segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Já viu? Clipe "Boca Suja" resume a podridão que sai da fossa cerebral do inominável




Fabiano Nasi, músico e compositor da banda gaúcha Os Flutuantes, resumiu no clipe que acaba de lançar todo o deboche de Jair do Caixão durante a pandemia. 

Ao longo da trilha, ele exibe cartazes com as frases que o imundo pronunciou ofendendo o país, os quase 200 mil mortos e as sofridas famílias brasileiras.

VEJA O CLIPE BOCA SUJA AQUI

 

domingo, 3 de janeiro de 2021

Editora Abril vende prédio e fecha gráfica. Impressão das revistas que ainda resistem nas bancas será terceirizada

 

Reprodução Brasil 247

No alto do prédio da Marginal Tietê, o logo da Abril. Referência na paisagem de São Paulo vai desaparecer. Foto Reprodução Twitter



O busto do "Seu" Victor, que ficava no saguão do prédio da redação na Marginal Pinheiros. Com a crise da Abril, o fundador virou nômade. Onde andará?

por José Esmeraldo Gonçalves

A Abril cultuava dois símbolos. O famoso letreiro da árvore plantado nas capas das revistas e no alto do prédio da gráfica - durante décadas uma referência orgulhosa na paisagem de São Paulo, mais precisamente na Marginal Tietê. E o busto do fundador, Victor Civita, imponente, no saguão do  NEA (Novo Edifício Abril), na Marginal Pinheiros. 

Em uma madrugada de janeiro de 2015, o busto foi retirado. A editora resolvera entregar o prédio que ocupara sob arrendamento à Previ e o fundador foi primeiro a ser despejado, como ocorre com os líderes em tempo de mudanças. O Civita de bronze teve a sorte de não ser uma estátua, cuja queda seria mais espetacular.  Saddam, Kadafi, Lênin, Franco, Salazar que o digam. "Seu" Victor foi embora discretamente, coberto por uma manta de juta. Onde estará? 

O segundo grande símbolo da Abril, o letreiro da árvore, será podado em breve do prédio da gráfica, que voltou a abrigar também as redações. Estas, por sua vez, deverão sair da Marginal Tietê para novo endereço. 

Matéria do Brasil 247  informa hoje que a Editora Abril fechará nos próximos dias sua gráfica na marginal do Tietê. O prédio será vendido. A decisão estava tomada desde o ano passado. Os títulos que a editora ainda mantém passarão a ser impressas em gráficas terceirizadas. "As revistas sobreviventes Veja, Veja São Paulo, Exame, Claudia, 4 Rodas, Saúde, Superinteressante, Você S/A e Você RH continuarão a ter versões impressas e digitais. Outras, a exemplo de Viagem & Turismo, VIP e Placar podem ter conteúdo apenas na web, como já ocorre com títulos como Capricho e o portal MdeMulher", acrescenta o 247. 

Leia a matéria completa, do Brasil 247, AQUI

A logística da morte - "No caso das seringas, Bolsonaro e Pazuello deixaram o tempo passar por decisão". É o que analisa Jânio de Freitas na Folha.

 

Da Folha de São Paulo, 03/1/2021. Clique na imagem para ampliar.

50 países já estão vacinando. E a terra de Jair do Caixão não tem sequer seringas

Folha levou quase um ano para ligar, em editorial, uma coisa à outra. Como os fatos demonstram no noticiário do jornal, a incompetência de Jair do Caixão na pandemia mata milhares de brasileiros. E é crime continuado.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Retrospectivas são entediantes. Já deu. Mas o jornal USA Today inovou. Fez uma brilhante Introspectiva do Ano. Cada dia uma foto que faz pensar


por José Esmeraldo Gonçalves

Retrospectivas são chatas. Em geral.  A fórmula se desgastou. Talvez faça sentido ainda para desmemoriados. Ou para quem foi tão atolado por informações que precisa catalogar o que aconteceu. 

Só que a mídia ainda considera uma obrigação repassar os acontecimentos do ano. 

Acho que os leitores, não mais. 

O USA Today conseguiu escapar do lugar comum e fez uma retrospectiva dinâmica, talvez mais adaptada aos hábitos dos leitores já formados na era digital.  Montou um agregador de fotos sensacional. Uma imagem por dia. Cada foto conta um fato. E traduziu o que foi esse inacreditável 2020. Algumas fotos são tão expressivas que vão além do retrospecto. 

