segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Jornalismo ou torcida organizada?

 Nesses dias finais de 2020, os principais jornalistas de mercado estão usando seus programas e comentários nos jornais, revistas, rádio, TV e redes sociais para divulgar as previsões da economia para 2021.  Parecem felizes com o que, segundo eles, vem por aí. É uma espécie de coro dos contentes.

Será que esse pessoal não poderia dar uma um busca nas análises que fizeram no ano passado? Como a maioria é fã de Paulo Guedes e como os números vêm do mercado que apoia o ministro, invariavelmente, as tais previsões também foram super otimistas. Um jornalista encantado com as frases e bordões de Paulo Guedes chegou a escrever que o ministro é "brilhante".

Os jornalistas de mercado quebraram a cara em 2020 ao falar em "retomada", "emprego", "investimentos" etc. E o desastre não veio apenas pela Covid - onde o governo errou tanto na questão sanitária quanto na econômica. Os dois primeiros meses de 2020 já apontavam para uma explosão do desemprego.  Os sêniores, as moças e os rapazes comentaristas de mercado estão de novo acreditando e reverberando um 2021 promissor nos quesitos "inflação", "reformas", "privatizações", "teto", "equilíbrio fiscal". Nenhum deles fala em contenção da escalada do desemprego e recuperação de vagas, em tirar brasileiros da miséria extrema, em combater o aumento da fome no país. 

Para muitos, o país profundo, as pessoas reais, não existem. 

O mercado financeiro é o altar supremo diante do qual a imensa maioria da população brasileira tem que se sacrificar. Não raro, à custa da própria vida. 

2001 não foi um bom ano. Todo mundo entendeu, Caetano quis desejar um feliz 2021...

Na live de sábado, Caetano desejou um bom 2001 pra todo mundo. Sei não. Aquele começo do terceiro milênio foi meio esquisito, fora da curva. De cara, a nave da Xuxa pega fogo e deixa 20 pessoas feridas no cenário do programa da Globo.  George Bush toma posse. Herbert Vianna sofre um grave acidente de ultraleve. Em abril, o Brasil engrena o maior apagão da sua história, com a mídia poupando FHC e o povão detonando o governo, que acaba perdendo a eleição do ano seguinte. Plataforma da Petrobras naufraga e deixa 14 vítimas fatais. Marcelo Fromer, dos Titãs, morre atropelado. Patricia Abravanel, filha do Silvio Santos, é sequestrada. Terroristas islâmicos fazem ataques suicidas contra as Torres Gêmeas e o Pentágono matando 3 mil pessoas. George Harrison morre de câncer.  Cássia Eller morre de infarto. 

São apenas alguns fatos de 2001 coletados na Wikipédia que, aliás, estreava sua edição em português. 

Todo mundo entendeu o que Caetano quis dizer. Bom 2021 pra nós.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Deu jacaré


Desde que Bolsonaro disse que quem tomar vacina pode virar jacaré, as redes sociais não param de ridicularizar o sequelado. 

O problema é que sendo a fala de um presidente, a declaração repercute internacionalmente.  O New York Post noticiou. 

Já deu entrada no seu pedido de um passaporte uruguaio? 

Trump reúne o seu "gabinete do ódio" e promete fazer um "protesto selvagem" no dia 6 de janeiro. Seus assessores querem que o chefe decrete Lei Marcial e anule as eleções...

por Flávio Sépia 

O barraco antidemocrático não acabou. Segundo as agências internacionais, que repercutem o New York Times, Donald Trump reuniu o seu "gabinete do ódio", na última sexta-feira, no Salão Oval, e a coisa fedeu. Dizem que os Pais Fundadores tremeram nas sepulturas. Os mais exaltados, já embalados pela happy hour, sugeriam aos gritos que Trump decretasse Lei Marcial e anulasse as eleições. Alegam que a Venezuela, que não tem mais dinheiro nem para pagar a conta de luz, liderou uma gigantesca operação para fraudar as eleições em favor de Joe Biden. 

Não ficou claro se Trump vai liderar um golpe e instaurar a primeira ditadura nos Estados Unidos desde que Thomas Jefferson redigiu a Constituição, mas o presidente prometeu fazer um "protesto selvagem" no dia 6 de janeiro, quando o Congresso se reúne para confirmar o resultado das eleições.

