terça-feira, 15 de agosto de 2023

Os podres poderes do caricato "parlamentarismo" brasileiro

 

Reproduzido do X (ex-Twitter)

O ministro Fernando Haddad tem dedicado grande parte do seu tempo a difíceis negociações com o Congresso. O jogo é mais duro com a Câmara dos Deputados que quer levar vantagem em tudo, o tempo todo. 

Muitos deputados parecem partir de um estranho princípio: legislar é business.

Desse o golpe que derrubou Dilma Rousseff , a democracia está sob constante ameaça.  O Legislativo, com o golpista Michel Temer e com Bolsonaro do Rolex, ganhou podres poderes, entre os quais os bilhões destinados às emendas na rubrica secreta sob frouxos controles.

Sob a chefia do notório Arthur Lira, a Câmara interfere no Executivo e estende suas garras insaciáveis sobre o orçamento da União. 

A Câmara dos Deputados, aliás, vive o melhor dos mundos: ganhou um poder que é quase um simulacro do parlamentarismo digno do Zorra Total ou da Praça  é Nossa, sem os mecanismos de controle desse regime. Exemplo: em países que adotam o parlamentarismo o Legislativo indica o primeiro-ministro, que governa de fato e de direito, mas o presidente tem o poder de dissolver o Congresso e convocar novas eleições. No atual e tosco "parlamentarismo" que a Câmara conquistou na sequência do golpe contra Dilma Rousseff, os deputados não correm esse risco, podem mandar e desmandar, bancadas chantageiam politicamente o Executivo e, se não forem atendidos, podem até paralisar o governo.

Haddad identificou o desequilíbrio entre os poderes ao dizer que a Câmara, com a força conquistada durante os erráticos governos Temer e Bolsonaro do Rolex, "não pode humilhar o Senado e o STF".  

Bastou isso para a tropa legislativa cancelar reunião sobre projeto de importância para o país. 

O que, ironicamente, só provou a exatidão da frase de Haddad.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Neymar bota a mão na grana árabe antes que o pé o traia novamente

por Niko Bolontrin

A mídia informa que Neymar já é jogador do Al Hilal, da Arábia Saudita. E as redes sociais se dividem entre apoiar o jogador e críticas à opção de aderir a um país onde o futebol é algo tão desértico quanto o ecossistema da região. 

Com os cofres cheios de petrodolares, o país está contratando jogadores de renome, a maioria na reta final da carreira, para se firmar como centro de futebol. 

Apesar dos craques que toparam ir para o deserto, o futebol praticado ali é risível. Claro que o que motivou Neymar a aceitar o chamado do Al Hilal foi o monte de euros. Do ponto de vista esportivo o brasileiro vai para o exílio bem remunerado. Afasta-se da Europa, o polo incontestável do melhor futebol. 

Há outras consequências: a Arábia Saudita é uma ditadura teocrática, mas isso não incomoda o bolsonarista Neymar que provavelmente nem sabe disso. Como também não foi informado de que álcool, sexo fora do casamento, adultério, blasfêmia etc são severamente punidos. 

Neymar já declarou que não deseja jogar futebol profissionalmente por muito mais tempo. Esse pode ser seu último grande contrato. A fragilidade física representada por frequentes contusões, especialmente lesões nos pés, também pode ter sido levada em conta pelo jogador. Melhor botar a mão nessa grana dos árabes antes que os pés o traiam novamente.


sábado, 12 de agosto de 2023

Por uma cabeça • Por Roberto Muggiati

 

Com a enfermeira Andressa, na UPA- Botafogo. Foto de Cláudia Alves 

Com a bandagem que lembrou Apollinaire quando ferido na Primey Guerra Mundial. Foto Lena Muggiati 


