quinta-feira, 21 de maio de 2020

Saravá, Sodré! Você previu o Grotesco, mas ele é muito pior do que se pensava... • Por Roberto Muggiati

Muniz Sodré Foto/ Divulgação ECO/UFRJ

Muniz Sodré de Araújo Cabral, uma avis rara no universo jornalístico brasileiro.

Desde final de abril, nosso amigo, aos 78 anos, enfrenta bravamente o coronavírus. Vamos torcer por ele! Baiano de São Gonçalo dos Campos, região de Feira de Santana, além da meia dúzia de línguas mais banais que todos nós conhecíamos, Muniz Sodré tinha sólidas noções de latim e grego e falava russo fluentemente. Nos conhecemos na reportagem da Manchete em Frei Caneca, no início de 1966. Pelo domínio de idiomas e por nossa cultura geral, éramos “repórteres especiais” da grande revista. Eu tinha 28 anos, ele 24. Na época, o goleiro da seleção soviética, Lev Yashin, considerado um dos melhores do mundo (a URSS foi a quarta colocada na Copa de 1966), visitou o Rio. Pois Muniz Sodré entrevistou Yashin em russo e ainda, com ginga soteropolitana, cobrou um pênalti contra ele no Maracanã, bola de um lado, goleiro do outro.

– Pare de ser stakhanovista, Justino! 

Lembro até hoje o berro indignado de Muniz Sodré na saleta de Frei Caneca, onde as reuniões de pauta eram honradas com a presença do Jaquito, o “delfim” do Adolpho Bloch.
O stakhanovismo foi um movimento que nasceu na União Soviética de Stalin em 1935 por iniciativa do mineiro Alexei Stakhanov, que defendia o aumento da produtividade operária com base na própria força de vontade dos trabalhadores. Enfim, Stakhanov era o típico “operário-patrão”. Muniz acusava o editor da Manchete de explorar vilmente os repórteres sem a devida recompensa pecuniária. 

Quando o homem pisou na Lua, em 20 de agosto de 1969, Muniz Sodré era chefe de reportagem da Manchete. Muniz foi intimado a assistir ao evento com os Bloch no suntuoso prédio do Russell, recém-ocupado pelas redações, que fizeram o upgrade da deletéria Frei Caneca para a privilegiada vista do Pão de Açúcar. Muniz preferiu, naquela noite de domingo, ver o grande acontecimento em casa com a família.  Por não demonstrar o almejado esprit de corps, na manhã seguinte foi removido do cargo de chefia. Tecnicamente, nada – a não ser uma improvável entrevista exclusiva do astronauta Neil Armstrong – exigiria a presença do chefe de reportagem na redação naquela noite. Mas os Karamabloch eram assim...

Em 1969, voltei da Veja em São Paulo para ficar os restantes trinta e tantos anos na Bloch, até a falência múltipla de 1º de agosto de 2000. Tornei-me o editor de Manchete que mais tempo ficou no cargo. Nenhum mérito nisso, apenas pura vaidade e burrice minha. Depois do episódio do Homem na Lua, Muniz Sodré afastou-se do jornalismo para investir mais na sua já brilhante carreira como filósofo da comunicação de massa e também como professor, com trabalhos publicados no mundo inteiro. Nós, que fomos tão próximos na época de Frei Caneca, nunca mais nos vimos – um afastamento de meio século – incrível isso, não, morando na mesma cidade? Uma estranha simetria: em 2011 fui eleito para a cadeira 33 da Academia Paranaense de Letras. Em 2019 Muniz Sodré foi eleito para a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, na vaga de Mãe Stella de Oxóssi.


