quinta-feira, 22 de abril de 2021

A Síndrome (e a sombra) do Vice

por O.V.Pochê 

É conhecida a carta lamurienta que Michel Temer escreveu para Dilma Rouseff garantindo sua "lealdade" mas queixando-se de que no primeiro mandato da presidente foi um vice "decorativo". A tal carta tinha uma verdade - ele era realmente um inútil bibelô palaciano - e uma mentira: de "leal" Temer nada teve. Foi um conspirador,  um dos artífices do golpe que derrubou Dilma e lhe deu as trinta moedas do assento no Planalto

E a CPI do Genocídio e a movimentação para o suposto impeachment de Bolsonaro agitam o DF. O segundo é improvável porque as dezenas de pedidos se transformaram em almofadas alcochoadas para as nádegas de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, e do atual, Arthur Lira.  Se acontecesse, o herdeiro do trono seria o vice Hamilton Mourão. Deve estar ansioso e não sem motivo. A história registra que vários vices chegaram lá. 

Após o fim do Estado Novo, pelo menos seis presidentes foram pinos caídos do boliche político. Siga o fio: 

- Com a morte de Getúlio Vargas, assumiu Café Filho. Não durou muito. Um enfarto o tirou do Catete e ele saiu da história sem sequer ter entrado. Carlos Luz, presidente da Câmara, foi acomodado na cadeira presidencial. Também por pouco tempo. Lott liderou o movimento militar em defesa da Constituição e Luz foi declarado impedido. Nereu Ramos, presidente do Senado assumiu o cargo até a posse do presidente eleito, JK, garantida por Lott.  

- Jânio Quadros surtou e João Goulart virou presidente até o golpe que impôs a longa ditadura militar.

- O general Costa e Silva, o segundo "presidente' da ditadura teve um AVC. O vice era o civil Pedro Aleixo. A linha dura impediu que o político mineiro botasse a faixa presidencial. Em um golpe dentro do golpe quem assumiu foi uma Junta Militar formada pelo almirante Augusto Rademaker, ministro da Marinha, general Aurélio de Lira Tavares, ministro do Exército e o brigadeiro Márcio de Sousa Melo, ministro da Aeronáutica. 

- Tancredo Neves foi "eleito" presidente pelo Colégio Eleitoral da ditadura. Seu vice era o notório José Sarney. O Brasil foi mal mas o autor de "Marimbondos de Fogo" se deu bem em um mandato de cinco anos.

- Collor de Mello foi 'impichado' e Itamar Franco virou titular da República do Pão de Queijo.

- Dilma Rousseff foi eleita para um segundo mandato carregando  o seu vice, Michel Temer, na frasqueira. Dilma foi apeada do cargo e o tieteense 'sequestrou' a faixa presidencial. 

Ou seja, cinco mandatos presidenciais terminaram com os vices assumindo. 

Só três presidentes eleitos democraticamente cumpriram o mandato pleno: JK, FHC e Lula.

Observadores do Planalto Central constatam que Bolsonaro e Hamilton Mourão já não calçam o mesmo coturno. Divergem. Tanto que o sociopata procura outro vice para ser seu par nas eleições de 2022. E, além disso, excluiu Mourão, que é o presidente do Conselho da Amazônia, das conversas sobre a participação do Brasil na Cúpula do Clima. Humilhou e magoou o vice. 

A história mostra que no BBB da política, indicar vice para o paredão dá azar. 

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