domingo, 26 de novembro de 2017

Fome zero em Benfica...

Goumetizaram a bóia...
por O.V. Pochê 

* Cardápio Cordon Bleu em Benfica, que merece mudança de grafia: BEM FICA.

* O apetite para roubar foi incomensurável, mas é preciso ser muito cara-de-pau, ou, na definição forense, "psicopata social", para querer degustar comes-e-bebes gourmets numa situação destas.

* O que mais surpreende é o apetite pantagruélico que
têm estes monstros.

* Não sei se repararam nos iogurtes Activia, aqueles que ajudam a liberar
os intestinos... Depois da merda toda que já fizeram?!

Cine Benfica: Cena do
filme A Festa de Babette. 
* Hora do lanche na residência de verão das ex-autoridades. A cena ao lado é da Festa de Babette, mas sabe-se lá do que são capazes os hóspedes vips do Benfica Plaza Plaza Athénée.

* Precisamos também saber o nome dos restaurantes colaboracionistas da Zona Sul do Rio que mandaram estes mimos para a quadrilha de Cabral...

* A pergunta que não quer calar: como as iguarias entraram no presídio? A hipótese de uma "'mula" ter levado o prato do dia em cueca extra large não foi descartada.

Rue Mouffetard.
Foto Office de  Tourisme/Paris
* Chefs pessoais dos internos em Benfica estariam planejando fazer compras para a ceia de Natal na xepá da Rue Mouffetard.

* A realeza da Arábia Saudita prendeu príncipes corruptos no
hotel cinco estrelas Ritz-Carlton, em Riad. Presos de Benfica se queixam de que o Brasil é mesmo um país pobre e brega.

* Que país, que estado!





Um amigo do blog observa que a farra de Benfica está mais para La Grande Bouffe do que para A Festa de Babette.
No filme, Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Ugo Tognazi, Philippe Noiret e Andréa Ferreol se confinam numa casa para comer até morrer.

La grande bouffle (em italiano: La grande abbuffata; no Brasil, A Comilança; em Portugal, A Grande Farra) é um filme franco-italiano de 1973, um drama dirigido por Marco Ferreri.

sábado, 25 de novembro de 2017

Caso Globo/Fifa chega ao MPF-RJ

Segundo o Blog do Perrone, Raquel Dodge, procuradora-geral da República, encaminhou para o MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro) denúncia de três partidos contra a Globo. A acusação é de pagamento de propina na compra de direitos de transmissão das Copas do Mundo de 20026 e 2030, além de jogos da Libertadores e da Copa Sul-Americana. No Rio, a procuradoria vai decidir se abre investigação sobre o caso. A emissora nega irregularidades e disse que não pode comentar o assunto por não ter sido notificada ou informada oficialmente.
LEIA NO BLOG DO PERRONE/UOL, CLIQUE AQUI

Garotinho: o Sir Laurence Olivier dos Goytacazes

por O.V.Pochê 

Sem entrar no mérito do que aconteceu ou não.

Está na hora do Brasil reconhecer o talento dramático de Anthony Garotinho. O infante de Campos dos Goytacazes acumula interpretações magistrais na sua tortuosa trajetória política dublada de uma House of Cards campista. É o Sir Laurence Olivier da política.

Charge de Latuff publicada em 2006.
Reprodução CMI Brasil
Em 2006, Garotinho fez uma greve de fome de 11 dias que, se não fosse um ato político, deveria ser uma recomendação médica. O protesto era contra a mídia que desconstruía sua imagem e perseguição política. Ele se queixava de matéria publicadas em revistas e jornais sobre acusações de irregularidades nas doações eleitorais e suposta ligação com contratos de prestação de serviços para o governo do Rio, então sob o comando da  patroa  Rosinha Matheus. Nada muito diferente do que é alvo agora. Ao fim da greve de fome, Garotinho conseguiu ser internado em hospital de cinco estrelas, foi examinado, tudo OK, estava bem, com saúde de vaca premiada. Estava tão bem que despertou suspeitas de que alguma muamba calórica havia entrado na sua cela do grevista famélico.

Em 2016, em uma das mais dramáticas sequências do telejornalismo, Garotinho foi visto gritando e esperneando em uma maca por recusar transferência de um hospital para o presídio em Bangu. A cena foi de terrir. Ele é transportado e uma maca, aparentemente calmo, talvez sob efeito de medicamentos, mas acesos os refletores subitamente se ergue e se debate até ser contido, com dificuldade, diga-se, tamanha sua energia de convalescente, por policiais e enfermeiros.

Em outra das suas prisões, já neste 2017, a PF foi buscá-lo em pleno estúdio de rádio onde o infante fazia seu programa. Garotinho foi levado aos costumes, mas a preocupação com a imagem não foi deixada de lado. Sua equipe informou no ar que o chefe parou de falar por "recomendação médica". "Nosso Garotinho até tentou, você viu, ele até tentou fazer o programa hoje, mas a voz foi embora. Orientação médica é que ele pare de falar" — disse no ar o locutor substituto. Garotinho realmente sofria de um problema de voz: "voz de prisão", foi o que a cidade inteira comentou.

Preso mais uma vez, nessa semana, Garotinho protagoniza um episódio supostamente teatral. Em plena madrugada, como em um filme de terror em Alcatraz, um sujeito invade a cela do ex-governador e dá-lhe um corretivo à base de um cacete. Garotinho diz que adormeceu e foi acordado por "um homem de 1,70m, branco, alourado, de calça jeans, sapato e blusa azul claro, com um bastão parecido com um taco de beisebol. Garotinho afirma que pode fornecer dados para um retrato falado. Não precisa. Qualquer filme americano que mostre um jogo de beisebol tem um cara com esse perfil.

Apesar de estar com um porrete esportivo, o algoz não o usou muito. Segundo a própria vítima, o invasor deu-lhe uma pisão no pé e uma pancada que teria ferido mas não avariado o joelho. As câmeras do presídio não registraram a chegada do suposto jagunço no corredor de acesso à cela de Garotinho. A polícia está apurando o caso, há suspeitas de falsa comunicação de crime, e uma autoridade levanta a hipótese de que Garotinho teve um pesadelo ou um surto de delírio.

Talvez seja necessário apurar se o ex-governador assistiu recentemente ao filme "Campo dos Sonhos". É a história, lembra?, de um fazendeiro do Iowa que ouve, em sonho, uma voz que manda construir um campo de beisebol. Ele atende à intimação do Além e constrói o campo onde recebe para jogar antigos ídolos já mortos. Alguns deles alourados, de jeans, blusa azul e taco de beisebol.

Ou, vai ver, alguma comida fez mal e Garotinho teve pesadelos. Coincidentemente, o Ministério Público do Estado do Rio encontrou no presídio de Benfica uma remessa de alimentos proibidos. E que menu: queijo francês, presunto importado. bolinhos de bacalhau, iogurte, castanhas, camarão e bebidas. Segundo o MP-RJ, iguarias desse bufê irregular foram encontradas nas celas de Sérgio Cabral, Garotinho, Rosinha Garotinho, Adriana Ancelmo e Jacob Barata.

A turnê vai ganhar novo palco, quero dizer, nova cela: Depois do episódio do taco de beisebol, a Justiça transferiu Garotinho de Benfica, onde ele se sentia ameaçado, para o complexo penitenciário de Bangu.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Na capa da Veja: o PIB da Lava Jato vai pro bolso dos advogados premiados


por Flávio Sépia

A Lava Jato, além de encurralar corruptos, gerou, digamos, um braço comercial.

Do lado da lei, algumas figuras envolvidas ganharam notoriedade e passaram a faturar algum, muito algum, em palestras promovidas por veículos jornalísticos, empresas e instituições. Produtores de filmes e editores de livros também tiraram uma casquinha nos escândalos. Jornalísticos da TV ganham em audiência sempre que as denúncias se elevam aos picos. Empresas que vendem tornozeleiras tiveram que acelerar as linhas de montagem.