O USA Today fez a primeira Introspectiva do Ano. 

VEJA NO USA TODAY, AQUI 

Cariocas esperam que o Rio renasça. Um bom sinal foi o arco-íris da virada



Reprodução O Globo 

por Ed Sá 

O Globo on line publicou ontem a foto de um arco-íris que sublinha o Cristo Redentor. Uma bela sinalização para 2021. O mundo inteiro sofreu com a Covid-19, mas só o Rio teve pestes extras. As pragas Witzel e Crivella para os quais a única vacina é o xadrez. Que a faixa de cores não apenas indique a recuperação da cidade destroçada por esses maus elementos, mas e leve os cariocas ao posto de vacinação mais próximo. 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

The Sun: as capas mais sonhadas para 2021

 



The Sun publica hoje uma série de capas que os editores gostariam de estampar em 2021. Destacamos as duas acima: 100 dias sem casos de Covid na Inglaterra; e o dia em que Boris Johnson anuncia a vitória final contra o coronavírus.  

Deu no Post: Quem precisa de realidade? O mercado tem vida própria...


Reprodução Washington Post

por Flávio Sépia 

A edição do Washington Post, hoje, aborda um fenômeno dos novos tempos. O mercado de ações dos EUA encerrou 2020 em níveis históricos de retorno de investimento, apesar de uma pandemia que matou mais de 340.000 americanos, deixou 20 milhões sem empregos e uma parcela da população faminta e derrubou o PIB da maioria dos países. 

O índice de ações S&P 500, o indicador mais confiável, terminou 2020 com alta de mais de 16%. Dow Jones e o Nasdaq indicaram ganhos de 7,25% e 43,6%, apesar da devastação sanitária. Hospitais lotados, funerárias idem, nada disso impactou o mercado financeiro. As maiores empresas cresceram durante a pandemia ao mesmo tempo em que colocavam milhares de trabalhadores no olho da rua. 

Entrevistado pelo Washington Post, Michael Farr, presidente da Farr, Miller & Washington, empresa de gestão de dinheiro, definiu:   “2020 foi impressionante. Que uma paralisação econômica induzida por uma pandemia de proporções épicas tenha sido digerida com ações encerrando o ano 15 por cento mais altas é alucinante". Guardadas as proporções, com o Brasil pegando de volta o selo de país subdesenvolvido, a B3, a bolsa de valores brasileira, também pouco espelhou a devastação de empregos e as crises dos setores industrial e de serviços: o mercado registrou ganho anual de 3%. Economistas com visão social, os poucos que ainda existem, certamente vão se debruçar sobre esse fenômeno. Tentar entender porque uma fábrica de parafusos passou oito meses sem vender uma só unidade e teve suas ações valorizadas no período. O exemplo é hipotético, mas aconteceu algo semelhante com várias corporações. Uma tese é que o mercado usa os fatos apenas como gatilhos para a especulação diária, o sobe e desce que faz vencedores ou perdedores, mas, como 2020 mostrou, não é afetado pela realidade em torno. 

Pandemia, desemprego, fome, países em lockdown, quem liga? 

Em abril/maio do ano passado, jornalistas de mercado chegaram a falar em "momentos de pânico" nas bolsas preocupadas com a desaceleração do consumo. Se isso foi verdade, não só passou rápido como, diz o Washington Post, se transformou em euforia no mercado financeiro mais poderoso do mundo.


quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

As 10 melhores notícias do ano

 1 - A descoberta das vacinas

2 - Derrota de Trump na eleições americanas

3 - As manifestações chilenas que derrubaram a Constituição fascista de Pinochet

4 - Golpe boliviano derrotado nas urnas 

5 - Uma conquista das mulheres argentinas: a legalização do aborto

6 - Todas as derrotas de Bolsonaro no STF e no Congresso

7 - Crivella desmascarado

8 - As lives de Caetano e Paulinho da Viola

9 - Livro: República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro. Bruno Paes Manso. Todavia.

10 - Filme: 1917

Os 10 mais ridículos do ano

 1 - Bolsonaro

2 - Neymar 

3 - Damares 

4 - Pazuello  

5 - Anvisa 

6 - Ernesto Araújo

7 - Olavo de Carvalho s 

8 - Marcello Crivella

9 - Carla Zambelli

10 - Ricardo Salles

Hors-concours: todos os envolvidos na inacreditável reunião ministerial de 22 de abril no Palácio do Planalto. 


