domingo, 6 de agosto de 2023

Mídia: Concordância leva cartão vermelho no GE.Volta pra escola, mano

 



REPRODUZIDO DO G1/GE

Ah, as suecas... • Por Roberto Muggiati



O cinema reforça o mito da liberalidade sexual das suecas:
Bibi Andersson e Liv Ullmann em Persona.


Vendo as meninas louras eliminarem as americanas na Copa do Mundo Feminina e revendo Acossado, um soi-disant filme de ação que passa um terço do tempo trancado num quartinho de hotel, com Belmondo de cueca samba-canção desfilando sua Weltanschauung para impressionar Jean Seberg, lembrei da minha experiência com as suecas. Belmondo deambula: “A rapaziada é mentirosa, Estocolmo, por exemplo: ‘As suecas são formidáveis, eu traçava três por dia.’ Estive lá. É uma mentira.” 

A caminho de minha bolsa de estudos em Paris em 1960, parei em Lisboa. Um casal recomendado por amigos me levou a uma casa de fados. Agregado ao casal, havia um capitão do exército, Carlos Lacerda. O nome já não inspirava muita confiança, devia ter muito QI para estar no bem bom, longe da sangrenta guerra colonial. O afável capitão, sabendo que eu viajaria pela Escandinávia, sacou um caderninho preto e copiou para mim numa folhinha de papel os telefones de dezenas de garotas suecas que conhecia e que, em linguagem bélica, eram “tiro e queda.” Quando visitei a Estocolmo no verão de 1961, telefonei, telefonei e telefonei, dias seguidos, para as Ingrids, Margids e Gretas – e não deu em nada. Fiquei literalmente na mão... 


50 anos de Fantástico: revista Manchete foi a inspiração do “Show da Vida” • Por Roberto Muggiati

José-Itamar de Freitas e Nélio Horta na redação da Enciclopédia Bloch
em Frei Caneca. Foto:Acervo Nélio Horta

Conheci José-Itamar de Freitas em Frei Caneca quando comecei a trabalhar como repórter especial da Manchete em 1965. Para complementar o magro salário, escrevia nos Cadernos de Jornalismo da Bloch – que ajudei a lançar –  e passei a colaborar na Enciclopédia Bloch, uma mensal de conhecimentos gerais que Itamar dirigia. Filho de Miracema, no noroeste fluminense, trinta anos (dois mais velho que eu), Zé-Itamar tinha a alma de editor. Infelizmente, os Bloch nunca valorizaram devidamente seu talento. Quando o intimaram a dirigir a mensal Pais e Filhos, Itamar pediu as contas e se mandou: não tinha physique du rôle nem esprit de corps para editar uma revista voltada para fraldas, soluços, papinhas, nana-nenéns e assuntos afins. 

O Fantástico fez uma homenagem especial a
Jose-Itamar de Freitas, em 2020

Foi imediatamente acolhido pela TV Globo, onde, criativo como poucos, aplicou a fórmula da revista Manchete a um programa das noites de domingo com o sugestivo título de Fantástico e subtítulo “O Show da Vida.” Sucesso instantâneo. Nos 30 anos da atração, ele disse à apresentadora Glória Maria: “Quando você passa dezesseis anos num programa, tudo te marca. Acabou sendo a minha vida. Um amor enorme, convivência, amizade, tudo. Eu olho o Fantástico como sendo da família. ”  

José-Itamar de Freitas morreu em 2020, aos 85 anos, de complicações da Covid. 

Foi-se o Criador, a Criatura segue em frente. 


Memórias da redação da Manchete: a foto e a falha

 

Matéria reproduzida de Jornalistas &Cia.
Clique na imagem para ampliar.



sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Curitibana superfogosa bomba na Ucrânia • Por Roberto Muggiati

 Ela conseguiu se fazer ouvir em meio à guerra e acima das explosões e lidera as músicas mais ouvidas na Ucrânia (e em Belarus e no Cazaquistão). A funkeira eletrônica Bibi Babydoll arrebata plateias do mundo inteiro com seu provocante Automotivo Bibi Fogosa, que está no topo da playlist global da plataforma de faixas virais (cuja audição sobe mais rapidamente).

Beatriz Alcade Santos, curitibana de 24 anos, pontificou em 2021 ao emplacar Pirigótika, que chegou a 100 mil views em menos de uma semana. Em seu site, Bibi Babydoll se define como “performer, influencer, publicitária e corporate punk rock whore” – ufa! Com todo esse gás a menina vai longe... 

Curitiba – que conta hoje 70 mil descendentes de ucranianos – retribui assim ao país que resiste bravamente à bárbara invasão russa.

