terça-feira, 26 de abril de 2022

E se a SAF sifu?

 

por O.V.Pochê

A notícia está no Globo de hoje. Claro que o dono do Cruzeiro deverá recorrer, negociar a dívida para pagar em 50 anos, como empresários costumam fazer nesses casos. Afinal, o Refis está aí pra dá moleza pra quem pode.

Só como exercício de imaginação, especulemos que a pendência chegue ao extremo e a Receita Federal desapropie o Cruzeiro como garantia ao pagamento da dívida. Viraria Leão Futebol Clube? Ou o Cruzeiro SAF revendido para o rico Centrão? 

O torcedor pode enviar perguntas para a Toca da Raposa. E descobrir afinal porque ela tem esse nome. 



Bala perdida agora é oficial

 





Reproduções Twitter

Frase do dia: só mudando

 "A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Somos a mudança que procuramos."

Barack Obama

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Carnaval 2022 - Os orixás e a cultura negra levam o samba de volta à passarela carioca

 

Exu no topo do mundo da Grande Rio. Foto de Gabriel Monteiro/Riotur/Divulgação.

Paolla Oliveira, de Pomba Gira reinando na terra. Foto de Gabriel
Monteiro/Rio Tur/Divulgação


...A atriz ousou na avenida. Foto de Gustavo Domingues/Riotur/Divulgação



Depois de dois anos a plateia do Sambódromo carioca pós-pandemia voltou a abraçar o samba da Imperatriz. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação

A cantora Iza em foto de Marcelo Piu para a Riotur/Divulgação. Por todos os motivos, ela foi o símbolo... 

da Imperatriz na alegria reconquistada após o cancelamento dos desfiles em nome da saúde. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação



Por falar em alegria, a Viradouro contou a vibração do carnaval de 1919, após a pandemia mundial de Gripe Espanhola naquele ano. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação 

O lado tragicômico também compareceu. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação

No voo da ficção da Viradouro, a chave do Rio de Janeiro chegou via drone para o Rei Momo daquele ano. Foto de Rodrigo Gorosito/Riotur/Divulgação



Um trio imbatível de gênios da Mangueira (Jamelão, Cartola e Delegado) reviveu na avenida através de sósias perfeitos. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação

A Mangueira reocupa a passarela, agora com nova iluminação.
Foto de Fernando Maia/Riotur/Divulgação

Samba tem consciência. Veja o recado da Baija Flor na foto de Douglas Shineidr
para Riotur/Divulgação 



Vila Isabel celebrou Martinho da Vila. E a plateia delirou. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação

E a mesma Vila plena e colorida no sambódromo carioca. Foto de Marco Antonio Teixeira/Riotur/Divulgação



Vivane Araújo, grávida, no Salgueiro. Foto de Douglas Shineidr/Riotur/Divulgação

Lucinha Nobre e a bandeira da Portela. Foto de Gustavo Domingues/Riotur/Divulgação



Na capa da IstoÉ: quando o crime é piada para o novo governo militar



domingo, 24 de abril de 2022

Na capa do Libération: Lição francesa

A vitória de Emmanuel Macron sobre a representante da extrema direita Marine Le Pen é um alívio. A notícia ruim é o aumento do apoio ao fascismo na França. O risco permanece. Macron tem agora a responsabilidade de reconquistar a confiança da população e corrigir erros cometidos no primeiro mandato. A aposta no liberalismo e a insensibilidade diante de questões sociais foram fatores explorados pela extrema direita. Há semelhanças com o Brasil. Aqui também o neoliberalismo selvagem criou as bases para o surgimento de uma líder fascista.
Macron admitiu no discurso da vitória que muitos franceses votaram nele não como aval ao seu governo mas para proteger a democracia ameaçada. Várias correntes de pensamento se uniram para afastar a ameaça que Le Pen representa. É  a lição translúcida que o resultado eleitoral na França oferece ao Brasil. Em outubro também votaremos para defender a democracia e afastar as milícias fascistas. Aqui também a união contra trogloditas será decisiva.