A Secom faz mea culpa...

Em mensagem de Ano Novo, a SECOM tem surto de sinceridade e admite que não se inclui entre os brasileiros honestos. Veja um trecho:

“FELIZ ANO NOVO. Num ano em que muitas dificuldades surgiram; e muitas dificuldades foram criadas e impostas, os brasileiros honestos e trabalhadores levaram este país adiante e mostraram seu monumental valor”.

A SECOM não mostrou valor algum, não trabalhou e não levou o país adiante, logo...

Votos para 2021: que as equipes do Ministério da Saúde e da Anvisa pensem, pelo menos, nos seus próprios pais, avôs e amigos idosos. Que desafiem o chefe e comecem a vacinação já...

por Flávio Sépia 

O ano da Covid-19 termina com a campanha de vacinação em curso em 50 países, oito vacinas liberadas, das quais seis com eficiência comprovada. A maioria dos países com estoques de seringas e agulhas adquiridos há quatro e seis meses. 

Não vou dizer que o Brasil está uma zona, porque zonas não são tão desorganizadas assim. A questão que não quer calar: a catatonia do Ministério da Saúde e a inoperância da Anvisa, o show de explicam o caos. O negativismo e o desprezo militante do sociopata maior explicam tudo isso. Ninguém quer desagradar o chefe. Mas será que Bolsonaro chegou a proibir a compra de vacinas e seringas com antecedência ou foi apenas incompetência e desleixo? Os funcionários dessas instituições não poderiam ser mais afirmativos, questionar os gabinetes da raiva e do ódio, o que seja? Será que não têm famílias, não pensam nos pais idosos, nos avós, no risco que correm, na angústia que vivem? 

Esses funcionários bem que poderiam aproveitar a virada do ano, se não estiverem em alguma balada bolsonarista,  para refletir sobre isso. 

Na década em que patrocinou mais um golpe de Estado, a Folha agradece aos leitores por "campanha pela democracia".


A Folha aproveita uma revisão da década e faz, hoje, um balanço da sua campanha em defesa da democracia ameaçada por parte de Bolsonaro e suas milícias. É campanha louvável, claro. E, talvez, quem sabe, ensine à própria Folha, mais uma vez, o risco que é atacar as instituições. O jornal tem um histórico antidemocrático. Não só encampou o autoritarismo e a violência que o golpe de 1964 implantou no país, foi colaborador ativo, através da cessão de carros e sabe-se lá o que mais, para ações de repressão da ditadura nos anos 1970. 

A Folha se orgulha de ter apoiado a campanha das Diretas, nascida nas ruas, nos sindicatos, nos diretórios estudantis, em alguns partidos, e em órgãos progressistas de classe. Mas quando se pensava que o jornal tinha aprendido algumas coisa naquela jornada, vem a campanha demolidora e novamente o apoio a um golpe, o  de 2016, que derrubou uma presidente legitimamente eleita. Golpe, sabe-se como começa, como 64 ensinou, e não se faz ideia de como termina. O resultado está aí: o odioso governo de Jair Bolsonaro que tem, na sua origem, as digitais da Folha e dos demais veículos das oligarquias conservadoras da mídia. esclareça-se. 

Uma boa resolução de Ano Novo seria a Folha admitir que ser democrático não se resume a um título no alto de uma página

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Do Twitter: que hora elas voltam?

 

Reprodução Twitter

Em 2013, no embalo do golpe, atrizes da Globo se vestiram de preto. Dramático. A foto foi distribuída nas redes sociais. Eram, em mão invertida, as pasionarias  do Projac. Juliana Paes, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Susana Vieira e Bárbara Paz.  Juliana Paes provocou recente polêmica nas redes sociais ao defender Bolsonaro, mesmo após a atuação do sociopata negando a Covid. Rosamaria, Nathalia e Susana, aparentemente, não se manifestaram ultimamente. Bárbara Paz acaba de ter seu filme indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil no Oscar. A atriz já criticou a atuação do governo na pandemia. A peça política para a qual elas posaram voltou às redes sociais nessa semana. O pessoal ironiza. O Brasil precisa que essas senhoras voltem a mostrar indignação contra a situação para a qual, de alguma forma, deram uma contribuição patriótica. Será que estão felizes com as consequências da ruptura constitucional?  
Estão de parabéns as envolvidas. Deu nisso. 

