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| Reprodução Twitter |
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| Reprodução Twitter |
Roberto Jefferson, hoje uma espécie de jagunço do Bolsonaro, ofendeu uma ministra do Supremo e, depois, resistiu à bala e granada à revogação da sua prisão domiciliar. Feriu uma agente e um delegado da Polícia Federal. A mídia analisa como um fato político. Não é. É terrorismo. E com um adereço: tem cara de armação eleitoral que saiu ou não do controle.
| O novo logo para identificar idosos. |
| O símbolo do velhinho prejudicado, de bengala e com dor nas costas, é depreciativo. |
A imagem que representa idosos portando uma bengala e com a mão nas costas cuidando da dor da coluna deverá ser trocada nos serviços públicos do Rio de Janeiro. Há muito o logotipo é tido como preconceituoso e ofensivo tanto para os portadores de deficiência quanto aos velhinhos que ainda batem um bolão.
A Câmara de Vereadores aprovou em primeira votação projeto do vereador Alexandre Isquierdo (DEM) que propõe nova figura para identificar espaços reservados para a turma de mais de 60 anos. O novo desenho elimina a bengala e mostra um idoso mais em forma. O projeto se justifica pois os brasileiros estão vivendo mais e não necessariamente a bengala é item tão generalizado quanto o design imaginou.
Se a medida for aprovada em segunda votação e sancionada pelo prefeito, o Rio de Janeiro poderá ser pioneiro na correção do símbolo do idoso. Muitos países usam o logo do velhinho de bengala e cheio de dor.
Cartaz da ONU
E, quem sabe, o Rio agradeceria também se outros logos fossem adicionados ao visual da cidade. Por exemplo, locais perigosos deveriam ter logotipos mostrando assaltantes armados; certos prédios publicos e empresas desonestas receberiam símbolos alertando sobre corrupção, a Avenida Atlântica sinalizaria graficamente a presença de ladrões de celulares e a comunicação visual do metrô e dos trens avisaria às mulheres sobre a presença de tarados.
| Foto de Carl Souza/AFP/Getty Images (link para The Guardian) |
Em ato de campanha, Lula arrastou uma multidão na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O fotógrafo Carl de Souza/AFP/Getty Images captou a cena vibrante, acima, que The Guardian selecionou para sua tradicional galeria de melhores e publica hoje na seção Friday’s Best Photos. Neste link que remete ao jornal você poderá ver mais fotos do dia. AQUI
| Reprodução Folha de São Paulo de 10/10/2022 |
Confiante de que está reeleito, o governo Bolsonaro prepara uma bomba social. Paulo Guedes tem na gavete, pronto para assinar, um plano para desatrelar o reajuste do salário-mínimo da inflação passada, e exrtingiur sua vinculação às aposentadorias. Na prática, o pacote significa um enorme confisco de parte do salário mínimo e das aposenrtadorias.
É decisão fácil e leviana para a gangue que dirige o país e dramática para milhões de brtasileiros. Se reeleito, o governo federal terá que repor bilhões para fechar o rombo causado pela distribuição de verbas do "Bolsolão", também conhecido como "orçamento secreto" e que irrigou a corrupção em ano eleitoral.
Para Bolsonaro e Guedes, que jamais vão retirar dinheiro da Defesa, dos subsídios bilionários ao agronegócio, da renúncia fiscal em cascata para beneficair setores aliados, nunca vão cobrar a sonegação de pastores e dos empresários amigos, o alvo agora é o trabalhador e o aposentado. Praticamente, não há mais como tirar verbas da Educação e da Saúde já espoliadas. Então, será mais fácil pegar a caneta e jogar um bomba social de napalm na população mais necessitada.
“A mentira voa, a verdade engatinha...”
DONA LINDU, MÃE DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
O jornal Le Parisien abriu assim a reportagem sobre o gesto de Raí:
"Tempo de um discurso e de um gesto, Paris encontrava-se no centro da tensa campanha presidencial brasileira. Ao mesmo tempo em que foi convidado, durante a cerimônia da 66ª Bola de Ouro, a entregar um prêmio para jogadores envolvidos em projetos sociais e beneficentes, Raí, lenda do futebol e do Paris-Saint-Germain (PSG), deu um passo para o lado e fez um discurso muito notado. Especialmente em seu país.