Frase do dia: segunda chance


"Se, pelo menos, pudéssemos viver duas vezes: a primeira vez, para cometer todos os inevitáveis erros; a segunda, para lucrar com eles.”

D.H. Lawrence

Virou réptil

 

Veja "o fascista que vira jacaré no samba em SP. Clique no link.
https://twitter.com/senadorhumberto/status/1518181908630364160?t=d3PZdXyIwpSacJhXsBYsiQ&s=19

sábado, 23 de abril de 2022

Frase do Dia: anotação

 Do Diário de Franz Kafka, dia 2 de agosto de 1914, início da Primeira Guerra Mundial:

"A Alemanha declarou guerra à Rússia. - À tarde, natação." 


sexta-feira, 22 de abril de 2022

Memórias da redação: Irineu da Manchete, Irénée do Le Monde • Por Roberto Muggiati

Um filósofo na redação.

Estudante pobre em Paris, com um amigo que cursava psiquiatria, o jovem brasileiro costumava frequentar o cabaré existencialista Rose Rouge.
  Ficavam em pé no bar e, quando muito, consumiam uma cervejinha. Certa noite, em 1952, um créole da Luisiana juntou-se a eles. Viu logo que eram estudantes, condoeu-se da sua sorte: “Mes enfants, je vous invite à boire, les Cognacs sont à moi...” Era o famoso clarinetista Sidney Bechet, que também colocou o saxofone soprano na linha de frente do jazz. Nos anos 1940, com o surgimento do bebop, os velhos gigantes de Nova Orleans caíram no ostracismo. Bechet montou uma alfaiataria para garantir o seu sustento. Ao participar do Festival de Jazz de Paris em 1949, fez tanto sucesso que resolveu se mudar para a França, onde teve uma calorosa acolhida.Naquela noite, Bechet estava sorumbático. Contou aos novos amigos que tinha composto uma bela chanson française, afinal, a França e la Nouvelle Orléans tinham uma relação antiga, desde o final do século 17, quando a Luisiana se tornou colônia francesa. Sidney mal acabara de tocar sua música e a plateia, além de lhe sonegar aplausos, se queixou: “Mais c’est pas du jazz.” Petite Fleur só se tornaria um hit em 1959, com a gravação pelo músico inglês de dixieland Chris Barber, que chegou ao 3º lugar nas paradas britânicas e 5º nos Estados Unidos. Bechet morreu em maio, aos 62 anos, sem saber do seu imenso sucesso.O brasileiro que teve o privilégio da companhia do grande Bechet era Antonio Deusdedit da Cruz Guimarães, que se tornaria um jornalista de renome internacional como Irineu Guimarães. Antes de se fixar na imprensa, ele teve uma curiosa trajetória: nascido em Tamboril, CE, em 21 de julho de 1929, seguiu primeiro a vocação religiosa. Seminário em Fortaleza, convento dos dominicanos em São Paulo e daí, num passo largo, o mosteiro de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, na França. Mas, pouco antes de ser ordenado padre, Irineu abandonou a carreira religiosa para se matricular na Sorbonne, em Paris, onde se doutorou em filosofia. Ainda outra guinada e ele iniciaria a carreira de jornalista no Le Monde, em Paris, onde conservaria o nome dado pelos dominicanos, afrancesado para Irénée.

Casório à francesa comme il faut.


O pai que todo mundo queria.


Casou-se com a francesa Marie Colette Roux em 1957 e decidiu voltar para o Brasil. O casal teve os filhos Michel e Christine. Irineu era correspondente do
Le Monde no Rio quando o país sofreu o rude choque do golpe militar de 1964. Se a sociedade civil era abalada, a imprensa mais ainda, pela censura que, se foi relativamente branda na fase light da ditadura (1964-68), se tornaria absoluta depois do AI-5. As dificuldades eram ainda maiores para um jornal independente de um país democrático, a França, que se sentia no dever de denunciar os desmandos e violências do regime militar.