Gonzagão canta Mangaratiba (para compensar a má fama da festa de Neymar)

A bela Mangaratiba frequenta o noticiário pelo lado negativo. Não por culpa dos moradores, mas de um forasteiro. Neymar escolheu o local para fazer uma festa de arromba em plena pandemia. A cidade se revolta, mas pouco pode fazer. A balada vai rolar. O risco para Mangaratiba é que a maioria do pessoal que vai trabalhar para a diversão do jogador e sua curriola é local. O risco de contaminação por se estender aos moradores. 

Melhor ficar com Gonzagão, que cantou Mangaratiba em tempos menos revoltos e de maior respeito e solidariedade.  E a letra é apropriada

Mangaratiba

Luiz Gonzaga

Ôi, lá vem o trem rodando estrada arriba

Pronde é que ele vai?

Mangaratiba! Mangaratiba! Mangaratiba!

Adeus Pati, Araruama e Guaratiba

Vou pra Ibacanhema, vou até Mangaratiba!

Adeus Alegre, Paquetá, adeus Guaíba

Meu fim de semana vai ser em Mangaratiba!

Oh! Mangarati, Mangarati, Mangaratiba!

Mangaratiba!

Lá tem banana, tem palmito e tem caqui

E quando faz luar, tem violão e parati

O mar é belo, lembra o seio de Ceci

Arfando com ternura, junto a praia de Anguiti

Oh!…

OUÇA AQUI

Minha parceria com Lady Day • Por Roberto Muggiati


O sistema de som do supermercado Pão de Açúcar de Botafogo sempre me recebeu com Billie Holiday cantando uma das 230 faixas que gravou na Columbia entre 1933 e 1944, geralmente um Lado A com o sax tenor de Lester Young, tipo All of Me ou This Year’s Kisses. Agora, morando em Laranjeiras, vejo a banca de vinis do Miranda perpetuar Lay Day com umas trinta capas de seus LPs no mostruário de cinquenta. E ainda outro dia entreouvi na veterinária: “Como é mesmo o nome da gatinha? Billie?” “Sim, da cantora, Billie Holiday.” São amostras cariocas que se repetem mundo afora, fixando Lady Day como uma das maiores figuras cult do nosso tempo.


Orgulho-me de ter participado da sua história. E isso só aconteceu graças à experiência adquirida na Manchete. Quando a editora Zahar me convidou em 2003 para fazer uma nova tradução da autobiografia de Billie, Lady Sings the Blues, sugeri acrescentar um epílogo. A edição original, publicada em 1956, não cobria os três anos e meio derradeiros da cantora, que morreu em 17 de julho de 1959. O livro não foi daqueles trabalhos convencionais de ghost writer. Amigos de longa data – ela era madrinha do único filho dele – Billie e o jornalista William Dufty compartilhavam ideias progressistas e lutavam por justiça social. Ele já conhecia a maior parte da história de Lady Day quando se sentaram para fazer o livro. O modo descontraído de ser e de falar de Billie foi admiravelmente captado pelo escritor de ouvido musical. A primeira frase do livro é exemplar; “Mamãe e papai eram só duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela dezesseis e eu três.” Os 24 capítulos do livro receberam títulos de canções de Billie. O último se chamava God Bless the Child. Completei a trágica história de Billie com um epílogo intitulado Please Don’t Talk About Me When I’m Gone, uma de suas canções favoritas. Raros artistas construíram seu repertório com tanto rigor. Ela preferia cantar várias vezes o mesmo standard, a fazer concessões às chamadas novelties, como Mack the Knife ou La Vie en Rose. 

Pesquisando nas muitas biografias da cantora que continuavam – e continuam – saindo, encontrei fatos ignorados sobre seu intenso final de vida. Numa de suas últimas turnês à Europa, ela se apresentou em uma sala do teatro La Scala de Milão – imaginem só, Lady Day invadindo o sacrossanto espaço da divina Callas! Foi o marido Louis McKay, que vivia às suas custas, quem insistiu na ideia da autobiografia, visando a um filme: estavam em moda as biografias de cantoras como Jane Froman (interpretada por Susan Hayward) e Ruth Etting (Doris Day). A primeira estrela cogitada para o papel de Billie foi Dorothy Dandridge, uma morena light que fizera sucesso em Carmen Jones. Depois se falou em Ava Gardner e – pasmem! – na loura gelada Lana Turner... Só em 1972 o filme, Ocaso de uma estrela, chegaria às telas, numa versão equivocada, com Diana Ross, uma negra de alma branca, no papel de Billie e – pior – destroçando suas canções. 

