Zefirelli em 1987, com Bambina: passageiros da Kombi de reportagem da Manchete. Foto de Rauf Tauile. Reprodução |
Em 1978, Manchete levou Zefirelli ao Theatro Municipal. Foto de José Moure. Reprodução |
O diretor ficou fascinado pelo Municipal onde, um ano depois, encenou A Traviata. Foto de José Moure. Reprodução |
Zefirelli na mesa de luz da redação, ao lado Roberto Mugiatti e Carlos Heitor Cony. O diretor era figurinha fácil na Manchete onde ganhou um apelido irreverente e para consumo interno: "Tia Zefa". |
por Ed Sá
Durante alguns anos, Franco Zefirelli foi figurinha fácil nos corredores do prédio da Manchete, no Russell.
Essa aproximação se deu a partir de 1978, quando Adolpho Bloch foi presidente da Funterj e convidou o diretor o italiano para montar A Traviata no Theatro Municipal. Desde então, sempre que vinha ao Rio, Zefirelli visitava a Manchete.
No livro Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou, a coletânea lançada por jornalistas e fotógrafos que trabalharam na Bloch, Roberto Muggiati conta que uma das vindas do cineasta provocou um pequeno incidente no Russell. "A nova mulher de um grande empresário do ramo editorial italiano tinha pretensões de tornar-se diva e veio ao Rio para assediar Zefirelli, que rodava pela cidade com sua cadelinha Bambina na Kombi da reportagem da Manchete. A aspirante a Callas conseguiu finalmente um teste, mas precisava de um piano para ensaiar. Adolpho, que se encantou menos pela voz da moça do que pelo "conjunto da obra", pôs à sua disposição o piano do décimo andar, um Steinway de cauda. Era um pretexto para encontrá-la a sós, ao redor do piano, onde havia uma profusão de almofadas e sofás. Deu instruções precisas para que o avisassem quando a jovem chegasse ao prédio. O chefe da portaria na época era um português baixote, seu Álvaro, um dos muitos enjeitados da Revolução dos Cravos que Adolpho adotou. Apelidado de Topo Giggio, Álvaro, metido a conhecer mil e uma línguas, não teve dúvidas quando chegou uma gringa falando arrevesado: mandou-a subir e avisou Adolpho. Ao chegar ao décimo andar, ele teve um choque: a estrangeira era uma professora sessentona de Milwaukee que queria conhecer a Pinacoteca de Arte Brasileira da Manchete no segundo andar. A gafe valeu ao Topo Giggio a destituição do posto", escreveu o ex-diretor da revista Manchete.
Voltando a Zefirelli, ele não frequentava apenas os corredores do prédio, como era personagem recorrente de muitas matérias na revista, especialmente entre 1978 e 1987.
Para os redatores da Manchete, em tempos nada politicamente corretos, o diretor de "Romeu e Julieta", "Jesus de Nazaré", "Amor sem Fim", entre outros filmes, era a Tia Zefa, Claro que esse apelido era pronunciado apenas nas "internas" - "lá vem Tia Zefa", "cadê o texto da Tia Zefa", "Adolpho que ver as fotos da Tia Zefa"...
O florentino Franco Zefirelli morreu ontem, em Roma, aos 96 anos, sem desconfiar da alcunha caroca e muito menos de que os loucos bastidores da Manchete que frequentou teriam rendido a ópera que ele não fez.
2 comentários:
Adoro essas histórias
Já reparou que esses artistas de prestígio, assim como políticos e intelectuais quase não vem mais para o vem. Só vem os toscos. Somos o país da praga fascista e miliciana agora.
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