Confira AQUI Bibi Babydoll e DJ Brunin XM - Automotivo Bibi Fogosa (Clipe Oficial)

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

O 'drible da vaca' na mídia esportiva

por Niko Bolontrin

Será que a mídia esportiva é mesmo capaz de avaliar o trabalho de um treinador? Há dúvidas. 

Vejam dois casos. Cansei de ouvir jornalistas sugerindo que a CBF contratasse um treinador permanente ou quase isso para a seleção brasileira. Pois bem: Tite foi chamado, treinou, treinou, falou difícil e perdeu a Copa da Rússia. Nunca um treinador recebeu tanto apoio da imprensa. Parecia o Guardiola brasileiro. Foi mantido apesar de não passar das quartas de final. Quatro anos depois, Tite chegou à Copa do Catar. Ter classificado o Brasil não conta: escândalo seria se a seleção brasileira não se classificasse tamanha a moleza. De novo, o treinador dava entrevistas rebuscadas, parecia saber o que estava dizendo. Não sabia. O Brasil passou vexame novamente e foi despachado de novo nas quartas de final. Só aí a mídia esportiva tornou-se subitamente crítica ao treinador que mais tempo teve para preparar uma seleção brasileira. 

O segundo caso. A treinadora Pia, da seleção feminina teve recursos e tempo para preparar a seleção feminina. A mídia não apontou qualquer defeito na sueca. Até que as meninas do Brasil saíram da Copa do Mundo ainda na fase de grupos. Vexame.  E só então, com a vaca no brejo, comentaristas de futebol, de ambos os sexos, passaram a apontar os erros da Pia. Assim como Tite no Catar, a sueca parecia em coma na Copa da Austrália - Nova Zelândia. Os closes da TV mostravam Pia atônita. 

Que tal a mídia esportiva mostrar que é do ramo e provar capacidade de criticar o trabalho dos treinadores antes do desastre? Isso ajudaria o futebol mais do que a exaltação bajuladora. 

A torcida agradece.

Uma coisa Tite e Pia ajudaram a provar. Treinador não deve mesmo ter estabilidade. Precisam provar a cada momento que sabem armar um time para vencer adversários qualificados e não apenas "fazer o nome' em amistosos de quinta categoria. 

A torcida agradece.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Quase memórias da falência da Bloch Editores (há 23 anos)

Foto Gil Pinheiro 

por José Esmeraldo Gonçalves

2 de agosto de 2000. Há 23 anos, em uma quarta-feira como hoje, os funcionários da Bloch Editores foram obrigados a abandonar às pressas a sede da empresa na Glória. Um oficial de justiça concedeu-lhes apenas alguns minutos para que reunissem seus objetos pessoais e, literalmente, fossem para a rua. No caso, a do Russell. 

A aglomeração no pequeno largo diante do imponente conjunto de três edifícios assinado por Oscar Niemeyer chamava atenção de quem passava de carro. Formou-se um pequeno engarrafamento, alguns indagavam se havia um incêndio. 

Não. Ninguém gritou fogo, mas a notícia da autofalência da Bloch queimava centenas de carreiras e lançava os mais idosos no desemprego. Aos mais jovens restava enfrentar o sempre difícil mercado de trabalho. No caso de jornalistas, fotógrafos, pessoal do administrativo e gráficos surgia um novo obstáculo: a mídia impressa entrava em grave crise que se agravaria ao longo da primeira década do novo milênio. O meio digital não ofereceria um número de vagas que compensasse a perda de cerca de quatro mil postos em todo o mercado de jornais e revistas do Brasil. 

A Bloch Editores agonizava desde meados dos anos 1990, abalada pela grave crise financeira e adminstrativa da Rede Manchete. Afinal, depois de várias vendas frustradas e desfeitas por falta de pagamento dos compradores, a TV foi vendida em 1999 ao grupo empresarial que fundou a RedeTV (que, na transação, atendia pelo nome fantasia de TV Ômega). 

Um reposicionamento da Revista Manchete nos últimos anos daquela década deu esperança de novo vigor ao braço editorial das revistas impressas da Bloch. Mas era tarde. Imposta pela internet, a acelerada mudança do mercado de revistas já se anuncava em 2000 e em menos de dez anos decretaria o fim de centenas de publicações impressas no Brasil e no mundo. 

A Bloch não resistiu e pediu falência.

Carlos Heitor Cony testemunhou a queda do raio que partiu de vez o futuro da empresa. Ele confessou que só sete anos depois conseguiu descrever um pouco do que sentiu ao ser enxotado naquele fatídico agosto. Seu relato foi publicado na Folha de São Paulo em 2007. Segue-se um pequeno trecho do texto do Cony, que faleceu em 2018. 