Infiltrada na adversária

 


Hoje, às 12.31, quem entrava na página da Istoé recebia uma proposta de assinatura da... Veja. Isso não é assédio jornalístico?

sábado, 19 de dezembro de 2020

Paçoca: o Viagra do pobre • Por Roberto Muggiati

Sim, a paçoca, aquela guloseima do nosso dia-a-dia, ganhou destaque na mídia em função da live deste sábado que mostra Caetano Veloso na intimidade. Entre outros detalhes, as imagens do celular de sua companheira Paula Lavigne revelam uma paixão gastronômica irresistível do cantor-compositor, a "fissura na paçoca". Cito da matéria do segundo caderno de O Globo, "O Mito de Pijama": "Paula achou engraçada a fixação dele pelo doce de amendoim e passou a registrar toda vez que papito, como ela o chama, abria um pacotinho. Era paçoca na cama do casal, no sofá amarelo da sala, na poltrona de leitura. Os flagras de um Caetano que parecia estar sendo pego numa travessura lhe renderam o apelido de Seu Paçoca."

Como sócio de carteirinha do clube dos consumidores de paçoca, só faço restrição à escolha que Caetano faz da modalidade diet, um verdadeiro crime de lesa-paçoquice ... Aliás, um de meus projetos literários pós-Covid é um tratado sobre filosofia budista intitulado Zen a arte de comer paçoca-rolha sem esfarelar.

Típica da comida caipira do estado de São Paulo, a paçoca de amendoim, ou capiroçava (na Região Norte), vem do tupi po-çoc ("esmigalhar") é feita de amendoimfarinha de mandioca e açúcar, e tradicionalmente preparada para as festividades da Semana Santa e festas juninas

Mas tem mais nessa história, muito mais. Por seu alto teor energético, o amendoim é reconhecido como um possante afrodisíaco. Sua versão concentrada, faz da paçoca uma verdadeira bomba. Nem todos os consumidores da guloseima de amendoim o fazem com segundas intenções. Mas a devastação na economia causada pela Covid-19 levou uma quantidade de casanovas inadimplentes a buscarem na paçoca o seu genérico barato do Viagra. Só podemos desejar boa sorte para eles...


Família Odebrecht ou Família Novonor?

por Ed Sá 

A Justiça permite em algumas situações e sob justificativas aceitáveis que uma pessoa peça a mudança do seu nome. Imagine: se um pai desnaturado batiza o filho ou a filha de Bolsonaro, Donald Trump, Hitler, Mussolini, Pinochet, Crivella, Flodelis, Janaína Paschoal, Damares ou qualquer outro nome que por acaso ofenda o rapaz ou a moça ao crescer, é justo que ele tente se livrar do peso. Há toda uma burocracia, mas a lei permite a mudança em casos pontuais. 

Para empresas, é mais fácil. Se, por algum motivo, a imagem da marca foi enlameada, os marqueteiros passam um pano no passado, desenham novo logotipo e vida que segue. 


O novo nome e marca da Odebrecht

A Odebrecht acaba de passar por uma dessas crises de identidade. Com o nome associado à corrupção desembestada, a holding quer ser chamada agora de NOVONOR. A marca escolhida estimulou especulações nas redes sociais. Há quem diga que é NOVONORMAL, uma tentativa de esquecer o antigo anormal. Também pode ser NOVONOR...BERTO, alusão sutil ao fundador do grupo, Norberto Odebrecht. Ou o ONOR seria uma insinuação da raiz latina para HONOR? Uma busca inconsciente da honorabilidade perdida? 

Entendi. Só não ficou claro se Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht e Maurício Odebrecht, da família que controla o grupo, passarão a se chamar Marcelo Novonor, Emílio Novonor e Maurício Novonor.

PêGê, o garoto das capas da Veja


Tudo bem que a Veja é atualmente propriedade de corretores do mercado financeiro e Paulo Guedes é figura-chave no setor. Mas a revista não precisava exagerar. PêGê é capa da Veja dessa semana, Onde promete O Ano da Virada. Não fica claro se é "virada" no sentido de capotagem, de rolar a ribanceira. Não há duvidas de que PêGê, o recordista de capas da Veja, trabalha pela reeleição de Bolsonaro. Na famosa e desclassificada reunião dos palavrões de 22 ~e. de abril, o ministro da Economia foi enfático: “Não pode ministro pra querer ter um papel preponderante esse ano destruir a candidatura do presidente, que vai ser reeleito". 