Um dos conceitos fundamentais na vasta e multifacetada obra de Muniz Sodré é o do grotesco. Ele o trabalhou desde o lançamento do livro A comunicação do grotesco: Introdução à cultura de massa no Brasil, em 1972, até os tempos atuais. Assim o definia: “O grotesco é a estética da diferença escandalosa entre forma e fundo, capaz de suscitar efeitos paradoxais e ridículos. É uma turbulência risível.” Chacrinha, o Velho Guerreiro do grotesco, decretou: “Quem não se comunica se trumbica...” Uma definição genial, rimada até. Os políticos aprenderam a lição da TV. Sílvio Santos não chegou quase à presidência? E Luciano Huck não é perseguido pela mosca azul? Os políticos não só botaram no chinelo os grandes comunicadores da TV, eles também se tornaram mil vezes mais grotescos. Brasília, fundada há 60 anos, no grotesco light dos fraques e cartolas ao sol tropical, aderiu ao ridículo tosco, sem o charme de JK, e tornou-se a capital mundial do grotesco. Flagrantes abundam na rampa dos insensatos e nas imediações da Praça dos Podres Poderes – é um espetáculo permanente.

Saravá, Sodré! Entre o coronavírus e a República dos Grotescos, salve-se quem puder!

Covid-19 - Fotojornalista Alex Ferro registra drama cotidiano no Rio de Janeiro

Com falta de ar, Ana dos Santos, 79 anos, chega a um hospital da Zona Sul do Rio de Janeiro. Por falta de vaga,
ela não foi sr internada. Foto de Alex Ferro 


Reprodução/Veja. Clique para ampliar
por Alex Ferro 

COVID-19. Revista Veja 21/05/2020. Especial Pg 67. Nas Bancas.

Fotojornalismo de guerra na cobertura do real retrato amargo do sistema público de saúde, totalmente saturado e vivenciando cenas de terror.

Sobre a foto: “Disseram que não havia leitos, que era para ela voltar para casa". O relato é de Raiane, 27 anos, neta da dona Ana.

Nesse gravíssimo momento, quando os nossos queridos avós enfrentam a terrível “escolha de Sofia”, o fotojornalismo alerta e documenta para a posterioridade esse dramático problema planetário. Nasci para fotografar!

Seita do ódio agride jornalista

Reprodução

Jornalistas mineiros denunciam mais uma agressão de bolsonaristas a profissionais da mídia. Dessa vez, o repórter cinematográfico Robson Panzera, da TV Integração, afiliada da Rede Globo em Barbacena (MG), foi agredido, teve a mão fraturada e o equipamento destruído. O membro da seita do ódio que cometeu  a agressão, segundo registros no Twitter, chama-se Leonardo Rivelli e foi parar na delegacia. Antes de partir para cima do repórter, ele berrou "Globo Lixo". Por falta de punição rigorosa e condenações efetivas para esses elementos, os casos de agressão por parte dos fanáticos apoiadores de Bolsonaro se tornam frequentes. Vídeo AQUI

Deputada bozoroca despreza mortos

Reprodução Twitter

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Rindo da desgraça

Aparentemente, nada diverte mais Bolsonaro do que a pandemia. Ontem, o Brasil atingiu a triste marca de 1.179 óbitos em 24 horas.Um morto a cada 73 segundos.
O elemento já celebrou mergulhos no esgoto, segundo ele, hábito do povão, ao dizer que brasileiro tem imunidade, não pega nada. Já ameaçou fazer um churrasco comemorativo. Agora, sugere que a direita tome cloroquina, o tal remédio do qual faz intenso merchandising, e a esquerda tome tubaína.
O Brasil é o único país do mundo cuja política do governo federal para a pandemia é a piada e o deboche.

VEJA O VÍDEO AQUI

terça-feira, 19 de maio de 2020

Lapa na Covid-19: silêncio na beleza e no caos. Por Alex Ferro




por Alex Ferro (texto e fotos)

Covid-19. Bairro da Lapa. Rio de Janeiro. A Lapa essa rainha, chora abandonada e esquecida em pleno domingo de maio, às 17:00.
O maior e mais vibrante “palco” da boemia carioca já está em “lockdown”?
Restaurantes, bares, casas de shows, tudo lacrado. Nas ruas que viviam lotadas agora é o silêncio que impera nesse asfalto solitário.
Som de risos que fluíam pela Lapa, música vinda de diversos locais, criando uma dodecafonia da alegria, desapareceram no rastro do medo da doença.
Realidade sem muita poesia.
Lapa é guerreira. E nessa guerra ela ressurgirá. Com certeza que sim!

