sexta-feira, 18 de março de 2022

The New Yorker: o drama da guerra

 

Motherland, by Anna Juan

Charlie Hebdo: como encher o tanque de graça

 


Dúvidas nas redes sociais

 


Brasil tem arma secreta para derrubar Putin

por O V.Pochê

A Rússia está no alvo de todo tipo de sanções. Mas nada deve ser mais dramático do que a participação do Brasil na estratégia ocidental contra o país de Putin. Há sinais de pânico em Moscou. Cerca de 40% de tudo que o que o  Brasil exporta para a Rússia é... amendoim. Pois é, como poderão sobreviver sem a leguminosa rica em ômega-3 e vitamina B? Grande parte do amendoim made in Brazil é consumido em forma de aperitivo naquelas tigelinhas largadas nos balcões dos bares e manuseadas por mãos que vão e voltam dos banheiros. É também usado para fazer doces. Nessa brincadeira, os russos compraram do Brasil, no ano passado, mais de 250 milhões de dólares desse tira-gosto típico do Bananão (apud Ivan Lessa). A Ucrânia também compra amendoim do Brasil, mas bem menos, cerca de 3 milhões de dólares anuais.  O apagão de amendoim na Rússia poderá brochar a população. Como se sabe, a leguminosa leva a fama de competente energético sexual. Se os russos já se estressam com a falta de Big Mac, imagine a irritação na cama com a carência de amendoim. Isso sim pode derrubar Putin. Que mané OTAN que nada. O mérito será da subdesenvolvida pauta de exportação da pátria amada.


Sertanista Sydney Possuelo devolve condecoração depois de Bolsonaro emporcalhar honraria

quinta-feira, 17 de março de 2022

E o torcedor pensou que SAF era moleza


por Niko Bolontrin

O futebol brasileiro viveu a fase dos mecenas, ricos comerciantes e industriais que botavam dinheiro nos clubes. Teve em seguida a era dos cartolas "izpertos" que se eternizavam nas diretorias, eram apaixonados pelo futebol mas já não tão transparentes no caixa. Passará agora à fase das SAF e dos donos dos times, começando pelos quase falidos como Cruzeiro, Vasco, Botafogo e outros na fila do que imaginam ser o paraíso. Não é. Os compradores de times estão aí para fazer negócio e ganhar dinheiro. Claro que vão querer botar a mão no patrimônio dos clubes, seja o dos contratos dos jogadores, os lucros da formação e venda de atletas, os imóveis, centros de treinamento e estádios, patrocínios, direitos televisivos, prêmio, sedes etc. Querem porteira fechada. É o caso do Ronaldo Fenômeno no Cruzeiro. Começou "fofo", mas começa a jogar duro. E o Cruzeiro com a corda no pescoço dificilmente resistirá ao avanço do investidor. Esse modelo deverá predominar no Botafogo e no Vasco. A SAF não está pra brincadeira. O futuro comprovará.

Frase do dia

 "A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.”

 Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, Barão de Itararé (1895-1971)


quarta-feira, 16 de março de 2022

Orlando Brito (1950-2022) por amigos

Orlando Brito - Reprodução Instagram

O Brssil perdeu um dos seus grandes fotojornalistas.  Orlando Brito registrou 50 anos da história política do Brasil a partir de Brasília. Nesse campo, suas lentes espelharam o melhor e, infelizmente, o pior do Brasil (durante 21 anos da sua trajetória, ele foi levado pela profissão a fotografar os generais da ditadura e seus cúmplices. São memórias essenciais para a compreensão desse pobre e injusto Brasil. Mas Orlando Brito eternizou também a esperança nacional personificada pela Constituinte, a luta de Ulysses Guimarães e de tantos que formaram a lniha de frente possível em tempos sombrios, fixou cenas do futebol brasileiro em Copas do Mundo, mostrou a saga dos indígenas da Amazônia e, nos anos 1990, quando trabalhou para a revista Caras, fez memoráveis retratos de figuras da política em fase democrática, eram os dias de Itamar Franco, FHC e Lula. O jornalista Ricardo Noblat escreveu no portal Metrópoles sobre Orlando Brito. Noblat traça um belo perfil  do amigo sem deixar de analisar o atual panorama profissional, muitas vezes dramático, para jornalistas e fotojornalistas. Brito não foi poupado desse drama. Muito se escreveu sobre Orlando Brito nesses dias. Todos o homenagearam merecidamente. Destacamos aqui, além do texto de Noblat, um artigo de Fábio Altman, na Veja. Ambos retrataram com fidelidade e emoção os amigo que se foi.