"O Brasil tem uma decisão importante a tomar no final do mês em relação ao futuro da democracia em nosso país e todos sabemos de que lado Sócrates estaria", disse ele, fazendo o "L" de Lula (ex-presidente e candidato de esquerda) com os dedos. A mensagem do atual membro do Paris FC (Ligue 2) foi imediatamente divulgada por diversos meios de comunicação no Brasil. E ainda recebida pelo principal destinatário, Lula, que se manifestou imediatamente no twitter. “Obrigado Raí, eu estava assistindo” (a cerimônia)".
A política de destruição do salário mínimo adotada após o golpe contra Dilma Rousseff e agravada pelo governo Bolsonaro foi imposta para favorecer as empresas e sufocar o trabalhador e os aposentados. Ao reduzir o salário mínimo Bolsonaro, na prática, injetou dinheiro no caixa privado.. Com o consequente aumento da pobreza, usou dinheiro público em "auxílios" para fins eleitorais. O gráfico da USP prova o tamanho do estrago. Isso explica porque Bolsonaro tem o apoio das elites, do mercado, das empresas e porque a política e econômica de Paulo Guedes é sustentada pelas oligarquias da mídia e pelos seus jornalistas de mercado. Caso as legendas do gráfico não estejam legíveis , observe as cores: rosa indica a infame degradação do salário mínimo nos governos Collor e Bolsonaro; verde aponta o aumento nos governos FHC, Lula e Dilma e a queda expressiva com Temer. Entendemos, não é?
"O Brasil vai pífio de PIB, mas está bombando em OIB [Ódio Interno Bruto]: 100%.”
Barão de Itararé e Stanislaw Ponte Preta, em colaboração, ambos quicando no túmulo.
Pode fechar a conta e passar a régua: o formato dos debates presidenciais está ultrapassado, morto e cremado.
Em 2020, segundo o Reuters Digital News Report, as redes sociais m a superaram a TV, pela primeira vez, como fonte de informação para 67% dos brasileiros, enquanto 66% tinham a TV como fonte principal. O poder da TV não sumiu, claro, continua alcançando grndes audiências, assim como o rádio. Apenas perdeu a hegemonia, para o bem e para o mal.
No caso das campanhas presidenciais, os debates se tornaram uma espécie de rascunhos das redes sociais. Praticamente repercutem as polêmicas compartilhadas por milhões a cada hora no Twitter, You Tube, Instagram, Telegram, Whatsapp, Facebook, sites, blogs, portais e podcasts. Se o conteúdo dos debates passa a imitar as tempestades da web, a TV sai perdendo e, principalmente, abre mão da chance de informar aos eleitores sobre ideias e planos dos candidatos.
Em qualquer boteco, ouvimos discussões semelhantes aquelas que os debates exibem. Faltam só o chope e as brigas, sendo que embates agressivos e ameaças de porradaria já ocorreram nos bastidores em recentes debates.
Sabe-se que estrategistas da extrema direitas ligados a Donald Trump recomendaram durante a sua campanha vitoriosa, em 2016, que mentiras e fake news fossem utulizadas à exaustão sob o argumento de que a mentira é um coelho, o desmentido é uma tartaruga. Por isso, espalhar fake news é um crime que compensa largamente.