As oligarquias da mídia neoliberal amam Paulo Guedes. O mercado ama PêGê, os (as) jornalistas de mercado amam PêGê. Pode-se dizer que fazem uma oposição superficial ao governo Bolsonaro, que ajudaram a colocar lá, mas fecham mesmo é com o amado PêGê. 

Recentemente, o Ministério da Economia, do PêGê, encomendou um relatório investigativo sobre jornalistas. Um monitoramento que classificou os coleguinhas como  "detratores", "neutros informativos" e "favoráveis". O relatório foi encomendado pela pasta do Guedes. Pois bem, o arapongagem, embora grave, ficou pouco tempo na mídia e, enquanto ficou, a mídia conservadora fez um esforço danado para não vincular o monitoramento, que lembrou as fichas da ditadura, a Paulo Guedes, em suma, o homem que pagou a empresa para fazer o levantamento. Ninguém nem mesmo perguntou ao PêGê de quem foi a ideia do dossiê. 

Voltando à Veja. Geralmente, escolher a capa  de uma revista é tarefa crucial para um editor. A foto, a chamada, o impacto. Para a Veja, não. Se a semana não produz fatos relevantes, basta ao diretor mandar o rapaz do cafezinho pedir ao pessoal do banco de dados para enviar uma foto qualquer do Guedes, ele olhando de ladinho e se parecida com as demais de capas anteriores não em problema.







Barack Obama inclui "Bacurau" entre os melhores do ano... Filme foi esnobado pela Academia Brasileira de Cinema

 


"Bacurau". dos diretores  pernambucanos Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, perdeu no ano passado a vaga brasileira de concorrente a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar em uma escolha discutível e politicamente suspeita. Na ocasião, o eleito foi "A Vida Invisível", que foi logo desclassificado pelos americano. Apesar de esnobado pelos "especialistas" da Academia Brasileira de Cinema, "Bacurau", que a "kultura" bolsonarista detesta,  tornou-se um sucesso mundial, arrebatando prêmios em vários festivais. 


Ontem, o ex-presidente americano Barack Obama incluiu o longa brasileiro na sua lista de melhores filmes. New York Times e o The Guardian também elegeram ‘Bacurau‘ como um dos filmes do ano.

E "Bacurau" pode ter ainda uma chance no próximo Oscar marcado para 25 de abril de 2021. Em exibição nos Estados Unidos, e diante da repercussão, a distribuidora local faz campanha para submetê-lo à seleção para a premiação. 

Empresas privatizadas devem ajudar os governos a comprarem vacinas e seringas. Ganharam tanto dinheiro na xepa das estatais que poderiam retribuir o presente neste Natal

 O governo federal já avisou que não tem dinheiro para comprar vacina para todos os brasileiros. Na verdade Bolsonaro e o seu bando ligaram o foda-se desde que a pandemia chegou ao Brasil. 

O Brasil não tem tradição de magnatas preocupados com questões sociais do país. A grande maioria só se mexe em interesse próprio. Mas diante da tragédia do Covid-19 muitas empresas teriam condições de ajudar, comprando vacinas e seringas, por exemplo. Este seria o momento dos donos de empresas retribuírem. Afinal, ganharam presentões do Estado nas últimas décadas, participando da maior black friday do mundo, arrematando a preço de banana rico patrimônio e, ainda, por força de suspeitos contratos de privatização botando no bolso recursos do BNDES a jurus subsidiados, recebendo trens, barcas e até ajuda estatal para pagar até contas de luz, sem falar em dispensa de investimentos que deveriam ter sido assumidos. 

Diante do maná, Vale, CSN,  concessionários de estradas e aeroportos (que recentemente tiveram alívio na dívida de outorgas), distribuidoras de eletricidade, portos, Embraer, Embratel e demais telefônicas, metrôs, ferrovias e bancos poderiam patrocinar parte da vacinação. Ou, pelo, menos, pafgar impostos atrasados ou sonegados, isso já seria um ajuda substancial.

Em tempos de neoliberalismo selvagem poucos lembram que entre as funções sociais das empresas está a solidariedade. 

Se nada disso sensibiliza as corporações, debelar a pandemia é agora um importante pilar da economia. 

Até Paulo Guedes demorou mas percebeu isso.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

ACONTECEU, FILMOU... DEPUTADA É VÍTIMA DE ASSÉDIO SEXUAL EM SESSÃO NADA NOBRE...