Muito jornalista foi preso naquele período, era um risco natural da profissão. Mas Irineu Guimarães foi preso nada menos do que 19 vezes. Da última, ficou desaparecido por um longo tempo. Seu respeito à verdade incomodava profundamente a ditadura militar. O filho de Irineu, Michel, contou-me recentemente detalhes daquela prisão: “Os policiais arrombaram a porta do nosso apartamento em Santa Teresa e meu pai exclamou: ‘O que é isso ? Um assalto ?’ Rasgaram com faca o sofá e o berço da minha irmã procurando, segundo eles, armas escondidas. Nada encontraram, mas aquilo foi uma forma de intimidar a família toda. Levaram meu pai que ficou ‘sumido’ vários dias.”

Irineu só seria solto depois que, ao saber do ocorrido pelo embaixador da França no Brasil, o Presidente Charles De Gaulle declarou pela TV francesa que “estava muito preocupado com o desaparecimento do correspondente do jornal Le Monde no Brasil.”

Antes, com o jornalista Régis Debray, durante a cobertura da morte de Che Guevara na selva boliviana, Irineu foi preso e expulso do país. Fez questão de entregar pessoalmente ao irmão de  Guevara, na Bolívia, os últimos testemunhos e fotografias daquele que iria se tornar um mito revolucionário do século.



No início dos anos 1970, a convite de Adolpho Bloch, Irineu Guimarães foi convidado a integrar a redação da Manchete e também atuar como repórter internacional. Acompanhou a Revolução dos Cravos em Portugal e os movimentos de independência de países africanos, em particular as guerras civis de Angola e Moçambique. Quando foi ao Chile cobrir a queda de Allende no golpe sanguinário do general Augusto Pinochet e viu o Estádio Nacional de Santiago coalhado de corpos de estudantes disse que aquele foi seu último ato de bravura. Na redação da revista – eu era o editor na época – Irineu não só era um excelente copidesque, como tradutor ágil do inglês e francês, qualidades muito valorizadas, pelos serviços exclusivos que a Manchete tinha com a revista Time e com as principais agências francesas de reportagens.

O episódio com Sidney Bechet em Paris me foi contado pela jornalista Ana Lúcia Bizinover, melhor amiga/amigo do Irineu em todos os anos da Bloch. Ela lembra:

“Conheci  o Irina nos primeiros dias de 73 . Vinha de ressaca do Réveillon por aquela rua do Novo Mundo. Ajudei-o a chegar à  Manchete. Era a rua Silveira Martins, que margeia os jardins do Palácio da República. Do outro lado havia um bar frequentado pelo pessoal da Manchete. Eu estava com meu fusca estacionado à porta desse bar e o Irineu, que já devia ter tomado umas e outras, falou bem alto:

– Olha aí uma candidata ao forno crematório! 

 O que eu chorei... Claro, ele pediu desculpas pela brincadeira de mau gosto. Na sequência viajou à Europa a serviço e me mandou uma carta linda “pour se faire pardonner”. Guardo a carta até hoje. Ficamos amigos para sempre. Ia às festas da família. Até o fim almoçávamos juntos uma vez por mês (Irineu morreu em 2005, aos 76 anos). Conheci o Michel e a Christine adolescentes. Michel tem 63 anos, é engenheiro aposentado e mora no Sul da França. Christine morreu no ano passado, demorei a saber. Pouco antes me deu um exemplar de Le Rouge et le Noir com anotações do Irineu, ela sabia que eu tinha paixão por esse livro.”



A “Santa Ceia”, circa 1977: Alberto de Carvalho, Ivan Alves, Wilson Cunha, Flávio de Aquino, Sammy Davis Jr (ao fundo), Roberto Muggiati, Heloneida Studart, R. Magalhães Jr, Wilson Passos, Argemiro Ferreira, Pedro Guimarães, Ney Bianchi, Carlos Heitor Cony e Irineu Guimarães. Toda vez que o Cony entrava na redação o Irineu batia palmas e dizia: “Salve o único cristão que passou a perna num judeu!”


Irineu ainda estava na Manchete em 1979 quando a abertura política azedou as relações entre empregados e patrões na Bloch. Uma segunda-feira, dia de fechamento da revista, em adesão ao movimento de todas as redações cariocas, os jornalistas da Bloch fizeram uma greve simbólica de silêncio e paralisação dos trabalhos durante uma hora. Adolpho Bloch investiu ensandecido contra a redação da Manchete. Irineu foi seu principal alvo:

– E o padre não quer rezar? Será que fez voto de silêncio?!