Mas o que a Veja dessa semana destaca são os novos ricos turbinados pelos processos que envolvem políticos, ricos funcionários e poderosos empresários. Os advogados de acusados e delatores são os verdadeiros premiados.

Em declarações recentes, o novo chefe da Polícia Federal, Fernando Segóvia, disse que as investigações da Lava Jato acabam ano que vem, antes do início do processo eleitoral. Depois disso, levará mais algum tempo nos tribunais. De qualquer forma, quando acabar, vai deixar muita gente com saudade.

Se bem que, como diz um amigo, há suspeitas de que Brasília não descansa e de tanto atender a lobbies corporativos nacionais e internacionais já está plantando as sementes da Lava Jato do futuro.

Os filhos e netos dos atuais advogado, se seguirem as profissões dos pais, estarão com o boi na sombra...

ATUALIZAÇÃO - Veja "esquenta" capa da semana. Matéria dos advogados  vai para "janela" e versão com os residentes do presídio Benfica ganha destaque.


Deu na web: imagem de fotógrafo misterioso refletida em visor do capacete de astronauta reacende polêmica de falsa viagem à Lua...

A foto do pouso da Apollo 17: internautas identificam no...

...visor do capacete do astronauta o reflexo do autor da foto que não está usando o
escafandro indispensável no ambiente lunar. 

O homem não voltou à Lua, mas a internet não esquece a polêmica do fake flight. Nos últimos duas circula na web uma foto de um voo da Nasa, o da Apollo 17, lançada em 1972, onde os adeptos da teoria de que foi tudo encenação apontam uma imagem do autor da foto no reflexo do capacete do astronauta. O detalhe é que o fotógrafo tem cabelos compridos e não usa qualquer roupa ou escafandro especial.

No ano passado, os Estados Unidos revelaram a intenção de voltar à Lua em voos tripulados. Trump não falou mais no assunto. Os chineses também levantaram essa possibilidade mas ou deixaram o projeto de lado ou estão trabalhando em silêncio.

O homem foi à Lua na Apollo 11 há quase 50 anos, em julho de 1969. Mas até hoje há quem duvide.

Livros e filmes sobre o assunto já "provaram" que tudo foi uma farsa para cumprir a promessa de John Kennedy, feita em 1961, de que até o fim daquela década os Estados Unidos colocariam um homem no solo lunar.

As cenas que o mundo viu teriam sido feitas em um estúdio de Nevada e dirigidas por Stanley Kubrick.

Muitos indícios da suposta falsidade das imagens foram apontados: sombras irregulares, bandeira tremulando quando na lua não há vento, as fotos e vídeos não mostram estrelas no céu, pouso e  na decolagem o vídeo não mostra chamas saindo do motor do foguete e as marcas de botas parecem ter sido feitas em solo úmido e na Lua não tem água.


A foto no alto volta a esquentar uma polêmica que se non e vero, farti ridere..

VEJA VIDEO COM MAIS IMAGENS E DETALHES "SUSPEITOS" DA FOTO, CLIQUE AQUI


Há alguns anos também circulou na rede um vídeo que provaria que Stanley Kubrick fez a filmagem fake do pouso na Lua. Segundo o vídeo, Kubrick teria usado o filme O Iluminado para "confessar" que dirigiu a farsa. Em carta aberta divulgada no twitter, a filha do cineasta, Vivian Kubrick, denunciou o hoax. "Vocês não acham que ele seria a última pessoa a ajudar o governo dos Estados Unidos numa terrível traição de seu povo?!?", escreveu ela, indignada.

VEJA O VÍDEO QUE RELACIONA O FILME O ILUMINADO À POLÊMICA DO POUSO NA LUA, CLIQUE AQUI

Ator e escritor Pedro Cardoso abandona programa ao vivo da TV Brasil, apoia grevistas da EBC, critica governo Temer e agressões à atriz Taís Araújo

Convidado a falar sobre "O Livro dos Títulos", que acaba de lançar, o ator Pedro Cardoso foi ao “Sem Censura”, da TV Brasil, ontem. Mas acabou abandonando o programa ao vivo e ainda mandou um recado em apoio aos grevistas da EBC, além de criticar o presidente da estatal Laerte Rimoli.


VEJA O VIDEO, CLIQUE AQUI

Presidente da EBC de Temer e Secretário de Educação de Crivella atacam Taís Araújo. Sindicatos de Jornalistas, Radialistas e empregados da EBC divulgam nota de repúdio ao racismo

Um vídeo da atriz Taís Araújo durante palestra TEDXSão Paulo, gravado em agosto mas só divulgado agora, foi a polêmica da semana com ampla repercussão nas redes sociais. Naquela ocasião, Taís falou sobre o tema "Como criar crianças doces num país ácido” e abordou racismo e misoginia. Sobre o seu filho mais velho, de 6 anos, ela comentou:  "Quando ele se tornar adolescente, ele não vai ter a liberdade de ir para sua escola, pegar uma condução, um ônibus, com sua mochila, com seu boné, seu capuz, com seu andar adolescente, sem correr o risco de levar uma investida violenta da polícia. Ao ser confundido com um bandido. No Brasil, a cor do meu filho é a cor que faz com que as pessoas mudem de calçada, escondam suas bolsas e blindem seus carros".

Foi o que bastou para a brigada do ódio afiar suas armas.

Pelo menos duas pessoas com cargos públicos cerraram fileira ao lado dos raivosos.

O Secretário de Educação de Marcelo Crivella - um governo que dá sinais de intolerâncias variadas - rebateu com virulência a opinião da atriz.

"Nossa maior conquista — o conceito de povo brasileiro — desapareceu entre os bem-pensantes. Qualquer idiotice racial prospera. A última delas é uma linda e cheirosa atriz global dizer que as pessoas mudam de calçada quando enxergam o filho dela, que também deve ser lindo e cheiroso. Vocês replicam essa idiotice", escreveu o "secretário de Educação" de Crivella em post no Facebook.

Já o presidente da Empresa Brasil de Comunicação, Laerte Rimoli, nomeado por Michel Temer, partiu para o deboche e compartilhou em sua página publicações racistas.

Governos sérios, em qualquer país, já teriam demitido essas duas figuras.




Ontem, a Comissão de Empregados da EBC, os sindicatos dos Jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal e os sindicatos dos Radialistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal divulgaram nota em que pedem a demissão do presidente do órgão, Laerte Rimoli
 cor negra de seu filho faz “com que as pessoas mudem de calçada”.

Leia a íntegra da nota:

“Rimoli não desrespeitou só a atriz Taís Araújo, mas toda sociedade brasileira e a própria EBC
Nós, trabalhadores e trabalhadoras em greve da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), repudiamos com veemência os ataques racistas do presidente da EBC, Laerte Rimoli, à atriz Taís Araújo, sua família, toda sociedade brasileira e os princípios fundadores da Empresa Brasil de Comunicação.
As publicações racistas foram compartilhadas no perfil do presidente no Facebook, em modo público. Esse comportamento deplorável vai contra o posicionamento dos empregados e empregadas, que sempre lutaram por uma comunicação pública diversa, inclusiva, livre de preconceitos. Laerte Rimoli descumpre a própria lei que regulamenta a EBC e vai de encontro ao papel social da comunicação pública ao publicar comentários preconceituosos, contra os códigos de ética do serviço público e dos jornalistas.
Com nossas produções no rádio, na televisão e na web, nós, empregados e empregadas da EBC, lutamos diariamente contra a discriminação e o preconceito racial tão presentes na nossa sociedade. Um exemplo disso é que a EBC foi pioneira em práticas de afirmação contra a discriminação racial. Fomos a primeira TV aberta a exibir telenovelas com elenco majoritariamente negro, tivemos o primeiro correspondente fixo no continente africano e fomos a primeira televisão a exibir um desenho infantil com personagens negros. Assim, não aceitamos tal postura e exigimos respostas institucionais a esse desrespeito, incluindo ação imediata do Ministério Público Federal.
A atual gestão da EBC chegou junto à Medida Provisória 744, que entre outras providências extinguiu o Conselho Curador, um importante órgão que garantia a participação da sociedade na construção editorial da Empresa, colocando em xeque o compromisso com a diversidade que é natural da comunicação pública. O racismo, escancarado pelas piadas compartilhadas pelo atual diretor-presidente, hoje se reflete também dentro da EBC: contam-se nos dedos os funcionários que, atualmente, lideram equipes, têm funções de confiança ou estão em posição de destaque, como a reportagem em vídeo e a apresentação de programas. Em uma empresa onde a diversidade de gênero, raça e orientação sexual deveria ser prioridade, repete-se o triste estigma social e estético, que coloca as mulheres negras ocupando posições desfavoráveis ao seu protagonismo, prejudicando a imagem de representatividade que deveria chegar a cada cidadão e cidadã – os primeiros e mais importantes focos da comunicação pública.
A EBC pertence à sociedade brasileira, composta em sua maioria por negros e negras. Assim, não nos calaremos frente a mais esse retrocesso na defesa da comunicação pública do país. Por esses motivos, exigimos a imediata exoneração de Laerte Rimoli e a substituição dele levando em conta nomes indicados em lista tríplice pelo conjunto de empregados da EBC.
Racistas não passarão!

Comissão de Empregados da EBC

Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal

Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal”

Crivella diz que Garotinho é "honesto". "Fez bobagem", perdoa o bispo-prefeito

Com o ex-governador Garotinho puxando cadeia mais uma vez, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) resolveu defender o irmão de fé. Disse ele que Garotinho é "honesto", "cometeu uma bobagem".  No mesmo dia,  o prefeito foi acusado por Edimar Moreira Dantas, um dos delatores do esquema criminoso Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), de receber propina de R$ 450 mil, em pacotinhos de grana viva. Mas não foi a primeira vez que Crivella teve seu nome envolvidos em "bobagens" pecuniárias. Em 2016, o religioso foi citado na delação premiada de Renato Duque como beneficiário de Caixa 2. Outra "bobagem": Em proposta de delação ao ministério Público, Eike Batista informou que deu R$ 1 milhão ao bispo em 2012 para que desistisse da candidatura a prefeito. Batista teria atendido, segundo o delator, a um pedido de Sergio Cabral para facilitar a reeleição de Eduardo Paes. Naquele eleição, Crivella desistiu e Paes foi o vencedor após disputar o segundo turno com Marcelo Freixo. Quanta "bobagem"!

Merenda na cueca do PMDB

 Condenado por falsificação de documentos e dispensa de licitação, o deputado Celso Jacob (PMDB-RJ) cumpre pena em regime semiaberto na Papuda, em Brasília. Há poucos dias, ao voltar para a cadeia, foi flagrado levando dois pacotes de biscoito e um de queijo provolone escondidos na cueca. O fato foi divulgado na mídia, mas faltou esclarecer:
1- A cueca do deputado estava com prazo de validade higiênico válido?
2- Se o deputado adquiriu a merenda em supermercado, botou a muama no cuecão antes ou depois de passar pelo caixa?

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Crise: revista Contigo deixa de ser semanal. Edição impressa passa a ser mensal

Uma das capas dos
anos 2000: polêmica
e recorde
de circulação
A crise avança. Segundo o site Portal da Imprensa acaba de anunciar, a revista Contigo deixa de ser semanal e passa a ter periodicidade mensal a partir desse mês, que marca o 54° aniversário da revista.

A Contigo acumulou recordes de circulação nos anos 2000 mas, com a crise econômica e os abalos sofridos pelo meio impresso, já dava sinais de esgotamento.

Em 2015, a Abril vendeu o título para a Editora Caras levando a Contigo a perder ainda mais relevância no mercado. 

Com o fim das edições impressas, entre outras, da Quem, Istoé Gente, agora, Contigo etc, a Caras resiste como a única revista de celebridades a manter edição impressa. 


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sempre teremos Casablanca

Lançada há 75 anos, a love story de Bogart & Bergman
Persiste como um dos maiores sucessos cult do cinema 


A sequência final de Casablanca foi filmada em um galpão da Warner, em Burbank, Califórnia 
Por Roberto Muggiati


A história de amor do século entre Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Berman) pode ser resumida num tweet: “Paris: invasão alemã separa amantes. Ela casa com herói da Resistência. Casablanca: mocinho faz amada fugir com marido por um mundo melhor.”

O filme era para ser mais uma produção rotineira da Warner. Baseou-se numa peça de teatro não encenada, Everybody Meets at Rick’s. O texto passou por muitas mãos e modificações. Casablanca foi rodado em apenas 71 dias, de 25 de maio a 3 de agosto de 1942, num galpão de Hollywood, sem nenhum ar de Paris ou do Marrocos. As filmagens começaram com apenas metade do roteiro pronta. Logo depois, as falas e marcações eram escritas às pressas por Howard Koch e pelos irmãos gêmeos Jules e Philip Epstein na véspera da filmagem. Ingrid Bergman não sabia quem devia amar: Rick ou Laszlo? Há quem defenda que toda essa confusão foi uma das causas principais do sucesso de Casablanca.

O filme é o campeão das frases de efeito, de humor cortante, um tipo de cinismo gerado pelo pathos da guerra. Nas conversas entre o capitão Renault e Rick, por exemplo: “Que diabos o trouxeram a Casablanca?/Minha saúde. Vim por causa das águas./Águas, que águas? Estamos no deserto!/Fui mal informado.” Uma mulher pergunta a Renault que tipo de homem é Rick: “Rick é o tipo de homem que... se eu fosse uma mulher, e eu não estivesse disponível, eu me apaixonaria por Rick.” E o fecho do filme, quando os dois, acumpliciados na vitória do Bem, se afastam em meio à neblina: “Isto poderia ser o início de uma bela amizade.”

O choque de Rick ao reencontrar Ilsa no seu café: “De todas as biroscas em todas as cidades do mundo, ela tem de entrar logo na minha!” Evocando a invasão de Paris: “Lembro cada detalhe: os nazistas vestiam cinza, você azul.” Convencendo-a do acerto do seu sacrifício: “Ilsa, não sou bom em matéria de nobreza, mas não é muito difícil perceber que os problemas de três pessoinhas não valem coisa alguma neste mundo maluco.” E quando Ilsa, perplexa, pergunta: “E nós?” Rick consola: “Sempre teremos Paris.”

O piano de Sam, do Rick's Café, foi...

...leiloado em 2014. 

O toque musical é perfeito: As Time Goes By, composto em 1931 por Herman Hupfeld, pianista de uma taverna suburbana de New Jersey. A letra sublinha os sentimentos do filme: “É a mesma velha história/A luta por amor e glória/Um caso de vida e morte./O mundo acolherá os amantes/Enquanto o tempo passa...” As Time Goes By sublinha o amor de Rick e Ilsa em Paris e seu reencontro em Casablanca. O piano de Sam em Casablanca foi leiloado em 2014 por 3,4 milhões de dólares na Bonhams de Nova York.

O elenco era uma verdadeira “legião estrangeira”: a sueca Ingrid Bergman; os ingleses Claude Rains e Sidney Greenstreet; os austríacos Paul Henreid (nascido na Trieste do Império Austro-Húngaro) e Peter Lorre (celebrizou-se como O Vampiro de Düsseldorf); o alemão Conrad Veidt (atuou em O gabinete do Dr. Caligari), que fugiu dos nazistas, mas Hollywood engessou em papeis de oficiais nazistas, como em Casablanca. E tem, é claro, o diretor Michael Curtiz, húngaro que se mudou para Hollywood ainda no cinema mudo. Durão, foi temido e odiado por todo o elenco, exceto por Ingrid, que Curtiz tratava como uma duquesa.