Faltava a disseminação de câmeras para a humanidade ser desvendada ou revelada. Câmeras de segurança e câmeras de celulares estão reescrevendo comportamentos. Para pior, com maior frequência, diante de tantas cenas degradantes que nos chegam via redes sociais e para melhor, quando os vídeos mostram dignidade, coragem, honestidade, solidariedade. 

As câmeras fazem, afinal, uma ultrassonografia útil e social e exibem os sociopatas em ação. É bom que eles se revelem. Melhor vê-los do que desconhecê-los. 

É estarrecedor o vídeo que circula desde ontem na internet e nos veículos jornalísticos. Durante uma sessão da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, um deputado abusador cola o corpo ostensivamente em uma deputada, toca-lhe o seio e aproxima o rosto do pescoço da mulher. Antes, parece avisar a um colega sobre o que iria fazer, e este, aparentemente, tenta impedir a investida. A jovem assediada é a deputada do PSOL Isa Penna. O importunador sexual é o deputado Fernando Cury, do Cidadania. Entre os colegas, já apareceram desclassificados que o defendem, talvez por acharem normal atacar as mulheres que começam a conquistar espaços que lhes pertencem e que o machismo estrutural lhes negava. Ou, talvez, por serem filhos de chocadeira, não têm filhas, irmãs, mães, esposas... 

A deputada Isa Penna contou à CNN Brasil que há outros casos de assédio na ALESP, a diferença é que este foi filmado. Deputadas também são importunadas em Brasília. Há muitos relatos de jornalistas que são assediadas por políticos vulgares no centro do poder. 

O crime cometido contra Isa Penna será apurado por comissões de ética. Espera-se que o importunador seja punido e que nenhum deputado apresente uma resolução para retirar as câmeras do plenário. Tirar o sofá da sala é, às vezes, a solução ditada pelo corporativismo.

VEJA O VÍDEO. É UMA CENA ABSURDA E GROSSEIRAMENTE REAL, AQUI

Feminismo 2020, parte 2: o antivírus chinês • Por Roberto Muggiati


Tan Weiwei: uma canção contra o machismo chinês

Uma em cada cinco mulheres no planeta é chinesa. Ou seja, dez por cento da população mundial persistiam sendo um mistério até bem pouco tempo atrás. Num dos países de cultura mais tradicionalista e machista, elas começam finalmente a romper as correntes que as mantinham em absoluto isolamento e silêncio. O mais recente grito de protesto é a canção da estrela pop Tan Weiwei Xiao Juan, do seu novo álbum, inteiramente dedicado à violência contra as mulheres no seu país. 

Em três dias, o lançamento teve 320 milhões de visualizações no Twitter chinês, o Weibo. Diz a canção, inspirando-se em casos reais de agressão à mulher: “Vocês gastam enorme energia para nos silenciar/Ninguém ousa desobedecer/Usam punhos, gasolina, ácido sulfúrico/Raspam nossas cabeças. Nos assediam, ou nos julgam em silêncio.” Xiao Juan – o título da canção – é o pseudônimo genérico usado pelas autoridades para as vítimas de crimes violentos. Tan Weiwei canta, nos versos de abertura: “Nossos nomes não são Xiao Juan. O pseudônimo é a nossa última defesa.”

A pressão mais recente das mulheres chinesas obteve resultados. Só em 2015, foi aprovada a primeira lei contra a violência doméstica, ainda assim contraditória, pois seu texto fala em preservar “a harmonia da família e a estabilidade social.” E só em maio de 2020 o assédio sexual foi introduzido como crime no Código Civil chinês. Enfim, é um mundo a ser descoberto. Se querem saber mais, leiam o livro da jornalista Leta Hong Fincher Enfrentando o Dragão: o despertar do feminismo na China (Editora Matrix). E se querem sentir mais, vejam e ouçam esse vídeo de Tai Weiwei cantando Xiao Juan.