As aparências não enganam

Reprodução Twitter

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Na capa da Carta Capital: blitzkrieg por cargos, poder e boa vida


Carnaval 2021 - Na torcida para que o corona deixe o samba sair e o Rio vá à revanche contra a pandemia

A Banda de Ipanema informa que só voltará a sair no carnaval quando houver uma vacina à disposição da população. Não é possível prever, ainda, o impacto da pandemia em 2021, mais precisamente em fevereiro, daqui a nove meses. E não é cedo para começar a falar nisso. O fato é que as escolas, principalmente, estão na expectativa, aguardando o que julho e agosto, meses importantes no cronograma de planejamento e preparação dos desfiles, vão mostrar.

Há cientistas trabalhando intensamente em vários países em pesquisas avançadas. Se não surgir até o fim do ano um coquetel de medicamentos ou uma imunização que detenha o coronavírus, blocos e escolas de samba poderão enfrentar restrições ou até cancelamentos inéditos, como o que anuncia  Banda de Ipanema. Este seria o pior cenário.

No livro "Metrópole à Beira-Mar, o Rio Moderno dos Anos 20, o escritor e jornalista Ruy Castro conta que em 1919, após superar a Gripe Espanhola, os cariocas viveram o carnaval da revanche, a grande desforra contra a peste.

Quem sabe, 2021 não repete a dose?

Fotomemória da Sala de Imprensa do Sambódromo, 2007 - Alex Ferro edita fotos da Manchete de carnaval, sob as vistas de parte da equipe: em pé, Alice Massuca, Jussara Razzé, Marcos Dvoskin, João Salomonde e Orestes Locatel. Sentados: Alexandre Loureiro (de costas) e Alex, que chefiou a equipe de fotógrafos da agência Pedra Viva, e o designer Gustava Vidal (de camisa branca).  Ao fundo, Chico iSilva, da Agnews. Foto de Rudy Trindade
Pouco mais de um século depois, o carnaval, muito além da festa, é uma indústria que cria milhares de oportunidades de trabalho, principalmente para jornalistas. Este ano, eram mais de 2 mil credenciados na avenida, sem contar os profissionais mobilizados para cobrir os blocos ao longo de de um mês.

Por enquanto, é torcer para que o vírus deixe o samba sair e cenas como a da foto se repitam no sambódromo no ano que vem. Depende dos cientistas. O samba no pé está nas mãos deles.

A foto do fato

Reprodução Twitter
A seita bolsonarista tem promovido manifestações na frente do Palácio do Planalto. Pede intervenção militar, fechamento do Congresso e do STF, liberdade para o coronavírus etc. Nas redes sociais e no esquema de robôs, o complô da ultra direita divulga a cena como se fosse uma multidão. Veja a foto acima compartilhada por Petra Costa, autora do documentário "Democracia em Vertigem". Ontem, o sociopata convocou o ministério submisso em apoio às bandeiras dos manifestantes. Tinha tanta autoridade na rampa que quase empatava em número com os bozorocas em manifestação. 

domingo, 17 de maio de 2020

Dona Sylvia, 108 anos, é bi: sobreviveu à Gripe Espanhola e à Covid-19

Foto de Mitsu Yasukawa/People
(link ao lado)
Sylvia Goldscholl, 108, moradora de Nova Jersey, um dos estados mais atingidos pelo coronavírus, venceu a pandemia. "É muito perigoso", disse ela. "Eu sobrevivi a tudo porque estava determinado a sobreviver". Ela cresceu e viveu no Bronx a maior parte de sua vida, e admite que é uma sobrevivente. Dona Sylvia encarou a gripe espanhola quando tinha apenas oito anos. E aquele vírus também não foi páreo para ela. A matéria está na revista PeopleAQUI