Bogart era cinco centímetros mais baixo do que Ingrid, o que o obrigou a pisar sobre blocos de madeira e sentar em almofadas altas para compensar a diferença. O filme todo foi rodado num galpão da Warner em Burbank. A cena final usou um avião de compensado em miniatura, imitando um Loockheed Electra Junior, preparado para o voo por extras anões, para manter a proporção. A produção exagerou no nevoeiro – criou um improvável fog londrino no Marrocos – a fim de disfarçar a bizarra montagem. E a capa de chuva emblemática de Bogie – façam-me um favor, em pleno deserto do Saara? Todos esses absurdos funcionaram às mil maravilhas, Havia finais alternativos A e B, até os atores principais só ficavam sabendo qual deles seria usado poucos dias antes da filmagem. Tentativas de corrigir as cenas finais se tornaram impossíveis depois que Ingrid Bergman cortou os cabelos bem curtos, para interpretar Maria em Por quem os sinos dobram? A filmagem de Casablanca foi uma comédia de erros em que tudo se encaixou à perfeição para criar uma obra-prima.

A estreia em Nova York em 26 de novembro de 1942 garantiu que o filme concorresse aos Oscars do ano. Com oito indicações, ganhou os prêmios de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro.  Comunicólogos e semiólogos tentaram decifrar o Efeito Casablanca nas últimas décadas. Num livro de 402 páginas 1992, Round Up The Usual Suspects/The Making of Casablanca – Bogart, Bergman and World War Two II, Aljean Hametz revela todos os bastidores das filmagens. (O título evoca um dos chavões da hipócrita polícia francesa toda vez que havia uma agressão contra os alemães:

“Detenham os suspeitos de sempre.” Na verdade, nunca houve tropas nazistas uniformizadas em Casablanca em toda a Segunda Guerra, o que é talvez o maior disparate, dentre os inúmeros da história.) Até um livro de receitas de comes e bebes foi publicado, The Casablanca Cookbook.
Esta ano saiu o livro de Noah Isenberg, We’ll Always Have Casablanca, que analisa o impacto e a longevidade do filme. Umberto Eco sempre achou o Casablanca medíocre, uma história em quadrinhos, uma colcha de retalhos, com baixa credibilidade psicológica e descontínuo em seus efeitos dramáticos.” Mas Eco admite também: “Casablanca não é apenas um filme. É muitos filmes, uma antologia. Quando todos os arquétipos explodem desavergonhadamente, atingimos profundezas homéricas. Dois clichês nos fazem rir. Uma centena de clichês nos comove, pois sentimos que os clichês estão conversando entre si e celebrando uma reunião.”

Intelectualismos à parte, Casablanca é um filme que fala basicamente à emoção. Cultuado por sucessivas gerações ao longo de 75 anos, deverá continuar, por muito tempo, contando “a mesma velha história da luta por amor e glória.” Por tudo isso, depois de três quartos de séculos, se tornou também imune a remakes e continuações — um milagre impossível de se repetir.

  Remakes, sequels & prequels  

Rick e Ilsa deixam o heroico Victor Laszlo a ver aviões e têm o seu happy end. Casam, dão sua contribuição ao baby boom e se tornam mais uma família afluente na Subúrbia da Sociedade de Consumo. Ou então, numa virada de enredo digna do nosso tempo, Rick e o capitão Renault se aprofundam (literalmente) na sua “bela amizade” e saem pelo mundo afora em busca de destinos gay-friendly. Laszlo larga a política e se torna gerente de uma rede de hotéis, vivendo pra lá de Marrakech num harém de dançarinas do ventre. Dooley Wilson — que canta As Time Goes By no filme — faz sucesso com um clube de jazz na rive gauche de Paris, o Sam’s Café Américain.

São variantes de possíveis continuações de Casablanca que, felizmente nunca foram filmadas.

Existe ainda, só para um clube fechado de jornalistas cariocas, a bem humorada adulteração do final do filme feita por João Luiz de Albuquerque, com Rick e Ilsa juntos num beijo de happy end. Esta versão politicamente incorreta é precedida por um jornal do Canal 100 que mostra o Brasil campeão da Copa de 50 no Maracanã.

Não é de hoje que Hollywood tenta repetir o que deu certo — e nem sempre se dá bem. O romance O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, publicado em 1925, já no ano seguinte ganhava uma versão no cinema ainda mudo, da qual só restaram poucos minutos – críticos pedantes dizem que é a melhor de todas. Refilmado em p&b em 1949 (com Alan Ladd), Gatsby conquistaria as plateias na versão com Robert Redford e Mia Farrow, roteirizada por Coppola – uma visão anos 70 dos anos 20. E tem ainda a versão de Baz Luhrmann em 2013 com Leonardo DiCaprio. Para mim, que traduzi a versão recuperada de O Grande Gatsby – apesar de incluir música eletrônica, hip-hop e rock numa trilha anacrônica – é de todas a mais fiel ao texto de Fitzgerald. No drama marítimo O grande motim, a versão de 1935 (com Clark Gable e Charles Laughton) ganha longe das de 1962 (Marlon Brando e Trevor Howard) e 1984 (Mel Gibson e Anthony Hopkins). Há remakes que jamais deveriam ter sido feitos: o de O fio da navalha (1946, com Tyrone Power), refilmado em 1984 com Bill Murray; e A carga da brigada ligeira (1936, dirigido por Michael Curtiz, de Casablanca, com Erroll Flynn), refeito em 1968 com David Hemmings. O personagem mais vezes levado à tela é Sherlock Holmes, interpretado por vários atores desde a primeira versão, em 1922, com John Barrymore. O detetive Charlie Chan, que também estreou no cinema mudo, aparece em dezenas de filmes. Ironicamente, seus maiores intérpretes foram falsos chineses: o sueco Warner Oland e o americano (de origem escocesa) Sidney Toler. O exemplo mais bem sucedido de sequels foi a saga O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972, 74, 90). Detalhe precioso: o bebê de Al Pacino batizado no final do Chefão 1 é a filha recém-nascida de Francis Coppolla, Sofia, que atua como ninfeta no Chefão 3, já com 18 anos, e se tornaria expressiva cineasta depois. O charme macabro de Norman Bates gerou as sequências Psicose II e Psicose III e a prequel Psicose IV – O início, todas estreladas por Anthony Perkins, que dirigiu Psicose III. Desperdício total foi Gus Van Sant copiar em cores, em 1998, quadro por quadro, o Psicose original de Hitchcock, de 1960. Já Alfred Hitchcock e a filmagem de Psicose, com Scarlett Johansson fazendo a bela do chuveiro e Anthony Hopkins (não Perkins!) como o Mestre do Suspense, mostra a grande cartada do velho Hitch ao bancar sozinho, com dinheiro do bolso, a filmagem de um dos maiores sucessos de bilheteria, rejeitado por todas as grandes produtoras. Hopkins, a propósito, brilhou nas sequels de O silêncio dos inocentes — Hannibal e O Dragão Vermelho — mas não aparece na prequel, Hannibal – A Origem do Mal.

Existe coisa pior no cinema do que remakes, sequels e prequels? Existe, sim. Até um musical inexpressivo fizeram de Casablanca em 2002. Mas vamos torcer para que a história de amor de Rick e Ilsa continue fechada eternamente entre as quatro paredes do encantado café marroquino.                                                                                                             

A primeira Casablanca 
a gente nunca esquece!

Quem viu Casablanca, certamente viu o filme várias vezes. E lembra até hoje quando o viu pela primeira vez. Minha primeira sessão de Casablanca teve a ver, de certo modo, com a guerra.