- Penso que remeti as impressões todas para a caverna mais funda da memória, mais cedo ou mais tarde conseguirei articular alguma coisa expressando meu espanto, minha tristeza. A decepção de ver um mundo colorido, alegre e despreocupado, depois de uma ruína gradual e dolorosa que já durava dois anos, fechar-se como um túmulo que sepulta fantasmas, alguns mortos (Adolpho Bloch, Justino Martins, Magalhães Jr e outros ainda vivos, nós todos). Sinto em cima de mim o gosto de terra e o cheiro de flores apodrecendo".

Em 2008, como um dos autores da coletânea "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata), lançado por um grupo de ex-funcionários da Bloch, Cony voltou ao assunto e, entreo outras revelações destacou;: 

- Foi na Manchete que fiz e conservei alguns dos amigos mais queridos. Por ocasião da falência do grupo, eu ocupava o antigo escritório de JK no décimo andar do 804, dava apenas assistência não mais às revistas, mas à diretoria, sofri com Adolpho o trauma das tentativas de venda da TV a outros grupos".

Cony certamente não imaginou que aquele trágico 2 de agosto era apenas o primeiro e sofrido capítulo de um drama que se arrasta até hoje quando a Massa Falida da Bloch Editores completa inacreditáveis 23 anos. 

Não há justiça plena enquanto uma instituição que deveria privilegiar os trabalhadores consome partrimônio, tempo e esperanças ao não restituir todos os legítimos direitos às vítimas da implosão de uma corporação. Massas falidas não pode se eternizar enquanto vidas passam. 

Registre-se que uma parcela majoritária de credores trabalhistas da Bloch recebeu seus valores chamados principais. A estes - seriam quase três mil ex-funcionários da Bloch Editores  e Gráficos Bloch -, a Massa Falida pagou depois três parcelas de juros e correção monetária, mas há quase dez anos interrompeu essa recomposição devida. Por outro lado, ainda há credores trabalhistas habilitados que não receberam seus valores principais. 

A Massa Falida da Bloch Editores foi constituída em 2000. Apesar disso, o atual administrador judicial cita uma lei de 2005 segundo a qual valores referentes a juros só poderão ser pagos após a quitação das dívidas da extinta Bloch com todos os seus credores, trabalhalistas, financeiros, comerciais, institucionais etc. Então a lei retroage? Essa é a pergunta que muitos ex-funcionários fazem. Há outras indagações. No ano passado o síndico da Massa Falida da Bloch Editores informou a procuradores do Estado do Rio de Janeiro que "o ativo da massa falida foi praticamente liquidado, encontrando-se o processo falimentar na fase de pagamento de credores para posterior encerramento". Isso indica que o caixa se esvaziará antes do pagamento dos valores históricos e de juros e correção monetária de todos os credores trabalhistas?

Um bem valioso que pertencia ao extinto Grupo Bloch era o grande prédio da sede em São Paulo. Tal patrimônio teria ido a leilão, mas, em primeira chamada,, em outubro do ano passado, não apareceram potenciais compradores. Não tenho informação se foi arrematado posteriormente. No caso, o valor arrecadado seria, segundo dizem credores trabalhistas, dividido entre as massas falidas da Bloch e da TV Manchete.  Outro item de valor são as obras de arte restantes do acervo da editora. Aparentemente continuam aguardando uma data para leilão. Enquanto isso, custam à MFBloch o aluguel de salas para guarda, seguro etc.

Trabalhei muito anos com Carlos Heitor Cony na Fatos & Fotos, na Fatos e na Manchete, mas não estive no fatídico dia do despejo do prédio da Rua do Russell, que frequentei por longos 17 anos. Saí antes do desfecho da Bloch, não tive motivos para me habilitar a qualquer indenização. Em 1996, o editor e fotógrafo Sergio Zalis, com que eu havia trabalhado na revista Fatos, me convidou para participar da equipe da Caras, no Rio. Deixei a Manchete e me mudei para a Torre do Rio Sul, onde ficava a redação carioca da então recem-lançada revista sediada em São Paulo. Foi uma ótima expriência que durou oito anos. A Caras era fruto de uma parceria da Editora Perfil, argentina, com a Abril. Em 2004, fui demitido após uma discussão com o diretor-geral da Caras. Para minha supresa, no dia seguinte, por indicação de Patricia Hargreaves e Vanessa Cabral, ambas ex-Caras, Edson Rossi, que ao lado de Claudia Giudice, também ex-Caras, planejava o reposicionamento editorial da Contigo, publicação da Editora Abri, me convidou para integrar a sua equipe. Topei e foram, novamente, bons anos, até 2014, quando meu tempo de trabalho fixo em redações se esgotou em parte pela crise, em parte pela minha idade - era veterano demais para os novos tempos.  