Ironicamente, Adolpho estava na pista certa. Assim que se aposentou Irineu traduziu, a pedido dos monges trapistas do Paraná – ordem conhecida por seu rigoroso voto de silêncio, o livro francês Les Mystères de la Trappe, edição bilingue em latim e português, uma obra-prima da paciência, fruto do seu conhecimento do latim, publicada no Brasil com o título de Os Cistercienses. Talvez o entrevero com Adolpho tenha pesado na decisão, mas há muito tempo Irineu sentia que devia ser mais valorizado profissionalmente. Acabou saindo da Bloch para ser produtor do noticiário internacional da TV Globo. Depois foi para o IBGE onde se aposentou como editor-geral das publicações. 

Uma das últimas vezes que estivemos juntos foi numa feijoada de sábado na casa do Cícero Sandroni no Cosme Velho. Diverti-me à beça assistindo a um intenso duelo verbal entre ele e Mário Pontes, discutindo os méritos e apontando os defeitos de suas respectivas cidades, Tamboril e Nova Russas, distantes apenas 30 quilômetros uma da outra. Foi um misto de tiroteio verbal no OK Corral e desafio de repentistas nordestinos inesquecível.

Frase do dia

 "A crase não foi feita para humilhar ninguém.”

FERREIRA GULLAR,  explicação de como a dúvida entre “a domicílio, em domicílio, à domicílio” gerou “DELIVERY”.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Meu encontro com a Rebordosa. Valeu, Angeli




Clique nas imagens para ampliar

por José Esmeraldo Gonçalves 

Aos 65 anos, Angeli anunciou o ponto final da sua carreira. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo. O cartunista fez uma longa e brilhante trajetória de 50 anos.  Após um diagnóstico de afasia progressiva, ele deixa um mundo de personagens que ajudaram várias gerações a decifrar o Brasil profundo, não o dos grotões, mas o que está em nós. Gerações que, uma a uma, Angeli desconstruiu com humor. Quem não se identificou com o universo do cartunista? Meia Oito, o esquerdista desbotado, Wood & Stock, os velhos hippies embalados por LSD vencido, os Skrotinhos, Mara Tara, Ritchi Pareide, Osgarmo e... a Rebordosa. 

O único jornalista que conseguiu entrevistar a adorável porra louca foi um Benedito Paixão, um correspondente no Paraguai criado pelo pai da Rebordosa.  

Não entrevistei a Rebordosa mas tive um date-supresa com a junkie mais chamosa do Brasil. 

Em fins de 1986, a jornalista Regina Valadares, que editava a Criativa, me pediu para escrever um texto sobre o ano que terminava. Devo lembrar que 1986 foi uma merda. O Brasil era governado por José Sarney. Isso já diz tudo? Não. Foi também o ano em que a seleção perdeu a Copa; foi anunciada a passagem do cometa Halley e ninguém viu; a nova moeda, o Cruzado, pirou os brasileiros. E, por falar em Kiev, 1986 foi o ano do acidente nuclear de Chernobyl. É mole ou quer mais? Revista publicada passei em uma banca da Rua Voluntários e comprei a Criativa. Custava Cz$ 20,00. Estava lá a matéria "1986- O que já era sem nunca ter sido". A ilustração encomendada pela Regina não poderia ser mais adequada. Em charge criada especialmente, ocupando quase uma página inteira, a Rebordosa era minha parceira naquela sinistra retrospectiva do ano. 

O Brasil era o próprio caos, mas o ano terminou bem pra mim, que vi de perto a Rebordosa na banheira virando a folhinha de um ano que ninguém aguentou. Só enchendo a cara.  Valeu, Angeli.