Eu fazia o serviço militar no CPOR de Curitiba no verão de 1957. Numa sexta-feira programou-se uma marcha noturna de 30 quilômetros com mochila equipada de 36 quilos no lombo.

Uma verdadeira tortura.

Valendo-me de uma unha encravada, provocada por aqueles elegantes sapatos pretos de bico fino, consegui dispensa médica.

Cine Luz, Curitiba
Resolvi pegar a sessão das oito no Cine Luz, no centro da cidade. Quando ia saindo de casa às sete e meia, no alto da Alameda Carlos de Carvalho – o céu ainda claro no verão curitibano – ouço aquele tropel cadenciado subindo a rua. Era a marcha dos meus colegas da arma de Engenharia, a caminho das ladeiras do Bigorrilho e dos descampados da Campina do Siqueira e do Parque Barigui. Me escondi por trás da sebe de hortênsias que cercava o muro da casa dos meus pais. Passado o perigo, peguei o ônibus rumo ao centro.

Não devia ser a primeira vez que passava Casablanca em Curitiba; apenas 14 anos nos separavam do lançamento do filme – e da Segunda Guerra. O prazer estético de ver pela primeira vez Casablanca – a maior história de amor em tempo de guerra – foi intensificado mil vezes pelo senso do interdito e da transgressão de ter escapado ao castigo da marcha forçada.

Filme sobre a fotógrafa de guerra e musa do surrealismo Lee Miller terá Kate Winslet como protagonista

por Ed Sá 

Com início de filmagens previsto para 2018, a atriz Kate Winslet interpretará a americana Lee Miller, uma personalidade que começou a dominar a cena na segunda metade do anos 20. O filme será baseado na biografia The Lives of Lee Miller, que foi modelo, designer e fotógrafa de guerra


Lee Miller fotografada por George Hoyningen em 1932
/Reprodução Pinterest

Em 1926, com 19 anos, Miller atravessava a rua distraída quando foi puxada pelo braço e salva de um atropelamento. O seu anjo da guarda? Condé Nast, o poderoso proprietário do grupo de mídia fundado no começo do século, onde se destacava a Vogue. A quase vítima impressionou o editor e foi convidada a posar para ilustrações da revista. Em menos de dois anos, Lee Millier tornou-se uma modelo requisitada, o que não a impediu de largar tudo em seguida e se mandar para Paris onde procurou o fotógrafo e pintor Man Ray oferecendo-se para ser sua aluna. Foi aceita e, em pouco tempo, de estagiária virou amante do fotógrafo e musa dos surrealistas. Nos estúdios de Ray desenvolveu sua técnica e estilo.

Anos depois, ela estava em Londres quando a Luftwaffe despejava bombas sobre a cidade. Lee Miller deixava os abrigos para fotografar a devastação provocada pelas incursões alemãs. Foi sua estreia como fotojornalista.
Inglesas em abrigo antibombas, Londres, 1941. Foto Miller/Lee Miller Archives
Ali, a ex-modelo e socialite decidiu obter uma credencial de correspondente de guerra. Normandia, o avanço das tropas aliadas, a libertação de Paris, o desmantelamento dos campos de concentração, a caça aos colaboracionistas se refletiram nas suas lentes..

Paris, 1945. Foto de  Lee Miller/ Lee Miller Archives

Curiosamente, Miller não gostava de testemunhar a violência da guerra, daí buscar cenas de vida em meio à morte, o que, obviamente, nem sempre era possível. Suas lentes registraram imagens dramáticas de fuzilamentos e suicídios, além das cenas terríveis do campos de concentração libertados pelos exércitos americano e soviéticos,.

Lee Miller na banheira de Hitler em Munique Foto de Dave Scherman/Lee Miller Archives/Divulgação

A dureza da guerra não dizimou sua irreverência e muito menos o humor negro, aquela receita do cômico com o  absurdo elaborada pelo surrealistas André Breton na sua "Anthologie de l’humour noir" apropriadamente lançada no começo do conflito, em 1940. Ao chegar em Munique, pouco antes da queda de Berlim, Lee Miller entrou na casa em que Hitler havia morado e posou para o fotógrafo Dave Scherman, da Life.

A foto, com requintes de produção de moda, mostra a musa nua no cubículo
mais íntimo do führer.

Nada mais simbólico para traduzir a vitória aliada sobre um ângulo surreal.

Lee Miller morreu em 1977, com 70 anos de idade. Ela deixou milhares de fotos. Parte desse material está no site
http://www.leemiller.co.uk/app/WebObjects/LeeMillerShop.woa/wo/32.0.7.3.21.1.0.3.4.1.1


Cinema redescobre 
as correspondentes de guerra

Além do filme sobre Lee Miller, duas outras produções abordarão o trabalho de mulheres que enfrentaram os perigos das zonas de guerra como jornalistas e fotojornalistas. A atriz Rosamund Pike viverá a repórter Marie Colvin, que morreu durante a guerra civil da Síria, vítima da artilharia. Investigações apontaram que a jornalista foi deliberadamente alvejada. E Carey Mulligan será Kate Webb, que foi prisioneira durante a Guerra do Vietnã.


Em torno do mesmo tema, duas produções marcaram época no cinema. "10 dias que abalaram o mundo", a saga de John Reed, o jornalista que cobriu a Revolução de 1917 e morreu em Moscou, em 1920 (o filme foi reprisado recentemente, por ocasião dos 100 anos da Revolução) e "Gandhi", onde Candice Bergen (na foto contracenando com o ator Ben Kingsley) tem papel de destaque.

Life número 1: capa de Margaret Bourke-White. 

E a célebre foto da fila da sopa assinada também Margaret Bourke-White.
Reprodução/Citizen Grave

Candice Bergen revive no filme Margaret Bourke-White, a famosa fotógrafa da Life que fez a capa número 1 da revista. Sua foto da fila da sopa dos pobres esmagada por um cartaz de propaganda mostra como a fotografia é capaz de fazer comentário social - e fortíssima nisso.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

"História do Brasil em 100 fotografias" - Quando a imagem pode ajudar a entender esse país desfocado...

"História do Brasil em 100 fotografias" (Editora Bazar do Tempo),  organizado por Ana Cecilia Impellizieri e Luciano Figueiredo, resume em imagens os acontecimentos que moldaram o país. 
O livro cobre cerca de 180 anos de história até 2016. Cada imagem é situada no contexto e no tempo. Um breve currículo apresenta os autores das fotos. Vendo as figuras, quem sabe, os brasileiros passem a entender porque e como se meteram nessa encrenca...

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Roberto Muggiati escreve: A primeira sessão de cinema

ACONTECEU HÁ QUASE 60 ANOS - Uma das primeiras projeções da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio,
no Auditório Oscar Guanabarino, da ABI, em 13 de maio de 1958. O filme exibido foi O ferroviário, de Pietro Germi.
Na primeira fila, no centro (de óculos e bigode), Dejean Magno Pellegrin, um dos maiores incentivadores do cineclubismo no Brasil. Na extrema esquerda, Mary (futura Sra. Zuenir) Ventura. Na segunda fila, Leon Hirszman, futuro cineasta. Na terceira (ao centro, de óculos), Walter Lima Jr., idem. Ainda na terceira fila, Sarah de Castro Barbosa (futura Sra. Joaquim Pedro de Andrade). Na quarta fila, o jornalista Cláudio Mello e Souza, que dirigiu a Fatos & Fotos e foi apelidado de "O Remador do Ben-Hur" por Nelson Rodrigues. Também nessa fila, os futuros cineastas Carlos Diegues e David Neves. Na sexta fila, Tereza Aragão (futura Sra. Ferreira Gullar).
Foto de Robert Léon Chauvière * Arquivo Pessoal de Djean Magno Pellegrin


Por Roberto Muggiati

Sou de uma geração perdida – não aquela do Hemingway – mas perdida de amor pelo cinema, uma geração com o coração de celuloide. Desde o primeiro filme, embaçado nas névoas da memória – O mágico de Oz, primeiro filme também de Salman Rushdie, que escreveu um livro a respeito – desde aquela primeira viagem fantástica com Judy Garland não me afastei mais do escurinho do cinema.