Em todos eesses anos distante da Manchete nunca deixei de acompanhar a luta sem fim dos antigos colegas pelos seus direitos. De certa forma, eu estava naquela dramática aglomeração na Rua do Russell. Por fim, lamento que esse post não seja otimista, tanto que vale voltar ao Cony e a uma das frases que ele gostava de repetir.   

- Insisto em ser pessimista por antecipação e cálculo. O que me sobra é lucro''.

Frase do Dia: Meninas...

 #acordecom elas

#estãodormindo até agora


(à maneira de Neném Prancha & Nélson Rodrigues)

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Mídia: quando o jornalismo usa avatares para bombar especulações


A imagem simula fontes não identificadas da Globo News, CNN, Band, Globo, Folha, Estadão etc chegando às redações para falar sobre Márcio Pochmann, Mantega, juros do BC, fêmur do Lula, viagens do Lula interferências de Janja no Planalto, Petrobras, Dilma... 

por José Esmeraldo Gonçalves

Jornalistas brasileiros - quem se considerar exceção não vista a camiseta -  abusam das "fontes não identificadas".  De certa forma isso sempre aconteceu mas, na era da internet, esse recurso recebeu altas doses de anabolizantes. 

Foi banalizado. 

No jornalismo investigativo ou não a fonte anônima deve ser secundária no desenvolvimento da apuração. É válida desde que preferencialmente ajude a balizar e orientar a investigação ou a matéria e, ainda, quando narra fatos que testemunhou. Mas fonte anônima que opina? Inusitado. 

Um exemplo célebre do uso adequado do anonimato foi o Caso Watergate (a invasão do escritório dos Democratas orquestrada por Richard Nixon e seus capangas republicanos). Os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward usaram uma fonte secreta, à qual deram o nome de Deep Throat, que não foi a protagonista principal da série de reportagens. Mais do que isso, forneceu caminhos, nomes e locais que levaram a dupla de jornalistas a puxar fios que revelaram a malha de espionagem e manipulação do governo Nixon com fins eleitorais. 

Aqui, atualmente, a fonte não identificada calça a especulação, planta opiniões e, não raro, sustenta a pauta que o jornalista já traz pronta da redação. Um roteiro prévio que precisa apenas de um avatar: a fonte sem nome, geralmente fácil de achar e tão secreta quanto o orçamento da Câmara dos Deputados. 

No recente episódio da campanha dos principais veículos neoliberais contra a nomeação do economista Marcos Pochmann para o IBGE, uma das jornalistas envolvida nos ataques, a notória Malu Gaspar, conseguiu levantar ainda mais o sarrafo leviano da prática da "fonte não identificada". Ela encaixou um tal de "há quem diga" para encaixar uma suposta "informação". 

"Há quem diga" isso, "há que diga aquilo" é  uma introdução que aceita qualquer complemento. 

Com isso, a "fonte não identificada" acaba de escalar mais um degrau no pódio do jornalismo não confiável. 

Como exemplo, finalizo ao estilo vigente entre colunistas: uma fonte ligada ao núcleo duro do Congresso segredou que ouviu do líder de um partido da base que testemunhou uma conversa entre dois políticos próximos ao presidente uma crítica ao jornalismo. Essa pessoa, que pediu para não ser identificada, teria escutado no corredor de uma autarquia que a Abin estaria cogitando botar um caça-fantasmas de plantão em redações e estúdios.

O X do Twitter: Musk, liga para Eike Batista e ele te conta que essa consoante dá azar

 

por José Esmeraldo Gonçalves

Elon Musk demitiu o pássaro azul do cargo de símbolo do Twitter. Adotou a letra X. Musk não sabia que Eike Batista fez isso no nome das suas empresas e entrou em decadência. Uma marca de carros brasileira dos anos 70 também o usou o X no jipe Gurgel X e no Xavante XT. A marca sumiu e hoje esses veículos são peças cults. A Boeing  batizou a versão remendada do jato 737 de MaX e amargou um dos maiores prejuízos da sua história. A Xerox quase faliu, sobreviveu mas perdeu relevância e não subiu no bonde das novas tecnologias. As câmeras PentaX e RolleifleX tiveram suas fases. Passou. Qual foi a empresa dona do Titan que se desintegrou ao tentar chegar ao Titanic? Ocean EXPeditions.  Mas Musk bota fé no X, é dono da Space X, X.al, X.com, mas já enfrenta problemas com o X do Twitter.  A Mega já teria o nome registrado, um usuário do Twitter também e é esperado que outros proprietários da letra apareçam.



domingo, 23 de julho de 2023

Pesadelo...