* Angeli publicou hoje no Twitter a mensagem abaixo: 





Fotomemória: Roberto e Erasmo by night

 

Roberto e Erasmo Carlos, 1966. Foto Manchete/Zigmunt Haar


“Roberto Carlos e Erasmo Carlos sempre rodeados de belas garotas”. É o que destaca a Revista Manchete de 22 de janeiro de 1966.
Naquele ano Roberto Carlos lançou um disco com grandes hits como “Eu te darei o céu”, “Esqueça”, “Nossa Canção”, “Namoradinha de um amigo meu” e “Negro gato."
A foto e as informações acima foram garimpadas pelo site História. O Panis Complementa: a foto foi publicada pela Manchete como parte de uma matéria maior com o cantor - "Roberto Carlos - um fenômeno entre fenômenos" - assinada por Odacir Soares, com fotos de Zigmunt Haar. A legenda não identifica as acompanhantes de Roberto, que acaba de comemorar 81 anos, e Erasmo supostamente na noite paulista. Uma curiosidade:  o grupo comportado parecia dividir uma Coca-Cola. Ou a mesa foi reformatada antes da foto em nome da imagem certinha dos ídolos da Jovem Guarda. Sobrou apenas uma taça (esquecida?) à frente de  Erasmo.


Publimemória: quando a banca era de jornal

 

Campanha da Abril no começo da década de 1970. Clique na imagem para ampliar.

por José Esmeraldo Gonçalves

Algumas poucas resistem bravamente. Eram pontos de referência da notícia. Acima, a reprodução de uma campanha publicitária da Editora Abril no começo dos anos 1970. A banca vista como uma biblioteca. O que, de fato era. Bem de época essa foto. O minivestido da jovem de verde contrasta com a formalidade de senhora, o engravatado da Av. Paulista, o rapaz que "tira uma casquinha", expressão da época, no jornal do dia. Claro que a cena é montada. a Abril escondeu todas as revistas da Bloch, incluindo a Manchete, então a semanal líder do país. Escapou uma Amiga, pouco acima da cabeça do jornaleiro. 

As bancas estão em extinção, a maioria virou um arremedo de loja de conveniência, a Bloch que era sólida se desmanchou no ar, a Abril foi despedaçada, vendida para o mercado financeiro e perdeu relevância, os impressos agonizam em morte lenta há alguns anos e, no Brasil, aguardam apenas um samaritano que lhes desligue os aparelhos (*).  A campanha da Abril é o TBT (Throwback Thursday.) de hoje, o regresso das quintas-feiras, como marca a famosa hastag das redes sociais. Ou, como escreveu Drummond sobre sua Itabira, "é apenas uma fotografia na parede". 

Já o jornalismo foi renovado pela tecnologia, ampliou seu alcance e é cada vez mais importante para a democracia, como se vê nesses tempos de trevas e de aloprados no Brasil atual. As "bancas? Foram para a nuvem. Até a moça de verde, hoje provavelmente uma avó antenada, agora pode acessá-las com um simples clique.

(*) Vale observar que embora os veículos estejam em transformação em todo o mundo, em capitais como Paris e Lisboa a maioria das bancas ainda vende numerosos títulos de jornais e revistas... impressos. Em países subdesenvolvidos (sim, o rótulo que a mídia trocou por "em desenvolvimento", está de volta trazido pela realidade), a crise é bem mais aguda e agravada pela nossa péssima distribuição de renda, pelo desprezo à Educação. 

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Mídia: Donald Trump quer acabar com os debates presidenciais na próxima campanha eleitoral


O jornal The Atlantic levantou a bola: uma instituição eleitoral dos Estados Unidos, o debate presidencial, corre sério risco de acabar.  

A ultra direita pró-Donald Trump domina o Comitê Nacional Republicano que, na semana passada, votou para boicotar a Comissão de Debates Presidenciais em 2024. Essa ofensiva antidemocrática das facções de Trump era esperada. Em 2020, o então candidato não obedecia às regras acordadas para o primeiro, ignorava a cronometragem, gritava, xingava Joe Biden. No segundo debate, ausentou-se sob a alegação de estar com sintomas de Covid-19 e recusou a proposta de um debate virtual. Para o terceiro debate, os organizadores incluiram na mesa de som um botão "mute" para evitar que Trump ultrapassasse o tempo. Não é que os republicanos não gostem das regras dos debates, ele detestam debater simplesmente porque os conteúdos saem dos seus controles. Suas falsas versões para os fatos são expostas a uma grande audiência. A ultra direita fica mais confortável com a desenvoltura das fake news nas suas próprias redes sociais, com os robôs e o impulsionamento. Por isso, prefere que seu candidato não participe de debates na próxima campanha eleitoral.