Em novembro de 1956, numa volta triunfal aos palcos, Billie apresenta-se no Carnegie Hall. No intervalo de cada canção, o jornalista Gilbert Millstein lê trechos da autobiografia. No final de 1957, ela é documentada admiravelmente em vídeo em “The Sound of Jazz”, da CBS, cantando Fine and Mellow com os três grandes do sax tenor – Lester Young, Coleman Hawkins e Ben Webster – nove minutos preciosos da cantora em close num preto-e-branco intimista.

A morte de Lester Young em março de 1959, aos 49 anos, foi um choque brutal para Billie. Por um quarto de século os dois viveram a grande love story musical do jazz. Foi ele quem a apelidou de Lady Day. E ela retribuiu, apelidando-o de Prez. Billie ridicularizava a quantidade de realeza entre os jazzistas – Counts, Dukes, Kings. Earls... “Porra, quem manda mesmo neste país é o Presidente!” E Lester tornou-se The President, ou simplesmente Prez.  A partir dessa grande perda, Billie começou a definhar. Depois de um colapso em 31 de maio, acabou numa tenda de oxigênio. Mal saiu, voltou a fumar. Seu problema principal era a cirrose hepática, mas o coração, os rins e outros órgãos estavam comprometidos por sua péssima condição física. Hospitalizada, foi flagrada por posse de heroína – possivelmente “plantada” por uma enfermeira. 

O teatrólogo Edward Albee escandalizou o mundo em 1960 com sua peça A morte de Bessie Smith, baseada na história real da cantora que sangrou até morrer num hospital de Memphis que se recusou a atender uma paciente negra. O que aconteceu com Billie foi ainda mais brutal. Cito do epilogo:

“No dia 12 de junho ela foi presa e acusada da posse de narcóticos. Tiraram-lhe tudo: o rádio, o toca-discos, as flores, as revistas de fofocas e de quadrinhos, uma caixa de chocolates, um sorvete italiano, o telefone, e dois guardas foram postados diante da sua porta. Dizem até que levaram graxa preta e almofada de carimbo para tirar suas impressões digitais. Billie foi algemada à cama de hospital por dois detetives.”

Um depoimento à revista de fofocas Confidential, escritor por William Dufty, rendeu a Billie 750 dólares. Ela ocultou na sua vagina as quinze notas de cinquenta dólares presas num rolo com fita adesiva. No livro de 2002 Jazz and Death, o médico Frederick J. Spencer argumenta: “O esconderijo secreto de Billie Holiday pode ter contribuído para sua morte. Provavelmente tinha um cateter urinário inserido como parte do tratamento, uma avenida potencial para que a infecção alcançasse a bexiga. Esconder qualquer substância na vagina aumentaria esse risco. Se uma infecção subisse pelo trato urinário até a bexiga ou os rins, qualquer complicação seria fatal. Isso ocorreu sob a forma de ‘edema dos pulmões’, uma consequência comum do repouso prolongado numa cama. A aeração inadequada das bases dos pulmões leva ao edema, o que aumenta a carga de esforço sobre o coração. A condição de Billie já era séria demais sem esta tensão.”

Das dezenas de reedições americanas e traduções nos mais variados idiomas, a que eu fiz para a Zahar em 2003 é a única que conta a história completa de Billie Holiday. Verifiquei pela Estante Virtual que ainda existem exemplares da tradução de 1985 da Brasiliense, mas a edição da Zahar está praticamente esgotada – o que mostra a sua boa aceitação. Sinto-me gratificado por ter acrescido, às 204 páginas da autobiografia original, onze páginas de novas informações. Entre elas a antevisão que Billie teve do seu destino ao afirmar: “Você não é ninguém nos Estados Unidos antes de morrer. A partir daí, você é a maior.”

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Réveillon de Copacabana segundo os fotógrafos da Manchete: o panorama de uma tradição que faz uma pausa enquanto a vacina não vem


A foto de Armando Borges em página dupla da Manchete, em 2000. Foi a saideira. Naquele mesmo ano, em agosto, a Bloch foi à falência. 

A foto de João Silva, em 1987, mostra o réveillon de Copacabana com luzes, cores e a multidão chegando e que faria a fama do espetáculo em todo o mundo. Ao fundo, a cascata de fogos do Méridien, extinta em 2004.

