sexta-feira, 25 de abril de 2025

"Perdão" é o novo nome da impunidade. Campanha quer livrar a cara dos acusados de tentativa de golpe e até de atos de terrorismo contra a democracia

Esta cena dramática não tem sido reprisada pela mídia. Em dezembro de 2022, golpistas bolsonaristas tentaram lançar um ônibus de um viaduto. O veículo ficou preso na divisória. Só por isso não caiu sobre o transito engarrafado na pista inferior. É para terroristas como esses que políticos e jornalistas de direita pedem um dia de perdão geral. Foto: Reprodução You Tube


por Flávio Sépia 

Redes sociais e até alguns veículos de comunicação estão subitamente acometidos de um incontrolável desejo de perdoar. No caso, parece um coceira ideológica que se espalha e contamina influenciadores, certos jornalistas e comentaristas. 

A campanha cresce no momento em que os processos contra os golpistas chegam a etapas decisivas no Supremo Tribunal Federal. 

No lugar de perdão, leia-se impunidade. 

O principal acusado de tramar um golpe contra a democracia é o paciente mais ativo que já se hospedou em uma UTI-estúdio onde faz lives e pronunciamentos apelando para os "bons corações" da política e da mídia. 

A intenção dos seus apoiadores é livrar os acusados da tentativa de golpe que começou depois do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, ganhou impulso em dezembro do mesmo ano, com atos de terrorismo explícito e chegou ao auge nas invasões e depredação das sedes do STF, Congresso e Executivo. 

A baderna tinha, então, o objetivo de justificar a intervenção das Forças Armadas e a consequente instalação de uma ditadura, como os bolsonaristas pediam nas ruas. 

O 8 de Janeiro é uma espécie de logotipo do golpe, mas não foi o único episódio da estratégia suja dos envolvidos nas ações antidemocráticas. Houve a tentativa de colocação de uma bomba, nas proximidades do Aeroporto de Brasília, em um caminhão de transporte de combustível. No dia da diplomação do presidente aconteceu uma cena dramática também em Brasília. Terroristas bolsonaristas tentaram lançar um ônibus de um viaduto. O veículo ficou preso no asfalto e só por acaso não caiu sobre um engarrafamento do carros de pessoas que voltavam para casa. 

É para os criminosos que arquitetaram tudo isso que campanha nas redes sociais e em setores da mídia pede um derrame de perdões.

Anistia não 

Fórmula 1- Vesttapen é aloprado e seu comportamento atinge imagem da Red Bull

por Niko Bolontrin

É óbvio que a marca Red Bull fatura milhões ao patrocinar o tricampeão mundial de Fórmula Vesttapen. Mas tudo tem um preço e, no caso, é o comportamento abusivo do piloto holandês com reflexos no ambiente das corridas e, na rejeição de grande parte dos torcedores às suas atitudes de piloto mimado nas pistas e nos bastidores da modalidade. No último GP, o rapaz nervosinho deixou o pódio sem o tradicional gesto de confraternização com os competidores . Pra variar, Vesttapen havia sido punido por  ultrapassagem irregular e estava cheio de ódio. De tanto repetir esse tipo de ilegalidade, até parece que tentar burlar as regras é uma estratégia usual do holandês da Red Bull. Como já ganhou um título beneficiando-se de uma estranha decisão dos fiscais, quando deu pulo à frente da fila após uma bandeira amarela, ele repete a apelação sempre que pode.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Memórias - Roberto Muggiati escreve: o Papa Francisco e eu (*)

Francisco no circuito carioca. Foto L'Osservatore Romano

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O Papa Francisco e eu - por Roberto Muggiati"

"Nunca fui de correr atrás de Papas (ou de celebridades em geral). Minha relação com a Igreja Católica não sobreviveu ao penoso rito da Primeira Comunhão, na paroquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, no bairro do Batel, em Curitiba. Aquele bullying todo em torno da confissão – você tinha obrigatoriamente de ter pecados a expiar, ou então estaria mentindo. Os mais espertos inventavam pecados para sair logo daquela roubada. Outros, em pânico, chegavam até a comprar – com bolas de gude ou balas Zequinha – “pecados” a serem sussurrados ao obscuro inquisidor por detrás da treliça. Havia ainda a campanha de terror que cercava a ingestão da hóstia sagrada – o santo-cura histérico o intimidava a não ferir ou morder o corpo de Cristo. Troquei a arejada e solar igreja de Santa Teresinha – obra de mestres-de-obra imigrantes italianos que posavam de arquitetos – pela escura e misteriosa Catedral de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, elevada a Basílica Menor em 1993, ano do seu centenário. Como ainda não conhecera de perto as grandes catedrais medievais da Europa, eu me contentava com aquela cópia em estilo neogótico – ou gótico romano – inspirada na Catedral da Sé de Barcelona. E mais, meu pai, que tocava violino, costumava me levar até o majestoso órgão – era amigo do organista e de membros do coral – a meio caminho, subindo por uma escadaria íngreme e estreita, do campanário, onde eu me sentia o próprio Corcunda de Nôtre Dame (não tinha lido o romance de Victor Hugo, mas me impressionara com o filme em que Charles Laughton interpretava Quasimodo.) Havia ainda na Catedral de Curitiba a vigília do Cristo Morto na Semana Santa, na madrugada de sexta-feira, da qual meu pai participava com a capa solene da confraria – as imagens religiosas da igreja todas cobertas de pano roxo, só o Cristo crucificado do pequeno altar à direita do portão de entrada, com suas chagas sangrentas brutalmente expostas, um dos mais horripilantes que já vi em toda minha vida.

Havia um toque leigo, também: a missa das nove aos domingos na Catedral era conveniente, pois a poucos passos dali, às dez, começava o programa de rádio infanto-juvenil no Clube Curitibano. O apresentador, José Augusto Ribeiro – prenunciando já o fabuloso orador que viria a ser – comandava o show que tinha, entre suas atrações, as fabulosas irmãs catarinenses Van Steen, uma delas a Edla, que ganhou o mundo como atriz e escritora.

Bisneto de anarquista – Ernesto Muggiati veio para o Brasil com mulher, dois filhos e duas filhas para participar da lendária Colônia Cecília em Palmeira, no Paraná – comunista principiante (adentrei 1950 com doze anos de idade no auge da Guerra Fria), não posso omitir que me vi então, paradoxalmente, às voltas com uma tremenda crise mística ao ler, no começo da adolescência, já em inglês, The Seven Storey Mountain/A montanha dos sete patamares, de um dos grandes líderes espirituais da nossa época, Thomas Merton (1915-68), um monge trapista, ordem que cultivava o voto do silêncio.

Mas chega de nariz-de-cera, como se praticava no jornalismo dantanho.