https://www.youtube.com/watch?v=B8Ygse_mJzo

E, em tradução livre, conheça trechos da canção: Nossos nomes não são Xiao Juan/A propósito, essa é a nossa última defesa/Você nos vê nas últimas notícias/Em fotos pixelizadas da cena do crime/Você gasta muita energia para nos silenciar/Ninguém se atreve a desobedecer/Você usa seus punhos, gasolina e ácido sulfúrico/Raspar nossas cabeças, nos rastrear ou nos julgar em silêncio/No final, é assim que você nos descreve: megera, prostituta e prostituta/Mulher-peixe, vadia, devoradora de homens,vadia/Olha, é assim que você nos menospreza/Apague nossos nomes, esqueça nossos seres/a mesma tragédia continua e se repetir/Prenda nossos corpos, corte nossas línguas/E silenciosamente use nossas lágrimas para tecer um brocado de seda/Jogue-nos pelo ralo/Do leito nupcial ao leito do rio/Enfiar meu corpo em uma mala/Ou coloque-o em um freezer na sua varanda/Perto de uma escola, fábrica ou rua movimentada/Um bom lugar que nossos entes queridos escolhem/No final, é assim que você nos disciplina.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Efeito Trump: Estados Unidos votam contra resolução da ONU que proíbe "glorificação do nazismo".

Sinal dos tempos e um alerta para quem se diverte com a ascensão da ultradireita. Por orientação do magnata Trump, os Estados Unidos votaram contra uma resolução apresentada na ONU para combater "a glorificação do nazismo e do neonazismo”. 

Em vários países, o neonazismo é uma assustadora realidade. Parece a volta do parafuso na história. Remete à Alemanha e Itália dos anos 1920/1930, quando o vertiginoso crescimento da direita radical também foi "normalizado" por figuras como Churchill,  Chamberlain, Pétain etc.

Estados Unidos e Ucrânia foram os únicos a votar, na prática, a favor da "glorificação". Brasil votou contra, não se sabe ainda se com a  concordância ou não do Planalto. Rússia, China e maioria dos países pobres também aprovaram a resolução contra a "exaltação" do nazismo. 

O justificativa da diplomacia americana defende o direito de expressão dos nazistas. Inacreditável. Vejam: 

"Os Estados Unidos devem expressar oposição a esta resolução, um documento mais notável por suas tentativas veladas de legitimar narrativas de desinformação russas de longa data denegrindo nações vizinhas sob o pretexto cínico de impedir a glorificação nazista. A Suprema Corte dos Estados Unidos tem afirmado consistentemente o direito constitucional à liberdade de expressão e os direitos de reunião e associação pacíficas, incluindo nazistas declarados, cujo ódio e xenofobia são amplamente desprezados pelo povo americano. Ao mesmo tempo, defendemos firmemente os direitos constitucionais daqueles que exercem seus direitos para combater a intolerância e expressamos forte oposição ao odioso credo nazista e outros que defendem ódios semelhantes".

Preocupante também foi a posição de vários países da UE que optaram pela cínica abstenção. 

Ficar em cima do muro contra o nazismo também ajudou a impulsionar uma das maiores tragédias da humanidade. 

Paul McCartney diz que "adora" a máscara. Com ela, finalmente pode circular nas ruas sem ser reconhecido...

 Há quem diga que mesmo quando a pandemia passar a máscara fica. O vírus vai continuar circulando, dizem os cientistas. Algumas pessoais mais preocupadas e mesmo vacinadas não vão abrir mão de proteção em meio multidões ou aglomerações. 


Reprodução Instagram

O ex-beatle Paul McCartney já admite que vê vantagens no uso da máscara, além das funções sanitárias. 

A privacidade.  

Ele contou ao programa ‘The Howard Stern Show’ que "adora" a máscara. "Com ela, é  possível ir a qualquer lugar e fazer qualquer coisa”.

A máscara tende a se tornar um problema a mais para os paparazzi.

"Garota de Ipanema" é um canto ou uma cantada?





Fotos de Sergio Alberto Cunha

por Ed Sá

Há poucos dias, em meio a uma polêmica qualquer sobre assédio, uma tuiteira comentou que, se fosse hoje, a letra da música Garota de Ipanema seria um típico relato de importunação sexual. 

Dois homens mais velhos em uma mesa do Bar Veloso a observar a menina de 19 anos? Puro assédio, condenavam. 

Ipanema, em 1962, não tinha se "copacabanizado", a Rua Montenegro ainda era uma tranquila transversal que levava à praia, com pouco trânsito. Helô Pinheiro, a menina, ia ao Veloso algumas vezes por semana comprar cigarros para a mãe. Segundo Ruy Castro no livro Ela é Carioca, ela morava na esquina de Montenegro com Vieira Souto e não precisava passar na frente do bar para ir à praia. 

De tanto a verem chegar, Tom Jobim e Vinícius de Moraes foram inspirados pela cena que a canção, originalmente chamada "Menina que passa", descreve em detalhes. 