Como a morte não vem me buscar – esse joguinho já está até ficando chato – eu resolvi cair e me quebrar de novo no meio da noite. Desta vez cortei a cabeça no ventilador de ferro, na parte alta e traseira (da cabeça, é claro). Contive o sangue com papel toalha e voltei a pegar no sono. O chão de tacos ficou todo respingado de vermelho. Não quis incomodar a Lena que dormia o sono dos inocentes. Quando chegou nossa cuidadora, a Cláudia, deliberamos que o grau de gravidade do caso merecia uma ida a um hospital. No quesito saúde, recebo tratamento exclusivo da rede UPA d’Or, a minha unidade favorita é a de Botafogo. Minha idade provecta, 80+, foi logo abrindo todas as portas, me atenderam num tempo recorde, a enfermeira limpou o local do ferimento, a médica deu uma picada de anestesia no cocuruto e costurou-me três pontos com aquela agulha curva que parece um anzol. Para fixar o curativo, a enfermeira Andressa enlaçou minha testa com uma bandagem que me lembrou aquela foto famosa do poeta Guillaume Apollinaire. (Fiz depois uma foto-homenagem ao inventor da palavra “surrealismo”, que combateu pela França na Primeira Guerra, recebeu um estilhaço na fronte em 1916, mas só foi morrer em 9 de novembro de 1918, dez dias antes do armistício, aos 38 anos, da pandemia de antanho, a gripe espanhola.)

Pensei na data, 9 de agosto, algo especial? Sim, 78 anos da segunda bomba atômica, a de Nagasaki, só lembrei da data porque os japoneses ficaram injuriados com a dobradinha “Barbie/Oppenheimer” que, em nome das sacrossantas bilheterias, veio tingir com tons róseos de leviandade um dos episódios mais trágicos de nossa história recente, a Bomba de Hiroxima.

Com bandagem na testa e bengala de quatro pontas, resquício da fratura do fêmur, resolvi, já que estava no Baixo Botafogo, ir tomar um café no Depanneur e procurar um filme na Livraria da Travessa. (Hoje vivo isolado em Laranjeiras, do outro lado do implacável paredão do Corcovado e do Dona Marta.) Achei o que queria, A Via Láctea, do mestre Buñuel. Estou revendo os principais filmes estrelados por Delphine Seyrig – e não são poucos, ela brilha ainda mais em O charme discreto da burguesia – para escrever um perfil da atriz do recém-eleito “melhor filme de todos os tempos”, Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles. Atriz de Resnais, Truffaut, Joseph Losey, Fred Zinnemann, Jacques Demy, William Klein, Don Siegel, Marguerite Duras, entre outros, Delphine, morta em 1990, reinará suprema até 2032, dona absoluta das três horas e meia do filme de Chantal Akerman, aclamado agora pelo colegiado da Sight&Sound, quase 50 anos depois do seu lançamento, em 1975.


Em cartaz: O Grande Roubo de Jóias


 Quem disse que cinema não e arte premonitória? Esse filme - O Grande Roubo,  no título em português - é baseado em uma história real.

Na capa do Extra: o gabinete do crime

 


Estão falando alto pelos botecos...

Reprodução X (ex-Twitter)


Por O.V.Pochê

 * Bolsonaro foi visto correndo para o aeroporto

* À margem no noticiário sobre a bandidagem bolsonarista, os botecos não falam em outra coisa. Vejam a resenha:

* As Forças Armadas determinam que soldados e oficiais evitem portar relógios nas paradas de Sete de Setembro

* As mulheres dos militares também devem evitar usar jóias. Vai que...

* Bolsonaristas estão convocando  a Marcha Rolex, Pátria e Familia para que devolvam a Bolsonaro as jóias que ele afanou.

* Serão abertas investigações sobre os móveis do Alvorada, extravio de vacinas, ouro ilegal dos garimpos, venda de refinarias da Petrobras, venda da BR, venda da Eletrobras, tentativa de privatizar as praias e a Imobiliária Bolsonaro's. Suspeita é que Bolsonaro  teria considerado que tudo isso era presente pra uso pessoal dele.

* Banco Central do bolsonarista  Roberto Campos Neto vai aumentar juros em 10% em protesto  contra perseguição monetária a Bolsonaro

* Bolsonaro tentou leiloar relógio da Central.

* Dizem que Trump mandou ver ser falta alguma coisa na mansão de Mar-a-Lago: Bolsonaro passou por lá.

