Ninguém é dono de nenhuma emissora de televisão: os que se acham proprietários são uma espécie de inquilinos de propriedades do governo. Em outras palavras: ganham de mão-beijada os canais que passam a literalmente explorar comercialmente. Emissoras de televisão são concessões cedidas (ou seria presenteadas?) para que os arrendatários ofereçam ao público lazer, informação e cultura e não para que sejam transformadas em lojas de varejo com ofertas de qualquer segmento religioso, como se fossem supermercados da fé. Cultura, lazer e educação não são exatamente o que a televisão tem oferecido com a abundância necessária. Por isso mesmo , é fundamental que o governo fique de olho no comércio de horários religiosos que podem acabar monopolizando propriedades do governo que na verdade são do povo. As religiões podem sim tentar conquistar cada vez mais adeptos, mas para isso não é necessário transformar as emissoras de televisão em um comércio da fé, com os líderes religiosos pagando milhões para adquirir horários, ou seja, como se fossem simplesmente anunciantes que para cumprir o compromisso mensal de aluguel passem a usar o espaço para pedir aos fiéis que façam cada vez mais e maiores doações. Cada um paga o dízimo porque quer ou porque se deixe iludir facilmente por esse comercial pátio de milagres. A televisão é repito uma concessão do governo e é o governo que não deve permitir que a televisão como bem (ou mal) público se transforme em um comercial balcão de negócios em nome da fé.
Agora mesmo, por exemplo, o senhor Romildo Ribeiro Gonçalves, para os fiéis da Igreja Internacional da Graça de Deus, reverendo R R Soares adquiriu o horário nobre da Rede TV (ele também continuará no horário nobre da Bandeirantes) para apresentar diariamente a sua inegavelmente convincente falação. Não se sabe exatamente quanto o reverendo pagará mensalmente para a Rede TV, mas pode-se calcular em um contrato de mais de 6 milhões mensais, já que esse foi o valor oferecido pelo também religioso comercial Valdemiro Santiago (Igreja Mundial) que teve sua oferta derrubada pela de R R Soares. A Rede TV justifica a sublocação de um pedaço do “imóvel-horário” que na verdade não lhe pertence (pertence ao governo) porque é a única maneira de garantir faturamento e continuar funcionando. Seria ótimo e até aceitável se de agora em diante funcionários da Rede TV não precisassem ficar pedindo pelo amor de Deus para receber seus salários. (Eli Halfoun)
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