicado ao Prêmio Gabo 2024, o mais prestigiado do jornalismo latino-americano.

O documentário “Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazônia” faz parte do projeto Bruno e Dom, quando mais de 50 jornalistas de 10 países se uniram para continuar o trabalho do repórter Dom Phillips, assassinado ao lado do indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari, em junho de 2022. O projeto foi coordenado pela Forbidden Stories.

Após a exibição do documentário teremos uma roda de conversa com o Daniel Camargos, jornalista autor do doc, e os fotógrafos João Laet (que trabalhou com Dom Phillips) e Tom Phillips.

Quando: 12/9/2024 – quinta-feira - 18h

Onde: sede da ABI – Rua Araújo Porto Alegre, 71 - 7° andar

Entrada franca a partir das 17h

(*) De material de divulgação enviado pelo SJPMRJ 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Na capa da Carta Capital: o "führer" das bigtechs ataca as democracias globais

 


Na capa da Time: lista de influentes em IA não tem brasileiros

 

A revista Time pública a lista das 100 pessoas mais influentes em Inteligência Artificial. Não há brasileiros na lista. A julgar pelo noticiário policial, a turma daqui está mais interessada em sites de apostas  

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Sabia disso? Os parceiros das estrelas das revistas masculinas tinham ciúmes de papel colorido


por José Esmeraldo Gonçalves

A internet é também um equipamento de mergulho no passado. Não são poucos os canais - principalmente de podcasts - que fazem a arqueologia das celebridades. Se o fazem é porque os leitores pedem. As redes sociais repercutem nesse momento uma entrevista de Myrian Rios, modelo, atriz, ativista religiosa e ex-mulher de Roberto Carlos ao podcast Inteligência Ltda. Em um trecho do depoimento, ela fala da decisão de posar nua para a revista EleEla. Myrian alega que se arrependeu do trabalho e que aceitou o convite da revista "para pagar as contas". "Não foi confortável fazer, ainda mais com 17 anos", ela acrescentou.

Parece haver alguma inconsistência em datas. A então modelo e atriz posou pelo menos duas vezes para a EleEla, em fevereiro e julho de 1978, fotografada pelo renomado Indalécio Wanderley. Até aqui, a única menor de idade que posou nua para revistas masculinas de uma grande editora era Luciana Vendramini, que foi capa da Playboy, da Editora Abril, em 1977, fotografada por JR.Duran, aos 17 anos.

Remanescentes da antiga redação da extinta EleEla, da Bloch, não confirmam a informação de que Myrian fez as fotos com menos de 18 anos. Vamos a alguns marcos da carreira de Myrian Rios. Ela estava no elenco da novelas da Globo "Escava Isaura", que foi ao ar en 1976-1977. E "Pecado Rasgado" (1978). Foi a notoriedade que as novelas lhe deram que despertou o interesse dos editores da EleEla. Segundo uma informação da Wikipedia até agora não desmentida, Myrian Rios nasceu em 10 de novembro de 1958, em Belo Horizonte, segundo declarou à Manchete em matéria assinada por Ronaldo Bôscoli em 1979. Teria, portanto, quando posou para a ElaEla, 20 anos incompletos.

Outra informação que pede maior clareza é a alegação de que Roberto Carlos teria conprado todas os exemplares da EleEla nas bancas e teria adquirido diretamente dos arquivos da Bloch todos os cromos que registravam os ensaios de Myrian Rios. Aí há, talvez, um lapso de memória. A relacionamento de Myruan Rios e Roberto Carlos teria começado já nos anos 1980. Até 1979, Roberto Carlos estava casado com Cleonice Rossi e certamente as edições citadas da EleEla nem mais estavam em bancas.