 

Reprodução Twitter 

Faz sentido o pesadelo. Globo, Folha e Estadão parecem ter combinado o jogo. Os três jornalões se manifestaram contra o que consideram excessos nas investigação e indiciamentos de terroristas, golpistas e qualquer um da horda de 8 de janeiro ou de ataques políticos a autoridades ou cidadãos. A democracia ainda está sob ataque mas os jornalões se incomodam com a eventual punição dos envolvidos. O motivo? É muito simples. Os três grupos editoriais vêem nos aloprados possíveis aliados para 2026. Daí cortejá-los. As referidas oligarquias podiam, pelo menos, disfarçar o jogo combinado e soltar editoriais e artigos com um certo intervalo. Saiu tudo de um vez. Até parece que as famílias Marinho, Frias e Mesquita se encontraram secretamente em um lava jato qualquer da Dutra disfarçados de homens de bem e alinharam os textos que os seus entregadores de opinião  divulgaram quase ao mesmo tempo.

Mídia - Leia no Poder 360: audiência dos canais de notícia não é lá essas coisas

 



LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PODER 360 - AQUI

Mídia dá um tragada no lobby do cigarro eletrônico

 

Anúncio reproduzido de O Globo

É forte junto ao Congfresso Nacional o lobby para liberação dos cigarros eletrônicos. Há anos é grande a pressão sobre deputados e senadores, mas agora o jogo é mais pesado.  Gigantes tradicionais e poderosos da indústria do fumo, como a British American Tobacco, aderiram aos dispositivos turbinados para consumo de nicotina e batalham com intensidade nos corredores do Congresso para conquistar legisladores. Aparentemente já recrutam jornalões como O Globo e Valor. O anúncio acima é de um "seminário" patrocinado pela BAT com apoio dos dois veículos, a pretexto de "debater" os vaporizadores de nicotina. 

Os cigarros eletrônicos são liberados nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo,  e proibidos em vários países, inclusive no Brasil. Aqui, consumidores, principalmente jovens, compram o vape através de contrabando ou em sites estrangeiros. Venda, importação e publicidade do produto são proibidas, mas um "jeitinho", como a convocação de um "seminário", pode ajudar na divulgação dos vaporizadores e dar um caráter "científico" ao lobby. Cinema, séries e o You Tube veiculam cenas que glamourizam os vape. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) possuem substâncias tóxicas além da nicotina, podem causar doenças respiratórtias, como o enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, dermatite e câncer. Estudos mostram que os níveis de toxicidade podem ser tão prejudiciais quanto os do cigarro tradicional, já que combinam substâncias tóxicas com outras que muitas vezes apenas mascaram os efeitos danosos".  

Para as corporações tudo isso é nada, diante da possibilidade de faturar milhões com os pulmões da rapaziada.

sábado, 22 de julho de 2023

Pão de Açúcar sob ataque. E não é o supermercado: é um símbolo carioca

Tem gente que odeia o Rio. Só pode. Coisas inacreditáveis acontecem nessa cidade. Um dos gerentões da ditadura, o general Ernesto Geisel, mandou demolir um símbolo histórico da cidade, o Palácio Monroe, apenas porque acordou "naqueles dias". Uma quadrilha equipada com modernos equipamentos pesados roubou um viga da antiga Perimetral. Detalhe: a viga pesava 120 toneladas e jamais foi encontrada. O braço imobiliário do Grupo Roberto Marinho tentou comprar o Parque Lage para construir um cemitério vertical. Felizmente a insanidade não se realizou tal a indignação da vizinhança. 

Pois agora um tipo de vândalos se une para picotar o Pão e Açúcar. Meteram a picareta na pedra mais famosa do mundo, que resistiu muitos milênios desde que foi formada, mas sucumbiu aos anormais que não respeitam nada a não ser seus interesses. A obra foi embargada. Se por acaso instâncias superiores ou o governo federal através do IPHAN liberarem o crime contra o Rio de Janeiro a porteira estará aberta. O Pão de Açúcar, coitado, poderá ser decepado para receber rodas gigantes, toboáguas, motel e salão de festas do IPHAN, cujo presidente autorizou o ataque ao Pão de Açúcar. 