Para algumas ativistas das redes sociais, certos versos são uma pura "cantada". "Olha que coisa mais linda mais cheia de graça/É ela menina que vem que passa/Num doce balanço caminho do mar/Moça do corpo dourado do sol de Ipanema/O seu balançado é mais que um poema/É a coisa mais linda que eu já vi passar/Ah, porque estou tão sozinho..."

Pode ser. Mas a verdade é que Helô Pinheiro não foi assediada no sentido grosseiro de hoje e só veio a saber que o "doce balanço" cantado por Tom e Vinícius era seu em 1965, quando a música já se transformara em um grande sucesso. 

A revelação foi da Manchete que naquele ano ouviu de Vinícius a confirmação de quem afinal era a musa da canção. Só então Helô conheceu o poeta em encontro promovido pela revista fotografado por Sergio Alberto.

Tom e Vinicius se foram sem imaginar que um dia o clássico da bossa nova nascido de um olhar poderia ser interpretado como uma espécie de melô de assédio. Mas também há bom senso nas redes sociais. Uma voz feminina menos radical argumentou que galanteio e assédio não devem ser confundidos. O que começa com um elogio deixa de ser aceitável e se torna importunação quando é vulgar ou se a mulher demonstrar que não gostou e se sentir constrangida. 

Não foi o caso, obviamente, como a própria Garota de Ipanema contou em centenas de entrevistas desde que se tornou o símbolo de uma época.  

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Passaralho no Globo atinge repórteres e até colunistas "cardeais"

Desde ontem circula nas redes sociais um extensa lista de jornalistas demitidos do jornal O Globo. Além de repórteres e editores sumariamente afastados, fala-se que colunistas alinhados com o grupo também foram atingidos. No caso, perdem colunas diárias e sofrem cortes de salários. Como algumas colunas passam a ser semanais, os titulares teriam os salários renegociados para baixo em função da diminuição de jornada. 

É preocupante a situação dos meios de comunicação, notadamente das versões impressas dos veículos. 

Um tema a ser estudado: impressos entraram em crise no mundo inteiro, mas no mundo desenvolvido, importantes veículos impressos já encontraram um modelo de negócios que abre perspectivas de sobrevivência. Não precisa acabar tão rápido. The New York Times é o exemplo mais evidente. Mas há vários outros. França e Portugal ainda exibem em bancas uma grande variedade de títulos de revistas, por exemplo. No Brasil, o quadro para os impressos é de acelerada devastação. Um apocalipse visível na decadência das bancas de jornais transformadas em mercearias. A velocidade com que o setor desaparece aqui merece uma análise. É porque somos subdesenvolvidos ? (sim, o rótulo que andava disfarçado de "em desenvolvimento" voltou); temos péssima distribuição de renda e as pessoas estão preocupadas em comer e não em comprar jornais e revistas?; temos um alto índice de desemprego e subemprego?  

Claro, a Covid-19 impacta todos setores. Mas é bom lembrar que a economia, no Brasil, já estava no chão antes da pandemia.

Ou será porque a mídia ajudou a implodir o país institucionalmente com mais um golpe, pelo qual trabalhou intensamente, entre os vários que defendeu ao longo da história. Ou será porque apoia incondicionalmente uma política financeira predadora ditada pelo mercado e seus prepostos, como o especulador Paulo Guedes, que só pensa nas fórmulas neoliberais de Pinochet para o qual trabalhou? 

Seja qual for a resposta, não se pode brigar com os fatos. O país, com a intensa ajuda da mídia, foi jogado em um abismo político, social e econômico. 

O resultado aí está. Pena que os trabalhadores recebem a bordoada. 

E vazou o áudio. Para uma boa repórter, a ofensa de um medíocre Secretário de Vigilância Sanitária indicado pelo Centrão é elogio


O cara é indicado pelo Centrão. Caiu de paraquedas na Anvisa, como muitos que descolaram uma boquinha na agência. Dizem que tem títulos, mas em outubro o sujeito bradava a queda da média móvel de mortos pela Covid e foi incapaz de prever o rebote, como seria sua obrigação. Claro que ele tem costas largas políticas e não respeita a função de jornalistas. Para os medíocres, jornalista é mesmo chato porque pode perguntar o que ele não é capaz ou não sabe responder. 