Mas há um fato curioso que sustenta parte dessa versão. Manchete, Fatos & Fotos e Amiga acompanharam desde o começo dos anos 1960 a trajetória de Roberto Carlos. Era um personagem essencial. Através de repórteres, fotógrafos e editores, ele desenvolveu uma inegável aproximação com as revistas da editora que foi uma das maiores do país. Em especial, tinha contato com Salomão Schwartzman, diretor da Bloch na sucursal de São Paulo. O que circulou, na época, nas redações da Bloch, na rua do Russell: Roberto Carlos teria pedido a Salomão que intermediasse uma solicitação a Pedro Jack Kapeller, superintendente da Bloch, no sentido de lhe entregar todos os cromos dos ensaios da atriz para EleEla guardados noa arquivos fotográficos da editora. Myrian, no podcast, diz que Roberto comprou tais fotos. Até poderia ser. Outra versão, contudo, circulava nos corredores do Russell. As imagens teriam sido cedidas amigavelmente em nome do bom relacionamento da editora com o cantor. Mas isso só aconteceu no começo dos anos 1980. Coincidência ou não, Salomão entregou muitas reportagens exclusivas com Roberto e Myrian nos anos seguintes. Manchete estampou em capas a primeira foto do casal, além de cobrir o esperado e midiático casamento. Vamos combinar que a cessão gratuíta de fotos faz mais sentido, até porque os valores não seriam expressivos para uma empresa do porte da Bloch, na época. Além de ser mais inteligente privilegiar o relacionamento com os personagens.

Uma "negociação" parecida teria ocorrido entre a Bloch e outro casal famoso. Xuxa também posou para a ElaEla. Pelé, a quem ela namorou nos anos 1980, teria agido para resgatar arquivadas nas estantes então analógicas da Bolch. Os implacáveis corredores do Russell também contavam que Pelé teve a aprovação do mesmo superintendente para driblas a posteriadade e não deixar provas públicas da sensualidade da Xuxa para a EleEla. É possível. É. Mas será que Pelé também resgatou as fotos da Xuxa para a Playboy, da Abril? Se resgatou, EleEla e Playboy, hoje extintas, levaram a verdade para o "túmulo" gráfico das revistas masculinas.

De qualquer forma, pedidos desse tipo parecem uma prova de machismo ancestral dos envolvidos.Se ocorreram, são casos lamentáveis de ciúmes de papel colorido. Ter posado para revistas masculinas só dizia respeito às modelos assim livremente contratadas. Nas décadas de 1970 e 1980 o Brasil era uma ditadura, mas não uma teocracia como Irã e Arábia Saudita.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Filme "The Apprentice", sobre Donald Trump, será lançado nos Estados Unidos antes das eleições presidenciais. Produção tem até magnata estuprando Ivana Trump

O ator Sebastian Stan e o gestual de Trump. Foto  Briacliff/Divulgação

 
Jeremy Strong é o advogado Roy Cohn. Foto Briacliff /Divulgação

A atriz Maria Bakalova vive Ilana Trump. Foto Briacliff/Divulgação


No cartaz do filme The Apprentice, Trump como "rei" de um império imobiliário.


por Clara S. Britto
“The Apprentice,”, o filme lançado no recente Festival de Cannes, estreará nos Estados Unidos antes das eleições presidenciais. Advogados de Donald Trump tentaram desesperadamente proibir o lançamento em circuito comercial. Trump afirma que a produção é difamatória. The Apprentice dramatiza a trajetória profissional e pessoal do magnata desde suas controvertidas incursões no mercado imobiliário à conturbada vida pessoal no período 1970-1980. 

Segundo a NBC News, a distribuidora independente Briacliff pretende lançar o filme no dia 11 de outubro. O ator Sebastian Stan interpreta Trump e Jeremy Strong faz o papel do seu advogado e mentor Roy Cohn. A atriz Maria Bakalova vive Ivana Trump. A direção é do diamarquês-iraniano Ali Abbasi. 

Uma das cenas mais polêmicas do filme mostra Trump estuprando sua primeira mulher, Ivana Trump. O fato foi revelado em depoimento no processo de divórcio, em 1990. Posteriormente ela suavizou acusação, disse que não estava falando "literalmente", mas se sentiu "violada" por Trump. "The Apprentice" foi escrito pelo jornalista Gabriel Sherman, da Vanity Fair, que cobre Trump e seu entorno há mais de dez anos.  