A propósito, leia na Piauí (link abaixo) matéria sobre o abuso que o Pão de Açúcar sofreu dos "tarados" corporativos.

 https://piaui.folha.uol.com.br/morderam-o-pao-de-acucar

MORDERAM O PÃO DE AÇÚCAR

A polêmica da construção de uma tirolesa em um bem tombado, cartão-postal do país – e que ameaça o título de patrimônio mundial concedido ao Rio de Janeiro

Roberto Kaz

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Mídia: Cadê o repórter que estava aqui? O Brasil tem mais "analistas" de notícias do que técnicos de futebol

Uma das salas vip do Aeroporto Fiumicino, em Roma: câmera é o que não falta.

por José Esmeraldo Gonçalves
A Polícia Federal deverá receber vídeos que registram cenas do ataque bolsonarista ao ministro Alexandre de Moraes em Roma. O caso ganhará então um novo capítulo na mídia. 

O que foi escrito até esse momento expõe a incapacidade dos jornalões e da TV brasileira em exercer uma função básica dos repórteres: apurar a notícia à margem das fontes oficiais e da prática declaratória preguiçosa onde cada um fala o que lhe interessa, sem questionamento ou contestação. 

Nenhum correspondente atuou no caso. Nenhum repórter tentou localizar testemunhas no Aeroporto Fiumicino, terminal europeu de alta segurança, que faz investigações próprias, além de produzir relatórios diários sobre eventuais incidentes no local. Nenhum repórter, pelo menos até ontem, falou com o adido policial brasileiro que entrou em contato com as autoridades italianas. Além disso, áreas vips costumam ter funcionários ligados a companhias aéreas. Alguém procurou fontes nesses setores? Nenhum repórter tentou contatar passsageiros do voo com destino a São Paulo e que estavam presentes no setor de embarque ou na sala vip. 

Deve ser instrução dos departamentos financeiros dos veículos preocupados em baixar custos.   

Do ponto de vista jornalístico, o ataque a Alexandre de Moraes demonstra a prioridade dos jornalões e canais de notícias: a opinião. Consiste em botar um sujeito ou dois ou três falando horas sobre um fato qualquer, geralmente divulgado por todos os veículos e, na maioria das vezes, relatados por repórteres que leem notas de assessorias e raramente têm tempo e instrução para ir além do oficial ou buscar fontes próprias e independentes. 

O Brasil é a pátria dos "técnicos" de futebol, tem milhões de torcedores entendidos em táticas, escalações e sistemas de jogo. Agora somos o país dos comentaristas e analistas de qualquer coisa. 

Nas rodas de conversa em estúdios e redações as notícias são desidratadas, levadas a um mixer e submetidas a tanta "interpretação" que, no fim, o público recebe uma massa disforme onde o fato, coitado, quase some diante da opinião do "analista". Você não recebe a notícia, mas o que alguém pensa sobre o que acha que aconteceu. Caricaturando o estilo, há coisas mais ou menos assim: "fulano, Lula vetou a pistola 9mm para uso de civis. O que isso significa?"; "sicrana, morreu o Tony Bennett, que mensagem essa morte passa?; "PF prendeu líder de invasões em 8/1. Você contextualiza pra gente?

 É tanto contexto que o texto é deixado de lado.           

Por isso, fugiu a esse padrão a velocidade com que alguns veículos logo levantaram duas "notícias" em paralelo a ataque em Roma. Uma, bastante compartilhada, dava conta de que um dos agressores havia sido candidato em chapa coligada ao PT, em 2004, pelo PL, atual partido de Bolsonaro. A notícia circulou inicialmente sem o adendo de que naquele ano, o PL era o partido de José Alencar, então vice-presidente no primeiro mandato de Lula. Essa tinha o objetivo de desvincular do bolsonarismo os autores de ataque. A   outra, também rapidamente lançada, dizia que Alexandre de Moraes  fora convidado para uma palestra em Siena, Itália, por um empresário bolsonarista acusado de divulgar fake news. As duas notas provavelmente pretendiam transformar o ministro de vítima em suspeito. 

Depois do que aconteceu na Lava Jato, quando jornalões e TVs foram pautados pelos "editores" Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, pode-se aventar que a assessoria do rico empresário e seu  advogado trabalharam bem e conquistaram mais espaço na mídia para divulgar suas defesas do que mesmo o relato da vítima sobre o que aconteceu em Roma. Um "analista" chegou a classificar de "boa" a estratégia do advogado dos agressores. Isso foi dito em uma roda de conversa em que não foi "contextualizado" o relato de Moraes. Outro considerou "desproporcional" (conceito usado pelo advogado de defesa dos agressores) a reação do PF e do Ministério da Justiça em relação ao incidente em Roma.

