sexta-feira, 5 de março de 2021

Fotomemória da redação: a casa dos tempos ditosos

 

1967: Edifício Manchete quase pronto 


por José Esmeraldo Gonçalves (*)

Em 1967, a Manchete vivia a expectativa de mudar de casa. Preparava-se para deixar a Rua Frei Caneca e instalar-se em um moderno prédio assinado por Oscar Niemeyer e projetado para abrigar redações, fotocomposição, estúdio fotográfico, restaurantes, transporte, posto médico, setores administrativos e de publicidade. Justino cita acima o aspecto cultural da nova sede da Bloch Editores: o teatro, galeria de arte e um museu do carnaval. Este último não saiu do papel. 

A década de 1960 impulsionou o sucesso da Manchete. Foi quando a revista superou definitivamente a rival O Cruzeiro e se consolidou como a semanal de maior circulação do pais. O avanço da industrialização do Brasil se refletia nas páginas da Manchete em impressionante volume de anúncios.  Automóveis, eletrodomésticos, companhias aéreas, instituições financeiras, produtos alimentícios, refrigerantes etc pontuavam dezenas de páginas. Uma explosão de consumo, especialmente da classe média ascendente, beneficiava as revistas da Bloch, bem impressas e com as cores vivas que a TV e os jornais ainda não mostravam,. 

Os anos 1970 se anunciavam  promissores. E, de fato, foram, do ponto de vista econômico. Mas as consequências para a Manchete como veículo jornalístico já não se realizaram tão ditosas. O "Brasil Grande", da ditadura tornou-se um grande anunciante da revista, especialmente um indutor de muitas matérias pagas sobre as obras dos generais. A grande mídia em geral apoiou a ditadura, mas na revista ilustrada a alinhamento ganhava cores e páginas duplas vistosas. 

O dinheiro entrava, a credibilidade saía. 

O jornalismo ainda conseguia respirar. Como se pode ver na coleção da Manchete digitalizada pela Biblioteca Nacional, houve episódios de censura em Manchete e Fatos & Fotos, por várias vezes repreendidas pelo Ministério da Justiça com editores "convidados" a comparecer à Polícia Federal e com a EleEla sob raivosa censura prévia. Coberturas de acontecimentos como a Frente Ampla que desafiava o regime militar, as várias reportagens exclusivas que mostravam a vida dos exilados na Europa, matérias sobre o Esquadrão da Morte e a epidemia de meningite que os generais tentaram esconder eram exemplos de pautas que incomodavam a linha dura. Armando Falcão era um dos esbulhos grosseiros e arrogantes que telefonavam diretamente para Adolpho Bloch e reclamavam de certas matérias em termos nada educados.   

Os espaços cedidos à ditadura, contudo, marcaram fortemente a revista e comprometeram sua imagem, apesar de faturamento e circulação passarem quase incólumes por essa difícil fase. 

A nódoa do adesismo só começaria a se atenuar a partir de 1978, com as pautas da Anistia, o destaque dado à volta dos exilados e, em seguida, aos primeiros governadores de oposição eleitos, como Brizola, que fez histórica visita à Bloch e recebeu aplausos dos funcionários ao entrar no restaurante lotado. A  campanha das Diretas também recebeu ampla cobertura, assim como Tancredo Neves em oposição a Paulo Maluf, candidato da linha dura no então colégio eleitoral da ditadura. 

Manchete bateu recordes de tiragem com a visita do Papa, a inauguração do Sambódromo turbinou as vendas das edições de carnaval. Produtos da Rede Manchete, como as novelas Marquesa de Santos, Dona Beija e Pantanal motivavam capas e levantavam as vendas das revistas. O horizonte não parecia fechado naquele momento.

Aquele edifício que Justino Martins saudou foi ampliado em mais dois que formaram o grande conjunto da Rua do Russell  a virar referência carioca. Mas o que parecia anunciar nova era virtuosa se transformou em crise ao fim dos anos 1980, instalando-se a bomba-relógio financeira que levaria à falência da editora em agosto de 2000.

O prédio que uma vez anunciou bons tempos foi leiloado e atualmente abriga empresas diversas. Das redações que lá funcionaram, restam apenas breves lembranças despertadas nos mais antigos que passam por ali a caminho do centro do Rio. 



(*) José Esmeraldo Gonçalves é um dos autores da coletânea Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou, lançada em 2008 pela editora Desiderata, que revela muito do que eram o trabalho e a vida que corriam nos bastidores dos prédios da Rua do Russell. 
O livro, que não é a história oficial, muito ao contrário, ainda pode ser encontrado em canais de venda como Amazon, Americanas, Saraiva, Estante Virtual, Mercado Livre e sebos digitais. 