Jesuíta, tanguero emérito, torcedor doente do San Lorenzo de Almagro, Jorge Mario Bergoglio (coincidência, Zagalo também é Jorge Mário) foi um dos raros Papas que não ascendeu ao trono de São Pedro pela morte do antecessor: Bento XVI renunciou e, como Papa Emérito, caminha firme para os 93 anos (não percam o filme Dois Papas, do brasileiro Fernando Meireles, que reconstitui o encontro entre Ratzinger e Bergoglio em Castel Gandolfo em 2013). Pouco depois, Ratzinger renunciava e Bergoglio assumia o papado sob o nome de Francisco, quebrando uma série de recordes pontificais: é o primeiro papa nascido na América, o primeiro latino-americano, o primeiro pontífice do hemisfério sul, o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos (o último havia sido Gregório III, morto em 741) e também o primeiro papa jesuíta da história.

Enfim, de volta à nossa história. Eleito Papa em 13 de março de 2013, nosso bom Francisco inicia sua primeira viagem internacional em 22 de julho, justamente para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Francisco escolheu se deslocar do Aeroporto do Galeão para o Palácio da Guanabara, onde se daria seu primeiro encontro com as autoridades, num carro comum da Fiat, apenas o motorista e ele, no banco traseiro do lado direito com as janelas abertas, Apesar do pânico da segurança e da quantidade de pessoas que se aproximaram dele, num engarrafamento no meio do caminho, Francisco, na viagem toda, não abriu mão dessa rotina, janelas abertas para os apertos de mão do povo.

Como disse, não sou de correr atrás de Papas. Na quinta-feira, 25 de julho, terceiro dia da visita, o Sumo Pontífice veio receber as chaves do Rio de Janeiro no Palácio da Cidade, à rua São Clemente, a menos de uma quadra da vila onde moro, na Real Grandeza. Um instinto natural de curiosidade – e o cacoete de jornalista – me levaram até a frente do Palácio naquela manhã fria e cinzenta, mas o Papa só apareceria ao longe – sei lá quando – na sacada do Palácio, bem afastado da rua. Desisti. Voltei ao meu trabalho de tradução. Liguei automaticamente a televisão, vi o Papa dar uma bênção especial a nossa estrela do basquete, Oscar Schmidt, que lutava contra um câncer. Como disse, tudo aquilo acontecia a um quarteirão da minha casa. 

Em 2020, Muggiati ao lado do cartaz que anunciava o lançamento do filme "Dois Papas", de Fernando Meireles,
lançado na Netflix em 2019. (Foto: arquivo pessoal)

Quando vi que o Papa partiria para a etapa seguinte de sua programação, uma visita à favela de Manguinhos, deduzi logo que, por questões de segurança, ele jamais tomaria o Túnel Rebouças pela São Clemente, mas seria obrigado a pegar a Real Grandeza.


Bichon bebê ao chegar em casa, supimpa, em 2001

Eu acabara de perder a viralata querida Phoebe. A poodle branquinha Bichon estava quase terminal com câncer no útero. E a caçula Mel, uma poodlezinha caramelo, também aguardava sua vez. Veterinários atribuem esses cânceres ao fato de as cachorras não terem tido filhos, ou não terem sido castradas. Mas havia controvérsias: muita gente falava nos componentes cancerígenos das rações industrializadas – algo que as autoridades sanitárias nunca investigaram seriamente. Num impulso, pensei: o Papa Francisco, que tomou o nome do santo padroeiro dos animais, vai salvar a Bichon (o nome veio de uma amiga da minha mulher que, ao ver a poodlezinha branca, perguntou: “Mas ela não é um bichon frisée?”) A Bichon se protegia do frio com um agasalho de tricô terrivelmente brega, nas cores marrom, verde-musgo, amarelo e fúcsia. Corri com ela para a frente da vila e cheguei à calçada da Real Grandeza no momento exato em que Sua Santidade se aproximava, sozinho no banco traseiro de sua Fiat banal, com a janela do lado direito aberta, justamente aquela que dava para mim, Ergui a poodle no seu adereço kitsch bem alto acima da minha cabeça. A rua estava deserta. O gesto bizarro chamou a atenção de Francisco, a uns quatro metros do dono e da cachorra, ele fixou o olhar sobre nós, abriu aquele seu sorriso sereno e simpático e acenou, como que abençoando a cachorrinha doente.

Vaidoso da minha intervenção pontifical, passei a imaginar que a cura da Bichon seria arrolada como um dos primeiros milagres do Papa Francisco no seu futuro processo de canonização. Ledo engano. Exatos sete meses depois – em 25 de fevereiro de 2014 – a Bichon morria e era enterrada no meu “pet cemetery” particular, debaixo da casuarina no canteiro do fundo da vila,

Desculpe, hermano Francisco, fico te devendo esta, mas tenho certeza de que você é tão legal que essas coisas de beatificação e canonização não te fazem a menor falta, Afinal, você já vive e trabalha em estado natural de santidade."

(*) A título de contexto -  por José Esmeraldo Gonçalves  -  Com o mundo mais uma vez voltado para as coordenadas geográficas da Praça de São Pedro e ainda sob o impacto da morte de Francisco, o blog Panis cum Ovum reposta a matéria acima que mostra o quanto a visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro em julho de 2013 tocou a vida, a rotina e a memória de Roberto Muggiati.  Na primeira frase, Muggiati diz que "nunca correu atrás de papas". Uma verdade parcial. Como diretor da antiga revista Manchete, ele comandou maratonas jornalísticas no rastro dos pontífices. Como no dia 6 de agosto de 1978, quando morreu Paulo VI. A Manchete se mobilizou para colocar rapidamente nas bancas edições especiais sobre as exéquias e, em seguida, a eleição do novo líder da igreja católica. Foram noites viradas para o diretor e equipe de repórteres e fotógrafos que produziram centenas de páginas sobre o assunto que mobilizava o mundo. João Paulo I foi eleito em 26 de agosto. Em 28 de setembro de 1978, o Vaticano comunicava a morte inesperada e chocante do novo papa. A antiga Manchete, assim como todos os veículos jornalísticos, correu atrás do fato e foi levada a um estranho looping, obrigada a repetir o roteiro de pautas com o novo papa: de novo, especiais com cobertura do  velório, da eleição e da posse de João Paulo II...     

segunda-feira, 21 de abril de 2025

FRASE DO DIA: a última mensagem do Papa Francisco

 "A PAZ É POSSÍVEL"

(Da mensagem do Papa, ontem, na Praça de São Pedro. Em texto que não conseguiu ler ele se referiu aos atuais conflitos que matam milhares de pessoas todos os dias)

Adeus, Papa Francisco

 


Copacabana, 2013. Uma impressionante multidão reverencia Francisco. Foto L'Osservatore Romano


 por José Esmeraldo Gonçalves 

Poucas horas depois de aparecer na Praça de São Pedro como parte da celebração do Domingo de Páscoa, o Papa Francisco faleceu em seus aposentos do Vaticano, aos 88 anos. Após 12 anos de papado, deixa uma marca de renovação da Igreja Católica e principalmente da Cúria Romana. Sua partida repercute obviamente na mídia mundial. No Brasil, a Globo mostra nesse momento imagens da histórica jornada de Francisco no Rio de Janeiro. Cenas impressionantes da acolhida dos brasileiros ao papa, como a da multidão de mais de três milhões de pessoas na Praia de Copacabana, são simbólicas do impacto da visita. Foi sua primeira viagem após assumir como  líder máximo dos catolicos.