Leia Ricardo Noblat AQUI


Leia Fábio Altman AQUI

Big Mac, до свидания (Adeus) - Cabeça comunista, estômago capitalista • Por Roberto Muggiati

 

Esta loja do McDonald’s em Moscou já foi a maior de toda  a rede no mundo. Reprodução NextaTV

O golpe mais brutal que os Estados Unidos aplicaram na economia russa em represália à invasão da Ucrânia foi a paralisação das 850 lanchonetes da cadeia McDonald’s espalhadas pelo país. Desesperados, os consumidores da pátria armada de Putin correram para comprar a peso de ouro os últimos hambúrgueres, batatas fritas e sorvetes. Houve quem  abarrotasse sua geladeiras dos cobiçados sandubas e um caso extremo foi o martiriológio de pianista Luka Safronov, que se algemou à porta de uma franquia moscovita e acabou detido por policiais.  Safronov proclamou que os hambúrgueres do McDonald’s “estão se tornando um símbolo de violação das liberdades”. 

 Um cidadão moscovita abarrotou sua geladeira de Big Macs comprados a peso de ouro.
Reprodução Twitter

O CEO do McDonald’s na Rússia, Chris Kempczinski9, disse que a empresa se une ao mundo para condenar a agressão e a violência contra a Ucrânia. Os funcionários russos continuarão recebendo seu salário integral enquanto durar a paralisação da rede. KFC e Pizza Hut também fecharam suas portas na Rússia.

Não é só a fast food que protesta. Itens de luxo também tiveram suas vendas à Rússia suspensas, como caviar, trufas, charutos e champanhe. 

O tirano Vladimir Putin certamente não será privado das delícias do mundo em seu bunker. Mas vale perguntar: teria ele, a esta altura do campeonato, algum motivo para estourar e degustar uma Veuve Clicquot ou um Dom Perignon?


Fim de uma era no futebol?

Frase do dia

 

"Se vier a 2ª Guerra Mundial aí, estamos prontos"

(Do fanfarrão Paulo Guedes em discurso no Planalto e em meio ao desastre econômico que assola o Brasil. O néscio de Bolsonaro ainda aguarda a invasão da Polônia, a Retirada de Dunquerque, o ataque a Pearl Harbor e sonha com a grana do Plano Marshall pra salvar sua indi-gestão)

terça-feira, 15 de março de 2022

A paz não tem chance. Conheça o grande vencedor da Guerra da Ucrânia

Está aberta a temporada de venda de armas. Reprodução O Globo

por José Esmeraldo Gonçalves
Ucrânia e Rússia se reuniram hoje para mais um tentativa de por um fim à guerra. Um acordo agora ou em algum momento será possível até por exaustão militar e econômica das partes. Mas o desastre já se impõe. 
Putin está cercado por duas forças poderosas: sanções de proporções nunca vistas e o desgaste político interno que só tende a crescer. A Ucrânia perde a infraestrutura e vê milhões dos seus cidadãos se transformarem em refugiados. Ucrânia perde vidas aos milhares. A Rússia recebe os corpos dos soldados mortos e começa a enfrenta em casa um movimento de mães que perderam os filhos. 

Durante a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos experimentaram os efeitos na opinião pública da dramática chegada dos corpos de volta do atoleiro mortal em que o país se meteu nas selvas asiáticas. Isso contou na época para a Casa Branca e vai contar agora para o Kremlin.
 
A guerra fria.2  esquentou de lado a lado. Nos últimos anos a OTAN se expandiu para o Leste europeu. Isso é fato. A Rússia reclamou do que considerou ameaça e reagiu agora de forma desastrada. Putin parece ter blefado mas não tinha Royal Straight Flush na mão. Acabou fazendo o jogo do Joe Biden.

O que surgiu no cenário geopolítico do planeta para o Leste europeu voltar a ser tão estratégico para os Estados Unidos? Algo que fica bem longe da região: a China. O Pentágono vê o gigante da Ásia como o mega e atual inimigo. A aproximação recente entre China e Rússia ligou o alerta nas duas frentes de tensão. No Leste europeu , com a Ucrânia virando peça do xadrez; e no Mar da China, agora uma "octógono" de provocações as forças navais estadunidenses e chinesas. 
A guerra na Ucrânia torna-se indutora da lucrativa venda de armas para os países que formam a OTAN. Alemanha já abre os cofres para adquirir caças F55 fabricados nos Estados Unidos. Reino Unido e Itália farão o mesmo. Às portas da China, no segundo foco, Austrália compra dos Estados Unidos submarinos de propulsão nuclear. Japão e Taiwan adquirem caças. 