Afanaram a isenção de imposto...

 


Sabe a pregação neoliberal de acabar com impostos. Não tem erro. Quando o governo - qualquer governo - elimina um imposto de algum produto o valor da isenção não é passado para o consumidor. O tributo é apenas privatizado. Você continua pagando, apenas o destinatário deixa de ser o governo e a grana vai para o bolso do empresário do setor Com isso, some também da mídia qualquer "reclamação" neoliberal sobre impostos. As empresas apontam uma infinidade de motivos, mas mesmo quando não há algum, menos de 20% do valor do imposto extinto ou suspenso chega ao consumidos, e por pouco tempo. 

Sigam o dinheiro...

 

Reprodução Folha de São Paulo

quinta-feira, 4 de março de 2021

Fala do inominável. E o Brasil avançando acelerado para 300 mil mortos da pandemia. É debochar da tragédia. como ele faz desde março do ano passado.

 

Reprodução Folha de São Paulo

Como identificar um sociopata antes de votar nele


por José Esmeraldo Gonçalves

Você que visita esse blog já deve ter percebido que o termo sociopata é às vezes utilizado para definir o modo de ser do elemento nocivo que o Brasil elegeu. Claro que isso provoca reações de seguidores do sujeito armados de xingamentos e palavrões. 

Entre outros, o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais editado pela Associação Americana de Psiquiatria pode ajudar a identificar esse transtorno. O guia dá 15 dicas para você identificar um sociopata. Anote, no mínimo, vai ensinar os brasilinos a votarem melhor. 

Atenção, este é apenas um texto irônico-político. Se você tiver nas suas relações alguém que se encaixe no mapa abaixo, indique um especialista, busque ajuda para ele. Se o prefeito, o deputado, o governador, o vereador, o senador, o presidente em quem você pretende votar nas próximas eleições combinam com o "diagnóstico" e mesmo assim você sufraga o indigitado, então sinto dizer que quem precisa de tratamento é você.

O sociopata...

1 - Detesta leis, acha que legislação atrapalha 
2 - Tende a ser enganador, mentiroso e ludibriador, visando vantagens pessoais.
3 - É impulsivo, não planeja seus atos.
4- É irritável e agressivo. 
5 -Não sente remorso, é indiferente ao sofrimento dos outros.
6- Facilidade para mentir, enganar,.
7- Inventa desculpas e costuma responsabilizar terceiros pelos seus erros.
8 -São hábeis em descobrir pontos fracos ou pretensões das pessoas e usar isso a seu favor.
9- É manipulador.
10 -Pode ser cruéis com as palavras
11- Não sente remorso.
12- Não se preocupa pelo mal que causa.  
13 -Tem dificuldades para pedir desculpas.
13- Vê inimigos em toda parte.
14 - Finge não sentir medo, o que o faz ter comportamento inconsequente.
15 - Demonstra desrespeito pela normas que defendem a sociedade, Não acredita que conceitos como democracia, por exemplo, se aplicam a eles, .

A Covid-19 é a Espanhola2?

 

Reprodução Twitter

por José Bálsamo

Um especialista amigo explica. Os vírus são diferentes. O da Espanhola, que surgiu nos Estados Unidos, era o mortal H1N1. O da Covid-19 é o SARS-Cov2, que apareceu na China e é igualmente devastador. 

Em 1918-1920, a população mundial era de cerca de 2 bilhões de pessoas. Uma quarto disso foi contaminado.  Hoje, o planeta tem quase 8 bilhões de habitantes e o vírus contaminou até agora cerca de 115 milhões de pessoas. Para igualar percentualmente o número da Espanhola, a cifra global de infectados pela Covid-19 teria que chegar a cerca de 2 bilhões de pessoas para alcançar um quarto da população atual. 

A Espanhola matou oficialmente 17 milhões de pessoas, mas a subnotificação ou nenhuma notificação foram a regra. Estima-se que morreram em torno de 100 milhões de pessoas. A Covid vitimou 2 milhões e meio de pessoas oficialmente, até agora. Também há subnotificação. Algumas pesquisas indicam o número de mortos pode ser 50% maior. 

Biologicamente, a Espanhola2 seria a epidemia de 2009, essa sim transmitida pelo mesmo H1N1, para o qual foi desenvolvida vacina eficiente. 