Os próximos dias serão dedicados à cerimônia fúnebre em Roma, mas nos corredores do Vaticano já se desenrolam contatos e conversas da cúpula católica em torno da sucessão. Trata-se de um intenso jogo político. 

O jornal argentino Clarín publica na edição de hoje registro do encontro do vice-presidente dos Estados Unidos, ontem, com o Papa Francisco. Reprodução 

O mundo vive uma onda de extrema direita e isso se refletirá na eleição do novo pontífice. Há sinais claro de que Donald Trump tentará influir na votação. Ontem mesmo, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D Vance, católico recém-convertido, visitou o Vaticano. E Trump nomeou como embaixador junto à Santa Sé Brian Burch, um católico conservador que é crítico do papa. 

Francisco condenou as ações violentas de Trump contra os imigrantes, o que provocou respostas duras dos republicanos. Sua defesa das políticas ambientalistas também irritaram o negacionista estadunidense.

Quanto ao processo eleitoral que vai agitar o Vaticano, uma boa indicação é ver ou rever o filme "Conclave", na Prime.  Ali está um bom panorama das forças que cercam a eleição até que a fumaça branca sinalize a nomeação  do novo papa ao fim da votação dos cardeais na Capela Sistina.

Caberá ao substituto provisório do papa, o cardeal Kevin Joseph Farrell, um irlandês que foi bispo de Washington e de Dallas, organizar a cerimônia fúnebre e a eleição do novo Pontífice. Trump quer anexar o Vaticano?

Não duvidem.

domingo, 20 de abril de 2025

Obama, Biden e Clinton: ex-presidentes se unem para deter a escalada da extrema direita nos Estados Unidos

Do Washington Post, hoje.

por Flávio Sépia 

As ruas ocupadas por manifestações contra a aberração chamada Donald Trump. Esse é o atual quadro político nos Estados Unidos. Uma novidade nessa semana: Barack Obama, Bill Clinton e Joe Biden fizeram críticas públicas às barbaridades de Trump, da histeria taxativa à censura, da perseguição a imigrantes aos ataques às universidades e à ciência. É fato raro ex-presidentes se unirem contra um sucessor. Faltou Bush, embora ele tenha externado sua antipatia ao aloprado Trump. Clinton, Obama e Biden indicam que os democratas entendem que chegou a hora de sair das cordas em nome dos valores civilizados. E mais: é preciso deter a escalada fascista de Trump e seus oligarcas de extrema direita plantados na Casa Branca.

Só milagre...

por Niko Bolontrin

Dois jogadores vivem situações diferentes, mas são iguais no apelo à mesma fé para sair das respectivas encrencas. 

Bruno Henrique, do Flamengo, foi indiciado pela Polícia Federal por supostamente ter forçado um cartão amarelo como parte de uma jogada fora da lei: uma descarada manipulação para enga emnar sites de apostas e beneficiar familiares ou pessoas próximas.  A PF desbloqueou celulares e capturou mensagens muito claras sobre a trama. 

O evangélico Bruno preferiu não se manifestar, por enquanto. Sua única defesa diante de uma situação complicada foi publicar um salmo nas suas redes sociais.

Já o craque Neymar vive um drama sem fim. Seguidas lesões impedem que ele volte a jogar futebol com eficiência. Na verdade já  não há garantia de que o corpo responda ao seu talento. 

Também evangélico, Neymar foi " abençoado" por um pastor durante celebração da Páscoa na sua mansão em Santos. Os dois demonstram que colocaram os destinos nas mãos do divino. Aparentemente acreditam que precisam de um milagre para superar as más fases. 

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Anote essa palavra: tecnofeudalismo

Você vai ouvir muito esse termo, cada vez mais pronunciado. Faltava popularizar uma definição para o absolutismo das gigantes da tecnologia, Amazon, Facebook, X, Microsoft, Apple etc. Essas corporaçoes atuam como se estivessem acima de todos os governos. Agora aliadas de Donald Trump, a quem financiaram, mostram força e poder de controlar ainda mais sociedade. Desde o ano passsado, a palavra tecnofeudalismo deixou os limites da academia e alcançou os leigos disposto a entender o tamanho da encrenca armada pelas bigs techs. Coube ao economista francês Cédric Duran tipificar que na era digital o mundo recuou para comportamentos e estruturas sociais semelhantes às da Idade Média. Como os salteadores das antigas estradas medievais, os novos senhores feudais ocupam estalagens digitais apenas para sequestrar e revender os dados pessoais dos seus súditos... aos seus próprios súditos. Duran desenvolve essa tese no livro Critique de l'économie numérique lançado em 2020, mas dramaticamente atual no feudo de Trump e seus oligarcas encastelados na Casa Branca. 

Pense nisso: quando você cria conteúdos para as plataforma das big techs é como se um mercador entregrasse na feira de Flandres cereais, grãos e especiarias em geral. Ele, como você, tem o ponto de venda, mas o dono da banca, o senhor feudal ou a big tech, faturam mais do que você. (Flávio Sépia) 

Na capa da New Yorker: a insana coreografia que me lembrou Carlitos

 


O fotojornalista Guina Ramos recorda o dia em que fotografou Mario Vargas llosa para a antiga Manchete. O repórter Ib Teixeira entrevistou o escritor peruano que faleceu aos 89 anos

 

Mario Vargas Llosa
Não é toda hora que um fotojornalista mediano que nem eu tem oportunidade de fotografar um Prêmio Nobel de Literatura.

Mario Vargas Llosa - Foto Guina A. Ramos, 1979
Ao que me lembre, só me aconteceu uma vez (até vou revisar meus arquivos...), mas, evidentemente sem que eu nem nem o próprio soubéssemos que lhe caberia, uns 30 anos depois, este galardão da literatura mundial...

Só sei que (do pouco que me lembro) fui, um dia, em 1979, ao Hotel Glória, então um hotel realmente glorioso, a um evento sócio literário de que já não tenho a menor ideia, com a tarefa precípua de fotografar o escritor Mario Vargas Llosa, falecido neste 13/04/2025, aos 89 anos, em Lima, no seu país natal, o Peru. 