Leia na Revista Fórum: Parlamento Europeu poderá banir o X de Elon Musk caso ele não respeite as leis locais


 https://revistaforum.com.br/global/2024/9/1/rede-tambem-corre-risco-de-ser-banida-na-europa-164834.html

domingo, 1 de setembro de 2024

Na capa da IstoÉ: dias de fogo

 

O dia em que o movimento Black Rio invadiu a Manchete

 


Fotos Antonio Rudge/Manchete

por Ed Sá

"Black Rio! Black Power!" estreia dia 5 de setembro nos cinemas. O documentário visita  um fenômeno musical e de comportamento no Rio de Janeiro dos anos 1970. O movimento Black Rio, assim denominado pela jornalista Lena Frias, começou em Caxias, na Baixada Fluminense e ganhou a cidade que então só estimulava "modas" de elite. Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicalismo, Rock Br tinham carimbo da classe média. Levou anos para que o funk se um impusesse furando a bolha social. A luta cultural e política, mas, no tempo do Black Rio,  poucos percebiam a extensão do protesto contra o racismo embutido nos bailes soul dos jovens da periferia naqueles trágicos dias da ditadura militar. 

Uma sinalização essencial do Black Rio: os negros se orgulhavam da raça e mostravam a cara para assumir a luta contra o racismo no Brasil que, infelizmente, é batalha diária até hoje.

Por volta de 1975, as redações da Rua do Russell testemunharam de perto um dos efeitos do movimento black. Simbólico, mas efeito. A Bloch contratou um contínuo - eram chamados internamente de "siris", certamente porque passavam o dia inteiro andando para frente e para trás nos corredores da editora. Eles faziam o importante tráfego interno de fotos do laboratório para a redação, conduziam lay outs para a fotcomposição, levavam ordens de serviço para a fotografia e para o transporte, traziam correspondências e jornais. Em geral não usavam uniformes, vestiam-se, digamos, com sobriedade possível. Um dia, aparece um contínuo repaginado, ganhou o óbvio apelido de "Black". Era o próprio: calças boca de sino, óculos, sapatos plataforma. Não se sabe se foi selecionado usando esse figurino contestador. Provavelmente, não, mas talvez tenha sido um pioneiro na periferia dos ambientes do jornalismo conservador brasileiro. O documentário não o cita, claro, não era artista nem compositor. Passou, como todos nós. 

Por volta de 1975, o repórter Tarlis Batista e o fotógrafo Antonio Rudge realizaram uma pauta sobre o Black Rio. Não acredito que os repórteres da Manchete frequentassem Caxias. Aposto que o Black Rio não veio à Manchete, foi o "Black" que invadiu reuniões de pauta da revista que o Adolpho Bloch vigiava de perto. 

O documentário Black Rio, dirigido por Emílio Domigos e produzido por Letícia Monte, revisita essa época. 

A equipe do documentário usou muitas fontes de pesquisa, uma delas na mídia da época. Uma dificuldade, contudo, se apresentou: os registros na mídia tradicional eram quase sempre críticos e negativos. Nenhuma surpresa.         


Na capa da Carta Capital: a inseminação da desgraça.

 


A tecnologia está plugada na extrema direita? Tempo instável para a democracia e para a liberdade



Título da matéria do Charlie Hebdo. Reprodução

por Pedro Juan Bettencourt 

A jornalista Lorraine Redaud, do semanário francês Charlie Hebdo (https://charliehebdo.fr/), analisou recentemente a influência crescente da ideologia a partir do Silicon Valley. Redaud recorda que os gênios tecnológicos inicialmente apoiaram o Partido Democrata. "Atualmente buscam a utopia dos neo-reacionários", diz ela.

Peter Thiel, um dos fundadores do PayPal, investe no  Seasteading Institute, uma organização não governamental fundada por Patri Friedman ( não por acaso autor da frase "a liberdade e a democracia são incompatíveis"). Neto do Nobel de Economia Milton Friedman (este, guru incondicional de elementos da extrema direita como Paulo Guedes e Javier Milei), o baby Friedman planeja instalar "cidades" em plataformas em alto mar com o objetivo declarado de operar fora do alcance da soberania dos Estados. A longo prazo, ele sonha com uma sociedade "tecnofeudal". 