Não se sabe qual será o desfecho desse caso, mas nessa primeira semana após o fato, Moraes ganhou solidariedade e perdeu a primeira batalha na mídia.           

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Flanando na chuva • Por Roberto Muggiati

London Albert Bridge depois da chuva. Foto Roberto Muggiati

Ponte Vecchio, Florença/Reprodução Instagram

Não sei se é coincidência ou tendência, mas tenho visto muita coisa sobre a arte de flanar nas folhas (sim, ainda sou daqueles que lê as folhas, ou meramente as folheia...). O Estadão desta terça dedicou duas páginas ao assunto (Como vagar por cidades ao lado de escritores) e aguardo ansioso o livro que encomendei à Estante Virtual Flâneuse: mulheres que caminham pela cidade em Paris, Nova York, Tóquio, Veneza e Londres (quem sabe já estaria a caminho uma versão “transflâneuxx”?)

Gostaria de contribuir aqui com uma variante sobre o tema que pratiquei em meus dias de Paris, Londres e adjacências: o contrassenso de flanar na chuva. E não o fazia por excentricidade, mas por mera necessidade. Nos três anos que morei em Londres, conheci muito pouco do Reino Unido, apenas um Natal em Bath, uma ida a Stratford para uma nova encenação de uma peça de Shakespeare e uma escapada dominical ao País de Gales. Britânico de raiz, eu passava as férias no “Continente”. E como tinha férias! Solteiro descompromissado, muitas vezes emendava um dia normal de trabalho no Serviço Brasileiro da BBC com a transmissão noturna ao vivo. Isso me rendia “comps”, compensações que eu ia somando para gozar duas ou até três férias por ano. A Itália era um dos destinos favoritos e foi assim que me encontrei no verão de 1963 em Florença, no momento em que jornais do mundo inteiro noticiavam a devastação do meu estado natal, o Paraná, por um dos maiores incêndios florestais da história. Hospedado no centro monumental de Firenze, eu já estava no meu terceiro dia sem poder sair por causa de um a chuva persistente. Alguém me avisara “Florença é o penico do mundo”  – mas não dei ouvidos. Só faltava pedir à dona da pensione que me ensinasse a fazer crochê, mas meu lado rebelde se insurgiu. Vesti minha valente capa impermeável Burberry e saí na chuva. Vocês não podem imaginar a sensação de liberdade, tendo Florença só para mim, despida das hordas turistas. Pude observar detalhadamente a placa no chão da Piazza dela Signoria, QVI FU IMPICCATO ED ARSO FRA GIROLAMO SAVONAROLA, “aqui foi enforcado e incinerado Girolamo Savonarola”, evocando o frade rebelde executado em 1498. Ou atravessar o rio Arno pela Ponte Vecchio. Ou simplesmente vagar pelas ruas de pedras seculares. Numa de minhas andanças noturnas ouvi música de piano emanando da igreja do Santo Spirito, era o concertista chileno Claudio Arrau numa apresentação gratuita, interpretando a Sonata Les Adieux de Beethoven. 

Sonata No. 26 in E-flat Major “Les Adieux”, Op. 81a: II. Abwesenheit (Andante espressivo) - YouTube 

Clique AQUI 

Em Londres continuei a saudável prática – propícia a resfriados ou a uma eventual pneumonia – no meu “quadrilátero sobre o Tâmisa”: a extensão do Embankment na margem norte e a do Battersea Park na margem sul do rio, ladeadas pelas pontes Albert e Chelsea, quatro quilômetros de percurso. Uma vez me aventurei um pouco mais longe para o sul, até Clapham Common, onde ficava o prédio de Graham Greene destruído por uma bomba na Segunda Guerra. Ele localizou ali a casa da amada em The End of the Affair /Fim de caso (1951). No romance, meu favorito de GG, a heroína morre de uma infecção pulmonar agravada por ter caminhado na chuva em Clapham Common. 


Hoje vejo flanar na chuva como uma atividade sem futuro. A temperatura amena que ela requer foi violentada pelo aquecimento global. Há violência nas ruas, balas perdidas prontamente achadas. 

E os humanos passaram a preferir capas de chuva berrantes de PVC. 

Impermeáveis da Burberry se tornaram exclusividade do pet elegante...

Mídia - Investigações sobre ataques à democracia incomodam O Globo. É o que parece

Enquanto noticiário se ocupava da agressão de bolsonaristas radicais ao presidente do STF, ministro Alexandre de Moraes, um editorial apressadinho do Globo afimava que a democracia "está fora de risco no Brasil". 