E essa é a razão principal da inadequação dos atuais debates. Até aqui, todos os debates foram usados como plataformas de lançamentos de fake news. Os próximos também o serão. Dentro da sua estratégia, Bolsonaro mentiu em praticamente todas as intervenções. O candidato à reeleição nega o que diz em vídeos autênticos, muitos gravados por ele mesmo; diz que não assinou documentos oficiais que estampam sua assinatura; jura que o chamado orçamento secreto não foi sua invenção, quando o projeto saiu do seu gabinete e atravessou a praça rumo à Câmara dos Deputados; nega os múltiplos casos de corrupção emseu governo; garante que não imitou, como se fosse um sádico, a morte de paciente sufocados por falta de oxigênio; e quer que o Brasil admita que ele não boicotou vacinas e não atrasou compras de imunizantes. Esses são apenas alguns exemplos do modo Bolsonaro de debater segundo a cartilha de Steve Bannon, o Joseph Goebbels de Trump. Sim, Bannon e Bolsonaro não estão inovando: a große Lüge, grande mentira, expressão criada pelo próprio Hitler, foi o pilar-mestre da propaganda do nazismo.
Os debates, no atual e exaurido modelo, não têm armas contra a mentira.
Ou melhor, a arma existe, mas não é utilizada.
As agências de checagem surgiram no mundo e no Brasil para tirar o jornalismo do atoleiro das fake news. Em geral, fazem um bom trabalho, no Brasil inclusive. Por ignorar essa ferramente, os debates atuais viraram um poderoso instrumentos de propagação de fake news. Bolsonaro mente e sai impune. Mesmo candidatos que não adotam a "grande mentira" podem errar dados importantes que também não são corrigidos.
Para evitar isso, a estrutura dos debates deveria incluir uma bancada de checadores para ação imediata. Corrigir fake news 24 horas e se comportar como uma tartaruga muito mais lenta do que La Fontaine imaginou. E a 5G está aí mesmo para dar velocidade às buscas.
A Ciência de Dados avançou muito. Não se trata de uma prosaica busca no Google, envolve computação, inteligência artificial, matemática aplicada, busca de padrões, análise, habilidade para acessar todas as portas dos bancos de dados públicos e autononia de voo para visitar as mais complexas nuvens. O mediador poderia dar a palavra à bancada de checadores logo após a fala mentirosa do candidado. Possíveis diálogos como esses que se seguem seriam muito esclarecedores.
- Candidato, o senhor mentiu. Temos o decreto, temos o vídeo, aqui está sua live.
- Candidato, nesse dia citado o senhor estava em Brasília, não no Guarujá.
- Os extratos bancários reunidos pelo do MPF, veja no telão, mostram o oposto, candidato.
- Por favor, candidato, veja no telão, no vídeo periciado pela PF, o senhor aparece ao lado do acusado, ao contrário do que disse.
Os espectadores-eleitores agradeceriam se os debates e debatedores deixassem de tratá-los como otários.
| Reprodução You Tube |
CATEGORIA ARTE – VENCEDOR
Três mulheres da Craco
Autoria: Carol Ito
Veículo: Revista Piauí
Categoria Arte – Menção Honrosa
Pós-Estupro
Autoria: Brum
Veículo: Jornal Tribuna do Norte
CATEGORIA FOTOGRAFIA – VENCEDOR
A dor da fome
Autoria: Domingos Peixoto
Veículo: Extra
Categoria Fotografia – Menção Honrosa
A narrativa desumanizante em torno dos assassinatos policiais no Rio de Janeiro
Autoria: Fabio Teixeira
Veículo: plataforma9p9
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM ÁUDIO – VENCEDOR
O que os olhos não veem
Autoria: Ciro Barros – Reportagem, Entrevistas e Locução; Ricardo Terto – Produção, Roteiro e Edição de Som; José Cícero da Silva – Reportagem, Entrevistas e Locução; Alexandre de Maio – Ilustrações; Natalia Viana – Supervisão e Coordenação Jornalística
Veículo: Agência Pública
Categoria Produção Jornalística em Áudio – Menção Honrosa
Não sou mais o Pedro
Autoria: Tomás Chiaverini
Veículo: Rádio Escafandro
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM MULTIMÍDIA – VENCEDOR
Mortes invisíveis
Autoria: Amanda Rossi – Repórter; Saulo Pereira Guimarães – Repórter; José Dacau – Repórter; Flávio VM Costa – Editor e coordenador do núcleo investigativo; Lúcia Valentim Rodrigues – Editor; Yasmin Ayumi – Arte; Gisele Pungan – Editor de arte; René Cardillo – Editor de arte; Douglas Lambert – Filmagens; Olívia Fraga – Edição
Veículo: UOL