 

Esta foto felizmente me foi salva pela Biblioteca Nacional, que na Hemeroteca Digital Brasileira, nos fez, aos jornalistas da época e à memória brasileira, o grande favor de digitalizar todas as edições da revista Manchete. 

Este material nem sequer estava entre meus recortes de revistas e jornais, que ainda entopem algumas caixas e gavetas por aqui.


A entrevista, de Ib Teixeira, repórter especial da Manchete, acho que foi feita em sala à parte no hotel, e creio que continua merecedora de atenção, espero que a foto também.

Falaram de literatura, mas já havia na conversa sinais dos rumos políticos que o escritor tomava, questão importante na sua biografia, mas que não é nosso tema aqui.


Tenho, ao menos, uma ponta de filme (negativos) das fotos daquele dia. Fotos bem ruinzinhas, com as violentas sombras do flash direto, que fiz no saguão do auditório, à saída do evento, quando Vargas Llosa era envolvido em uma conversa por Vilma Guimarães Rosa Reeves, filha do celebrado escritor João Guimarães Rosa, ela também escritora e concorrente constante, mas não vitoriosa, a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Afinal, pelo que tiro da amostra publicada na revista, o melhor das fotos ficou mesmo para os arquivos da Manchete, que sabe-se lá onde estará...

* Matéria originalmente postada por Guina Ramos no blog Bonecos da História

terça-feira, 15 de abril de 2025

Trump: "Al Capone" no poder - Tarifas vão impulsionar a globalização do contrabando

Al Capone estaria rindo à toa se vivesse na Era Trump.


por Flávio Sépia 

Uma das consequências óbvias e ainda não comentada do tarifaço de Trump será o aumento do contrabando em nível planetário. Para fugir das barreiras fiscais e das fronteiras, o caminho ilegal é uma opção. 

Basta lembrar do que aconteceu quando uma onda moralista e hipócrita levou os Estados Unidos a adotarem a Lei Seca de 1920 a 1933. Criminalizar a bebida alcoólica abriu espaço para o crime se organizar em estruturas "corporativas". Na sua rede de bunkers lotados de dólares, Al Capone agradecia todo dia aos mentores da Lei Seca. 

É mais ou menos o que contrabandistas transnacionais farão diante das medidas tresloucadas de Donald Trump e seus oligarcas acampados na Casa Branca. 

A Lei Seca americana (que a geração you tube não confunda com a versão brasileira de blitzs e bafômetros depois das baladas) proibia fabricação, transporte e consumo de bebidas alcoólicas. Foi um desastre social e fiscal que durou 13 anos. 

As consequências da tarifação de Trump são mais sofisticadas. Por exemplo, além de incentivar o contrabando, têm impacto poderoso nas bolsas de valores e no mercado financeiro em geral. No caso de Trump, a suspeita gangorra de morde e assopra ou decreta e pausa faz  milionários no mercado. Os bem informados, claro, principalmente aqueles que investiram milhões de dólares na eleição do magnata. 

Outro exemplo de como barreiras fiscais exageradas favorecem o contrabando. Nos anos 1950, o Brasil taxava importação de carros em mais de 100%. Veículos de luxo eram ainda mais visados. Muitos carros entravam pelo litoral do Ceará, cujo recorte oferecia enseadas capazes de receber barcos de médio porte. O mesmo navio que trazia Impalas levava carregamentos de café. Dizia-se que alguns palacetes do Aldeota, bairro elegante da capital cearense, abrigavam ricos "empresários" que traziam carrões, "esquentavam" a documentação e mandavam para abonados do Rio e São Paulo. 

Se esse tempo voltar, o Paraguai vai virar um "tigre" do Cone Sul.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Kate Perry: 10 minutos no espaço

Kate Perry e "migas" passaram apenas dez minutos no espaço, sem entrar em órbita. O fato gerou piadas e memes, como na reprodução acima.

por Ed Sá 

A corrida espacial broxou. O homem pisou na Lua em 1969. Havia a expectativa de, a partir daí e rapidamente, estadunidenses e soviéticos logo passarem para o objetivo seguinte: Marte. O projeto flopou. O "planeta vermelho" continua inalcançável para seres humanos.

Diante disso, os súditos de Trump privatizaram a corrida espacial com o objetivo de... levar, de novo, o homem à Lua. 

A memória carioca conta que o Brasil parou para ver ao vivo na TV Neil Armstrong dando pulinhos no solo lunar. Poucos meses depois, no segundo pouso na lua, em uma tarde de domingo, o alto falante do Maracanã anunciou para a torcida ligada no jogo que Pete Conrad estava caminhando na Lua. A galera vaiou o locutor. Já naquela época virou chatice bem rápido.

Mais de meio século depois, astronautas não são mais heróis. Qualquer CEO gordo tira onda de viajante espacial. E a China e Elon Musk ainda  preparam um revival de voos rumo à Lua antes do fim da década. Marte fica pra próxima.

 A notícia que está bombando é o voo de 10 minutos, do tipo é-bom-não-foi?, que levou a cantora Kate Perry e mais cinco mulheres ao espaço a bordo da nave Blue Origin do bilionário Jeff Bezos, da Amazon. Virou banalidade, rolé de amigas, que não tiveram tempo nem de colocar a conversa em dia. 

Não demora muito vamos chamar um uber com destino ao Mar da Tranquilidade. Milionários brasileiros como Jojô Todinho, Gustavo Lima, influenciadores e influenciadoras vão ali ao satélite da Terra e voltam já. O rico clã Bolsonaro vai pedir ao parça Musk para organizar uma naveciata lunar. Roberto Carlos e Neymar venderão passagens para cruzeiros na Lua. Deputados e senadores aprovarão no plenário lotado um pacote de emendas Pix para pagar suas viagens espaciais sob o pretexto de "fiscalizar a rota".

Na reprodução do New York Post, um momento hilário da mini jornada espacial de Kate Perry foi a queda de Bezos na poeira do deserto texano quando se preparava para receber as "astronautas". O tombo repercutiu na mídia mundial. 


Chico Buarque, Francis Hime: o encontro casual que resultou em um clássico da MPB recuperado por Elis Regina

 

Geraldo Vandré, Ellis e Chico Buarque. Foto publicada na Fatos & Fotos em 12 de novembro de 1966. 

