domingo, 14 de março de 2010

Memória do desastre

por Gonça
Na primeira eleição direta após a ditadura, o Brasil apostou claramente no desastre. Grupos econômicos e políticos, os poderosos de sempre, logo escolheram seu candidato, caindo no conto do "Caçador de Marajás". Com o forte apoio de toda da mídia comercial (incluindo a estratégica divulgação de que o oponente, se vencedor, confiscaria a poupança popular), Collor subiu a rampa, de um lado, e o país começou a descer a ladeira, de outro.
Dia desses, durante uma conversa sobre política, perguntei, de brincadeira, quem alí tinha votado no Collor. Ninguém, foi a conclusão. Obviamente existiram aos milhões mas é difícil, até hoje, achar um eleitor do Collor. Assim como comentaristas de economia, de política e editorialistas que o apoiaram com entusiasmo. É da natureza, diz-se. Quando a maré virou na onda do impeachment, ficou difícil saber quem, afinal, botou o homem no Planalto.
Para encontrar os defensores do Plano Collor, só pesquisando na Biblioteca Nacional, que guarda, por lei, os periódicos. Só os periódicos, a lei não prevê banco de imagem na BN. O que a TV veiculou na época, fica guardado nos arquivos privados de cada emissora sem possibilidade de acesso público.
Lula, que se candidatava à Presidência da República pela primeira vez e, na época, sem as alianças conservadoras que o levariam, depois, ao poder, era o adversário a ser batido a qualquer preço. E a mídia propagou a imagem de um Collor "muderno', cuidadoso com as finanças públicas, contra as mordomias, antenado, um atleta que difundia mensagens em camisetas e mostrava, em campanha, o punho cerrado, e atendeu em peso ao chamado do candidato: "Não me deixem só".
No começo do Plano Collor, a inflação se reduziu já que foi retirado dinheiro de circulação. Foi o suspiro antes da asfixia. Em seguida, o país entrou na maior recessão da sua história, com altos picos de desemprego provocado por uma queda de quase 30% na produção. De quebra, o PIB foi lipoaspirado em cerca de 20 bilhões de dólares. E a inflação, que teria sido abatida uma bala de prata, voltou saltitante e vigorosa.
Para não esquecer: o Plano Collor foi desenvolvido e implantado por Antônio Kandir, Zélia Cardoso de Mello, Ibrahim Eris, Venilton Tadini, Luís Otávio da Motta Veiga, Eduardo Teixeira e João Maia. E, ao longo do governo Collor, foram ministros (olha a listinha de presença em ordem alfabética. Obrigado, Google) Adib Jatene, Affonso Camargo Neto, Agenor Francisco Homem de Carvalho, Alceni Guerra, Antônio Cabrera Mano Filho, Antônio Rogério Magri, Carlos Chiarelli, Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, Célio Borja, Celso Lafer, Edson Machado de Sousa, Eduardo de Freitas Teixeira, Eraldo Tinoco Melo, Flávio Miragaia Perri, Francisco Rezek, Hélio Jaguaribe, Ipojuca Pontes, Jamil Haddad, Jarbas Passarinho, João Eduardo Cerdeira de Santana, João Mellão Neto, Joaquim Roriz, Jorge Bornhausen, José Bernardo Cabral, José Goldemberg, José Lutzenberger, Lázaro Ferreira Barboza, Marcílio Marques Moreira, Marcos Antônio de Salvo Coimbra, Mário César Flores, Ozires Silva, Paulo Roberto Haddad, Sérgio Paulo Rouanet, Sócrates da Costa Monteiro e Zélia Cardoso de Mello.
Em vídeo, abaixo, uma novela da vida irreal, a escolher...
Para ver Zélia anunciando o Plano Collor, há 20 anos, em rede nacional, clique AQUI
Para ver a posse de Collor, clique AQUI
Para ver Collor em 1997 em famosa entrevista (a destacar a calma impressionante e o profissionalismo da repórter Sonia Bridi), clique AQUI 

2 comentários:

Ebert disse...

Como a imprensa apoiou esse homem! Eles, os donos de jornais e revistas e Tvs por acaso pediram desculpas ao povo brasileiro? Já disseram que o povo não sabe votar e nós mesmo temos essa avaliação, às vezes, diante de tantos pilantras que são eleitos. O que dizer, então, naquela ocasião da imprensa? Ficou claro que a mídia não soube votar ou, pior, se beneficia e sempre se beneficiou das fragilidade dessa política e de políticos de interesse. É assim que funciona pra eles. Tá bom demais, pra que mexer em time que está ganhando? Ganhou com a ditadura e ganha com a "democracia". Na primeira eleição direta do Brasil depois da ditadura, a imprensa ajuda a botar no poder o desastre, como está escrito no texto acima.

Wilson disse...

gostei da postura da repórter, nçao tinha visto essa cena, apesar se antiga. Bom isso, a internet não nos deixa esquecer esses momentos