Categoria Produção Jornalística em Multimídia – Menção Honrosa
A rota do tráfico humano na fronteira da Amazônia
Autoria: Mirelle Pinheiro
Veículo: Metrópoles
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM TEXTO – VENCEDOR
Cercados e vigiados – PF legaliza seguranças que aterrorizam moradores de antiga usina de açúcar em Pernambuco
Autoria: Alice de Souza
Veículo: The Intercept Brasil
Categoria Produção Jornalística em Texto – Menção Honrosa
Mineração arada: quilombolas barram avanço de empresa inglesa na Chapada Diamantina
Autoria: Daniel Camargos – Repórter; Fernando Martinho – Repórter fotográfico
Veículo: Repórter Brasil
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM VÍDEO – VENCEDOR
Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico
Autoria: Alexandre Hisayasu, Valéria Oliveira dos Santos – Produção e reportagem; Henrique Souza Filho – Técnico; Alexandro de Oliveira Pereira – Cinegrafista; Luciane Marques de Oliveira – Produção; Wagner Luis Suzuki – Editor; Gustavo Pereira Pacheco – Editor de imagem; Everton Altafim – Editor de imagem; Anderson da Silva – Editor de arte; Luciano Abreu – Produção
Veículo: Rede Globo
Categoria Produção Jornalística em Vídeo – Menção Honrosa
Não merecia ser humilhado; PM arrasta suspeito em moto e recria cena da escravidão em São Paulo
Autoria: Guilherme Belarmino – Repórter; Marconi Matos – Repórter cinematográfico; Eduardo de Paula – Repórter cinematográfico; Marcos Barcarollo – Técnico de Captação de Som; Raphael Moura – Técnico de Captação de som; Marco Aurélio Silva – Designer; Aline Lima – Designer; Esther Radaelli – Produtora; Renato Nogueira Neto – Editor; André Alaniz – Editor de imagem; Flávio Lordello – Editor de imagem
Veículo: Rede Globo / Fantástico
Categoria Produção Jornalística em Vídeo – Menção Honrosa
Identidade, o direito à vida transvesti
Autoria: Silvia Bessa – Direção, roteiro e coordenação executiva; Luiz Henrique Carneiro Siqueira – Codireção, direção de fotografia, videomaker e edição; Marcionila Teixeira de Siqueira – Entrevistas, produção de entrevistas e pesquisa; Diego Vieira Nigro de Almeida – Videomaker de imagens aéreas
Veículo: TV ESA PE e TV Universitária PE
CATEGORIA LIVRO-REPORTAGEM – VENCEDOR
Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo
Autora: Eliane Brum
Editora: Companhia das Letras
Categoria Livro-Reportagem – Menção Honrosa
Dano colateral: A intervenção dos militares na segurança pública
Autora: Natalia Viana
Editora: Objetiva
Categoria Livro-Reportagem – Menção Honrosa
Meninos malabares: retratos do trabalho infantil no Brasil
Autores: Bruna Ribeiro e Tiago Queiroz Luciano
Editora: Panda Books
(*) O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão formada por: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Conectas Direitos Humanos, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional), Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento e Instituto Vladimir Herzog (IVH).
Os parceiros da 44ª edição são: Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), TV PUC , Canal Universitário de São Paulo (CNU), União Brasileira de Escritores (UBE) e OBORÉ.
Fonte: Instituto Vladimir Herzog
“Quo vadis, baby?” – pergunta Paul a Jeanne.
| Paul (Marlon Brando) e Jeanne (Maria Schneider) na cena do tango, Por não saber dançar, o casal recebe olhares de reprovação dos demais dançarinos.Reprodução vídeo |
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| O cartaz do filme lançado em 1972 |
“Os sentimentos de amor, angústia e desespero que eclodem por toda parte no novo filme de Bernardo Bertolucci são tão intensos, tão avassaladores, que assistir ao filme chega em momentos a ser um constrangimento, uma invasão da confiante privacidade da classe média. O último tango em Paris trata do amor romântico, mas expressa às vezes os gestos ousados e às vezes tolos de paixão sexual intensa à D.H. Lawrence que vai até seus limites e então entra em colapso, de exaustão física e emocional. O filme é triste, mas é também imensamente engraçado, sem a intenção de o ser. É tudo menos pornográfico, mas a candura de suas cenas de amor é tamanha que uma quantidade de cidadãos de moral ilibada não deixará de se sentir indignada – e se mostrará muito ruidosa na sua indignação.”