A revista Fatos & Fotos (assim como a antiga Manchete) é um verdadeiro banco de dados e imagens sobre a MPB. As redes sociais se encarregam de recuperar na internet tais momentos marcantes. O ex-funcionário da Bloch, Nilton Muniz, colaborador do Panis cum Ovum, "o blog que virou Fatos & Fotos", volta e meia resgata posts que revivem épocas. Veja essa pérola que foi publicada em 1966, na querida F&F. O registro é do Facebook MPB Bossa' Post ( https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=1235318487964707&id=100044597012154&post_id=100044597012154_1235318487964707&rdid=zHixaErd1HVNh8oG# )

"Por trás da letra: Atrás da Porta"

"Francis Hime morava nos Estados Unidos e passava férias no Brasil. Em uma festa restrita a poucos amigos, encontrou-se com Chico Buarque e tocou a melodia da música, Chico gostou e começou a escrever, lá mesmo, a letra . Os dois não se lembram o motivo - Chico atribui ao excesso ou mesmo a falta de bebida e até falta de inspiração momentânea - o fato é que o letrista só conseguiu fazer uma parte da música.

A obra incompleta ficou esquecida por um tempo, até que Elis a ouviu e ficou maravilhada. Gravou o trecho com letra e deixou a segunda parte apenas orquestrada, uma forma, para muitos, de pressionar Chico a concluir a música. 

Chico finalizou a letra e o resto virou história." 

P.S - Em iniciativa elogiável, a Biblioteca Nacional digitalizou as coleções da antiga Mancehete e da Fatos & Fotos. Esta última chegou a entrar no site de Periódicos da BN. Infelizmente, a F&F digitalizada foi retirada do acervo sem maiores justificativas. Um funcionário contatado chegou a justificar a  exclusão com um formal "por motivo técnico". A tal coleção jamais voltou ao ar. Pena, a Fatos & Fotos fez coberturas inesquecíveis de atualidades. Foi marcante o acompanhamento da revista, por exemplo, das manifestações estudantis de 1968, dos festivais da canção, de crises políticas, do exílio de Chico Buarque em Roma e de Caetano e Gil em Londres. das Copas de 1962 e 1970. A F&F publicou históricas entrevistas com cineastas, escritores, compositores, cantores e cantoras e teve cronistas como Clarice Lispector e Nelson Rodrigues, entre outros. A BN deve uma explicação por ter investido na digitalização da revista para subitamente retirá-la do acervo.    

Um futuro Nobel comia os restos do meu prato em Paris* • Por Roberto Muggiati

 

Vargas Llosa em Paris, anos 1960. Foto: Reprodução Instagram

Quando eu era bolsista pobre em Paris em 1960, meu amigo Octávio Carneiro Lins – que trabalhava com o tio, o embaixador Paulo Carneiro, na Unesco – costumava me convidar para jantar nos melhores restaurantes. Mas Octávio era uma figura complicada e essa aparente generosidade muitas vezes ocultava surtos perversos de sadismo.

Duas ou três vezes ele me levou ao México Lindo, na rue des Canettes, naquele cafofo da rive gauche entre as igrejas de Saint-Germain e de Saint Sulpice. Na primeira vez cuspi a comida toda no prato de tão apimentada que era. – Caliente?! – comentou o garçom, gozando da minha cara. Octávio, macaco velho em culinárias exóticas e chegado a temperos fortes, por trás de um semblante à Buster Keaton, também devia estar se divertindo.

Vocês já devem ter ouvido falar na Maldição de Montezuma, que acomete os incautos que vão ao México e exageram na comida local. Na segunda vez que fui ao México Lindo, bem que me esforcei, mas ainda refuguei mais da metade da comida. Da terceira, já com as papilas gustativas cauterizadas no ferro em brasa, me saí um pouco melhor, mas pedi ao Octávio que voltássemos, por favor, à boa e velha cuisine française.

Para mim a história teria morrido aí, não fosse ter lido, 45 anos depois, o romance Travessuras da menina má, de Mário Vargas Llosa – o peruano que ganhou o Nobel de Literatura em 2010. Ele morou em Paris à mesma época que eu. Cito trechos do livro:

 

“No meu primeiro ano em Paris, quando passava apertos financeiros, muitas noites ficava na porta dos fundos desse restaurante [o México Lindo] esperando que Paúl aparecesse com um pacotinho de tamales, tortilhas, carninhas ou enchiladas, que ia saborear no meu sótão do Hôtel du Sénat antes que esfriassem.”

“Paúl, ao saber das minhas dificuldades, quis me dar uma força com a comida, porque no México Lindo era o que sobrava. Que eu passasse pela porta dos fundos, por volta das dez da noite e ele me ofereceria ‘um banquete grátis e quente’, coisa que já fizera com outros compatriotas carentes.”

 O México Lindo acabou há muito, ainda no século passado. Mas histórias e coincidências como esta sobrevivem ao tempo.

*Do livro de memórias em gestação Paris por um triz.

** Mario Vargas llosa faleceu ontem, em Lima, aos 89 anos. A família não informou a causa da morte. Desde que deixou Madrid em 2022 e voltou a residir no Peru o escritor estava debilitado.  

domingo, 13 de abril de 2025

Frase do dia: tem que aplaudir...

 "Intestino do Bolsonaro se adianta e já está preso". 

Do Sensacionalista (O Globo) 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Fórmula 1 vai entrar no mercado de apostas

As bets estão conversando com a direção de parcerias da Fórmula 1 para incluir a modalidade no ramo de apostas. Na Europa, especialmente na Inglaterra, os GPs da categoria até entram nas bolsas de apostas mas com participação quase irrelevante. O que a F1 quer é ampliar isso e chegar aos admiradores das corridas em todo o mundo. Assim como no futebol onde apostadores arriscam a sorte no resultado das partidas, nos cartões amarelos, no primeiro gol etc, a F1 deve oferecer vários tipos de apostas: pole position, volta mais rápida, quebras, pit stop mais veloz, vencedor e o que mais a imaginação e a voracidade das bets permitir. O risco, como demostram casos notórios no futebol, é a ocorrência de fraudes. Há, como se sabe, casos de jogadores que participam de esquemas do tipo forçar cartão amarelo "premiado".  E aí? Veremos pilotos forçando quebra? 

Na capa do Charlie Hebdo...

 


terça-feira, 8 de abril de 2025

Extrema direita bolsonarista agora quer intervenção militar dos Estados Unidos no Brasil. Alexandre Moraes falou sobre o tema à revista New Yorker

Em longa entrevista à revista New York, Alexandre Moraes disse que a eventual pressão dos Estados Unidos contra o STF só fará efeito se um porta-aviões chegar ao Lago Paranoá. 

Bolsonaristas doidões, incluindo deputados e senadores de extrema direita, têm feito apelos por intervenção armada dos Estados Unidos no Brasil. 

Veja declaração exata de Moraes sobre o assunto à revista New York.



domingo, 6 de abril de 2025

Janete Clair - Como parte do centenário de nascimento da autora de novelas, será relançado o romance "Nenê Bonet", publicado originalmente em forma de folhetim na antiga revista Manchete

 

Anúncio do lançamento de "Nenê Bonet", de Janete Clair, originalmente publicado em forma de folhetim na antiga revista Manchete. 

