Mito é coisa que não se deve levar muito a sério. Deve ser, de preferência, demolido. Na história, muitos desses demolidores da verdade acabaram nas prisões ou condenados à morte. Mitos religiosos, culturais, ideológicos, raciais se impõem à sociedade geralmente pela força das armas, pelo poder, pela manipulação, pela corrupção, mas há sempre alguém a bombardeá-los. Ainda bem.
O caso aqui não é tão sério assim, mas um livro lançado agora na Espanha tem um pouco a ver com esse arrasa-quarteirão de pequenos dogmas. "A Cinderela que não queria comer perdizes", da escritora Nunila López Salamero e da desenhista Myriam Cameros Sierra, já na lista local dos mais vendidos, mostra uma Cinderela que abandona o príncipe encantado, de saco cheio com o egocentrismo do rapaz; e uma Branca de Neve que tem depressão, toma Prozac, sonha em ser morena e procura uma praia para se bronzear. O livro é apoiado pelas associações de combate à violência contra as mulheres já que a Cinderela personificava uma moça maltratada e humilhada, sob o jugo de irmãs terríveis e de um príncipe mandão, e Branca de Neve, em troca de casa e comida, foi obrigada a servir a sete senhores. Com esse conteúdo, digamos, iconoclasta, o livro foi recusado por todas as editoras até que as autoras partiram para uma edição independente. "A Cinderela que não queria comer perdizes" - o título é uma alusão à versão espanhola do conto que termina com a frase "foram felizes e comeram perdizes" - é dedicado pelas autoras "a todas as mulheres valentes que querem mudar de vida". (Ilustração de Myriam C. Sierra/Divulgação)
Um comentário:
Acho um exagero essa coisa do politicamente correto e de se reecrever histórias que embalaram as nossas infâncias. Entendo que as autoras têm o objetivo de denunciar a violência contra a mulher mas ainda gosto dos antigos e inocentes contos originais.
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