segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Vá entender. Ser chamado de golpista tira do sério os... golpistas



Na chamada grande mídia não há exatamente o que se pode chamar de debate sobre a atual crise política no Brasil. Com exceções de um Veríssimo aqui e de um Jânio de Freitas ou um Gregorio Duvivier lá, as "opiniões" apenas ecoam umas às outras, rimadas e bem afinadas. Por exemplo, a velha mídia junto com os caciques do PMDB defende que o golpe obedeceu à Constituição. Juristas, jornalistas independentes, grande parcela da opinião pública e as multidões nas ruas denunciam o golpe. 

Que, como Veríssimo escreveu no Globo, "teve cara de golpe, cheiro de golpe, penteado de golpe". 

Já Zuenir Ventura escreve no mesmo Globo que é "do tempo em que golpe se dava com tanques nas ruas, prisões e censura". E ironiza sobre a existência de "golpe parlamentar". Diz que não conhecia a modalidade, apesar de o Paraguai, aqui ao lado, Honduras mais em cima e Ucrânia, mais distante, conheceram muito bem o novo formato de destituição de governos eleitos.

O fato é que os golpistas se incomodam profundamente quando alguém os chama de golpistas. Há poucos dias, o ministro da Cultura do governo golpista teve uma ataque de pelanca durante um festival de cinema ao ouvir a plateia gritar que ele, a dita autoridade, era... golpista. 

Cristovam Buarque foi chamado de golpista durante a sessão de uma comissão parlamentar, irritou-se e foi embora pra casa. 

Vá lá, dá para entender.

Consumado o golpe, tais figuras tentam deixar algum registro, um post no Facebook, um artigo no jornal, um recado ao porteiro do prédio, um aviso ao entregador de pizza, um panfleto colado no poste, o que seja, para deixar aberta a possibilidade de as futuras gerações, até filhos e netos, os perdoarem por não terem sabido o que faziam num certo ano de 2016 em um país chamado Brasil. 

Eram golpistas mas só que não. 

Vai ver achavam que Dilma se voluntariou para tirar o time de campo depois que Temer lhe escreveu uma carta pedindo colo e se queixando da vida de vice...

O jornalista Paulo Nogueira escreve no DCM sobre a deprê dos golpistas, surpreendentemente infelizes apesar de terem conseguido o que queriam: pôr a mão na massa. 

E o DCM lembra uma dica de Zé Simão ao presidente do governo pós-golpe. Ao saber que Temer disse que não quer ser chamado de golpista, Simão sugeriu que ele peça para ser tratado de "golpisto".

Leia o artigo de Paulo Nogueira: 



por Paulo Nogueira (para o DCM)

Então chegamos à seguinte situação. Mesmo os golpistas admitem que a palavra golpista pegou. Ponto. Algumas coisas pegam, outras não.

Golpista pegou.

O problema é que os golpistas ficam extremamente incomodados em serem chamados de golpistas. Temer já disse isso. Cristovam Buarque também. A Folha, num editorial, xingou manifestantes que picharam a expressão golpista em sua sede na Barão de Limeira.

Pensando em tudo isso, montei um micromanual de atitudes para os golpistas incomodados em ser chamados de golpistas. Embora simples, é um manual infalível.

As recomendações:

1) Não há meio mais seguro para não ser chamado de golpista do que não ser golpista. Num paralelo: você não gosta de ser chamado de bêbado? Não beba. Não gosta de ser chamado de mulherengo? Não seja mulherengo. Não gosta de ser chamado de grosseiro? Não faça grosseria.

A mesma coisa funciona para o golpismo. Jamais acusarão você de golpista se você não for golpista.

2) Não acuse o golpe, caso seja chamado de golpista. Sabe aquela coisa da infância? Dão a você um apelido que você detesta. Se você deixar claro isso, o quanto abomina o apelido, acabou. Você será conhecido por ele o resto de sua vida.

Seja ator, nestes casos. Mesmo que mortificado, simule bom humor. Cristovam Buarque já dançou. Ficou evidente quanto doi para ele ser chamado de golpista.

Em sua raiva desgovernada, ele dá longas explicações sobre por que não é golpista. Só piora. É possível que quando Cristovam Buarque for enterrado alguém cole em seu cova: “Aqui jaz um golpista”.

No túmulo de Temer, talvez apareça outra inscrição, sugerida por Zé Simão. Quando veio a público que Temer não queria ser chamado de golpista, Simão sugeriu tratá-lo de “golpisto”.

3) Se as coisas parecerem realmente complicadas, escreva um livro. Churchill disse que não se preocupava com o que a história diria dele porque os historiadores consultariam os livros que ele próprio escreveria a seu respeito.

O difícil, aí, é que os golpistas brasileiros não têm o talento, o poder de persuasão, o carisma de Churchill.

Considere, para ficar num caso, FHC. Sua prosa é rasteira, suas ideias são superficiais: em suma, seu poder de convencimento tem o tamanho oposto de sua arrogância.

FHC pode escrever mil livros que nada será suficiente para que perante a posteridade ele deixe de ser tratado como o que é: um golpista.

Uma boa frase para seu jazigo talvez fosse esta: “Foi golpista e tentou ser escritor”.

Bem, prometi um manual curto e paro por aqui.

Foram três recomendações, relembro. Mas a mais eficiente é a primeira. Não quer que chamem vocêr de golpista? Não seja golpista.

3 comentários:

B72 disse...

A chamada polarização do Brasil foi positiva, serviu para tirar muito fascista do armário

J.A.Barros disse...

Ninguém fala sobre os 12 milhões de desempregados neste país?

Lino disse...

O pior é que os imbecis saíram do armário ora cagar nas ruas.