O Globo, 5/4/2025 

Estão previstas homenagens mais do que merecidas ao eterno talento e magia da autora de novelas  Janete Clair, que competaria 100 anos no dia 25 próximo. A coluna do jornalista Ancelmo Góes, do Globo, informa sobre mostra comemorativa, a partir do dia 28, no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Ancelmo cita o relançamento do romance "Nenê Bonet" publicado originalmente na antiga Manchete, em 1980, em capítulos semanasi (veja no alto uma das peças da camanha de lançamento do folhetim que, na época, alavancou vendas das edições da reviata.    

Le Parisien: o ar do Louvre, de Notre Dame e do Sacré-Coeur à venda em latas. Custa 12 euros a unidade . O fabricante não informa se vai enlatar o cheirinho do metrô de Paris na hora do rush

 

Le Parisien, edição de 6/4/2025

por José Esmeraldo Gonçalves
Turistas que forem a Paris têm nova opção de lembrancinhas. A empresa tcheca Fattrol lançou enlatados com o ar de ambientes icônicos da Cidade Luz. Segundo o jornal Le Parisien, a iniciativa é polêmica. Há quem a ache ridícula, quem a considere apelação para enganar visitantes e, obviamente, quem compre o enlatado para levar para os amigos e parentes.  No momento estão à venda por cerca de 12 euros, os ares do Louvre, da Torre Eiffel, Notre Dame, Museu  d' Orsay e Sacré-Coeur. 
Se a moda pegar, vamos esperar que não captem o ar do metrô de Paris na hora do rush ou de restaurantes franceses que servem andouillette. Vou poupá-los da descrição, apenas digo que é um tipo de salsichão cujo recheio inclui o conteúdo do cólon do porco. Maiores informações com as jornalistas Jussara Razzé e Deborah Berman que provaram o prato no interior da França e imediatamente devolveram à cozinha a iguaria mais fedida do mundo.  

Ou, se a Fattrol vier para o Brasil, que não recolha, por exemplo, o ar da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Das Comissões de ambas as casas. Se for utilizar o ar de Copacabana, evitar o cheirinho do Posto 5, nas imediações da única estação de tratamento de esgoto no mundo instalada em área turística. Passar longe das redações das Jovem Pan, de vista Oeste, do Antagonista...    

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Em resposta a Trump, pinguins taxam uso de imagem

Logo da Editora Penguin



Mr. Pinguin


Logo da Antarctica 

PINGUINS RESPONDEM À ALTURA O TARIFAÇO DE TRUMP:

VÃO TAXAR PESADAMENTE O USO DE SUA IMAGEM NOS LOGOS DA EDITORA PENGUIN, NA FRANQUIA DE FILMES BATMAN E NAS EMBALAGENS DA CERVEJA ANTARCTICA.

Reunião de emergência para retaliar Trump

* Trump taxou em 10% todos os produtos exportados pela ilhas Heard e McDonald para os Estados Unidos. De acordo com a tradicional ignorância geografica dos estadunidenses, ele não sabia que as ilhas são desabitadas, a não ser por populações de pinguins, que vão retaliar. Editora Penguim, franquia de filmes Batman e até a cerveja Antarctica (da AmBev, com ações na Bolsa de Nova York) podem ser obrigadas a desembolsar taxas expressivas por uso não autorizado de imagem. 

Um jornal a serviço da ditadura: as páginas de sangue da Folha de São Paulo quando atuou como "sócia" da repressão

 

Nas sombras do anos 1970, uma réstia de luz informava que algo estranho ocorria na Folha de São Paulo. Jornalistas detectavam mudança de clima e a presença de figuras desclassificadas, no sentido da palavra, fingindo naturalidade no ambiente da redação. 
Em 1971, viaturas de reportagem e distribuição de jornais da Folha foram incendiadas supostamente por opositores de ditadura. Àquela altura, já havia sinais público de que Octávio Frias de Oliveira, assim como poderosos empresários paulistanos, apoiava a OBAN, operação de caça a "subversivos". Eram uma espécie de "sócios" de assassinatos e tortura. Com a volta da democracia, pouco a pouco foi aberto porão da vergonha da Folha de São Paulo. As pesquisas revelam que a parceria com a ditadura foi muito maior do que se imaginava.  O jornal fez coberturas jornalísticas descaradas em apoio à política repressiva, além de contratar integrantes das Forças Armadas e da polícia como falsos repórteres. Esquadrões da ditadura usavam as viaturas para vigiar e prender opositores do regime, muitos do quais foram assassinados. 
A cumplicidade da Folha fica ainda mais evidente no recém-lançado livro "A Serviço da Repressão - Grupo Folha de Violações de Direitos na Ditadura", por Ana Paula Goulart Ribeiro, Amanda Romanelli, André Bonsanto, Flora Daemon, Joëlle Rouchou e Lucas Pedretti (Mórula Editora).    

A revista The Economist vem com duas capas. De um lado a ruína, do outro a oportunidade... para a China.

 



Para The Economist, o ridículo Dia da Libertação, propagado por Trump, é na verdade o Dia da Ruína. A segunda capa mostra que a China vai sentir o tranco da tarifação, mas vê a crise como uma rota de oportunidades para criar novos mercados e, principalmente, reorganizar o seu enorme mercado interno e setores da economia que demonstraram fragilidade nos últimos anos. 

Em meio às várias escolhas estratégicas, há uma certeza e uma dúvida: a China vai retaliar; resta saber quem vai piscar primeiro.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Nem Jesus sabe se Neymar voltará à seleção brasileira.

por Niko Bolontrin

A seleção brasileira de futebol está sofrendo um terremoto de indefinições. A mídia esportiva especula nomes de futuros treinadores. Por incrível que pareça, a CBF teria voltado a contatar Carlos Ancelotti. Cansado de dizer não, o treinador do Real Madrid vai acabar processando a CBF por assédio moral e stalking. 

Jorge Jesus e outro nome. Esse topa, mas pede salário astronômico, equivalente ao que recebe do Al Hilal saudita. Felipe Luis, do Flamengo, tem pouco tempo de atuação como treinador, mas está na mira. Não falou oficialmente sobre o assunto, embora tenham vazado sinais de que não aceitaria um convite. Mais sensato do que a CBF, ele prefere dar continuidade ao seu trabalho promissor no time carioca. 

Novos nomes vai surgir. Correndo por fora estão Abel Ferreira e José Mourinho. Por enquanto o favorito é Jorge Jesus. Sobre o português circula um rumor de que Neymar teria comunicado à CBF que não aceita Jesus como seu treinador. Parece estranho o lobby do Neymar que não joga futebol efetivamente a sério há quase dois anos. Fez umas poucas partidas na volta ao Santos enfrentando times de pouca expressão e logo foi para o estaleiro com novo problema muscular que já o deixa parado há cerca de dois meses. 