A ideia de criar ilhas fora da lei não é nova. Em 1961, o irlandês Roanan O'Rahilly, agente de jovens artistas, desembarcou no furacão pop de Londres, mas não conseguiu furar o cerco das gravadoras que impediam a produção e divulgação de músicas de quem não pertencesse aos seus quadros. O'Rahilly optou por criar sua própria rádio. Para isso comprou um velho navio holandês e, com a ajuda de um estaleiro que pertencia ao seu pai, reformou o barco, instalou equipamentos e passou a transmitir gravações dos seus músicos e cantores. A rádio-pirata "viralizou", como se diria hoje, atraiu grande audiência e também navios da Marinha britânica. Acossado, o produtor simplesmente levatou âncora e estabeleceu sua rádio em águas internacionais.

O Brasil está distante de São Francisco e seus templos tecnológicos mas não dos seus tentáculos. Que o diga Elon Musk, o magnata radical da direita que desafia as leis brasileiras com o apoio dos bolsonaristas, parte da mídia, células neonazistas e bolsões do fanatismo religioso.     

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Assalto digital: a internet se conecta ao submundo do crime


Título do Metrópoles sobre a investigação da Polícia Federal


por Flávio Sépia

Até o século 20 as zonas de crimes se estabeleciam em bairros normalmente sinistros. Era assim na Chicago nos anos 20, no Brownsville de Nova York até hoje não alcançado pelas luzes de Manhattan, na escura periferia de Londres no fim do século 18 ou nos sujos subúrbios de Paris onde a belle époque nunca chegou. Atualmente a criminalidade digital e chique usa paletó e gravata, dirige BMW, frequenta finos restaurantes, ostenta mansões e Rolex e atua no ambiente asséptico de aplicativos e redes sociais. 

Claro que o crime analógico descamisado ainda tem seu espaço, suas gangues e seus territórios. Nas grandes capitais brasileiras por exemplo. Mas isso não quer dizer que o Brasil não se atualizou nas modernidade. São muitas as modalidades de crime praticadas aqui via internet. 

Os jornais, hoje, revelam um golpe de bilhões praticado por fintechs (abreviatura de  financial technology), que são as startups que operam nos mercados financeiros alavancadas por aplicativos que movimentam grandes somas de dinheiro e emulam sistemas bancários. A Polícia Federal investiga fintechs que "prestam serviços" a empresas e ao crime organizado no ramo de sonegação, ocultação e lavagem de dinheiro fora dos mecanismos oficiais de vigilância. Um procedimento muito lucrativo para os techomeliantes. Se uma empresa está no alvo de credores não haverá contas a bloquear pela justiça. A grana assume poderes de invisibilidade e circula etérea e inatingível.  

Esse é, digamos, um golpe no atacado. Já no varejo é intensa a atuação de muitos dos chamados influencers, seja por meio de rifas 171, venda de produtos inexistentes, falsa captação de doações e uma infinidade de modalidades cujo único objetivo é afanar dinheiro dos incautos ou desatentos. Em esquemas mais organizados operam criminosos especializados em fraudar pix, invadir contas e roubar dados. 

Apesar disso, a internet não é terra sem lei. Os crimes digitais deixam rastros e seus autores podem ser localizados. Mas a tarefa não é fácil. Querem um exemplo? A Justiça Eleitoral bloqueou nas redes sociais as contas de Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, que já foi condenado por golpes bancários e se apresenta como coach e influencer. O que ele fez? Simplesmente abriu novas contas que passaram a veicular as mesmas fake news, ofensas morais e ilegalidades de campanha. Um drible safado e muito comum na lei quando se trata de delinquência digital..

O pior entre as funções derivadas do uso criminoso da tecnologia é a ameaça à democracia. No ambiente político , as redes sociais são capazes de despertar o que de mais doentio pode existir nos porões da sociedade. Você pisca e a tela do seu celular exibe racismo, intolerância, incitação à violência, preconceito, defesa da teocracia, do golpismo, coleções de peças de fascismo e nazismo, exaltação às armas, ódio ao pobre, ao feminismo e à igualdade de gênero. 

A turba que emerge das redes sociais para a vida real já mostrou do que é capaz, como na invasão do Capitólio ou na versão verde-amarela do ataque à democracia, o 8 de Janeiro de recente memória. A democracia não aprendeu a lidar com tantas ameaças. Aprenderá um dia?   

