por Gonça
Nesta segunda-feira, dia 29, a Globo News homenageia Armando Nogueira. O programa ‘Arquivo N’ contará, às 23h30, a trajetória do jornalista, sua atuação no telejornalismo brasileiro, suas crônicas e livros e a grande paixão pelo esporte. Armando, que lutava contra um câncer há dois anos e meio, morreu nesta segunda-feira, aos 83 anos de idade. Ele começou a carreira em 1950, no Diário Carioca. Passou também pelas redações do jornal O Cruzeiro, do Jornal do Brasil, da TV Rio, colaborou com as revistas Manchete e Manchete Esportiva, teve papel decisivo na história da Rede Globo.
Um dos livros de crônicas do Armando, "Bola na Rede", é um clássico da literatura do futebol. Sim, existe isso, craques do texto falando sobre craques da bola. Armando, João Máximo, João Saldanha, Nelson Rodrigues, Ney Bianchi, Paulo Perdigão, Ruy Castro, Luís Fernando Veríssimo, Sandro Moreira, Edilberto Coutinho e Mário Filho estão nesse time. Leia ou releia alguns tiros diretos, trivelas, embaixadinhas, dribles e bicicletas de Armando Nogueira em forma de texto:
- "Tenho doze anos de Pelé. Sou do tempo em que ele matava no peito e, antes de fulminar o goleiro sueco, ainda arranjava um lençol no beque mais próximo. Conheço-o de mil tabelinhas: quando não havia Pagão, ele tabelava com Coutinho - quando não havia Coutinho, ele tabelava com Tostão - quando não havia ninguém, ele tabelava com as pernas do próprio adversário. Pelé dos gols de placa, dos dribles verticais, oblíquos, horizontais. Pelé das antevisões criadoras de espaços impressentidos. Pelé ao mesmo tempo arco e flecha acionando e alvejando."
- "Driblar, tendo pernas tão tortas - e driblar como ninguém - eis um mistério de Garrincha que eu não ouso explicar; driblar, tendo uma perna mais curta do que a outra - e driblar como ninguém - eis um mistério de Garrincha que tu não ousas explicar; driblar, tendo a bacia deslocada no sentido oposto ao desalinho das pernas - e driblar como ninguém - eis um mistério de Garrinha que nós não ousamos explicar; driblar, como já o vi driblar, tendo o ombro enfaixado, o braço imobilizado, a clavícula quase quebrada - e driblar como niguém - eis um mistério de Garrincha que eles não ousam explicar; driblar - e driblar com tanta graça e naturalidadee - eis um mistério de Garrinhcha que só Deus pode explicar."
- "Vivo tristezas, vivo alegrias, tenho chorado, já cantei muito, às vezes rezo, vendo a bola correr na grande área. Nem mesmo os sentimentos mais subalternos da alma humana - nem deles a grande área do futebol me tem poupado o coração. Já tremi de medo, já odiei, já invejei. A paixão do futebol tem me pesado a vida de tantas emoções que já não tenho o direito de lastimar se um dia a morte me queira surpreender no instante de um gol."
Um comentário:
Genial ser humano, doce criatura, mago das palavras, endiabrado escrivinhador, brincava com as palavras fazendo delas a sua dádiva para os homens. A Grande Área perdeu o seu poeta, que foi para o grande estádio, a maior arena do firmamento e dela cantará o grandes lances das partidas do homem na sua eternidade.
Trabalhei com Armando Nogueira na revista O Cruzeiro na década de 60. Até hoje agradeço a Deus por ter me dado esse previlégio.
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