* Companhias aéreas registram grande aumento de procura de passagens por parte de bolsonaristas rumo a Miami e Orlando. Quem tiver parente bolsonarista avise que todos passarão pelo scanner corporal e haverá verificação de orifícios de madames e marmanjos.


A selfie do crime

Reprodução Relatório da PF

Na trama do roubo de jóias protagonizado por Bolsonaro e quadrilha há espaço para a chanchada. Um dos operadores da maracutaia, o general Cid PaiPai fez o flagra em selfie.  Em meio ao escândalo de corrupto onde os meliantes deixaram todas as pistas possíveis essa prova tem um toque de ridículo e, ao mesmo tempo, de arrogância e certeza da impunidade. Além dessa imagem com a mão na massa, o general PaiPai foi denunciado pelo próprio filho, o tenente coronel Cid Meu Garoto, que entregou em mensagem capturada que o atravessador de joia roubada estava levando a muamba para a Flórida.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Mídia: Aracy Balabanian e o fascismo patológico da Folha de São Paulo

 

Reprodução X (ex-Twitter)

Reprodução X (ex-Twitter) 


Reprodução X (ex-Twitter)

A Folha é assim. Destila ódio até em obituário. Imagina-se que ao morrer uma personalidade o jornal  despacha repórteres para levantar  - na cabeça  degradada dos prepostos - o que pode atingir a falecida. E daí que a atriz fez um aborto? E daí que não quis casar? Aracy Balabanian foi um grande atriz e uma cidadã de vida exemplar.  Em um minuto da sua vida, Aracy reuniu mais honradez, ética, dignidade e integridade do que a Folha em mais de 100 anos de existência. O julgamento do "talibã" do jornalão certamente não a atinge. 

Arqueologia em centro de tortura: não vão encontrar o meu esqueleto nos porões do DOI-Codi, mas faltou pouco... • Por Roberto Muggiati


Vladimir Herzog em foto na redação na TV Cultura. O jornalista cfoi assassinado por torturadores da ditadura militar no DOI-Codi, em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975.
Foto Reprodução TV Cultura

A coordenadora do projeto, Déborah Neves (à esquerda): pesquisas tentam identificar
indícios de vítimas ditadura militar torturadaas e assassinadas no DOI-Codi paulista.
Foto de Felipe Bezerra/Jornal das Unicamp 

Durante quinze anos – de 1969 a 1983, funcionou nos fundos da 36ª Delegacia
Policial de São Paulo, na Rua Tutoia, o DOI-Codi (Destacamento de Operações de
Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) – um complexo criado pela
ditadura militar para torturar e exterminar opositores do regime. De 1969 a 1983,
mais de sete mil pessoas passaram por lá e algumas não saíram, como Vladimir
Herzog, que não resistiu aos castigos corporais e teve sua morte dissimulada por um
grotesco “suicídio” nas grades da cela. Os prisioneiros chegavam encapuzados e
ficavam presos em celas diminutas, incomunicáveis e sem direito a defesa, à espera
das torturas.

Cinco universidades públicas, entre elas a USP e a Unicamp, iniciaram um
projeto de escavação no local onde ficava o DOI-Codi para fazer um levantamento
completo da extensão dos atos de violência ali praticados. Diz Andres Zarankin
professor de antropologia e arqueologia da UFMG, que também participa da
empreitada: “Dente, brinco, cabelo. Anel? Exato. Elementos pequenos que caíram e
vão nos permitir reconstruir essa história, a partir desses fragmentos. Existe toda uma
narrativa por trás desses pequenos objetos e a mesma coisa dentro do prédio”.

Segundo o Jornal da Unicampo, os arqueólogos vão examinar as paredes das celas, para verificar se encontram mensagens escritas nas camadas mais antigas de pintura. E uma investigação inédita
no país vai tentar encontrar vestígios de sangue invisíveis a olho nu, usando luzes
especiais.

O DOI-Codi paulista foi chefiado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra e
atuou inicialmente de forma clandestina como sede da Operação Bandeirante (Oban),
a partir de 2 de julho de 1969. Cerca de 70 pessoas teriam morrido sob tortura no
local.

