por Omelete
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| Caetano não foi visto nas manifestações no Centro do Rio. Pelo menos, este 'observador" não o encontrou. Às vésperas do Dia 7, o compositor - que revelou que já foi de "esquerda" mas agora se define como "liberal" e trabalha como colunista do Globo - posou com máscara para o Midia Ninja. Ele disse que quis incentivar o uso de máscaras por achar que a proibição é "violência simbólica". Foto: Reprodução /Internet |
Um bom programa de sábado de manhã: acompanhar a massa meio disforme de manifestantes neste dia 7 de setembro. Pode crer, há de tudo, até vendedor de churros tentando correr na hora do pega-pra-capar. Um pouco depois de começar o desfile - aparentemente com tropas bastante reduzidas em comparação ao passado - um pequeno grupo, talvez uns 80, a maioria de preto, muitos com máscaras, avançou pela Av. Passos, transversal à Presidente Vargas, com o objetivo declarado por muitos de invadir a pista de desfiles. O objetivo, comentavam, era "desfilar" e protestar em frente ao palaque das autoridades na esplanada do Comando Militar do Leste. Foram impedidos pela aparato policial, retornaram pela Praça Tiradentes e se encaminharam pela Visconde do Rio Branco até ao Campo de Santana. Por essa rota, o pequeno grupo conseguiu chegar à pista lateral da Presidente Vargas. Nesse ponto, dois rapazes atiraram pedras contra os PMs que reagiu com bombas de gás e fez as primeiras prisões de mascarados. Com a chegada de reforços, os mascarados correram pelas ruas do Centro e foram parar na Praça Cruz Vermelha. E com velocidade de Usain Bolt. Dispersaram-se. Mais tarde, com o desfile de Sete de Setembro já encerrado, outra manifestação, esta de movimentos sociais, de cara limpa, com faixas, avançou da Candelária em direção à Central e Prefeitura. A polícia apenas acompanhava. Na altura da Uruguaiana, Black Blocs que haviam fugido infiltraram-se no grupo - que era bem mais numeroso do que eles -e novamente jogaram pedras nos carros da polícia. Houve reação, mais prisões, entre elas a de um manifestante que atirou uma lata de cerveja em uma viatura. Em maio à confusão, era difícil distinguir qualquer palavra de ordem. Mas havia faixas com "Fora Cabral", a "Globo Mente", "Mais Saúde", "contra a Corrupção", uma menina de máscara carregava um cartaz pedindo o fim voto secreto. Não seria mais coerente fazer isso... sem máscara?
Eram apenas 11h30 quando o "observador de manifestações" resolveu dar por concluida sua missão. Mas o Centro da do Rio permanecia agitado.
Algumas anotações no caderninho de um brasileiro que já participou de outros protestos, da luta contra a ditadura, passando pelas Direta-Já e o Fora Collor:
- Fiquei muito curioso com o grande número de manifestantes que carregam pesadas mochilas. Será que vão para alguma viagem? Ou levam um cobertor para o caso de eventualmente pegarem uma cana dura?
- Mais curioso ainda: as mochilas ficam lá fechadas, eles não abrem em nenhum momento. Se carregavam coquetéis molotov, não foram sacados até a hora em que estive lá.
- A maioria parece que está lá mais pela "emoção". Os mascarados quase não falam palavras de ordem ou "slogans revolucionários". O que mais se ouve é "vamos lá", "vâmo encarar", "vâmo esculachar".
- Latinha de cerveja não faltava. Afinal, é sábado.
- Na Visconde do Rio Branco, quando o grupo caminhava, sem correria, um mascarado falou pro outro: "o patrão tá gostando, nóis Brack Broc tirâmo os 'verme' do morro. O Choque tem que vir pra pista e deixa a Boca liberada". Tá aí: um novo subproduto das manifestações. Antes, a polícia já havia insinuado a presença de bandidos e gangues mas apenas no incentivo aos saques, assaltos e roubo.
- Comprovei que o "gigante" acordou. Mas diminuiu de tamanho, são agora minimanifestações.
- O número de mascarados, diante da determinação judicial que obriga a identificação, também mingou.
- No conflito da Presidente Vargas, os Black Bloc tiraram o time após a reação da PM. Por alguns minutos, sobrou para os manifestantes de cara limpa e faixas. Mas logo um comandante mais lúcido fez a polícia recuar. Ficou claro que o alvo principal eram os mascarados.
- Ficou claro também que o modelo de protestos dos anos 70, 80 e 90, foi-se. Daqui para a frente é provável que qualquer manifestação, digamos, organizada, tenha que conviver com a parcela convocada por redes sociais. Será difícil para qualquer liderança garantir o controle de passeatas. Como hoje, haverá bandeiras de movimentos sociais e múltiplas bandeiras da rede social. Uns tendem a se misturar com outros, a unidade é impossível. O que se vê é que na hora em que um mascarado tenta arrombar uma loja, os de cara limpa, muitos, pelo menos, afastam-se.
- Aliás, tudo indica que nem os Black Block sabem que são os Black Bloc. Uns queriam ir por uma ruas outro por outra. Volta e meia um deles tentava liderar um grupo e nem recebia muita atenção. Acabava desistindo.
- Entre os manifestantes, de preto, havia skin heads. Um deles, sem máscara, na Av. Passos, vestia uma camiseta com a suástica encoberta por um casaco preto e ameaçou um rapaz que tentou fotografar o símbolo nazista.
- Enfim, há mais coisas nas ruas do que supõe a vã sociologia...