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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

"Garota de Ipanema" é um canto ou uma cantada?





Fotos de Sergio Alberto Cunha

por Ed Sá

Há poucos dias, em meio a uma polêmica qualquer sobre assédio, uma tuiteira comentou que, se fosse hoje, a letra da música Garota de Ipanema seria um típico relato de importunação sexual. 

Dois homens mais velhos em uma mesa do Bar Veloso a observar a menina de 19 anos? Puro assédio, condenavam. 

Ipanema, em 1962, não tinha se "copacabanizado", a Rua Montenegro ainda era uma tranquila transversal que levava à praia, com pouco trânsito. Helô Pinheiro, a menina, ia ao Veloso algumas vezes por semana comprar cigarros para a mãe. Segundo Ruy Castro no livro Ela é Carioca, ela morava na esquina de Montenegro com Vieira Souto e não precisava passar na frente do bar para ir à praia. 

De tanto a verem chegar, Tom Jobim e Vinícius de Moraes foram inspirados pela cena que a canção, originalmente chamada "Menina que passa", descreve em detalhes. 

Para algumas ativistas das redes sociais, certos versos são uma pura "cantada". "Olha que coisa mais linda mais cheia de graça/É ela menina que vem que passa/Num doce balanço caminho do mar/Moça do corpo dourado do sol de Ipanema/O seu balançado é mais que um poema/É a coisa mais linda que eu já vi passar/Ah, porque estou tão sozinho..."

Pode ser. Mas a verdade é que Helô Pinheiro não foi assediada no sentido grosseiro de hoje e só veio a saber que o "doce balanço" cantado por Tom e Vinícius era seu em 1965, quando a música já se transformara em um grande sucesso. 

A revelação foi da Manchete que naquele ano ouviu de Vinícius a confirmação de quem afinal era a musa da canção. Só então Helô conheceu o poeta em encontro promovido pela revista fotografado por Sergio Alberto.

Tom e Vinicius se foram sem imaginar que um dia o clássico da bossa nova nascido de um olhar poderia ser interpretado como uma espécie de melô de assédio. Mas também há bom senso nas redes sociais. Uma voz feminina menos radical argumentou que galanteio e assédio não devem ser confundidos. O que começa com um elogio deixa de ser aceitável e se torna importunação quando é vulgar ou se a mulher demonstrar que não gostou e se sentir constrangida. 

Não foi o caso, obviamente, como a própria Garota de Ipanema contou em centenas de entrevistas desde que se tornou o símbolo de uma época.  

sábado, 6 de outubro de 2018

A nova revolução feminista chega aos livros...

por Clara S. Brito 

Tudo indica que as mulheres voltaram às ruas para ficar. Em várias épocas, elas ocuparam praças e avenidas, desde as sufragistas que conquistaram o direito de votar, de trabalhar, passando pela liberação sexual, divórcio e ampliação do seu papel na sociedade.

Agora, a mulher se rebela contra a violência, os assassinatos, estupros, assédio, discriminação e exige igualdade de oportunidades de trabalho. No passado, Simone de Beauvoir inspirou a luta. No Brasil, Bertha Lutz foi uma pioneira.
Se depender dos livros, a atual fase da luta feminista vai ganhar novos fundamentos. São muitas as obras lançadas nos Estados Unidos que, certamente, chegarão ao Brasil.  O Mashable lista hoje alguns desses livros-cabeça.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Título de jornal repercute na rede. Mulheres reagem e editor pede desculpas


por Clara S. Britto
Com a repercussão negativa do título "Meninas dão de quatro", o "Manaus hoje" pediu desculpas. O título ofensivo buscava "celebrar" a vitória da seleção feminina de futebol sobre a equipe da Rússia, por quatro a zero, em torneio que está sendo disputado na capital amazonense.

Segundo o editor do jornal, Elton Rodrigues, foi feita uma autoavaliação e admitida a inconveniência do título. "Foi um aprendizado", concluiu. No dia seguinte, o jornal publicou o pedido de desculpas.

Não são poucos aqueles que ainda se revoltam contra o "politicamente correto". Há jornalistas e humoristas, notadamente aqueles que "corajosamente" investem contra minorias e cordialmente poupam os poderosos, que até escrevem indignados contra o que chamam de restrição à liberdade de expressão. Mas essa liberdade supõe responsabilidade e não justifica racismo, bullying, sexismo, homofobia, violência e agressões verbais.

Houve um tempo felizmente superado em que ofensas e preconceito contra a mulher dominavam a publicidade e eram considerados "normais". Hoje, felizmente, podemos reagir.

A título de ilustração, veja, abaixo, alguns anúncios ou peças de "humor"da primeira metade do século passado e até dos anos 60. O deboche contra a mulher era considerado apelo de vendas de produtos. Duvida?









quinta-feira, 29 de outubro de 2009

É preciso ouvir a voz das mulheres

por Eli Halfoun
As mulheres representam cerca da metade da população do planeta e nada mais lógico (e justo) que conquistem uma cada vez maior participação na política e na administração pública. No Brasil, segundo dados do TSE, 51,71% dos 125.529.686 de brasileiros aptos a votar são do sexo feminino. Ainda assim são poucas as representantes femininas no Congresso, no Senado, nas Câmaras Municipais e Assembléias Legislativas. As deputadas federais são apenas 8.8% e as senadoras são 13,3%.
As mulheres querem aumentar essa participação e contam com o apoio da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, que as incentiva porque há uma janela para a participação maior da mulher na política: 67% dos eleitores acham que "se a participação política da mulher fosse maior, o nível da política seria melhor”.
É apenas “achologia”, mas mesmo assim a participação da mulher não deve ser vista com programas que atendam apenas os interesses femininos. A mulher não precisa necessariamente candidatar-se para merecer maior atenção política. O voto feminino pode fazer a diferença e nesse caso políticos de uma maneira geral devem estar atentos em suas promessas e programas de governo aos anseios das mulheres. Anseios que refletem o desejo de toda a população no estado, no município, no país.
A participação das mulheres na sociedade é cada vez maior e mais ativa: recente estudo revela números que mostram isso: a População Ocupada do Brasil tem hoje participação de 45,4% de mulheres e 54,6% de homens, enquanto a População em Idade Ativa é de 53,7% de mulheres e 46,3% de homens. Os dados mostram também que a População Economicamente Ativa é de 46,2% de mulheres e 53,8% de homens. As estatísticas revelam o crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho contribuindo cinco anos menos do que os homens (elas se aposentam antes) para a Previdência. Com toda essa participação é impossível não reconhecer que a voz do povo tem a cada dia mais o tom aveludado que soam da alma das guerreiras mulheres desse país ainda e infelizmente machista. Se não no discurso certamente na maioria das atitudes.A luta das mulheres é antiga e é historicamente registrada a partir do dia 8 de março de 1857, quando operárias americanas de uma fábrica de tecidos fizeram a primeira greve para brigar por justas reivindicações. No Brasil o dia 24 de fevereiro de 1932 é considerado um marco feminino: nesta data foi instituído o voto feminino e o direito de serem eleitas para cargos no executivo e legislativo.Há quem acredite (e muitas mulheres fazem parte dessa descrença) que o eleitorado ainda não confia plenamente na atuação das mulheres na política. É preciso que as mulheres se unam em torno de um trabalho que mostre disposição e capacidade para ouvir as mulheres e assim ouvir todo o eleitorado. A voz das mulheres é que é a voz de Deus.