Adriano Diogo, militante do movimento estudantil, foi daqueles que chegaram
embuçados ao DOI-Codi. O major que lhe retirou o capuz perguntou:
– Você sabe onde está?
– Não faço a mínima ideia...
– Você está na antessala do Inferno.

Ironicamente, a Rua Tutoia fica no bairro do Paraíso.

Até o final de setembro de 1969 eu morava em São Paulo e fazia parte da
equipe de jornalistas pioneira da revista Veja. Em 9 de dezembro de 1968, numa
badalada noite de autógrafos, lancei o livro Mao e a China; na sexta-feira 13 foi
decretado o AI-5. Verdadeira declaração de amor ao comunismo chinês, último livro
lido por Carlos Lamarca antes de morrer metralhado no sertão baiano, Mao e a China
saiu das estantes das livrarias para exibição em mostras de “material subversivo”
apreendido pelo exército. Eu tinha tudo a ver com Vladimir Herzog: éramos da mesma
idade e ele ocupou minha vaga quando deixei o Serviço Brasileiro da BBC em Londres.
Vários colegas meus da Veja e da Realidade – para a qual eu também colaborava –
foram levados encapuzados para o DOI-Codi.

Minha sorte foi ter trocado a Veja em São Paulo pela chefia de redação da
Fatos&Fotos, no Rio de Janeiro. A volta ao “balneário da República”

Para mais informações sobre as escavações arqueológicas no Doi-Codi de São Paulo, visite o Jornal da Unicamp AQUI

domingo, 6 de agosto de 2023

Mídia: Concordância leva cartão vermelho no GE.Volta pra escola, mano

 



REPRODUZIDO DO G1/GE

Ah, as suecas... • Por Roberto Muggiati



O cinema reforça o mito da liberalidade sexual das suecas:
Bibi Andersson e Liv Ullmann em Persona.


Vendo as meninas louras eliminarem as americanas na Copa do Mundo Feminina e revendo Acossado, um soi-disant filme de ação que passa um terço do tempo trancado num quartinho de hotel, com Belmondo de cueca samba-canção desfilando sua Weltanschauung para impressionar Jean Seberg, lembrei da minha experiência com as suecas. Belmondo deambula: “A rapaziada é mentirosa, Estocolmo, por exemplo: ‘As suecas são formidáveis, eu traçava três por dia.’ Estive lá. É uma mentira.” 

A caminho de minha bolsa de estudos em Paris em 1960, parei em Lisboa. Um casal recomendado por amigos me levou a uma casa de fados. Agregado ao casal, havia um capitão do exército, Carlos Lacerda. O nome já não inspirava muita confiança, devia ter muito QI para estar no bem bom, longe da sangrenta guerra colonial. O afável capitão, sabendo que eu viajaria pela Escandinávia, sacou um caderninho preto e copiou para mim numa folhinha de papel os telefones de dezenas de garotas suecas que conhecia e que, em linguagem bélica, eram “tiro e queda.” Quando visitei a Estocolmo no verão de 1961, telefonei, telefonei e telefonei, dias seguidos, para as Ingrids, Margids e Gretas – e não deu em nada. Fiquei literalmente na mão... 


50 anos de Fantástico: revista Manchete foi a inspiração do “Show da Vida” • Por Roberto Muggiati

José-Itamar de Freitas e Nélio Horta na redação da Enciclopédia Bloch
em Frei Caneca. Foto:Acervo Nélio Horta

Conheci José-Itamar de Freitas em Frei Caneca quando comecei a trabalhar como repórter especial da Manchete em 1965. Para complementar o magro salário, escrevia nos Cadernos de Jornalismo da Bloch – que ajudei a lançar –  e passei a colaborar na Enciclopédia Bloch, uma mensal de conhecimentos gerais que Itamar dirigia. Filho de Miracema, no noroeste fluminense, trinta anos (dois mais velho que eu), Zé-Itamar tinha a alma de editor. Infelizmente, os Bloch nunca valorizaram devidamente seu talento. Quando o intimaram a dirigir a mensal Pais e Filhos, Itamar pediu as contas e se mandou: não tinha physique du rôle nem esprit de corps para editar uma revista voltada para fraldas, soluços, papinhas, nana-nenéns e assuntos afins. 