Jorge Jesus incomoda Neymar por ter falado a verdade quando da sua volta  ao Al Hilal . Segundo ele, o brasileiro ainda não tinha condições de jogar futebol. Dito e acontecido. 

Na verdade, desde a fase final da sua conturbada permanência no PSG ele não tem continuidade em campo. E se há alguma coisa que jogador precisa é de sequência de jogo. No momento, Neymar se mantém ativo no poker, festas e como personagem promovido por canais esportivos "amigos" ou impulsionados no You Tube e em outras redes sociais. Neymar pausou novamente a carreira de jogador de futebol. É influencer em atividade.

Diz-se que o seu objetivo é a seleção brasileira e a Copa do Mundo de 2026. Não parece. Neymar ficou fora dos recentes jogos do Brasil contra a Colômbia e Argentina. Não tinha condições de jogo ou foi poupado. 

Teria sido um bom teste vê-lo enfrentar times intensos como esses. Não foi possível, fica pra próxima. Brasil jogará com Equador e Paraguai no próximo mês de junho. Nem Jesus sabe se Neymar estará bem campo.



quarta-feira, 2 de abril de 2025

Marine Le Pen, líder da extrema direita francesa, desviou verba pública do seu gabinete. Puxou ao pai fascista que também surrupiou euros do Parlamento Europeu.

 


por Flávio Sépia 

Não apenas a direita brasileira tem picaretas sob a mira da justiça. Na França, a surpresa da semana foi a a revelação de que a ultradireita Marine Le Pen desviou verbas públicas destinadas ao seu gabinete. Ela foi declarada inelegível para as próximas eleições. O Charlie Hebdo lembra aos distintos eleitores que Marine  Le Pen, em matéria de surrupiar euros, puxou ao pai fascista. Ele também foi acusado de desviar fundos do Parlamento Europeu durante dois anos. A notícia repercutiu nos jornais francesas. No Brasil, crimes semelhantes são tão comuns que nem viram notícia. Provavelmente uma dessas falcatruas está acontecendo enquanto você ler estas linhas. E certamente algumas com digitais da extrema direita. Uma busca no Google revela o CPF das suas, não nossas, senhorias.


segunda-feira, 31 de março de 2025

Pela primeira vez, a seleção brasileira vai precisar de um milagre de Jesus

por Niko Bolontrin

A seleção brasileira já foi o paraíso dos técnicos de futebol. Todos sonhavam em comandar o escrete, como a crônica esportiva chamava então. Houve uma época que era o melhor emprego do mundo. Dizem que Fiola dormia enquanto Pelé, Nilton Santos e Didi comandavam o jogo. Foi acordado para receber a Jules Rimet em 1958. Aimoré Moreira não dormia na beira do campo mas herdou o timaço que trouxe o bi em 1962. Foi ao Chile só distribuir as camisas. Aqueles times não precisavam de "professor" nem de "mister". Havia um mestre em cada posição .  

Falando sério: Zagallo teve pouco a ver com o Tri de 70. Foi escalado pela ditadura e ganhou o salário fazendo quase nada. Não havia necessidade. As feras do Saldanha se reuniam no hotel na véspera e determinavam o jogo, enquanto capitães e almirantes da delegação curtiam tequilas patrióticas. Em 1994, Romário, Bebeto e Tafarel garantiram o título para Carlos Alberto Parreira.    

Em 1998, faltou união e reunião dos jogadores para barrar Ronaldo Fenômeno, um convalescente recém-saído de um hospital francês. Difícil: naquele vestiário não havia jogador com voz e personalidade para fazer o treinador tremer e decidir pelo óbvio: Ronaldo estava incapacitado. E Zagallo não teve coragem de barrar o número um da patrocinadora Brahma. Em 2002, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, tirou a sorte grande: Ronaldo em mega forma, Rivaldo, Ronaldinho... 

A partir de 2006, com Parreira todo enrolado na Alemanha e os jogadores esbanjando dias de folgas,  a seleção tornou-se um fardo difícil de carregar. Dunga fracassou na África do Sul em 2010. Em 2014, o vexame dos 7x1 com aassinatura do Felipão; 2018, desastre teu nome é Tite; em 2022 Tite (o popular Adenor Bachi) era verborágico nas coletivas, parecia o Einstein explicando a Teoria da Relatividade, e confuso na beira do gramado. O novo futebol passou na janela e Adenor não viu. Mas era o queridinho dos jornalistas da Globo. 

Na semana passada, a propósito do vexame da seleção diante da Argentina, um jornalista do UOL, ex-Globo, ao analisar a falta de comando do treinador Dorival Junior, citou Tite como um "injustiçado". Leva pra casa, mano.  Tite não foi injustiçado, Tite teve chances mas não passou no Enem do futebol por duas vezes. Simples assim. 

Ano que vem tem Copa. Por enquanto o Brasil está uma tremenda bolinha e sem treinador. Dorival Júnior se manteve por apenas 445 dias e uma noite de pesadelo ao sofrer goleada (4x1) da Argentina. 

A CBF tenta agora trazer Jorge Jesus.  O português terá a difícil missão de pausar os 23 anos em que o Brasil sofre um duro jejum de título de campeão de Copa do Mundo. Só Jesus para a seleção evitar quebrar o recorde negativo anterior: os 24 anos entre 1970 e 1994 sem botar a mão na taça..    

 

domingo, 30 de março de 2025

A direita brasileira tem jornalistas "Ifood". É a turma que entrega "encomendas"

por Flávio Sépia 

O golpista Bolsonaro, agora réu, diz que precisa da imprensa. Hipocrisia. Ele já sabe que conta com parte da mídia. Os jornalões, os canais de notícias da TV paga,  os porões do You Tube e as as redes sociais abrigam comentaristas, analistas e articulistas em número que daria para preencher muitas garupas em motociata de bozorocas. 

São os jornalistas "ifood" que têm a missão de entregar encomendas. Agora que o STF dá um grande passo rumo ao julgamento dos golpistas, esse nicho da extrema direita está fazendo hora extra. O alvo principal é o ministro Alexandre Moraes, mas as escopetas apontam para o Supremo, como instituição.  Bolsonaro está na pista para entrevistas "exclusivas" em vários veículos. Deputados e senadores neofascistas se revezam na tribuna com ofensas aos ministros do STF. Um desses extremistas expressou até o desejo de matar a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.

As fake news dos golpistas foragidos encontram espaços frequentes nas redes sociais que seguem sem a devida regulação que os jornalistas "ifood" chamam de "censura".  

sábado, 29 de março de 2025

A carta da presidente do México para Trump e Musk, que viralizou no mundo, é "fake" mas bem que poderia ser "real"

por José Esmeraldo Gonçalves 

Nos últimos dias, uma carta assinada pela presidente do México, Claudia Sheinbaum, circulou nas redes sociais e em muitos sites jornalísticos. Era fake. O conteúdo, ao contrário, fez sentido. Não se sabe que foi o autor. Imagino um mexicano indignado, estimulado por algumas doses de tequila, disposto a falar ao mundo. Se usasse a sua própria identidade nem os mariachis abafariam a música para ouví-lo. A mensagem não chegaria a Trump e seu parça oligarca. 