Ainda de calças curtas, escambava gibis na calçada do Cine Broadway, em Curitiba, antes de encarar a matinê de domingo, que começava às duas e ia até o fim da tarde, com direito a trailers, cinejornais, filme de abertura, filme principal e os seriados tipo Flash Gordon (“Continua na próxima semana...”)

Dejean Magno Pellegrin
Como cinéfilo, ganhei um upgrade no meu ano e meio de Paris, de fins de 1960 a começo de 1962: via dois filmes por dia, um deles inevitavelmente na Cinémathèque. Foi também lá que conheci Dejean Magno Pellegrin, que se tornaria meu personal de cinema (na época não se usava essa expressão, nem guru). Um dia ainda vou fazer um perfil mais aprofundado com o título Dejean: Le Chevalier Galant du Septième Art.

Nos primeiros meses de Paris, morei na Cité Universitaire, na Maison du Brésil: uma máquina de morar tramada em 1957 por Lúcio Costa e Le Corbusier. Era acolhedora, cada quarto com calefação e seu chuveiro próprio – uma dádiva em Paris – mas a gente pagava um preço por aquele conforto. A Cidade Universitária ficava quase fora de Paris, confinava com o Boulevard Périphérique, isso diz tudo: pertencia à periferia. E a Casa do Brasil era um gueto tupiniquim, com feijoada e rodas de violão aos sábados.

Em fevereiro de 1961, com uma primavera precoce, temperatura de vinte graus e alguns afoitos nadando nas águas do Sena, eu já estava instalado num hotelzinho barato, mas admiravelmente bem situado, no coração de Paris, na Place Dauphine, vizinho do casal Yves Montand-Simone Signoret.

Conheci Dejean ainda na Cité Universitaire, num bistrô das redondezas frequentado por cineastas e cinéfilos brasileiros. Joaquim Pedro morava lá, estudava no IDHEC (Institut de Hautes Études Cinematographiques), ficamos amigos. No fim do ano foi um festival, vieram de Roma Paulo César Sarraceni e Gustavo Dahl, que estudavam cinema em Roma, tinham um colega italiano chamado Bernardo Bertolucci. Déjean morava perto, dividia um apartamento com o pianista Artur Moreira Lima em Montrouge.

Le Champo ou Le Champollion, em Paris.
Hoje é o Espace Jacques Tati

Minha mudança de endereço para a Place Dauphine, na Île de la Cité, não rompeu meu contato com Dejean. Bolsista do governo francês, eu só tinha aulas à noite, no Centre de Formation des Journalistes. Uma de nossas ocupações era caçar filmes de Ingmar Berman por toda a cidade. Dejean aparecia com a revistinha La Semaine de Paris debaixo do braço: “Está passando Törst num cinema de bairro perto da Mairie du 9ème, cara, vamos nessa.”

E lá íamos nós, fazendo três ou quatro “correspondances” (trocas de trem) no metrô de Paris. Törst, de 1949, era Sede em português, no Brasil se chamaria Sede de Paixões. Na França tinha o título poético de La Fontaine d’Arethuse, alusão a um recanto da Sicília mencionado no filme, que trata basicamente da DR de um casal numa viagem de trem da Itália à Suécia, atravessando a Alemanha devastada pela guerra. A evocação da ninfa Aretusa seria a metáfora da impossibilidade do amor.

O filme, embora um Bergman menor, me tocou fundo e levou a visitar a Fonte de Aretusa, em Siracusa, no meu Grand Tour daquele verão. E a revisitar Siracusa em 1999, 38 anos depois.

Havia muito Bergman a descobrir. Antes de Morangos silvestres, de 1957, ele tinha rodado dezessete longas. Fazíamos também concursos para ver quem lembrava mais títulos originais: Det regnar på vår kärle (Chove sobre nosso amor), Kvinnors väntan (Quando as mulheres esperam) En lektion i kärlek (Uma lição de amor) Sommarnattens leende (Sorrisos de uma noite de amor), o quebra-línguas Smultronstället (Morangos silvestres), Ansiktet (O rosto) e o belíssimo Gycklarnas afton (Noites de circo), que teve traduções inspiradas em francês (La Nuit des Forains/A noite dos circenses) e inglês (Sawdust and Tinsel/Serragem e purpurina). Eu levaria a mania pela vida afora: um dos títulos mais geniais para mim é o de Gritos e sussurros (1972): Viskningar och Rop. Claro, os franceses, inventores e cultores da sacrossanta Sétima Arte, projetavam estes filmes em v.o. – versão original – o áudio em sueco, com legendas. Assim, pela persistência das falas, sempre aprendíamos alguma coisa: Jag älskar dig (Eu te amo); ingen tingen (nada).



Outro cineasta que me arrebatou na época foi Michelangelo Antonioni, com L’Avventura, de 1960. Eu ignorava que ele tinha feito anteriormente dezessete filmes, começando em 1943. Dejean me apresentou a La Signora senza camelie/A dama sem camélias (1953), Le Amiche/As amigas (1955), baseado numa história de Cesare Pavese, e Il Grido/O grito (1957), já inserido no hábito italiano de usar atores americanos, nesse caso Steve Cochran (atuou em Copacabana com Groucho Marx e Carmen Miranda) e Betsy Blair (ex-Sra. Gene Kelly). Talvez eu tenha levado o título no meu inconsciente para o do meu livro Rock: o grito e o mito (1973).

Estranha coincidência naquela nossa escolha de colecionar Bergmans e Antonionis. Os dois diretores morreram com horas de diferença em 30 de julho de 2007: Bergman no começo da manhã, aos 89; Antonioni poucas horas depois, aos 95. Ambos com uma obra sólida: Antonioni com sua Trilogia da Incomunicabilidade (A aventura, A noite, O eclipse), de 1960-62; Bergman com sua Trilogia do Silêncio (Através de um espelho, Luz de inverno, O silêncio), de 1961-62. Escrevendo sobre as analogias na obra de ambos e a sincronicidade de sua morte, um crítico definiu sua obra como “um retrato da alienação do homem moderno num universo sem Deus.”

Em Paris, Dejean trabalhava na Radiodiffusion Télévision Française, fazendo programas em português para o Brasil. Amigo generoso, me encaminhou para uns frilas na RTF, mas não me dei bem na estreia e não me chamaram mais. Eu mal podia imaginar que no ano seguinte, 1962, seria contratado para trabalhar durante três anos no Serviço Brasileiro da BBC de Londres. Uma experiência inesquecível: cheguei numa Inglaterra ainda vitoriana, saí de lá com a Swinging London a todo vapor. Pertencíamos ao que eu chamo de A Legião Estrangeira do Rádio. Tive colegas que trabalharam em The Voice of America em Washington e na BBC de Londres: o saudoso Telmo Martino e José Guilherme Correa.