O próximo conflito pode ser naquela região onde vários incidentes já acontecem. 

Na guerra que curiosamente envolve dois países governados por líderes da direita, Putin e Zelenski são perdedores. O VAR já tirou qualquer dúvida:  a indústria bélica da terra de Joe Biden fez o touch down e o shopping das armas abriu para ofertas. Os mortos serão em breve esquecidos, os negócios, não. Os canhões nem silenciaram e os CEO já festejam os lucros.

Frase do dia

"Políticos e fraldas devem ser trocados com frequência, e pelos mesmos motivos."

MARK TWAIN (1853-1910)

segunda-feira, 14 de março de 2022

Vamos voltar aos tempos do gasogênio? • Por Roberto Muggiati

Carro movido a gasogênio. Fot reproduzida ddo livro
 Der Käfer II, de Hans-Rüdiger Etzold

Bem-vindas à guerra, gerações pós-1945! A Segunda Guerra Mundial começou em 1º de setembro de 1939; em 6 de outubro eu completei dois anos. Apesar da tenra idade, senti na pele – como milhões de brasileiros – os efeitos do conflito global. A começar por meu nome. Como não pôde me batizar de Benito, em homenagem a Mussolini (minha mãe vetou), meu pai me chamou de Roberto, outro nome favorito de Il Duce. As três sílabas correspondiam às primeiras sílabas das capitais do Eixo:
ROma, BERlim, quio. O Eixo era a Itália de Mussolini, a Alemanha de Adolfo Hitler e o Japão do Imperador Hirohito contra o resto do mundo, os Aliados.

Um amigo de infância, descendente de alemães, começou a ser hostilizado pela vizinhança e sumiu para sempre da minha vida. Aos seis anos, em 1943, fugindo de uma epidemia de coqueluche, as crianças desceram de Curitiba para o nível do mar. Eu, minha irmã e um monte de primos ficamos hospedados com as respectivas famílias num hotel na Ilha do Mel, na Baía de Paranaguá. À noite, pesadas cortinas pretas eram cerradas para obedecer ao blecaute. Semprei julguei aquilo um mero ritual sem sentido, até atingir a idade da razão, quando aprendi um pouco mais sobre a guerra. As águas do Atlântico Sul viviam infestadas por submarinos alemães, os temidos U-Boots. Já em dezembro de 1939, o estuário do Rio da Prata foi o palco da primeira grande batalha entre as marinhas inglesa e alemã.

A escassez de gasolina levou o Brasil à adoção do gasogênio, os carros eram equipados de uma espécie de fornalha externa que queimava matérias sólidas ou líquidas para a produção de gás que alimentasse os motores de combustão. Esse “gás de síntese” podia usar como matéria-prima madeira, carvão e combustíveis líquidos também. Lembro que meu tio Rubens Bittencourt, um sujeito elegante casado com tia Lygia, irmã de minha mãe, tinha uma baratinha Ford conversível equipada com gasogênio. Foram muitos passeios e piqueniques pelos arredores de Curitiba, de fazer inveja à patuleia pedestre.

Eu tinha sete anos e sete meses quando a guerra acabou na frente europeia. Na capa interna do meu precioso álbum de fotografias escrevi convicto na minha caligrafia titubeante:


8-5-1.945 a ultima guerra. Dia da Vitória

Santa ingenuidade! Três meses depois, o Japão era vencido ao custo do massacre de duas bombas atômicas, em Hiroxima e Nagasaki. E o mundo entrava direto na Guerra Fria, vivendo durante décadas o pesadelo do apocalipse nuclear. Coreia. Indochina. Bloqueio de Suez. Baía dos Porcos. Os mísseis de Cuba. Vietnã. Os genocídios tribais na África. Afeganistão. Guerra do Golfo. Guerra do Iraque. Terrorismo global. Torres Gêmeas. Devo ter esquecido algumas, muitas, os terrorismos locais, o IRA, o movimento basco, as FARC colombianas. E, mais recentemente, os delírios expansionistas de Putin, a anexação da Crimeia e agora a invasão da Ucrânia.

Retiro o que eu escrevi, Roberto Fernando Muggiati, na ignorância dos meus sete anos. A última guerra será sempre a penúltima...