Usar o nome da presidente foi a solução. O "crime" compensa. Está perdoado. A história registra que líderes, reis e presidentes têm a mentira como instrumento de trabalho. A carta fake é um desses casos em que em o fim justifica o meio e a mensagem.


Leia a carta fake que nunca deveria ter sido.

"Então, vocês votaram para construir um 

muro… Bem, meus queridos americanos, mesmo que vocês não entendam muito de geografia – já que “América” para vocês significa apenas o seu país e não um continente –, é importante que saibam o que estão deixando do lado de fora desse muro antes de colocarem a primeira pedra.

Fora dele, vivem 7 bilhões de pessoas. Mas, como essa coisa de “pessoas” talvez não soe tão relevante para vocês, vamos chamá-las de consumidores.

São 7 bilhões de consumidores, prontos para substituir seus iPhones por um Samsung ou Huawei em menos de 42 horas. Eles também podem trocar Levi’s por Zara ou Massimo Dutti.

Sem fazer alarde, em menos de seis meses podemos parar de comprar carros da Ford ou Chevrolet e substituí-los por Toyota, KIA, Mazda, Honda, Hyundai, Volvo, Subaru, Renault ou BMW – marcas que, tecnicamente, superam os veículos que vocês produzem.

Com esses 7 bilhões de consumidores, também podemos cancelar nossas assinaturas de TV a cabo americana. Talvez não gostemos tanto da ideia, mas podemos simplesmente deixar de assistir aos filmes de Hollywood e focar em produções latino-americanas ou europeias, que têm melhor qualidade, mensagens mais ricas, técnicas cinematográficas mais avançadas e conteúdos mais relevantes.

Por mais inacreditável que pareça para vocês, podemos parar de visitar a Disney e, em vez disso, ir ao parque Xcaret, em Cancún, ou escolher destinos turísticos no México, Canadá, Europa, América do Sul ou Oriente. Há lugares incríveis pelo mundo.

E, acreditem ou não, até no México existem hambúrgueres melhores que os do McDonald’s – e ainda com um valor nutricional superior.

Alguém nos Estados Unidos já viu uma pirâmide? No Egito, no México, no Peru, na Guatemala, no Sudão e em outros países existem pirâmides de civilizações incríveis. Descubram onde estão as maravilhas do mundo antigo e moderno… Nenhuma delas está nos Estados Unidos.

Que pena, Trump! Se houvesse alguma, você provavelmente tentaria comprá-la e revendê-la.

Sabemos que existe Adidas, e não apenas Nike, e podemos começar a consumir marcas de tênis mexicanas, como a Panam.

Nós sabemos muito mais do que vocês pensam. Sabemos, por exemplo, que o desemprego crescerá dentro dessa muralha racista, que sua economia entrará em colapso e que, quando esses 7 bilhões de consumidores deixarem de comprar seus produtos, vocês acabarão implorando para que derrubemos esse muro.

Sem mais perguntas. Mas… vocês quiseram um muro? Então terão um muro.

Atenciosamente,

O resto do MUNDO.

CLAUDIA 

SHEINBAUM

PRESIDENTE DO MÉXICO


Paulo Leminski Neto: o filho do homenageado da Flip 2025 é morador de rua no Rio • Por Roberto Muggiati


O cantor Paulo Leminski Neto vive um drama nas ruas da Lapa
.
Na foto, o pai, poeta Paulo Leminski (1944-1989)

Identidade e semelhança comprovadas


Numa batida recente da PM na Praça São Salvador, um jornalista teve a atenção chamada para a identidade de um morador de rua: Paulo Leminski Neto. Era o filho do poeta curitibano Paulo Leminski Filho, que, nos anos 1980, agitou os meios culturais com seus talentos múltiplos como poeta, tradutor e ensaista (dialogando com os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari e Wally Salomão), letrista da MPB (gravado por Caetano, Moraes Moreira e Ney Matogrosso) e judoca respeitado nos tatames da vida. Ele será um dos principais homenageados da Feira Literária de Paraty (Flip) deste ano.

Paulo Leminski Neto, cantor e professor de música, ficou sem trabalho no final do ano passado, foi despejado do quarto onde morava na Lapa e se viu na rua com a mulher, a figurinista Claudia Tonelli, com quem vive há seis anos. Como se desgraça não bastasse, ela sofreu agressão e tentativa de estupro por um delinquente de 29 anos com 22 passagens na polícia, saindo da emergência hospitalar com stress pós-traumático. O incidente levou ambos a se tornarem pacientes por depressão num Centro de Atenção Psicossocial (CAPs). Disse ela: “Viver e dormir nas ruas é um misto de invisibilidade e visibilidade incômoda.” O casal, em estado extremo de vulnerabilidade, precisa levantar 120 reais diários para pagar o hotel na Lapa onde Cláudia se recupera. Contam com a ajuda de pessoas solidárias, mas sem garantia de continuidade e podem ir parar de novo nas calçadas a qualquer momento.

Paulo Leminski Neto só passou a existir com carteira de identidade em agosto de 2021, depois que ele soube, pela biografia de Toninho Vaz, "O bandido que sabia latim", que era filho do poeta e que Leminski o havia registrado e, de posse da certidão do cartório, obteve o documento, com a data de nascimento de 31 de janeiro de 1968. A primeira mulher de Leminski, o registrou sob outro nome, não tinha sequer a certeza de que o poeta fosse seu pai, pois o casal vivia numa época de relações abertas.

Como sempre, Manchete tem um dedo nessa história. Na ocasião, Paulo Leminski veio tentar a sorte no Rio e hospedou-se no lendário Solar da Fossa, em Botafogo, demolido depois para a construção do Shopping Rio Sul. No casarão de dois andares com 85 quartos moraram, entre 1964 e 1971, intelectuais e artistas como Caetano Veloso, Gal Costa Gilberto Gil, Glauber Rocha, Paulo Coelho, Tim Maia, o jornalista Ruy Castro e os atores Cláudio Marzo e Beth Faria, que se casaram no pátio da pensão. O nome veio da deprê do carnavalesco Fernando Pamplona, que lá se refugiou depois de se separar da mulher. Mas o Solar era tão solar que a fossa não demorou muito, só o nome restou. Leminski ficou pouco e passou em brancas nuvens, assim como nas duas semanas em que trabalhou na antiga revista Manchete, escondido no Departamento de Pesquisa. Seu Grande Salto seria nos anos 1980, em São Paulo.