domingo, 24 de abril de 2011

Um acervo em risco

por Eli Halfoun
Onde estará escondida parte da história visual do Brasil? O “desaparecimento” do arquivo fotográfico que pertenceu a Bloch Editores carrega com ele mais do que milhares de fotografias: carrega principalmente um documento histórico que o país deveria (deve) preservar. O arquivo fotográfico da Manchete não pode ser um bem material particular. É um patrimônio do país que por isso mesmo deveria tentar recuperar e preservar milhares de fotos que “escrevem” nossa história mais recente. O arquivo da Bloch era uma tranquilidade para nós profissionais que podíamos utilizar seu variado material. O último contato que tive com o arquivo foi quando a convite do Roberto Barreira e do Lincoln Martins editei a Manchete Especial dos 60 anos de Roberto Carlos, que já comemora 70 anos. A Manchete Especial sobre RC foi também uma das últimas publicações da Nova Manchete, tentativa de profissionais apaixonados de manter circulando as revistas da Bloch que, como seu arquivo fotográfico, fazem a nossa história. Na Nova Manchete não havia muitas condições de trabalho e sem repórteres para colher depoimentos e informações foi o arquivo da Bloch que me salvou: a Nova Bloch funcionava na Lapa e o arquivo da Bloch continuava ocupando um andar (o sétimo se não me falha a memória) do imponente prédio da Rua do Russel. Solicitei o material e, uma hora depois, o Alberto Carvalho que tinha uma longa intimidade com o arquivo aparece na redação com várias pastas de fotos em preto e branco e dezenas de cartelas com cromos de RC. Ficou fácil: bastou selecionar algumas fotos (missão difícil porque todas eram de ótima qualidade) e editar a revista com poucos textos e legendas. O salvador arquivo da Bloch permitiu fazer circular mais uma Manchete que, contando a trajetória dos 60 anos de Roberto Carlos transformou-se em um documento cultural do Brasil. É por respeito aos fotógrafos que são os verdadeiros donos desse patrimônio material e a memória visual do país que o arquivo da Bloch não pode ficar trancado a sete chaves em mãos de um único “dono”. O acervo da Bloch, com o qual convivi durante 18 anos, não é de um único proprietário. Ele é nosso. Do país (Eli Hafoun)

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