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terça-feira, 20 de agosto de 2024

R.I.P. Ripley, primeiro e único • Por Roberto Muggiati

 


Alain Delon (*) foi o primeiro e o melhor intérprete de Tom Ripley, o personagem criado pela romancista Patricia Highsmith. Em Plein Soleil/O sol por testemunha (1960), dirigido por René Clement, ele encarna à perfeição o cativante e amoral protagonista do filme. Resumindo a história: Tom, que vive à beira da indigência, é contratado por um capitão de indústria milionário para resgatar seu filho (ex-colega de universidade de Tom) da dissipação na dolce vita europeia e trazê-lo de volta para os Estados Unidos a fim de assumir os negócios do pai. A missão fracassa de saída, porque Tom adere ao estilo de vida de Philippe Greenleaf (Maurice Ronet) e desfruta das benesses do seu dinheiro, mas é submetido a toda uma série de humilhações pelo ricaço cheio de caprichos. Quando sente que o entediado Philippe vai se descartar dele, Tom vira o jogo. Num cruzeiro em que os dois estão a sós num iate, mata Philippe com uma pancada de remo e joga o corpo ao mar. Tom assume a identidade do morto, aprende a falsificar sua assinatura e não só se apodera do seu dinheiro como forja um testamento indicando a si mesmo como herdeiro da fortuna dos Greenleaf. O desaparecimento de Philippe é dado como um suicídio e o “talentoso” Sr. Ripley segue em frente, abonado e feliz, em outros quatro romances do que ficou conhecido como a “Riplíada” de Patrícia Highsmith.

René Clement exerce uma cinematografia magistral ao longo dos 135 minutos do filme (rodado em cenários italianos que vão de Roma até Nápoles e a costa amalfitana. Só comete um pecado capital ao distorcer o enredo de Patricia Highsmith num final com a mensagem moralista de “o crime não compensa”: Ripley/Delon sorve um drinque na praia enquanto o iate é içado para a manutenção outonal de praxe. Quando o barco sai totalmente da água, pode-se ver o corpo de Philippe enredado pelas amarras. A polícia se aproxima. Talvez Clement tenha sido forçado pelos produtores ou pela censura. Isso não impediu outros diretores de ressuscitarem o fascinante personagem. Ripley’s Game deu O amigo americano (1977), de Wim Wenders, com Dennis Hopper; e O retorno do talentoso Ripley (2002), de Liliana Cavani, com John Malkovich. Anthony Minghela dirigiu o remake de O sol por testemunha em O talentoso Sr. Ripley (1999), com Matt Damon, um Ripley que clona Chet Baker cantando My Funny Valentine. E Barry Pepper faz o protagonista na versão de Ripley Under Ground/Ripley no limite (2005), dirigido por Roger Spottiswood. Mas nenhum deles chegou perto do talentoso Monsieur Delon, que tinha não só o physique du rôle de Tom Ripley, mas também o seu esprit de corps.

* Alain Delon (1936-2024) morreu aos 88 anos, no último dia 18, em Douchy-Montcorbon, na França, de causa não revelada.

Na capa da Veja São Paulo: Bob Wolfenson, 70 anos


As lentes de Bob Wolfenson espelharam as mais belas mulheres do Brasil. O tempo da Playboy passou, Wolfenson, não. É o que a Veja São Paulo mostra na edição mais recente. Uma frase do renomado fotógrafo: "o acaso é  elemento fundante da fotografia. Mesmo no estúdio, promova o acaso".

A Inteligência Artificial (IA) impulsiona mentiras na campanha de Donald Trump. Será uma prévia do que o Brasil vai ver?





por José Esmeraldo Gonçalves 

A definição de lixo precisa urgentemente de revisão. O atual significado é muito suave para explicar o que é a conta oficial de Donald Trump no X. Há mentiras e manipulação para todos os gostos. Dois posts ainda no ar exemplificam a canalhice do sujeito, aliás um criminoso condenado pela justiça. A IA é sua aliada na sujeira. Um dos posts usa a imagem de Taylor Swift, opositora do meliante republicano, como se fosse sua apoiadora. Outro mostra a candidata democrata Kamala Harris como uma líder comunista falando para uma multidão  fardada em imagem saturada de vermelho.

