por Gonça
A matéria do Fantástico flagrando a corrupção ao vivo e em cores foi um perfeito exemplo do legítimo jornalismo investigativo. Sem conotação de matéria política de "oposição" ou "situação", rotúlos que só favorecem os corruptos e acabam desqualificando muitas denúncias, a reportagem do jornalista Eduardo Faustini foi de alto interesse social. Revelou como funciona um "esquema" do qual, claro, se tem notícia, mas nunca assim, às claras, com a overdose de cinismo dos empresários envolvidos. Claro que o "esquema" identificado no Rio é padrão em muitos estados e municípios, governados por seja lá que partido for. A corrupção é endêmica. Nos últimos anos, a Polícia Federal desvendou o crime organizado em diversos setores. Há políticos de um lado e empresários do outro, grandes e pequenos empresários que geralmente são poupados até na exposição à mídia. Há várias lições a extrair. Uma delas, quanto à onda de terceirização desregrada, um dos instrumentos neoliberais, ao lado das privatizações, para o sonhado desmonte do Estado. É prática geral hoje e que parece passar longe de qualquer fiscalização. Governantes pregam a terceirização como uma forma de baixar custos. Falso. Quase sempre transfere recursos públicos para bolsos privados. Um exemplo recente? Uma empresa terceirizada contratada para fazer a manutenção de um frota de carros pública, no Rio, superfaturou tanto que o dinheiro desviado daria para repor toda uma frota nova de veículos. Há casos em que a terceirização se justifica, há casos em que representa custo maior. E é óbvio também que há centenas de empresas de serviços honestas. Mas não essas que se aproximam de políticos em geral, até financiam suas campanhas e ganham contratos privilegiados. A prppsito, o avanço exagerado da terceirização do setor público está diretamente ligado a essa "retribuição" devida pelo político àquele que abasteceu seu caixa de campanha.
Não foram poucas as empresas privadas que desmontaram setores inteiros e o entregaram a terceirizadas para descobrir, depois, que as despesas cresceram em vez de diminuir. Também são frequentes os casos de processos trabalhistas contra empresas terceirizadas que deixam de cumprir suas obrigações e com pepino das indenizações sobrando para o contratante, seja público ou privado. Outra lição a tirar do episódio relatado pelo Fantástico é quanto à atuação da Justiça. Normalmente, passada a indignação e a repercussão, os acusados são liberados, processos são arquivados e os envolvidos, como ficou demostrado agora, partem para novas operações ilegais. Dá a impressão de que a polícia e a sociedade estão engajadas na luta contra a corrupção mas parte do judiciário ainda não se motivou a fazer uma cruzada contra essas figuras. Quando da conhecida Operação Mãos Limpas, na Itália, o governo, por exigência da sociedade, criou uma força-tarefa de policiais, investigadores, juízes e promotores. Isolou os corruptos, buscou nas instituiçõe aqueles fichas-limpas e deu-lhes condições para agir. E, também lá, a luta continua. Hoje mesmo o Globo noticia uma ação da polícia contra magistrados que vendiam sentenças para a máfia.
A desfaçatez dos empresários mostrada no Fantástico só prova que essa turma tem costas quentes. Muito quentes.
Do ponto de vista jornalístico, outra observação a fazer: esse tipo de matéria investigativa praticamente sumiu do Jornal Nacional, que em outrtas fases marcou muito pontos nessa área. O Fantástico, programa de variedades, se destaca nesse segmento. E não é de hoje. O programa de domingo sempre levanta boas pautas na linha investigativa.
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