Quando fui conhecer Estocolmo no verão, Dejean me encaminhou ao carioca Jack Soifer, que trabalhava na Rádio Suécia e foi para mim um cicerone generoso e hospitaleiro. Havia ainda a Rádio Canadá (nosso chefe de reportagem da Manchete, João Resende, quase foi parar lá) e a Deutsche Welle, em Colônia, para os mais afoitos que conheciam o alemão, em geral descendentes. Mas Dejean parece que levou a coisa da Legião Estrangeira a sério, inspirado também naqueles filmes épicos da antiga como Beau Geste, Lanceiros da Índia e As quatro penas brancas. (Quando você é cinéfilo de verdade, a ficção das telas muitas vezes comanda suas escolhas no mundo real.) Ele foi trabalhar no Serviço Brasileiro da Rádio do Cairo, onde se tornaria parceiro de transmissão do gaúcho Francisco Bittencourt, crítico de arte que se tornaria meu amigo em 1970. Imaginem só o que é viver na cidade do Cairo no final dos anos 1960, na república presidida por Gamal Abdel Nasser, que destronou o Rei Faruk. (Bem humorado, Faruk comentou: “Em breve só haverá quatro reis: o Rei da Inglaterra e os quatro reis do baralho…”)

Um corte rápido, coisa de cinema. Em 1969, Dejean está morando em Moscou como oficial de chancelaria na Embaixada do Brasil. Na época, uma das grandes salas moscovitas exibia em noite de gala 2001: Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick. Ao final da sessão, os russos na plateia vaiaram o filme, que acharam recheado de mensagens religiosas, principalmente no destaque dado ao misterioso monólito negro. Irritado, Dejean fez um tremendo discurso em inglês, arrasando com os comunistas: “Vocês são uns ignorantes, não entenderam porra nenhuma!”

Foi em Moscou que Dejean conheceu sua primeira e única mulher, Michèlle, uma francesa que trabalhava na Embaixada da França. Tiveram uma filha, cujo nome Dejean tirou – é claro – de um filme, On a Clear Day You Can See Forever/Num dia claro de verão (1970), de Vincente Minnelli: Melinda, a protagonista interpretada por Barbra Streisand. Belo nome. Woody Allen o escolheu para um filme genial de 2004, Melinda e Melinda. Pura coincidência.

Cassado pela ditadura militar, Dejean teria seus direitos parcialmente reintegrados em 1990, mas a família ainda hoje continua lutando por seus direitos. Demitido, Dejean seguiu com Michèlle para uma segunda temporada na Rádio do Cairo.

Humano, muito humano, Dejean era uma contradição ambulante. Esquerdista ferrenho, adorava o cinema americano acima de todas as coisas.  E sua cultura era assombrosa. Há uns dez anos, propus a uma destas “casas do saber” cariocas um curso de quatro palestras sobre O filme noir e os Caminhos do cinema. Convidei Dejean para ser meu parceiro. Eu achava que sabia tudo de noir, mas ele me veio com uma peça rara: um filme de 1952, The Thief/O espião invisível, com Ray Milland, só de música e ruídos, sem nenhuma fala.

De volta ao Brasil, Dejean coordenou um festival de cinema que teve como convidada especial a musa da nouvelle vague Bernadette Lafont. Uma paixonite o levou a morar de novo em Paris, mas o timing conspirou contra ele: Bernadette na época ficou terrivelmente abalada com o desaparecimento da filha caçula, Pauline Lafont, 25 anos também atriz, que percorria sozinha trilhas do sul da França. Caiu de um penhasco e seu corpo só foi encontrado vinte dias depois. Dejean se deixou ficar por alguns tempos na Rue des Entrepreneurs, na Paris que tanto amávamos. Nos últimos anos nos víamos esporadicamente, seu endereço dificultava bastante os encontros:

Dejean morava num belo condomínio na Floresta da Tijuca, dez minutos de táxi além do Museu do Açude. Fui lá uma vez só, a vista era realmente magnífica, do alto das montanhas da Mata Atlântica num dia claro você podia ver o mar da Barra da Tijuca. As paredes do apartamento eram forradas pelos doze mil filmes de Dejean – e a coleção não parava de se avolumar, com as doações dos companheiros que já iam partindo. Antes, almoçamos no Bar da Pracinha, diante da entrada da Floresta da Tijuca, dividimos um belo filé à francesa (évidemment) com chope, discutindo apaixonadamente, como sempre, nosso assunto predileto.


A última vez que vi Dejean foi na ABI, no centro do Rio, em setembro de 2010, na cerimônia de descerramento da foto famosa que abre esta matéria, seguida da projeção do mesmo Il Ferroviere, de Pietro Germi, exibido na sessão histórica de 1958 – sutileza típica do Dejean. O amigo cinéfilo morreu do coração um ano e meio depois, aos 81, e sua cremação, no Cemitério do Caju, foi a única a que compareci até hoje.

No dia seguinte, um domingo, um incêndio destruíu totalmente o Cine Teatro Ouro Verde, um dos templos da minha adolescência cinéfila. Vi naquilo não uma mera coincidência, mas uma imolação do destino à altura do querido Dejean.


Executivo da Televisa citado no escândalo das propinas da Fifa é assassinado no México. Há poucos dias, outro empresário denunciado no mesmo esquema morreu na Argentina...


Em menos de uma semana, morreram dois executivos envolvidos no escândalo de propinas da Fifa em pagamento de compras suspeitas dos direitos de transmissão de Copas do Mundo. 

Ambos foram citados na delação de Alejandro Burzaco à Justiça dos Estados Unidos durante o julgamento do ex-presidente da CBF (e ex-governador de São Paulo nomeado pela ditadura militar), José Maria Marin. 

Na Argentina, Jorge Alejandro Delhon, da empresa de marketing esportivo Torneos y Competencias, foi encontrado morto após supostamente se jogar na frente de um trem em movimento, no dia 14 desse mês, nas imediações de Buenos Aires. A polícia local ainda apura as circunstâncias. 

No México, hoje, foi assassinado a tiros Adolfo Lagos Espinosa, vice-presidente de telecomunicações da Televisa, a rede mexicana apontada pelo delator Burzaco, ao lado da Fox Sports e da Globo (as três empresas de mídia acusadas negam participação em qualquer negociação irregular), como envolvida no pagamento de propinas a dirigentes esportivos. As primeiras informações da imprensa mexicana falam em assalto. Espinosa teria sido abordado por homens armados que supostamente queriam levar sua bicicleta. A polícia mexicana investiga o crime. 

Perdeu o apetite?




Das últimas quatro capas da Veja, apenas uma foi dedicada à política e, mesmo assim, para uma matéria mais analítica do que de apuração: o ainda improvável embate entre Bolsonaro e Lula nas eleições de 2018.

Escândalos não faltam, mas aparentemente, nessa editoria, a revista fez uma pausa para discutir a relação.

Luciano Huck, a nova aposta, Geddel e as novas revelações, o caso Fifa/Marin e a Globo,  Picciani... não fizeram a revista piscar.

Se não secaram, as fontes de "vazamentos" parecem que entraram em fase de estiagem.

O último ritual: morre Charles Manson, o guru que mandou matar a atriz Sharon Tate...


Suástica na testa. l.A.
Há poucas horas, Debra Tate, irmã da atriz Sharon Tate, recebeu uma ligação do Departamento de Correção e Reabilitação de da Califórnia. Era um funcionário da prisão avisando da morte de Charles Manson, aos 83 anos, de causas naturais.

O telefonema fechou um ciclo que começou nos dias 9 e 10 de agosto de 1969, quando Manson e seguidores da sua seita assassinaram nove pessoas, aleatoriamente, em bairros ricos de Los Angeles. Entre as vítimas estava a atriz Sharon Tate, 26 anos, casada com o diretor Roman Polanski, de quem esperava o primeiro filho.

A caminho do julgamento. Reprodução Instagram
No final da década de 1960, Charles Manson liderava um culto apocalíptico - à Rolling Stone, ele contou que se "inspirou no Beatles" e se descreveu como uma reencarnação de Jesus Cristo, "não me importa se vocês acreditam ou não" - e seus seguidores esperavam que a onda de crimes fosse atribuída a negros e desencadeassem uma guerra racial na cidade nas grandes cidades. Desse apocalípse, ele acreditava que nasceria o "novo mundo".





