sábado, 13 de junho de 2020

Jornalismo: a mídia deve sempre ouvir os "dois lados" mesmo quando um desses lados é o fascismo?



por Flávio Sépia
Em artigo do jornalista Eric Alterman, The Nation analisa a cobertura que a grande mídia americana faz do governo Trump. Basicamente, questiona o mantra de "ouvir os dois lados". E quando ouvir.

Um tema, a propósito, em debate lá e cá. Recentemente, a CNN Brasil que costuma promover debates entre democratas e radicais da direita, deu espaço ao indivíduo foragido que foi acusado de participar de ato terrorista contra a sede da produtora do humorístico Porta dos Fundos.

O pretexto? Ouvir os dois lados.

O jornalismo deveria ouvir os dois lados na Alemanha nazista dos anos 1930? No fascismo de Mussolini? Na cobertura das atrocidades do Estado Islâmico? Deve optar pela "isenção" ou pela omissão? É a pergunta que se faz.

Trump trabalha deliberadamente com a mentira. Ao mesmo tempo, usa as redes sociais e os seus apoiadores,  os algorítimos de impulsionamento e uma tropa de robôs para lançar sobre o jornalismo profissional a pecha de produzir fake news contra seu governo. Alterman indica que a mídia "não tem experiência com uma situação como essa e não consegue descobrir como lidar com isso".

O artigo lembra que ao ser atacada por Nixon, nos anos 1970, idos do escândalo Watergate, a mídia virou o jogo. Hoje, diante de Trump, uma ameaça muitas vezes maior à democracia, não sabe como fazê-lo.

Alterman dá uma pista ao concluir que, na crise atual, o maior problema é que a mídia não consegue se decidir sobre uma questão fundamental ao cobrir  o governo Trump: "De que lado está?"

Agora, se você trocar algumas poucas palavras e contextos, a mídia brasileira se encaixa no dilema descrito acima. E por um motivo claríssimo, basta ler editoriais e colunistas. Desde o começo dessa tragédia brasileira, ainda na campanha eleitoral, a mídia conservadora tenta um equação impossível: desconfiar de Bolsonaro e até lhe fazer oposição pontual, mas apoiar incondicionalmente a política econômica de Paulo Guedes. Apesar de externar ideias semelhantes às do chefe - inclusive aquelas antidemocráticas (já defendeu o AI-5, lembram?) e de admitir em reunião pública que já esta trabalhando pela sua reeleição, Guedes segue à margem das críticas nos jornalões apesar de não ter mostrado resultados na economia, mesmo antes da pandemia.

De que lado a mídia brasileira está?

Para ler a matéria do Nation, clique AQUI

Um comentário:

J.A.Barros disse...

Sempre tive e mantenho a opinião que, em qualquer situação, deve–se ouvir e entender os dois lados. Porque não ouvir lado do Nazismo como regime político a governar uma nação? Por que não ouvir e pesquisar o Fascismo, como regime político, criado pelo professor Mussolini ? Até por razões históricas, deixar gravado para posteridade todos esses lados e porque nasceram esse regimes políticos .