E o fim do caminho, é a lama, é a lama


sábado, 16 de maio de 2020

Caiu na rede: flagraram o cabeça oca

Reprodução Twitter

Na capa do Estado de Minas: o mapa do genocídio


Na capa do Estadão: o idiota ao redor


Futebol na quarentena - O dia em que a seleção brasileira entrou em campo para sair da história. R.I.P

Com o futebol em quarentena, as TVs têm reprisados jogos históricos. Se os programadores não acreditam na audiência ou se é por trauma coletivo mesmo, o jogo Alemanha 7 x 1 Brasil ainda não entrou na fila.

Tanto quanto vitórias memoráveis, a seleção coleciona frustrações infelizmente inesquecíveis. 1950, 1982, 1998... a taça estava na mão. Mas aqueles 7 X 1 são bizarros. Foi o delenda, seleção, como diria Catão.

A evolução do futebol e a brutal desigualdade financeira entre Europa e Brasil tornaram a perda da Copa de 2014, em casa, ainda mais decepcionante. De la para cá, a superioridade da Europa virou hegemonia absoluta. Os principais craques, não apenas do Brasil, mas da América do Sul, são exportados ainda cedo, o calendário tornou-se um obstáculo a mais. As seleções sul-americanas mal têm tempo para treinar e as datas Fifa que sobraram estão praticamente ocupadas pelas seleções europeias. A própria Copa do Mundo começa a perder relevância diante da Eurocopa, de alguns campeonatos de alta qualidade, Inglaterra, Espanha e Alemanha, principalmente, e da Copa da Uefa, sem falar da Liga Europa, que preenche as datas restantes.

A Europa, onde o futebol nasceu, tomou de volta o brinquedo.

Não é exagero dizer que a frustração dos 7 X 1 foi premonitória, marcou  fim de uma era. Não por coincidência, a partir daquele ano, a camisa amarela que ia às ruas para comemorar títulos, ganhou um significado, que persiste até hoje, de facção política ou miliciana. Para mais da metade da população, virou uniforme do ódio e intolerância.

Por tudo isso, naquele dia oito de julho de 2014, a seleção entrou em campo para sair da história. Quem viu, viu.
R.I.P.

Ministro Vainatauba tem ataque de pelanca na CNN


O nível é tão baixo que os ministros de Bolsonaro só querem dar "entrevista combinada". Esse é o entendimento que têm do jornalismo. Depois do surto de Regina Duarte, na mesma CNN Brasil, agora foi o Weintraub que, no ar, surpreendido por uma pergunta sobre a demissão do ministro Teich, o breve, da Saúde, reclamou que não era o "combinado" (o trecho em questão está nos primeiros 4 minutos do vídeo). A âncora Monalisa Perrone rebateu. Veja AQUI

Dia histórico para o jornalismo: O Globo publica a palavra "foder" na capa

Reprodução O Globo

por Ed Sá 
Anote essa data: 15 de maio de 2020. O Globo publica na primeira página a palavra "foder'. Claro que vem da boca suja do sociopata, e isso deu importância política à frase. 
Em todo caso, é histórico.
Vão longe os tempos em que o Pasquim era pontilhado de asteriscos para simbolizar o vocabulário cabeludo. Ainda bem que a linguagem jornalística se aproxima da vida real, embora o povão fale "fuder", bem mais orgástico. 
Mas há uma graduação aí. Leila Diniz falando "foder" era poesia pura. Ela tanto amava foder que cabe a redundância. 
Já para o autor das aspas que O Globo reproduz, tudo é ódio. Até o sentido em que usa o verbo em transitivo direto "foder". No caso, como sinônimo de "prejudicar", "lesar'", "causar dano", "deteriorar", "danar", dificultar", "tolher".