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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Jogos de Tóquio 2020 - Política sem barreiras bane atletas e põe à prova o espírito olímpico

por Niko Bolontrin

Desde janeiro de 2019, o governo americano pressionava a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) para punir a Rússia por um suposto esquema de massiva aplicação de estimulantes em atletas. Travis Tygart, chefe da Agência Anti-Doping dos Estados Unidos, criticou a leniência da instituição mundial e pediu sanções contra a Rússia.

Antes da virada do ano, veio a punição: exclusão do país de Olimpíadas e Mundiais durante quatro anos. Vale dizer, Jogos de Tóquio 2020 e de Inverno de Pequim 2022 e Copa do Catar 2022 e outros torneios oficiais de caráter mundial.

A Rússia pode recorrer, mas dificilmente conseguirá reverter uma decisão que parece conter altas suspeitas de componente político.

A FIFA ainda tenta resistir à decisão. A Rússia participará da Eurocopa 2020 (São Petersburgo é uma das sedes) porque a restrição não atinge torneios continentais e sim os mundiais. Mas, além disso, a entidade que rege o futebol pediu que a Wada esclareça e justifique a surpreendente inclusão da Copa do Catar no pacote de punição.

Os atletas russos que forem testados negativos em exames antidoping poderão competir sob bandeira neutra. Essa decisão evidencia o gatilho político da operação, que mais parece a vertente esportiva das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Para o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, que não nega problemas localizados de doping na Rússia, a medida da Wada é "uma histeria crônica anti-Rússia".

Se persistir o afastamento, como tudo indica, Tóquio poderá ver alguns dos melhores atletas do ano competindo sem pátria, se estes optarem por essa condição. Apenas nos mundiais de atletismo e natação, por exemplo, russos ganharam neste ano oito ouros com a nova geração de atletas.

Punição genérica, alcançando milhares de competidores de um país - a imensa maioria jamais envolvida em doping -  era algo inédito até 2016 quando a mesma Rússia foi punida. A ato atual é um desdobramento requentado daquele. Normalmente, e isso já aconteceu com atletas dos Estados Unidos, China, Jamaica, Brasil e muitas outras nações, a condenação é individual. Apenas os competidores comprovadamente flagrados no uso de substâncias ilegais são afastados.

Ao decidir que a Rússia vai recorrer contra a Wada, o presidente Vladimir Putin usou o argumento da individualização injusta e caracterizou a generalização como política. Ainda lembrou que o Comitê Olímpico Russo não foi punido. "Se não há qualquer reclamação contra o comitê, então o país deve competir sob a sua própria bandeira. Isto está escrito na Carta Olímpica. Desta forma, a decisão da Wada viola a Carta. Temos todas as condições de apelar", declarou.

A Rússia vai, por enquanto, manter a preparação para os Jogos de Tóquio. Mesmo a participação sob bandeira neutra não está inteiramente garantida. Há na Wada quem seja contra essa possibilidade. Esses, ainda mais radicais, alegam que na Olimpíada de Inverno da Coréia do Sul atletas russos foram anunciados como tal na abertura e nas competições e havia centenas de bandeiras da Rússia nas arquibancadas em saudação às equipes. The Guardian lembrou que o país estava banido em Pyeongchang , em 2018, e mesmo assim mais de 100 atletas foram solenemente anunciados: “Ladies and gentlemen, the Olympic Athletes from Russia!”.

O jornal ironizou: "se anda como pato, se grasna como pato, então é pato". Ou seja, o hino não tocou, mas a Rússia estava na Coreia do Sul. E, embora sem alguns dos principais atletas, ganhou 2 ouros, 6 pratas e 9 bronzes.