A campanha de Trump é infelizmente um modelo do que a extrema direita brasileira faz na atual baixaria para a eleição de prefeitos e vereadores. O uso da tecnologia ainda é tosco. Imagine como será na campanha presidencial de 2026. A legislação para coibir as mentiras está parada no Congresso por interesse da extrema direita. Não por acaso.

Mídia - o bom, o mau e o feio

 

Reprodução de O Globo, 18/8/2024

Reprodução de O Globo, 18/8/2024


por Flávio Sépia

Em qualquer país que preza melhor distribuição de renda e mais justiça social, a criação de empregos é boa notícia. 

Não para a mídia dos oligarcas brasileiros. 

O Globo é um jornal que tem um discutível coerência histórica. Exemplos entre muitos? Foi contra o salário mínimo, combate qualquer aumento real das aposentadorias por pouco que seja e fez campanhas contra a instituição do décimo-terceiro salário. 

Os recortes reproduzidos acima são de edição recente. Uma notícia socialmente positiva sobre a atual e acentuada queda do desemprego e uma modesta recuperação do poder de compra dos trabalhadores é destacada como um espécie de catástrofe, um alerta histérico sobre um "abismo" à frente. 

O alinhamento do jornal com o mercado e com os lucros da especulação financeira é algo que chega a níveis de fanatismo neoliberal. "Vendem" o mercado como o "messias" que salva os despossuídos. Nem o sujeito que faz essa análise acredita nesse tipo de argumento que predomina entre os "economistas de mercado", a categoria acadêmica onde a mídia pesca analistas. Não se vê entre as bancadas de áulicos da especulação financeira como dogma um só economista com visão social. Isso apesar das evidências de que o edifício teórico de neoliberalismo apresenta rachaduras dramáticas no mundo inteiro. Por aqui persiste a teoria aloprada do mau e do feio da especulação acima de tudo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Na capa da Carta Capital...

 

Carta Capital analisa os impactos das próximas eleições para prefeitos e vereadores, que estão mais do que nunca contaminadas pela disputa presidencial de 2026. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Alexandre de Moraes é o cíclope que assombra a Folha e apavora a extrema direita



por José Esmeraldo Gonçalves 

Em meio à ofensiva coordenada contra o ministro Alexandre de Moraes e o STF - com foco na manipulação de informações passadas pela extrema direita bolsonarista, conectada com policiais paulistas e com o jornalista estadunidense Glenn Greenwald -, a Folha de São Paulo ultrapassou os limites da ética jornalística e deu um twist carpado na encomenda de provar uma tese inexistente. Agiu como um aplicativo de entregas jornalísticas, onde repórteres podem ser despachados para cumprir pautas demarcadas pelo oligarca controlador da empresa e fotógrafos podem, por indução natural, buscar imagens que façam um macabro pas des deux com o discurso da ultra direita que é o atual GPS ou, quem sabe, a "starlink" do jornal paulistano. Na sequência do "duro", os "informantes" tiraram a escada e deixaram a Folha segurando o pincel. Desde que soltou a falsa "bomba", ela tenta desdizer o que disse, mudar palavras e retocar frases.


No rescaldo do 8 de Janeiro golpista a Folha obrou a famosa a montagem da foto das vidraças do Planalto sobre a figura do Lula com estilhaços registrados em outro espaço da fachada e colados digitalmente sobre o coração do presidente, como se fosse o rastro de uma bala nem um pouco perdida.

O ministro Alexandre de Moraes Moraes, alvo atual de uma operação midiática orquestrada que parece ter o claro objetivo de anulação de provas em processos no TSE, foi agora retratado na capa como um cíclope ameaçador. Só uma análise técnica diria se há manipulação nessa imagem. Aparentemente há discrepâncias de incidência de luz, mas não necessariamente caracterizadas como consequência de manejo digital da foto. Como a Folha já falsificou antes uma imagem vendida como fotojornalismo, a suspeita é valida. A mensagem editorial das duas fotos, tal qual o jornal elaborou nas capas, supera as imagens e talvez até a concepção da autora. Por coincidência, ambas, a dos estilhaços aplicados sobre Lula e a da cena de um Moraes alucinado e ameaçador são da mesma fotógrafa, Gabriela Biló, uma caçadora de esquisitices no sanatório político do Planalto Central.