A cavalgada das zebras continua...

O Vasco, o Gigante da Colina, foi a Petrolina e se apequenou. Foi eliminado da Copa do Brasil nos pênaltis pelo Juazeirense, com direito a vexame do Nenê.

Os dois catarinas também dançaram. O Figueirense foi eliminado pelo Cuiabá nos pênaltis e o Avaí tomou um 2x1 do Ceilândia numa noite encharcada na Ressacada. A esta altura o torcedor número um do Avaí, o supercampeão de tênis Guga – está perdendo a paciência com o seu timinho. 

Cartolas do Ceilândia pagam promessa. Imagem reproduzida de vídeo do GE.
  

 Em compensação, os dirigentes do Ceilândia (DF) que acompanharam seu time a Floripa, atravessaram o campo da Ressacada de joelhos em gesto de agradecimento. A imagem do canal GE do Portal G1, viralizou nas redes sociais No primeiro jogo, o Ceilândia eliminou o Londrina. Já o Pouso Alegre (MG), que eliminou o Paraná, deu trabalho ao Coritiba na segunda fase e só perdeu nos pênaltis. Aguardem os próximos capítulos.

terça-feira, 8 de março de 2022

Carnaval total em abril? E sem máscaras?

por Ed Sá

A Prefeitura do Rio de Janeiro tornou opcional o uso de máscaras em ambientes fechados. Antes, havia liberado o acessório em situações ao ar livre. A decisão é criticada por cientistas. Embora o controle da pandemia esteja à vista, cidades do Grande Rio com enorme integração com a capital não exibem números expressivos de vacinação. 

Vale o bom senso. Ocorrendo aglomeração, use sua máscara em qualquer ambiente.

De qualquer forma, a decisão pode abrir alas para um carnaval total. A prefeitura já havia liberado os desfiles das escolas de samba em abril, segundo o calendário abaixo: 

20/04 (Quarta-feira) – Série Ouro – Liga RJ

21/04 (Quinta-feira) – Série Ouro – Liga RJ

22/04 (Sexta-feira) – Grupo Especial – Liesa

23/04 (Sábado) – Grupo Especial – Liesa

24/04 (Domingo) – Desfile das Crianças – Aesm-Rio

26/04 (Terça-feira) – Apuração

30/04 (Sábado) – Campeãs – Liesa

Com o fim da obrigação de uso de máscaras, caso as estatísticas da pandemia no Rio permaneçam em queda, é possível que os blocos de rua, até agora não oficialmente autorizados, recebam sinal verde para botar o carnaval nas ruas também em abril. A conferir.

Futebol: torcedores brasileiros violentos deveriam se oferecer para lutar na Ucrânia

por Niko Bolontrin 

Nos últimos meses, como os fatos indicam, aumentou a violência entre torcedores do futebol. Agressões, mortes, ofensas racistas já são contabilizadas em vários confrontos. Abel Ferreira, o vitorioso treinador do Palmeiras, revelou em coletiva que duvida se poderá permanecer em um país onde o hábito de ver futebol pode ser brutal e até mortal. Por tudo isso, os jogadores deveriam evitar provocar torcedores adversários. Isso piora a situação e amplia o clima de guerra. Resulta em conflitos.  Claro que há entre os torcedores grupos que não precisam de incentivo para brigar e matar: são os bandos ligados a faccões criminosas. Esses são um problema crônico de segurança pública. Em todo caso, ir à margem do campo para provocar torcedores, como fez um jogador do Flamengo no último domingo, em nada ajuda. 

Se as torcidas querem guerra bem que poderiam se voluntariar para lutar na Ucrânia. Garanto que a maioria que vai aos estádio ver o jogo ajudaria a pagar a passagem para Kiev. De ida. 


segunda-feira, 7 de março de 2022

Santo Henry, o menino mártir • Por Roberto Muggiati

Henry queria ser um menino feliz como os outros.Arquivo Pessoal

Neste 8 de março faz um ano a morte de Henry Borel, dois meses antes de completar cinco anos de idade. Foi um dos casos mais clamorosos e chocantes de brutalidade contra uma criança de que se tem notícia no país. 