O Fantástico fez uma homenagem especial a
Jose-Itamar de Freitas, em 2020

Foi imediatamente acolhido pela TV Globo, onde, criativo como poucos, aplicou a fórmula da revista Manchete a um programa das noites de domingo com o sugestivo título de Fantástico e subtítulo “O Show da Vida.” Sucesso instantâneo. Nos 30 anos da atração, ele disse à apresentadora Glória Maria: “Quando você passa dezesseis anos num programa, tudo te marca. Acabou sendo a minha vida. Um amor enorme, convivência, amizade, tudo. Eu olho o Fantástico como sendo da família. ”  

José-Itamar de Freitas morreu em 2020, aos 85 anos, de complicações da Covid. 

Foi-se o Criador, a Criatura segue em frente. 


Memórias da redação da Manchete: a foto e a falha

 

Matéria reproduzida de Jornalistas &Cia.
Clique na imagem para ampliar.



sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Curitibana superfogosa bomba na Ucrânia • Por Roberto Muggiati

 Ela conseguiu se fazer ouvir em meio à guerra e acima das explosões e lidera as músicas mais ouvidas na Ucrânia (e em Belarus e no Cazaquistão). A funkeira eletrônica Bibi Babydoll arrebata plateias do mundo inteiro com seu provocante Automotivo Bibi Fogosa, que está no topo da playlist global da plataforma de faixas virais (cuja audição sobe mais rapidamente).

Beatriz Alcade Santos, curitibana de 24 anos, pontificou em 2021 ao emplacar Pirigótika, que chegou a 100 mil views em menos de uma semana. Em seu site, Bibi Babydoll se define como “performer, influencer, publicitária e corporate punk rock whore” – ufa! Com todo esse gás a menina vai longe... 

Curitiba – que conta hoje 70 mil descendentes de ucranianos – retribui assim ao país que resiste bravamente à bárbara invasão russa.

Confira AQUI Bibi Babydoll e DJ Brunin XM - Automotivo Bibi Fogosa (Clipe Oficial)

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

O 'drible da vaca' na mídia esportiva

por Niko Bolontrin

Será que a mídia esportiva é mesmo capaz de avaliar o trabalho de um treinador? Há dúvidas. 

Vejam dois casos. Cansei de ouvir jornalistas sugerindo que a CBF contratasse um treinador permanente ou quase isso para a seleção brasileira. Pois bem: Tite foi chamado, treinou, treinou, falou difícil e perdeu a Copa da Rússia. Nunca um treinador recebeu tanto apoio da imprensa. Parecia o Guardiola brasileiro. Foi mantido apesar de não passar das quartas de final. Quatro anos depois, Tite chegou à Copa do Catar. Ter classificado o Brasil não conta: escândalo seria se a seleção brasileira não se classificasse tamanha a moleza. De novo, o treinador dava entrevistas rebuscadas, parecia saber o que estava dizendo. Não sabia. O Brasil passou vexame novamente e foi despachado de novo nas quartas de final. Só aí a mídia esportiva tornou-se subitamente crítica ao treinador que mais tempo teve para preparar uma seleção brasileira. 

O segundo caso. A treinadora Pia, da seleção feminina teve recursos e tempo para preparar a seleção feminina. A mídia não apontou qualquer defeito na sueca. Até que as meninas do Brasil saíram da Copa do Mundo ainda na fase de grupos. Vexame.  E só então, com a vaca no brejo, comentaristas de futebol, de ambos os sexos, passaram a apontar os erros da Pia. Assim como Tite no Catar, a sueca parecia em coma na Copa da Austrália - Nova Zelândia. Os closes da TV mostravam Pia atônita. 

Que tal a mídia esportiva mostrar que é do ramo e provar capacidade de criticar o trabalho dos treinadores antes do desastre? Isso ajudaria o futebol mais do que a exaltação bajuladora. 