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| Direção: Bernardo Bertolucci instrui os atores Marlon Brando e Maria Schneider Foto MGM |
Começa o filme: um quarentão e uma jovem de vinte anos se encontram casualmente num apartamento para alugar. Trocam cinco minutos de conversa banal, o homem ergue a mulher em seus braços como uma noiva, a encurrala contra a parede e inicia a penetração. Ela consente e após cinco minutos de sexo selvagem os dois rolam exaustos no chão. Ao deixarem o prédio, o homem arranca da parede o anúncio de “aluga-se apartamento.” E partem, cada um para o seu lado.
A jovem, Jeanne, vai a uma estação de trem encontrar o noivo, que a recebe com toda uma equipe de filmagem. Propôs à TV um documentário, “Retrato de uma jovem”, e a heroína é a própria noiva.
O homem volta para o hotel onde mora e encontra a empregada lavando a sangueira deixada pela mulher dele, que se suicidou com uma navalha na banheira. A empregada foi interrogada a fundo pelos policiais, que desconfiavam do marido. Sabem tudo sobre ele. “Não deu certo como pugilista. Virou então ator, tocador de bongô, revolucionário na América do Sul, jornalista no Japão, vagabundo no Taiti, onde aprendeu o francês, que o levou a Paris, onde conheceu uma dona de hotel e casou com ela.” O protagonista, Paul, personalidade complexa, é delineado nestas rápidas pinceladas. A empregada lhe entrega a navalha, que os tiras devolveram, encerrando a investigação com o laudo de suicídio. A navalha, na verdade, pertence a Marcel, o amante da mulher de Paul, que também mora no hotel.
Jeanne e Paul voltam a se encontrar no apartamento. Ela pergunta o nome dele e leva uma terrível bronca. “Nada de nomes! Você e eu vamos nos encontrar aqui sem saber nada do que acontece no mundo lá fora.” Ele estabelece as regras da relação, rígidas como as de uma convenção de condomínio. Inicialmente, a coisa funciona. Paul impõe à inexperiente Jeanne todo um repertório sexual que inclui sodomizá-la usando manteiga como lubrificante, receber dedadas no ânus – cuidando que a jovem apare com uma tesourinha de unhas os dedos médio e indicador da mão direita – e até uma cópula em que o casal não chegue a se tocar, ambos sentados nus frente a frente de pernas cruzadas, olhos nos olhos.
A certa altura. Paul e Jeanne simulam seus nomes através de grunhidos, num jogo erótico simiesco. A descontração os induz – rompendo as regras – a inconfidências: ela, filha de um coronel que serviu na Argélia, na liberdade de um casarão com vasto terreno (sua “selva”) no interior da França; ele, filho de um fazendeiro autoritário e de uma mãe alcoólatra na América profunda de Omaha, Nebraska.
Nos intervalos da maratona sexual no apartamento, Jeanne reassume a relação com o noivo e as filmagens do documentário; Paul tem um encontro com o amante da mulher, que trabalha em casa para uma agência de recortes de jornais; e um monólogo com a mulher morta – maquiada, vestida de branco e cercada por montanhas de flores, providenciadas pela mãe – uma atuação em que Brando reedita seu famoso discurso fúnebre em Júlio Cesar, vinte anos antes. Com seu suicídio sem explicação, Rosa agride todos ao seu redor: o marido, o amante, a mãe. Diz Paul/Brando aos prantos: “Ainda que vivesse a porra de duzentos anos, um marido nunca seria capaz de descobrir a natureza real de sua mulher. Eu seria capaz de compreender o universo, mas jamais descobriria a verdade sobre você. Nunca.”