O menino morreu de hemorragia interna quatro horas depois de sofrer uma laceração no fígado causada por objeto contundente. Nos documentos da perícia legal foram atestadas 23 lesões, que não foram causadas em um único momento ou num curto período. Ou seja, a criança seria um “saco de pancadas” do padrasto acusado pelo crime. A perícia revelou ainda detalhes de algumas lesões no rosto do menino: “As lesões na região nasal e infra-orbital esquerda são compatíveis com escoriações causadas por unha.” Seria uma mãe capaz disso? No caso desta criança, ficou evidente que até o impensável é possível. Na breve passagem pelo mundo, Henry Borel foi submetido às piores agressões e abusos – físicos, emocionais e morais – sujeitado ao silêncio dos inocentes, por sua total vulnerabilidade.

Em sua canção “God”, John Lennon diz: “God is a concept/ By which we measure our pain.”

“Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor.”

Por esse parâmetro, o sofrimento é a marca maior da santidade. O suplício de Henry Borel – por pouco que tenha durado, durou toda a sua vida – está à altura daqueles dos grandes mártires da história. Por uma coincidência impressionante, o dia de nascimento de Henry, 3 de maio, tem como santo padroeiro São Tiago Menor, um dos doze discípulos de Cristo, e um dos primeiros cristão martirizados em defesa de sua fé. No ano de 42 em Cesareia Palestina, Tiago foi perseguido por ordem do rei Herodes Agripa I, que mandou prendê-lo, decapitá-lo e jogar seus restos para os cães. 

Sou daqueles que advogam a beatificação de Henry Borel. O próprio Papa Francisco acompanha a história do menino carioca desde o seu início. Em 24 de abril de 2021 – pouco mais de um mês depois da morte de Henry – seu pai, Leniel Borel de Almeida, recebeu uma carta em que o Papa Francisco lhe presta solidariedade pelo que classifica como “massacre” causado pela “loucura humana”. 

Os pastorinhos que viram Nossa
Senhora em Fátima: a prima Lucia e
os irmãos Francisco e Jacinta
. D.P
As crianças beatificadas ou canonizadas são relativamente poucas na história do cristianismo. Os irmãozinhos pastores Francisco e Jacinta e a prima deles Lúcia, testemunhas das aparições de Nossa Senhora de Fátima em 1917, foram profundamente marcados pelo episódio e dedicaram a vida como sacrifício vivo a Deus pela conversão e salvação dos pecadores do mundo inteiro. Após o término das aparições, os pequenos foram vítimas da pandemia de gripe espanhola. Francisco morreu aos dez anos, em 1919; Jacinta morreu aos nove, em 1920. Beatificados por João Paulo II em 2000, Francisco, Jacinta e Lúcia tiveram um milagre aprovado pelo Papa Francisco, que os canonizou em 2017. Os irmãos são os mais jovens santos da Igreja Católica.

Odetinha morreu aos oito anos já com
uma aura de santidade.
A.P
O Rio de Janeiro já tem uma pequena santa em potencial, Odette Vidal Cardoso, conhecida como Odetinha. Nascida no bairro carioca  de Madureira em 1931, ia à missa toda manhã e rezava o terço à noite. Dedicada à caridade, ajudava a mãe a servir feijoada aos pobres nos sábados. Aos cinco anos frequentou o catecismo na Igreja da Imaculada Conceição, em Botafogo. Em 25 de novembro de 1939, aos oito anos, morreu de tifo, com fama de santidade. Odetinha já era considerada “serva de Deus” quando, em 2021, no dia dos 82 anos de sua morte, o Papa Francisco lhe concedeu o título de “venerável”, um passo a mais no caminho da beatificação. Depois de rezar uma missa na Imaculada Conceição – onde repousam os restos mortais de Odetinha – o Cardeal Dom Orani Tempesta a descreveu como “uma menina que rezava, cuidava dos pobres, tinha grande preocupação com os necessitados e que deixou belos exemplos.”

Guido Schäffer, o Surfista
Santo de Ipanema
. A.P.
Já ouviram falar no Surfista Santo de Ipanema? Nascido em Volta Redonda, em 22 de maio de 1974, Guido Schäffer veio morar muito cedo no Rio. Começou a participar de grupos de oração jovens. Em 1998, quando se formou em medicina, decidiu fundar um novo grupo de oração, o Fogo do Espírito Santo, na paróquia de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, onde o padre Jorjão tinha um jeito especial de congregar jovens para suas ações. Segundo sua irmã, a partir dali "ele se desenvolveu rápido na pregação da palavra de Deus". Até então, Guido era apenas surfista e médico, tinha até uma namorada e planos de casar. A vocação religiosa só seria externada com clareza dois anos depois.