O que isso tem a ver com o Brasil? Bolsonaro também tem aversão ao debate. Mostrou isso em 2018. É possível que o exemplo dos formuladores da campanha de Trump, de quem eles copiam a estratégia digital, leve Bolsonaro a desistir de vez do formato, sem sequer fingir que vai participar. Ele também se sente mais à vontade produzindo fake news em cascata. 

Frase do Dia: humanos, fora

 “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.”

GEORGE ORWELLA revolução dos bichos

Memórias - "Eu vi a Copa de 50 em Curitiba" - Por Roberto Muggiati (*)

Estádio Durival Britto e Silva. Foto Acervo Cid Destefani

Piá de 12 anos, já viciado em futebol, assisti deslum­­bra­­do com meu pai aos dois jogos que aconteceram no estádio da Vila Capanema

Eu estava lá, posso afirmar com orgulho. Assisti aos dois jogos da Copa de 1950 em Curitiba. Não exatamente da arquibancada coberta, mas, pela primeira vez, nas gerais. Eu era sócio do Clube Atlético Ferroviário e o seu estádio, o Durival Britto e Silva, era o meu quintal.

Na verdade, ficava longe de minha casa, no alto da Carlos de Carvalho. Em 1949, no primeiro ano do ginásio, com o Colégio Estadual do Paraná ainda ocupando o acanhado prédio da Ébano Pereira, nossas aulas de educação física eram no estádio da Vila Capanema.

Naquelas manhãs frias de Curitiba, eu pegava dois ônibus até a estação da RVPSC (parece a sigla de répondez s’il vous plaît, mas era a da Rede Viação Paraná-Santa Catarina, que durou de 1942 a 1957). Ali começavam os domínios da Rede, que incluíam o estádio e o time do Ferroviário, fundado em 1930 por funcionários da ferrovia.

Para não pegar um terceiro ônibus, eu escalava as bases da Ponte Preta (segundo Dalton Trevisan, "a única ponte da cidade sem rio por baixo") e seguia através e ao longo dos trilhos até os muros dos fundos do Durival Britto, que eu pulava acrobaticamente e ganhava acesso às quadras de esporte (até hoje o estádio é rodeado por uma pista de corrida).

Assisti ali a muitos torneios-início, um ritual da época, tipo de apresentação dos times na abertura do campeonato. Numa espécie de quermesse dominical, a partir das dez da manhã, cerca de 15 a 20 equipes se enfrentavam em jogos-relâmpago de 20 minutos. No caso de empate, decidiam nos pênaltis. E assim iam se classificando e eliminando até só restarem duas, que decidiam no fim da tarde numa partida de uma hora.

Projetado pelo arquiteto Rubens Maister, o Durival Britto e Silva (nome do superintendente da RVPSC) foi inaugurado em 23 de janeiro de 1947, numa partida noturna que confirmou a excelência do sistema de refletores, mas não a do time da casa, o Ferroviário, que apanhou do Fluminense por 5 x 1 (com gol inaugural de Careca).

Na época, o estádio era o terceiro maior do Brasil, depois de São Januário e do Pacaembu. Tinha uma bela concha acústica, onde assisti certa vez a um show da orquestra de Xavier Cugat, o Rei da Rumba, estrela dos musicais da Metro. O espetáculo foi uma lástima, com meia dúzia de gatos pingados e um torcedor fanático e mentalmente desequilibrado importunando o maestro a toda hora.