O Globo acabou de chegar de Marte e não olhou em volta. Para um grupo numeroso de parlamentares da extrema direita o 8 de janeiro não acabou. Vários deles declaram isso abertamente. Há pelo menos um terrorista foragido entre aqueles do comando bolsonarista que tentou explodir um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto de Brasília. Bolsonaristas fanáticos espalham fake news, ofendem, detratam, difamam, exibem armas e até ameaçam matar o presidente Lula e outras autoridades. Basta anotar que houve quem comemorasse nas redes sociais o ataque a Alexandre de Moraes e lamentasse apenas que os agressores não tivessem usado uma bala 9mm. Se o redator de editoriais do Globo acordar poderá  ler que a Abin detectou ampla rede terrorista com planos para explosões, financiamento, logística e organização de pequenas células terroristas. Há políticos,  empresários e "patriotas" ainda não atingidos pelas investigações.

Ao contrário do que O Globo prega, a lei não pode se render aos golpistas. O Globo insinua, mas não prova, que a Justiça - no caso, o STF, o TSE, o STJ e demais instituições e instâncias - poderia estar atuando fora dos preceitos legais contra participantes e financiadores dos ataques à democracia. O editorialista anda com pena dos presos pelos ataques de 8 de janeiro, o sujeito chega a dizer que a Constituição de 1988, por ter sido produzida "nos estertores do período ditadorial" (...), "talvez por isso prestigie de forma tão exacerbada a democracia e o Estado de Direito". Já  os democratas de raiz - não é o caso do Globo que já apoiou e se beneficiou de ditadura e golpes - democracia e  Estado de Direito devem ser defendidos com toda intensidade possível e impossível. 

Essas palavras, publicadas no dia 18/7, logo impactaram os comentaristas do grupo na TV. Como um jogral de coroinhas diante do vigário sedutor algumas figuras logo produzirem "análises" para dar credibilidade aos depoimentos dos acusados. Quem sabe? Pode ter sido apenas uma discussão sobre o acesso à sala vip do aeroporto de Roma. Ou talvez um desentendimento na fila para comprar um suppli, o delicioso croquete romano de arroz com tomate, muçarela e farinha de rosco.

Historicamente, O Globo gosta de se espelhar no que acontece nos Estados Unidos.  Pois lá as investigações sobre o ataque ao Capitólio estão em andamento e nenhum editorial da mídia pede refresco para os acusados.

ATUALIZAÇÃO  EM 21/7)2023 - O editorialista do Globo pode ler hoje, no seu próprio jornal, uma informação da jornalista Bela Mengale sobre bolsonaristas radicais que preparam atos para o dia 7 de Setembro.          

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Confirmado: mudança climática fede

 


Futebol com nome, sobrenome e bola murcha

Imagem reproduzida da Folha de São Paulo 

por Niko Bolontrin

Hoje, na Folha de São Paulo, Ruy Castro deu um chapéu no time do ridículo que joga atualmente nos estádios do Brasileirão. 

O cronista está cheio de razão. 

Tem jogador que gasta mais tempo descolorindo os cabelos do que treinando falta (aliás, já repararam que são cada vez mais raros os gols de falta?). Outros passam horas escolhendo pulseiras e braceletes; alguns se dedicam a ensaiar comemorações; os evangélicos treinam formas de agradecer vitórias a Jesus, ora apontam para o céu na esperança de que os milhares de satélites não atrapalhem o trânsito da mensagem rumo ao Criador, ora se lançam ao gramado em êxtase bíblico etc. 

Garrincha deixava a concentração para ministrar um workshup para suecas interessadas. Não existem mais concentracões monásticas mas, se existissem, os atuais boleiros pulariam o muro sim mas só para fazer uma nova tatuagem. 

Uma das novidades nas transmissões é a nomenclatura dos jogadores: ninguém mais se chama Dé, Fio, Kaká, Zico, Vavá, Almir ou Pelé. Nem Zizinho, Jairzinho, Marinho, Zinho ou Quarentinha. 

A maioria, como observa Ruy Castro, é Raphael Veiga, Paulo Henrique Ganso, Marcos Freitas, Everton Ribeiro, Victor Hugo.

Nos anos 1940 e 1950, nomes e sobrenomes eram reservados para os fora de série. Não era qualquer um que recebia dos locutores a "razão social" completa. Só Ángel Labruna, Adolfo Pederneira, Nilton Santos, Djalma Santos, Ademir Menezes, Alfredo Di Stefano, Jair da Rosa Pinto, entre outros poucos que conquistaram a honraria. 

Hoje, qualquer Zé Mané vira "José Manuel de Souza", vai pro Catar e carimba o passaporte de volta pra casa antes da Copa acabar.