No dia 1º de maio de 2009, Guido saiu para surfar no seu trecho preferido da praia, no Recreio dos Bandeirantes. Uma prancha desgarrada atingiu sua nuca, ele desmaiou e morreu afogado, vinte dias antes de completar 35 anos. Faltavam alguns meses para ele concluir os estudos de teologia no Seminário Arquidiocesano de São José. 

Seu túmulo no cemitério São João Batista tornou-se lugar de devoção, principalmente na data do seu aniversário. Diante do culto do "Surfista Santo", a Arquidiocese do Rio de Janeiro transferiu seus restos mortais para a Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema e abriu um processo de beatificação junto à Santa Sé em 2014. Guido tornou-se um "Servo de Deus", primeiro título num processo de canonização. O próximo título, que deve vir em breve é o de “Venerável”, quando se conclui que a pessoa viveu as virtudes cristãs de forma heroica, ou sofreu realmente o martírio; o terceiro título é o de Beato, quando se comprova a existência de um milagre obtido pela sua intercessão e o último e mais importante é o de Santo, quando um segundo milagre é reconhecido. Alguns milagres já foram atribuídos a Guido Schäffer nos últimos anos.

Odetinha – por mais breve que fosse seu tempo de vida – e Guido, que desfrutou seus anos da juventude, tiveram oportunidade de praticar o bem. Já Henry Borel, nos 1723 dias que viveu, não teve sequer a oportunidade de se definir como pessoa; e a maior parte dos seus dias e noites foi ocupada pelo sofrimento causado pelas brutalidades praticadas em sua própria casa, pelas pessoas próximas que mais deveriam protegê-lo. 

Grafiteiros da Zona Norte do Rio homenagearam
Henry com asas de anjo num mural. Foto Facebook
Um sinal de culto ao menino-mártir surgiu já apenas um mês depois da sua morte. Um grupo de artistas e grafiteiros do bairro de Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, pintou um painel em homenagem a Henry. O artista responsável, Murilo Lemos, 33 anos, conta: “Esse mural, na verdade, a gente estava para fazer desde que saiu o caso na televisão. Aí, ontem, foi o estopim, na verdade. Entramos em contato, fizemos o grupo, começamos neste sábado às sete da manhã e terminamos agora, às cinco da tarde, sem almoçar, sem beber nada. O comércio da região toda hora vinha, trazia uma maçã, trazia um café, e foi o combustível para conseguirmos terminar a obra". Murilo expressou ainda sua indignação: "Toda vez que eu via reportagem, eu queria desligar a televisão, queria quebrar a televisão. Eu não queria imaginar se fosse com o meu filho, da mesma idade, me impactou muito, e aí eu tomei essa iniciativa".

Fotomemória: foi um Rio que ficou em nossas vidas

Uma das fotos da Manchete, no modo "juntar todo mundo", como a revista gostava de fazer,
reuniu atores e equipe do filme Todas as Mulheres do Mundo. Vejam aí Joana Fomm. Hildegarde Angel, Mário Carneiro, Irma Alvarez, Flávio Migliaccio, Regina Rozemburgo, Ivan Albuquerque, Isabel Ribeiro, Ionitas Salles Pinto, Marieta Severo, Paulo José, Domingos Oliveira, Ana Cristina Angel, Norma Marinho, Vera Vianna, Leila Diniz e Maria Gladys. Não seria exagero dizer que Ipanema estava toda representada aí. Foto de Paulo Scheunstuhl, Reprodução Manchete

por Ed Sá

Os arquivos desaparecidos da Manchete guardam fotos históricas de todas as áreas. Da política à cultura, das conquistas no esporte às tragédias, o acervo registrava uma Amazônia quase intocada e também flagrava o começo da destruição que hoje é crítica. Na área cultural, especialmente da música popular, a revista publicou fotos memoráveis a partir de um tipo de pauta que juntava os destaques do momento em um encontro no estúdio da Bloch. Os repórteres conseguiam levar à Manchete, em grupo, por exemplo, os ídolos da música. Fizeram isso com o pessoal da Bossa Nova, com a Jovem Guarda, com a turma da chamada música de protesto dos anos 1960 e com os tropicalistas. Em 1966 chegava aos cinemas o filme Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de Oliveira. Manchete repetiu a fórmula e levou as "mulheres do mundo" e parte da equipe do filme ao estúdio da Rua Frei Caneca. Paulo Scheunstuhl fotografou, a reportagem foi de Maurício Gomes Leite.