O fotógrafo Raimundo Costa fez, em 1985, uma panorâmica da virada em Copacabana. Manchete fazia uma prévia ainda básica do que se ampliaria muito mais nos anos seguintes. A cena se tornaria clássica nas páginas da revista.

1984: com fotos do alto, Manchete focalizava pela primeira vez o novo ângulo do réveillon de Copacabana. O crédito era de equipe, não sendo possível identificar com precisão o autor da foto, mas ´provavelmente foi o Nilton Ricardo, que registrou muitas vezes essa cena. Ressalte-se que a reprodução obtida não traduz a qualidade da página dupla de abertura da edição daquele ano.  


Em 1981, com fotos de Frederico Mendes, a edição da Manchete ainda destacava a celebração de Iemanjá em Copacabana e reservava a maior parte das páginas para a cobertura de festas privadas com celebridades e socialites.


por Ed Sá 

Uma tradição carioca sucumbe ao vírus. A prefeitura do Rio de Janeiro cancelou os fogos e a aglomeração em Copacabana na virada do ano. A praia estará em silêncio, não haverá shows e estão proibidos equipamentos de som nos quiosques. Se o povo vai obedecer, é outra história. A noite calma na areia deverá remeter aos anos 19601970, quando os cariocas comemoravam o réveillon em boates, clubes e em reuniões familiares. As areias de Copacabana recebiam umbandistas e candomblecistas. A noite era de Iemanjá. 

Manchete fez, durante anos, ensaios fantásticos dessas cerimônias que atraíam principalmente os adeptos das religiões afro e turistas estrangeiros. 

Foi no final da década de 1970 e começo dos anos 1980 que a Churrascaria Mariu's, no Leme, passou a fazer uma queima de fotos na areia em frente ao restaurante. Na mesma época, alguns hotéis das Av. Atlântica celebravam a virada com espetáculos pirotécnicos, ainda modestos. Em 1987, surgiria a famosa cascata do Hotel Méridien, que logo se tornou uma atração a mais. 

A primeira edição de  réveillon da Manchete a dar maior destaque aos fogos e publicar uma foto panorâmica da celebração, já com a praia atraindo milhares de pessoas, foi a de 1984. A partir daí, a festa só cresceu. Em 1985, o fotógrafo Raimundo Costa repetiu a foto aberta, a partir do terraço de um hotel, ainda com poucas luzes no céu. A cena se tornaria um clássico da Manchete nos anos seguintes. A cada ano, aquela imagem ganhava mais importância, era promovida a capa e página dupla.  Em 1987, o fotógrafo João Silva repetiu a composição já então com maior impacto visual. E os jornais do Rio começavram a explorar a panorâmica nas primeiras páginas, com a praia cada vez mais iluminada e lotada,  a avenida com luzes mais brilhantes, fogos mais poderosos e maior duração de queima. Depois vieram os grandes shows de artistas brasileiros e estrangeiros. Rod Stewart baixou em Copa em 1994, a Manchete registrou. E os Rolling Stones fizeram a praia explodir de gente em 2006, quando a Manchete não estava mais lá. 

Em 2000, o último réveillon da Manchete (a Bloch faliu em agosto daquele ano) coube ao fotógrafo Armando Borges encerrar o ciclo da revista para páginas duplas e capas do réveillon de Copacabana. Naquele ano, os fogos ainda foram lançados da areia, mas um acidente com vítimas transferiu a queima para balsas a partir de 2001. Três anos depois, o Corpo de Bombeiros proibiu a cascata de fogos do Méridien. O réveillon de Copacabana mudou, mas foi em frente, já então como um dos maiores espetáculos do mundo, capaz de atrair cerca de três milhões de pessoas. 

A festa, que passou a concorrer com o Carnaval em número de turistas nacionais e internacionais, só não resistiu à pandemia. 

Fica para o ano que vem. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Terrorista de Nashville achava que a 5G mata pessoas. O pessoal que acredita em teorias da conspiração começa a ficar perigoso...

Depois de identificar o terrorista de Nashville, a polícia americana começa a  desvendar os mistérios que cercam o motorhome-bomba. Antony Warner, o homem que planejou o atentado e morreu na explosão, queria atingir a AT&T. Ainda falta muito a apurar, segundo os investigadores, mas os primeiros indícios levam à conclusão de que o terrorista acreditava que a tecnologia 5G está matando pessoas. A morte recente do pai o levou a desenvolver essa teoria. E daí o plano para atingir um centro de dados da empresa telefônica. Se confirmada a motivação, é bom ter cuidado com os malucos terraplanistas, antivacinas, antimáscara, 5G e outros. Podem deixar de ser apenas ridículos e se transformarem em hordas perigosas. 