Nesta quarta-feira, durante a ridícula apresentação de um "plano de vacinação" que nada tem de real, é peça ficção sem vacina e sem seringa, o Secretário de Vigilância Sanitária, Arnaldo Medeiros, preposto do Centrão, do PL, partido do notório cacique Valdemar Costa Neto, lembram?, e que está lá como moeda política, não percebeu que o microfone estava ligado. 

Quando a repórter Valquíria Homero, do portal Poder 360, se apresentou para fazer uma pergunta, o elemento resmungou: "Afe, essa daí é chata, viu? essa é um porre". 

Isso no mesmo evento em que o ministro da Saúde diz que os brasileiros estão "ansiosos" pela vacina. Deve ser porque os brasileiros não privilegiados não têm o plano de saúde estatal que o ministro tem e estão morrendo nas portas dos hospitais lotados. Veja o vídeo AQUI

Plano de vacinação: a triste comédia da vida pública

Pressionado a apresentar um plano de vacinação, o governo federal produziu uma piada de generalidades. É uma carta de intenções que anuncia pendências. Um bando de pessoas que desprezou desde o início a chegada, os cuidados, as consequências e as mortes causas pela pandemia faz um rascunho de alguma coisa que pode acontecer ou não. 

Basta ver o conteúdo mais usado no documento: "prevê", "previsão", "ainda não tem uma data para começar", "depende da disponibilidade de vacinas", "memorandos de entendimento que expõem a intenção de acordo", "prossegue com as negociações para efetuar os contratos", "disponibilizar o quanto antes", "acordo para receber 100 milhões de doses dessa vacina até julho", "pretende comprar". 

Efetivamente, o governo não comprou vacinas, não comprou seringas e o sinal verde para todos os imunizantes vai depender da politizada Anvisa, que também não fala em prazo, mas já informa que a aprovação prévia de vacinas por agências e instituições estrangeiras nada significa porque todas elas serão avaliadas segundo parâmetros nacionais. E uma delas, a Coronavac, por ser chinesa, tem questões geopolíticas sob exame. 

Vai ver, no caso da chinesa, caberá à Abin vai aprovar ou não.

Enquanto o governo federal faz planinhos encadernados sem nada de concreto, alguns países já estão vacinando e outros adquirindo milhões de doses. Quando, finalmente, Balsonaro e Pazuello chegarem ao balcão de compra, restará ao vendedor falar o popular "tem mas acabou". 

A pátria desprezada

 

Autoridades falavam hoje com um cartaz atrás da súcia. "Patria Amada", estampava. "Pátria Desprezada" devia estar escrito lá. 

Pazuello, o incompetente ministro da Saúde,  diz que "cobrança por vacina é ansiedade". Isso é uma ofensa aos brasileiros. Há milhares de famílias que perderam entes e estão com outros internados. 

Esse sujeito, forrado com a grana e a estrutura que tem como funcionário público, bon vivant da verba pública (outro dia se divertia em uma festa privê) é um arrogante. 

Que ele saiba que há pessoas morrendo de Covid-19 por falta de vagas na UTIs. 

Este é o pais ansioso.

A ansiedade é medo. É revolta com um governo desprezível, desumano e criminoso. 

Homem mau dorme bem • Por Roberto Muggiati




O chavão “sono dos justos” não passa disso, um chavão mentiroso. Os justos sempre dormiram mal e há muito tempo perderam até o sono. Quem dorme bem nos dias em que vivemos é o homem mau, o injusto – como já provava admiravelmente há sessenta anos o grande Akira Kurosawa em Homem mau dorme bem. Por artes da pandemia, pude finalmente ver esse filme, de uma atualidade brutal. Quinze anos depois do fim da guerra, homens de negócios transformam o esforço de reconstrução japonês num grande bazar de falcatruas. Baseada em Hamlet – Akira adora o Bardo – a trama traz o herói justiceiro buscando vingar o suicídio do pai, provocado por um bando de corruptos. O protagonista é interpretado pelo ator-fetiche de Kurosawa, Toshiro Mifune, muito distante dos papeis extrovertidos e picarescos habituais. De óculos, terno escuro e capa de chuva, Mifune faz um jovem executivo recém-saído da universidade que casa com a filha de um alto executivo, uma manca cobiçada pelo dinheiro e poder do pai. Paro por aqui com os spoilers. O filme tem uma pegada noir alucinante e não acaba como desejaria o espectador. Só nos resta, como homens de bem, dormir mal...