Exorcizados os fantasmas do suicídio da mulher, Paul volta à vida. Troca o capote surrado em que se escondia até agora por um elegante blazer azul marinho, camisa social azul listrada, gravata vermelha e calças cinza. Revela seu nome e status social a Jeanne, a quem propõe um casamento “normal”. Na contramão, a filha do coronel, sufocada pelos desvarios do quarentão esquisito, optou pelo casamento “pop” com o cineasta da sua idade. O adeus acontece, solene como um rito, durante uma competição de dançarinos de tango na pista da vetusta Salle Wagram. E acaba em tragédia: Jeanne foge pelas ruas de Paris para o apartamento familiar, é perseguida por Paul e lhe desfere um tiro a queima roupa com o revólver do coronel no momento em que ele diz: “Quero saber o seu nome.” Espantado diante da morte que chega, Brando ainda acha tempo para um gesto banal: tira da boca a goma de mascar e a gruda na grade da sacada de onde avista Paris pela última vez.
O último tango é a soma feliz de fatores como a atuação de Marlon Brando, a direção de Bertolucci, a fotografia de Vittorio Storaro (inspirada pela pintura de Francis Bacon) e a trilha sonora do saxofonista argentino Gato Barbieri, que pontua cada cena do filme, sublinhando a tensão cênica.
| Um dos "cacos" que Brando adicionou ao filme. Reprodução |
Na França, o filme estreou em 15 de dezembro em sete salas com filas de duas horas durante o primeiro mês. Lançado na Itália em 16 de dezembro, depois de faturar cem mil dólares na primeira semana, Tango foi apreendido e Bertolucci processado por obscenidade e “pansexualismo exacerbado e gratuito”. A ação rolou na justiça até janeiro de 1976, quando a Suprema Corte ordenou que as cópias fossem destruídas e Bertolucci fosse condenado a quatro meses de prisão (sentença suspensa), com seus direitos civis revogados por cinco anos, incluindo o direito de voto. (Receberam também sentenças suspensas de dois meses o co-roteirista Franco Arcalli, o produtor Alberto Grimaldi e o ator Marlon Brando.)
A proibição na Espanha de Franco até 1977, levou milhares de cinéfilos espanhóis a viajarem milhares de quilômetros a cidades francesas da fronteira, como Perpignan e Biarritz.
A censura britânica cortou grande parte da cena de sodomia e grupos de defesa da moralidade condenaram a exibição do filme no país. Tango foi banido no Chile durante os trinta anos da ditadura militar, na Argentina, Venezuela, Coreia do Sul, e Cingapura; em Portugal, até a Revolução dos Cravos, em 1974.
No Brasil, o filme só seria exibido em 1979, após a decretação da anistia política. O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, com seu proverbial mau humor, viu o filme na Europa e criticou, em meados dos anos 70, “sua temática infanto-juvenil, a exaustão do sexo como forma de diálogo.”
O tempo corrige julgamentos emocionais, principalmente em relação a obras de arte. Aqueles que reduziram O Último tango em Paris a seus aspectos meramente sexuais deixaram de perceber o real significado da love story de Bertolucci – “existencialista, com toda razão” – o trágico e complexo destino do homem na sua obstinada busca do amor
| Reprodução Sotheby's |
Sebastião Salgado está no metaverso. O fotógrafo acaba de oferecer para venda no Sotheby"s sua primeira coleção de NFTs. As fotos são o resultado de mais de uma década de visitas à Amazônia. Segundo a casa de leilões são 5 mil imagens que constituem a mais ambiciosa coleção de NFTs de um fotógrafo vivo hoje. A arrecadação de royalties vai beneficiar o Instituto Terra, uma organização sem fins lucrativos cofundada em 1998 por Sebastião Salgado e Lélia Deluiz Wanick Salgado. O objetivo do Instituto Terra é garantir a sobrevivência das espécies nativas desse bioma e fortalecer a biodiversidade da região ameaçada de extinção.