A torcida agradece.

Uma coisa Tite e Pia ajudaram a provar. Treinador não deve mesmo ter estabilidade. Precisam provar a cada momento que sabem armar um time para vencer adversários qualificados e não apenas "fazer o nome' em amistosos de quinta categoria. 

A torcida agradece.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Quase memórias da falência da Bloch Editores (há 23 anos)

Foto Gil Pinheiro 

por José Esmeraldo Gonçalves

2 de agosto de 2000. Há 23 anos, em uma quarta-feira como hoje, os funcionários da Bloch Editores foram obrigados a abandonar às pressas a sede da empresa na Glória. Um oficial de justiça concedeu-lhes apenas alguns minutos para que reunissem seus objetos pessoais e, literalmente, fossem para a rua. No caso, a do Russell. 

A aglomeração no pequeno largo diante do imponente conjunto de três edifícios assinado por Oscar Niemeyer chamava atenção de quem passava de carro. Formou-se um pequeno engarrafamento, alguns indagavam se havia um incêndio. 

Não. Ninguém gritou fogo, mas a notícia da autofalência da Bloch queimava centenas de carreiras e lançava os mais idosos no desemprego. Aos mais jovens restava enfrentar o sempre difícil mercado de trabalho. No caso de jornalistas, fotógrafos, pessoal do administrativo e gráficos surgia um novo obstáculo: a mídia impressa entrava em grave crise que se agravaria ao longo da primeira década do novo milênio. O meio digital não ofereceria um número de vagas que compensasse a perda de cerca de quatro mil postos em todo o mercado de jornais e revistas do Brasil. 

A Bloch Editores agonizava desde meados dos anos 1990, abalada pela grave crise financeira e adminstrativa da Rede Manchete. Afinal, depois de várias vendas frustradas e desfeitas por falta de pagamento dos compradores, a TV foi vendida em 1999 ao grupo empresarial que fundou a RedeTV (que, na transação, atendia pelo nome fantasia de TV Ômega). 

Um reposicionamento da Revista Manchete nos últimos anos daquela década deu esperança de novo vigor ao braço editorial das revistas impressas da Bloch. Mas era tarde. Imposta pela internet, a acelerada mudança do mercado de revistas já se anuncava em 2000 e em menos de dez anos decretaria o fim de centenas de publicações impressas no Brasil e no mundo. 

A Bloch não resistiu e pediu falência.

Carlos Heitor Cony testemunhou a queda do raio que partiu de vez o futuro da empresa. Ele confessou que só sete anos depois conseguiu descrever um pouco do que sentiu ao ser enxotado naquele fatídico agosto. Seu relato foi publicado na Folha de São Paulo em 2007. Segue-se um pequeno trecho do texto do Cony, que faleceu em 2018. 

- Penso que remeti as impressões todas para a caverna mais funda da memória, mais cedo ou mais tarde conseguirei articular alguma coisa expressando meu espanto, minha tristeza. A decepção de ver um mundo colorido, alegre e despreocupado, depois de uma ruína gradual e dolorosa que já durava dois anos, fechar-se como um túmulo que sepulta fantasmas, alguns mortos (Adolpho Bloch, Justino Martins, Magalhães Jr e outros ainda vivos, nós todos). Sinto em cima de mim o gosto de terra e o cheiro de flores apodrecendo".

Em 2008, como um dos autores da coletânea "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata), lançado por um grupo de ex-funcionários da Bloch, Cony voltou ao assunto e, entreo outras revelações destacou;: 

- Foi na Manchete que fiz e conservei alguns dos amigos mais queridos. Por ocasião da falência do grupo, eu ocupava o antigo escritório de JK no décimo andar do 804, dava apenas assistência não mais às revistas, mas à diretoria, sofri com Adolpho o trauma das tentativas de venda da TV a outros grupos".

Cony certamente não imaginou que aquele trágico 2 de agosto era apenas o primeiro e sofrido capítulo de um drama que se arrasta até hoje quando a Massa Falida da Bloch Editores completa inacreditáveis 23 anos. 

