por Nelio Barbosa Horta
Em 2011, quando ainda trabalhava no JB, aconteceu um fato inusitado, do qual fui protagonista. Eu saia do jornal por volta de 23 horas e pegava um ônibus no Rio Comprido até a Leopoldina. Esperava outro para Niterói, que, apesar da hora, às vezes vinha lotado. Em muitas ocasiões viajei em pé. Não era uma viagem longa, eu descia no Moinho, que todo niteroiense conhece, e ia esperar o ônibus para São Gonçalo, onde morava. Numa sexta-feira, dia de "pescoção", eu saí do jornal às 2 da madrugada e fui fazer meu "tour" de volta para casa. Repeti o mesmo trajeto. Quando cheguei na Leopoldina, já havia várias pessoas esperando o ônibus para Niterói, a gente acaba se conhecendo. Quando ele chegou e eu embarquei, vi que só havia um lugar disponível para viajar sentado. Sentei e aguardei a partida. No ponto seguinte, entraram vários passageiros que acabaram de lotar o ônibus. Entre eles, reparei que havia um deficiente físico, que, com duas muletas, subiu com dificuldade e tentava se equilibrar no espaço já muito apertado. Ele parecia ser mais novo que eu, devia ter uns 60 anos e se vestia com humildade. Como ninguém se prontificou a levantar-se para ceder o lugar para o deficiente, achei que não custava nada eu me levantar e dar meu "lugarzinho" para aquele senhor com necessidades especiais. Levantei-me, ajudei o deficiente a se sentar e a viagem foi tranquila. Eu com a consciência do dever cumprido, pensava: Já fiz minha boa ação de hoje! Chegando ao Moinho, preparava-me para descer, quando percebi que o senhor também ia descer. Ajudei-o a se levantar e também a descer do ônibus. Quando ele desceu, qual foi minha surpresa ao vê-lo carregando as duas muletas nos ombros e caminhando tranquilamente para o outro lado da rua, sem nenhuma dificuldade. Fiquei surpreso e indignado. Afinal ele tinha me feito de bobo. Reparei que havia outras pessoas que também desceram no mesmo ponto, que me olhavam num misto de riso e pena. Uma estudante se aproximou de mim e disse: "Ele não é deficiente coisa nenhuma, já é conhecido pelas vezes que tenta usar do mesmo artifício para viajar sentado, você não viu que ninguém se levantou quando ele embarcou?" Neste instante reparei que o "deficiente" havia desaparecido. Pena que eu não tivesse uma caneta-espiã para registrar o fato...
Solidariedade, a gente se liga em você? (Nelio Barbosa Horta)
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