A  morte de Sharon Tate ocupou a mídia mundial. Revistas conservadoras como a Life e a Manchete generalizaram a tragédia e atribuíram os crimes aos "hippies". Para Life, era o 'a face escura da vida hippie"; para a Manchete, "a fúria assassina dos hippies". O Sunday News apostou em ritual; o Globo em oferenda a Satã.

Manson foi condenado à morte em 1971. Posteriormente, quando a Califórnia aboliu a pena de morte, teve a sentença comutada para prisão perpétua.

Ele jamais se declarou arrependido.

Nos últimos anos, em foto dos arquivos policiais e em vídeos no you Tube, apareceu com uma suástica tatuada na testa.


domingo, 19 de novembro de 2017

Roberto Muggiati escreve: BRASILEIRÃO 2018 - Sai de baixo que a gralha azul vem aí!


Roberto Muggiati

Vibrei neste sábado com a classificação do Paraná Clube para voltar à Série A do Campeonato Brasileiro, depois de dez terríveis anos na Segundona, correndo por vezes o risco de cair para a terceira divisão.

O engraçado nisso tudo é que nem torcedor paranista eu era. Nascido em Curitiba e morando lá até 1960, eu torcia para o glorioso Clube Atlético Ferroviário, o time da RVPSC (não é “répondez s’il-vous plait”, mas Rede Ferroviária Paraná Santa Catarina). Aliás, vocês nem imaginam a quantidade de times ferroviários que existem ou existiram no Brasil, meu amigo paranista Ernani Buchman, presidente da Academia Paranaense de Letras, contou esta história magistralmente em seu livro Quando o Futebol Andava de Trem/Memória dos times ferroviários brasileiros (Imprensa Oficial do Paraná, 2004), listando quase uma centena de agremiações nos trilhos.

Nada melhor para explicar o que era o Ferroviário do que a analogia com os partidos políticos da época: o Atlético, o Furacão, era o PSD (centrista); o Coritiba era a UDN, de direita; foi fundado por um grupo de jovens do Clube Ginástico Teuto-Brasileiro Turnverein e por muitas décadas, arianista, só admitia jogadores brancos, daí o apelido de Coxa Branca; e o Ferroviário era o PTB, centro esquerda, o time do povão.

Fundado em 1930, o Clube Atlético Ferroviário ganhou o apelido de "Boca-Negra", nome de um grupo indígena descoberto na selva brasileira na época. Além de gloriosas conquistas esportivas, o Ferroviário inaugurou em 1947 o estádio Durival Britto e Silva, em Vila Capanema, o terceiro maior do Brasil depois de São Januário e Pacaembu, quando ainda não havia o Maracanã.

Além de torcer para o Ferroviário, calhou que no ano de 1949 – quando o Colégio Estadual do Paraná ainda não havia inaugurado seu fabuloso campus junto ao Passeio Público – eu tinha aulas de ginástica, no primeiro ano do Ginásio, no Durival Britto.


O estádio tinha uma concha acústica (demolida depois), onde vi um fabuloso show da Orquestra de Xavier Cugat, com sua coleante rumbeira e mulher Abbe Lane – a sex symbol latina está viva e mora em Brooklyn, onde nasceu há 84 anos numa família judia com o nome de Abigail Francine Lassman. Já Xavier Cugat – regendo a banda com seu cachorrinho chihuahua no bolso do summer jacket – que todo mundo julgava cubano ou mexicano, era catalão e amigo de infância de Salvador Dalí.

Ou seja, vivemos num mundo de aparências. Cugat na época era um dos grandes nomes dos musicais da Metro, o que não impediu um daqueles torcedores malucos do Ferroviário – todo time tem o seu – o Paraquedista, de atrapalhar o show na concha acústica falando um monte de baboseiras.

Foi no Durival de Britto que – aos doze anos, com meu pai, ele de terno e chapéu – vi os dois jogos curitibanos da Copa de 1950: Espanha 3x1 Estados Unidos e Suécia 2x2 Paraguai, um deles apitado pelo lendário referee brasileiro Mario Vianna. A seleção americana era um saco de gatos, formada por um bando de imigrantes – americano que se prezava na época só jogava o seu football, com aquela bola entortada, e desprezava o soccer. Pois não é que os carcamanos dos EUA, uma semana depois, eliminaram por 1x0 o English team, um dos favoritos da Copa de 50?

Também no Durival Britto eu me deliciava com os Torneios Início, um dos adoráveis cacoetes do futebol brasileiro nos anos 40/50. O leitor de hoje talvez nem tenha ouvido falar. O Torneio Início – e acontecia em quase todos os estados – era um aperitivo dos campeonatos estaduais e confrontava todos os times em partidas de 20 minutos (10 por tempo). A final era maior: 60 minutos (30 por tempo). O desempate era resolvido ou pelo número de escanteios ou por disputa de pênaltis. Enfim, um domingo inteiro de futebol, verdadeiro piquenique, e dava cada zebra...

Parti de Curitiba para o mundo em 1960 e nunca mais vi o Ferroviário jogar. Em 1970, o Ferroviário – sei lá por que – se fundiu com o Britânia e o Palestra Itália para formar o Colorado. E em 1989 – pouco depois da queda do Muro de Berlim, que não teve coisa nenhuma a ver com essa história – o Colorado fundiu com o Pinheiros, o antigo Água Verde – o “hidro-esmeraldino” no jargão dos locutores de futebol – para formar o Paraná Clube.


As camisas, vermelha do Colorado e azul do Pinheiros, foram cortadas na vertical em duas metades, o que deu uma estranha camisa de jóquei para o Paraná, talvez única no Brasil.

Em 2007 o Paraná complicou-se com a Libertadores e foi rebaixado para a série B do Brasileirão. Pastou os dez últimos anos na grama amarga da Segundona, assolado pelo espectro da queda para a terceira.

Fotos: Site Oficial Paraná Clube
Este ano, mostrou sua maior qualidade: a garra. Teve muitas trocas de técnicos, o incidente maluco com o Lisca, mas se deu bem no final com Matheus Costa, o técnico mais jovem de todas as divisões brasileiras de hoje, na flor dos seus 30 anos. Dos quatro classificados para a série A, o Internacional, apesar dos fortes investimentos e do apoio da grande  torcida, decepcionou. O América mineiro mostrou força e coesão e passou à frente. O Ceará também fez valer sua energia. E o Paraná, mais do que com valores individuais, conquistou o seu lugar graças ao espírito de grupo e ao amor à camisa, acima de tudo. Vai precisar de um bom investimento para encarar a elite em 2018. Mas o principal, a garra, está garantido. Se cuidem que a gralha azul vem com tudo!

Já viu uma foto irônica?


por Jean-Paul Lagarride 

Essa foto é ótima. Aos 93 anos, o ditador Mugabe, do Zimbábue, estava no poder desde 1980. Na semana passada, militares ocuparam com tanques ruas e avenidas e tomaram o país. Mas houve por parte das forças armadas uma certo e inusitado pudor em assumir o golpe. Mugabe foi inicialmente isolado em casa em meio a "negociações", até que lhe deram 24 horas para renunciar ou enfrentar um impeachment.

The Sun publicou a foto acima acompanhada de um título que é um primor de ironia: "Robert Mugabe concordou em desistir depois de 37 anos como presidente do Zimbábue..."

Concordou? E o cara tinha outra saída numa sala cheia de milicos? Deve ser humor inglês.

O texto ainda registra que Mugabe parecia meio atordoado. Parecia? Acorda, estagiário!

Dizem que um dos argumentos finais do exército era deixar que manifestantes entrassem na luxuosa mansão do ditador, caso ele não concordasse em pular fora. Mugabe deve ter se lembrado do fim de Kadhafi.

Mugabe era um ditador cruel, mas não sei se o Zimbabue vai melhorar. O seu substituto atende pelo apelido de The Crocodile. E não é por usar sapatos de fino couro da espécie.