Não há justiça plena enquanto uma instituição que deveria privilegiar os trabalhadores consome partrimônio, tempo e esperanças ao não restituir todos os legítimos direitos às vítimas da implosão de uma corporação. Massas falidas não pode se eternizar enquanto vidas passam. 

Registre-se que uma parcela majoritária de credores trabalhistas da Bloch recebeu seus valores chamados principais. A estes - seriam quase três mil ex-funcionários da Bloch Editores  e Gráficos Bloch -, a Massa Falida pagou depois três parcelas de juros e correção monetária, mas há quase dez anos interrompeu essa recomposição devida. Por outro lado, ainda há credores trabalhistas habilitados que não receberam seus valores principais. 

A Massa Falida da Bloch Editores foi constituída em 2000. Apesar disso, o atual administrador judicial cita uma lei de 2005 segundo a qual valores referentes a juros só poderão ser pagos após a quitação das dívidas da extinta Bloch com todos os seus credores, trabalhalistas, financeiros, comerciais, institucionais etc. Então a lei retroage? Essa é a pergunta que muitos ex-funcionários fazem. Há outras indagações. No ano passado o síndico da Massa Falida da Bloch Editores informou a procuradores do Estado do Rio de Janeiro que "o ativo da massa falida foi praticamente liquidado, encontrando-se o processo falimentar na fase de pagamento de credores para posterior encerramento". Isso indica que o caixa se esvaziará antes do pagamento dos valores históricos e de juros e correção monetária de todos os credores trabalhistas?

Um bem valioso que pertencia ao extinto Grupo Bloch era o grande prédio da sede em São Paulo. Tal patrimônio teria ido a leilão, mas, em primeira chamada,, em outubro do ano passado, não apareceram potenciais compradores. Não tenho informação se foi arrematado posteriormente. No caso, o valor arrecadado seria, segundo dizem credores trabalhistas, dividido entre as massas falidas da Bloch e da TV Manchete.  Outro item de valor são as obras de arte restantes do acervo da editora. Aparentemente continuam aguardando uma data para leilão. Enquanto isso, custam à MFBloch o aluguel de salas para guarda, seguro etc.

Trabalhei muito anos com Carlos Heitor Cony na Fatos & Fotos, na Fatos e na Manchete, mas não estive no fatídico dia do despejo do prédio da Rua do Russell, que frequentei por longos 17 anos. Saí antes do desfecho da Bloch, não tive motivos para me habilitar a qualquer indenização. Em 1996, o editor e fotógrafo Sergio Zalis, com que eu havia trabalhado na revista Fatos, me convidou para participar da equipe da Caras, no Rio. Deixei a Manchete e me mudei para a Torre do Rio Sul, onde ficava a redação carioca da então recem-lançada revista sediada em São Paulo. Foi uma ótima expriência que durou oito anos. A Caras era fruto de uma parceria da Editora Perfil, argentina, com a Abril. Em 2004, fui demitido após uma discussão com o diretor-geral da Caras. Para minha supresa, no dia seguinte, por indicação de Patricia Hargreaves e Vanessa Cabral, ambas ex-Caras, Edson Rossi, que ao lado de Claudia Giudice, também ex-Caras, planejava o reposicionamento editorial da Contigo, publicação da Editora Abri, me convidou para integrar a sua equipe. Topei e foram, novamente, bons anos, até 2014, quando meu tempo de trabalho fixo em redações se esgotou em parte pela crise, em parte pela minha idade - era veterano demais para os novos tempos.  

Em todos eesses anos distante da Manchete nunca deixei de acompanhar a luta sem fim dos antigos colegas pelos seus direitos. De certa forma, eu estava naquela dramática aglomeração na Rua do Russell. Por fim, lamento que esse post não seja otimista, tanto que vale voltar ao Cony e a uma das frases que ele gostava de repetir.   

- Insisto em ser pessimista por antecipação e cálculo. O que me sobra é lucro''.

Frase do Dia: Meninas...