Fora do campo, a imagem do Neymar é de pereba

 


Neymar assume publicamente que é bolsonarista, visita o sociopata no palácio e, deduz-se, concorda com a insanidade e o comportamento do parça. Recentemente, quando do episódio de racismo durante o jogo do PSG contra o Istambul, a mídia destacou a participação de Neymar, aderindo à decisão de abandonar o campo em protesto contra a agressão racial ao auxiliar técnico do time turco. Aparentemente, aquilo foi um ponto fora da curva. Ao promover uma festão em Mangaratiba, em pleno avanço da pandemia no Rio de Janeiro, o jogador volta a mostrar um lado nada solidário e compromete um pouco da sua imagem no Brasil e no mundo. As redes sociais condenam a atitude de quem despreza milhares de vítimas da Covid e, lá fora, os jornais também destacam a irresponsabilidade do anfitrião desse pagode viral. Alguém reparou que Neymar começa a sumir das campanhas publicitárias? Será por acaso? Provavelmente não. É normal marcas pesarem dez vezes antes de se ligarem a figuras polêmicas. Claro que isso afeta pontualmente o bolso do jogador, mas não a fortuna que acumulou até aqui. 

Por tudo isso, a imagem do brasileiro fora de campo não é lá essas coisas. 

Dentro no campo, ele viverá em 2021 um ano decisivo. O PSG levou Neymar com um único objetivo: ganhar um título continental. Até agora não recebeu esse retorno. 

Para ser apenas campeão francês não terá valido a pena gastar tanto.  É como se o Flamengo comprasse o Messi para ser campeão da Libertadores e levasse apenas o título carioca.     

domingo, 27 de dezembro de 2020

Brasil na rabeira da vacinação. E não existe imunização para incompetência, má fé e fanatismo ideológico

por Flávio Sépia

Mais de 40 países estão fazendo campanhas de vacinação neste domingo.  E cerca de quatro milhões de pessoas já foram vacinadas no mundo. 

O Brasil  não faz ideia de quando começará  a imunizar a população em campanha nacional. Não que falte tudo: o governo só não tem a vacina, a seringa, a competência, a vontade e a condição moral para enfrentar a tarefa.  

O Globo de hoje publica matéria sobre a "Geopolítica da Covid" onde informa que "países de alta renda dão as cartas no acesso às vacinas e os mais pobres ficam para trás". Em parte é verdade, segundo o Duke Global Health Innovation Center, da Carolina do Norte (EUA). Mas vários países fora do G-7 mostram que a eventual barreira não é intransponível. O Chile, por exemplo, aparece em sétimo lugar, tendo encomendado vacinas suficientes para o dobro da sua população. O México já tem contratos para compra de doses suficientes para mais da metade da população. Em vacinas encomendadas, o Brasil aparece atrás da Argentina e supera os hermanos apenas no vago quesito de "doses em negociação". 

A verdade é que vacina efetivamente comprada só a Coronavac adquirida por São Paulo. O governo federal tem, por enquanto, um memorando de compra, uma espécie de promessa, assinado com a Pfizer no tardio dia 10 de dezembro.  E um acordo de parceria da Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para fabricação da Astrazênica. E espera receber doses do consórcio Covax Facility, da OMS, criado para contornar a ameaça de monopólio dos países ricos  e levar a vacina aos pobres. A maioria das nações adquire vacinas de várias procedências porque uma ou duas marcas não vão alcançar produção suficiente para atender aos mercados globais em 2021. Aqui, o governo federal segue a cartilha de Bolsonaro que renega a pressa, torce contra por motivos políticos, tem surtos ideológicos e não comprou, até agora, as vacinas desenvolvidas pelo chineses (Coronavac) e pelos russos (Sputnik V). Também não se habilitou a comprar a Moderna. Os governadores dos estados do Paraná, Bahia e Maranhão têm negociações em andamento para compra da Sputnik. Ceará assinou acordo com o Butantã para compra da Coronavac.

Fora o esforço de alguns governadores e prefeitos, o Brasil está catatônico e na rabeira.