O Paraquedista era uma espécie de Fantasma da Ópera e Corcunda de Nôtre Dame de plantão no Durival Britto. Cugat tinha seus cacoetes consagrados: casava sempre com suas rumbeiras (a da ocasião era a curvilínea Abbe Lane), mas suas relações mais estáveis eram com os cãezinhos chihuahua que levava sempre no bolso do bem cortado summer-jacket. Como passou a infância em Cuba e a juventude em Los Angeles, eu o considerava um latino típico. Só tempos depois soube que era Catalão, da mesma região de Salvador Dali, onde fora batizado com o sonoro nome de Francesc d’Asis Xavier Cugat Mingall de Bru i Deulofe.

Foi a qualidade das instalações do Durival Britto que garantiu a Curitiba a escolha como uma das sedes da Copa de 1950 (as outras, além de Rio e São Paulo, foram Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Assim foi que, no domingo, 25 de junho, eu e meu pai nos instalamos nos bancos de madeira das gerais, à esquerda da torre do relógio, para acompanhar Espanha versus Estados Unidos. (Pedro Stenghel Guimarães, que assinava a coluna "Do meu degrau nas gerais", postulava que a geral era o lugar correto para se apreciar bom futebol).

O futebol não foi grande coisa. Houve quem gostasse mais da preliminar, na qual o Inter­­na­­cional de Campo Largo bateu o União da Lapa por 1 a 0, numa empolgante peleja. Os EUA, que tinham disputado a primeira Copa em 1930, voltavam a participar. Souza fez o primeiro gol, aos 17 minutos. Os espanhóis viraram no segundo tempo, com dois gols de Basora e um de Zarra. O juiz, ou referee (ainda se usava a expressão) foi o polêmico Mário Vianna, mas não teve muito trabalho. Os espanhóis com seu uniforme grená, os americanos de camisa branca com faixa diagonal e calções azuis.

Na quinta-feira seguinte, os EUA se tornavam a maior zebra na história das Copas. Inventores do esporte, os ingleses participavam pela primeira vez de um Mundial e chegaram como favoritos. Os americanos tinham uma equipe amadora, formada por imigrantes e eliminaram os ingleses por 1 a 0, em Belo Ho­­rizonte. O autor do gol foi Gaet­jens, nascido no Haiti. Em 2005, um filme celebrou o feito, The Game of their Lives/Duelo de Campeões. (As cenas do jogo em Belo Horizonte foram rodadas no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, no Rio.)

Naquela mesma quinta-feira, 29, Paraguai e Suécia empatavam por dois gols em Curitiba. Os suecos com camisas amarelas e calções azuis, meias amarelas e azuis, o Paraguai com calções escuros e camiseta listrada branca e vermelha, a única seleção de mangas curtas. A Suécia se classificaria para a fase final, ga­­nhando por 3 a 1 da Espanha, mas perdendo do Brasil (7 x 1) e do Uruguai (3 x 2).

A goleada do Brasil e o escore apertado do Uruguai indicavam uma barbada brasileira na finalíssima do Maracanã em 16 de julho. E tinha mais: pelo critério de pontuação da época, o Brasil só precisava de um empate para ser campeão — e foi campeão até os 34 minutos do segundo tempo, quando aconteceu o fatídico gol de Ghiggia. Este jogo ouvi pelo rádio ao lado do meu avô Eugênio, cego, e choramos lágrimas copiosas.

Tudo bem, o Brasil foi o único país a participar das 19 Copas até agora. É pentacampeão, com uma taça a mais do que a Itália, duas a mais do que a Alemanha, três a mais do que Argentina e Uruguai, quatro a mais do que França e Inglaterra — "a taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa..." Tudo bem, mas até hoje ainda sinto o gosto amargo daquelas lágrimas de 60 anos atrás.

(*) Artigo publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo em 29/05/2010.

Você poderá ver mais fotos no link abaixo:

https://www.gazetadopovo.com.br/esportes/copa/2010/eu-vi-a-copa-de-50-em-curitiba-0u7vnhqnbm5bdcj1wtp8fzxhq/

Henrique Koifman na BandNews FM

 

Henrique Koifman, que foi repórter da Manchete e EleEla lança programa na BandNewsFM e no streaming.

O Pinóquio da Terceira Via também m bombou no Twitter



 


Do Twitter: imagem decadente foi mais malhada do que o Judas

 

Reprodução


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