 #acordecom elas

#estãodormindo até agora


(à maneira de Neném Prancha & Nélson Rodrigues)

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Mídia: quando o jornalismo usa avatares para bombar especulações


A imagem simula fontes não identificadas da Globo News, CNN, Band, Globo, Folha, Estadão etc chegando às redações para falar sobre Márcio Pochmann, Mantega, juros do BC, fêmur do Lula, viagens do Lula interferências de Janja no Planalto, Petrobras, Dilma... 

por José Esmeraldo Gonçalves

Jornalistas brasileiros - quem se considerar exceção não vista a camiseta -  abusam das "fontes não identificadas".  De certa forma isso sempre aconteceu mas, na era da internet, esse recurso recebeu altas doses de anabolizantes. 

Foi banalizado. 

No jornalismo investigativo ou não a fonte anônima deve ser secundária no desenvolvimento da apuração. É válida desde que preferencialmente ajude a balizar e orientar a investigação ou a matéria e, ainda, quando narra fatos que testemunhou. Mas fonte anônima que opina? Inusitado. 

Um exemplo célebre do uso adequado do anonimato foi o Caso Watergate (a invasão do escritório dos Democratas orquestrada por Richard Nixon e seus capangas republicanos). Os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward usaram uma fonte secreta, à qual deram o nome de Deep Throat, que não foi a protagonista principal da série de reportagens. Mais do que isso, forneceu caminhos, nomes e locais que levaram a dupla de jornalistas a puxar fios que revelaram a malha de espionagem e manipulação do governo Nixon com fins eleitorais. 

Aqui, atualmente, a fonte não identificada calça a especulação, planta opiniões e, não raro, sustenta a pauta que o jornalista já traz pronta da redação. Um roteiro prévio que precisa apenas de um avatar: a fonte sem nome, geralmente fácil de achar e tão secreta quanto o orçamento da Câmara dos Deputados. 

No recente episódio da campanha dos principais veículos neoliberais contra a nomeação do economista Marcos Pochmann para o IBGE, uma das jornalistas envolvida nos ataques, a notória Malu Gaspar, conseguiu levantar ainda mais o sarrafo leviano da prática da "fonte não identificada". Ela encaixou um tal de "há quem diga" para encaixar uma suposta "informação". 

"Há quem diga" isso, "há que diga aquilo" é  uma introdução que aceita qualquer complemento. 

Com isso, a "fonte não identificada" acaba de escalar mais um degrau no pódio do jornalismo não confiável. 

Como exemplo, finalizo ao estilo vigente entre colunistas: uma fonte ligada ao núcleo duro do Congresso segredou que ouviu do líder de um partido da base que testemunhou uma conversa entre dois políticos próximos ao presidente uma crítica ao jornalismo. Essa pessoa, que pediu para não ser identificada, teria escutado no corredor de uma autarquia que a Abin estaria cogitando botar um caça-fantasmas de plantão em redações e estúdios.

O X do Twitter: Musk, liga para Eike Batista e ele te conta que essa consoante dá azar

 

por José Esmeraldo Gonçalves

Elon Musk demitiu o pássaro azul do cargo de símbolo do Twitter. Adotou a letra X. Musk não sabia que Eike Batista fez isso no nome das suas empresas e entrou em decadência. Uma marca de carros brasileira dos anos 70 também o usou o X no jipe Gurgel X e no Xavante XT. A marca sumiu e hoje esses veículos são peças cults. A Boeing  batizou a versão remendada do jato 737 de MaX e amargou um dos maiores prejuízos da sua história. A Xerox quase faliu, sobreviveu mas perdeu relevância e não subiu no bonde das novas tecnologias. As câmeras PentaX e RolleifleX tiveram suas fases. Passou. Qual foi a empresa dona do Titan que se desintegrou ao tentar chegar ao Titanic? Ocean EXPeditions.  Mas Musk bota fé no X, é dono da Space X, X.al, X.com, mas já enfrenta problemas com o X do Twitter.  A Mega já teria o nome registrado, um usuário do Twitter também e é esperado que outros proprietários da letra apareçam.