* Religiosos brasileiros - e não foram poucos - justificaram publicamente em entrevistas e disseram "entender" o atentado ao Charlie Hebdo alegando que as charges do jornal ofendiam crenças. O terrorista islâmico que degolou um funcionário de uma empresa de transporte, agora, na França, não precisou de um motivo que não fosse o seu fanatismo patológico. Pelo que se sabe, o funcionário não era chargista. Deve-se "entender", aí sim, que religiões focam o céu mas são sistemas de poder terreno e é essa ambição por conquistar, aliciar, faturar e dominar que pode transformar fanáticos, como a história e a atualidade contam, em estopins de conflitos, guerra e terror. Não tem nada a ver com suposta fé. Como forças políticas - e, no caso do Brasil - estão aí as "bancadas" que já impõem leis que interferem na vida e na liberdade de cidadãos que não professam sua respectiva crença, apesar de teoricamente ainda vivermos em um Estado constitucionalmente laico - podem e devem ter suas ações seculares criticadas e questionadas.
* A propósito da nota acima: os cemitérios do Rio foram privatizados - os defuntos, por enquanto, ainda não - e ontem uma empresa que administra um desses cemitérios proibiu que parentes e amigos da falecida promovessem um ritual de candomblé nas dependências do local, que deve prestar um serviço público. Seu administrador não pode impôr suas convicções fundamentalistas às famílias que se despedem dos seus entes e liberar apenas determinadas manifestações religiosas. As autoridades (estarão baseadas em seus próprios princípios? Já temos os nossos aiatolás?), fazem vista grossa para a escalada de ataques a pessoas e instituições (aqui mesmo no Brasil não em um país distante), que não praticam as crenças dominantes.
* A União Europeia - para defender especuladores - sufoca o povo grego. O primeiro-ministro Alexis Tsipras se recusa a ceder ao que chama de chantagem e decidiu convocar um referendo para que a população se manifeste quanto a aceitar ou não as exigências da UE. Há dois aspectos a comentar; primeiro, o uso democrático do referendo, instrumento que a Constituição brasileira prevê mas que os nossos congressistas resistem a usar temendo que a população contrarie seus interesses pessoais.
* A atual reforma política, mais conhecida com a deforma política, em vias de aprovação, mostra que não se pode subestimar a capacidade de deputados e senadores em mudar regras e leis para pior. No financiamento privado não vão mexer porque é a razão de ser de muitos deles; vão aumentar a duração dos mandatos; o pula-pula de suas senhorias de um partido para outro em função de convicções pessoais vai ser mantido (o político terá 30 dias para decidir se muda de partido, parece até a piada da mulher que reclama do assediador ao lado e diz que ele tem meia-hora para "tirar a mão daí"); o fundo partidário que, segundo denúncias, sustenta alguns "donos" de "partidos", quase inexistentes, e seus parentes vai receber apenas uma maquiagem; será mantida a ultrapassada obrigatoriedade do voto já que os "currais" eleitorais são uma instituição defendida pelos chamados "coronéis" do voto. Propostas encaminhadas pela sociedade civil foram ignoradas. Referendo, nem pensar. E depois ainda reclamam das pesquisas que constatam que apenas 5% dos brasileiros confiam em um sujeito do tipo que tem o rótulo de "político" profissional colado na testa.
* Método "jornalístico" de apuração: a Folha ouviu de um senador que Lula havia entrado com um pedido de "habeas-corpus preventivo". O jornalão "esqueceu" a regra básica da boa apuração - confirmar o pedido junto ao TRF (de Porto Alegre, local que recebeu a petição, ou ligar para o STF, ou, ainda, ouvir o Lula ou o Instituto Lula. Simplesmente publicou a "notícia", o que levou outros grandes jornais a replicarem, também sem apurar, a "informação". Até que a Justiça revelou que o pedido era de um cidadão, por iniciativa própria (aliás um recordista em pedidos de habeas corpus aleatórios, é o hobby do sujeito). Restou o mico provocado pela ansiedade político-partidária e a triste oportunidade de mostrar como funciona, na maioria dos casos, o jornalismo da mídia de mercado por essas bandas.
* Anote aí porque você vai ler muito sobre isso nas próximas semanas ou meses. O governo corta gastos, certo? É uma das medidas defendidas por muitos setores, incluindo aí os colunistas de economia e afins. Os cortes são aprovados, mas depende... Já aparece na mídia a insatisfação de um poderoso setor contra as medidas de "austeridade". Algumas editoras reclamam que o governo ainda não anunciou as volumosas e milionárias compras de livros didáticos. Esse lobby vai crescer e,desse, nenhum colunista vai reclamar. Pode crer. No fim, o arrocho vai sobrar para assalariados, aposentados, saúde pública, programas sociais etc. O que os conservadores e o mercado financeiro querem hoje, e a dona Dilma entuba, é que o Brasil seja a Grécia de amanhã. Os especuladores vão se amarrar.
* Inaugurada em São Paulo mais uma etapa do Rodoanel. A obra é uma parceria do Governo Federal com o Governo Estadual. Há várias outras em andamento, incluindo a ampliação do sistema de abastecimento de água. Se é estratégia ou não, o fato é que, focado nos problemas de São Paulo, Geraldo Alkmin não aposta no "fim do mundo", se afasta cada vez mais da cúpula incendiária do PSDB e ganha pontos junto à população do Estado na corrida eleitoral para 2018. Os dois outros presidenciáveis tucanos, sem obras no currículo, a não ser a da "demolição" política, vão ter que rebolar até na Venezuela para mostrar serviço.
* Dunga errou. Foi infeliz ao declarar que se acha afrodescendente de "tanto que apanhou". Pediu desculpas depois pelo surto racista. Mas não estaria longe dos fatos se tivesse incluído um adjetivo e alterado o tempo do verbo para "acho que sou afrodescendente americano de tanto que apanho". Infelizmente, são recorrentes os casos nos Estados Unidos. É só perguntar pros policiais brancos que fazem tiro ao alvo nos jovens negros.
* Racismo na ginástica olímpica. Lembra do caso dos atletas que promoveram um bullying racista contra um colega negro, isso em viagem de treinamento e com vídeo exibido as lamentáveis cenas? Deu em nada. A única punição foi uma breve suspensão preventiva sem direito a receber bolsas. O Superior Tribunal de Justiça Desportivas encerrou uma investigação, também rápida, e não apresentou denúncia contra os atletas. A chance de impunidade, como ocorre em todos os casos de racismo no Brasil, é grande, apesar de a entidade Educafro ter anunciado processo na Justiça exigindo punição para crime previsto em lei.
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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Um comentário:
Se a reforma é feita pelos próprios interessado é claro que não vai atender a sociedade mas só aos políticos e a indústria partidária de quem vê política como negócio. Daquele lodaçal, o que pode sair?
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