sábado, 16 de abril de 2011

Ruy Castro escreve hoje na Folha sobre o sumiço do Arquivo Fotográfico da Manchete

Ruy Castro.
Foto Fernando Azevedo
Fotógrafos que trabalharam na Manchete e a Comissão de Ex-Empregados da Bloch Editores (CEEBE) estão se movimentando para tentar localizar, saber a quem pertence e descobrir o que será feito do acervo fotográfico que pertenceu à Massa Falida da Bloch Editores. Um grupo de profissionais reuniu-se na semana passada no Sindicato dos Jornalistas, no Rio, para discutir como obter informações sobre o destino de milhões de imagens. Pedem, igualmente, o apoio de instituições públicas para evitar que se perca um patrimônio do jornalismo e da história do Brasil. Hoje, o escritor e jornalista Ruy Castro, que trabalhou na Manchete, comenta a questão que angustia os fotógrafos que  ajudaram a construir um dos maiores acervos de fotos do Brasil. Leia, abaixo:
Ruy Castro
"Procura-se um arquivo"
"Nas várias vezes em que passei por "Manchete", como repórter ou redator, havia um departamento que me fascinava e que eu não perdia oportunidade de xeretar: o arquivo fotográfico. Eram centenas de móveis de aço, com pastas e envelopes contendo um mundo de ampliações, cromos, contatos e negativos. Ali estava a história do Brasil, de abril de 1952, quando "Manchete" nº 1 saiu às bancas -na capa, o cantor Francisco Alves-, até aquele dia.
Presenciei o clique de algumas daquelas fotos, ao sair à rua a serviço com Gervasio Batista, Armando Rozario, Gil Pinheiro, Helio Santos, Juvenil de Souza, Jader Neves, Antonio Rudge, Sebastião Barbosa, Paulo Scheuenstuhl, Antonio Trindade, Walter Firmo, grandes fotógrafos de "Manchete", ases do fotojornalismo.
Depois, eu saberia que o arquivo ia ainda mais longe, aos anos 30 e 40, com as coleções particulares compradas e incorporadas a ele. Sempre que estive lá, fui testemunha do amor que seus funcionários lhe dedicavam. Um deles, o Cesinha, parecia saber de cor o conteúdo de cada pasta ou envelope -e eram 10 milhões de imagens.
Com a morte de Adolpho Bloch em 1995 e a derrocada da empresa, "Manchete" deixou de existir em 2000. O prédio foi lacrado, os funcionários entraram na Justiça por seus direitos, os títulos -"Manchete", "Fatos & Fotos", "Amiga", "Ele/Ela", "Pais & Filhos"-, vendidos, e o arquivo carambolou entre Rio e São Paulo, até ser arrematado em leilão, há um ano, por R$ 300 mil, por um particular. Ou por alguém que ele representava e preferiu não aparecer.
Desde então, não há notícias do arquivo. Não se sabe se está sendo bem conservado, se será comercializado, se há algum projeto para digitalizá-lo. Seu atual proprietário está na posse de 70 anos de iconografia brasileira. O que pretende fazer com ela?"
Fonte: Folha de São Paulo, 16/4/2011

Um comentário:

Wilson disse...

Que absurdo! Onde estão as instituições que devem defender a memória nacional. E a ABI? Não deveria se preocupar com um legado da imprensa?