Em termos de impacto na saúde mundial, a Covid-19 está mais para Espanhola 2, mas, além dos vírus,  os contextos sociais são bem diferentes. A Espanhola 1 foi impulsionada pelo ambiente. A Europa, o vetor principal, estava devastada pela guerra, havia fome, má nutrição, deficiência de comunicação com as populações e pouca higiene.  Já o SARS-Cov2 se espalha mais rápido em um mundo onde as pessoas circulam intensamente e tem potencial para produzir mais mutações, mas a ciência e a comunicação estão mais avançadas, a necessidade de seguir protocolos chega ao público - embora muitos não cumpram as normas - e as vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde. 

A maioria do países, apesar de dificuldades pontuais, consegue controlar a pandemia com medidas duras. Os Estados Unidos e o Brasil se apresentam como exemplos negativos, a terra de Joe Biden conseguiu se livrar do negativista Trump, a vacinação avançou e os números entraram em queda. Resta o Brasil fora de controle, estabelecendo-se como um perigoso vetor que ameaça o mundo e ainda submetido ao comportamento de sociopata do perverso Jair Bolsonaro, que ri dos mortos e os despreza. 

Vivemos a maior tragédia da história do Brasil.   

Eu quero o meu Vasco de volta! • Por Roberto Muggiati

 

A indignação de mais uma derrota pífia me acordou. Resolvi lembrar aquela quarta-feira à noite no Maraca, com minha filha Natasha, em que vibrei como nunca com o futebol do meu time, que enfiou 4 x 1 no Flamengo. Era uma semifinal do Campeonato Brasileiro de 1997, no qual o Vasco seria tricampeão. Naquele jogo, cito da internet, “Edmundo acabou com a molambada, marcando três golaços e fazendo suas comemorações que ficariam na memória dos vascaínos por toda a eternidade.” Cruzmaltinos, vejam aí e acordem o gigante adormecido da colina, refém da cartolagem maligna. Quatro rebaixamentos é dose! Daqui a pouco caímos para a terceirona... Vascaínos do (Ed)mundo, uni-vos! 

RELEMBRE UM JOGO HISTÓRICO AQUI

quarta-feira, 3 de março de 2021

E você ainda acha que não está em um regime autoritário? Véspera de uma ditadura?

 


No ar, fake news contra a vacina

Além de porão do bolsonarismo radical, a rádio Jovem Pan divulga fake news. A Revista Fórum conta que a emissora deu espaço à também bolsonarista Ana Paulo, ex-jogadora de vôlei, para veicular dados falsos sobre a morte de 500 pessoas nos Estados Unidos após serem vacinadas contra a Covid-19. Depois do bolsonarista Augusto Nunes, comentarista da JP, condenar a vacinação em apoio ao negativismo do seu inspirador, a ex-atleta soltou a fake news citando o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.  A médica infectologista Denise Garret, que já trabalhou na instituição imediatamente desmascarou a farsa com links da própria agência americana. Veja a matéria completa no site da Fórum AQUI

Há 25 anos: Assassinaram os Mamonas? • Por Roberto Muggiati

 

Foto; Divulgação/EMI

Por mais de cinco anos a banda de Guarulhos chamada Utopia não passou disso: uma utopia. Sua música, rotulada como “rock cômico”, misturava o imisturável: pagode romântico (!), sertanejo, brega, vira, música mexicana e heavy metal. Bastou mudar o nome para Mamonas Assassinas e lançar o único álbum de estúdio, gravado em Los Angeles, Mamonas Assassinas, em junho de 1995, para estourar nas paradas, vendendo quase dois milhões de cópias.

A origem do nome não é clara, mas Mamonas se referia não à planta, mas aos seios fartos de uma musa desconhecida. Seu cachê subiu em pouco tempo de oito mil para setenta mil reais O sucesso instantâneo levou a banda a trocar o seu veículo-fetiche, a Brasília amarela, por jatos fretados. A partir do momento em que literalmente decolaram, os Mamonas fizeram 190 shows em 180 dias por todo o país (só não estiveram no Acre, Roraima e Tocantins). Segundo o Centro de Investigações e Prevenções de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), a causa final do desastre foi fadiga de voo, após uma longa escala pelas cidades onde a banda se apresentava, imperícia do copiloto – que não tinha horas de voo suficientes para aquele modelo de aeronave e não era contratado pela empresa de táxi aéreo – falha de comunicação entre a torre de controle e os pilotos, cotejamento e fraseologia incorretos das informações prestadas pela torre. O Learjet 25D caiu na Serra da Cantareira, às 23:16 do sábado 2 de março de 1996, matando os sete passageiros e dois tripulantes. Ironicamente, o prefixo do jatinho era PT-LSD. E o boneco verdinho do logo da banda parece uma alusão profética ao coronavírus.




Manchete, março de 1996: a tragédia na capa.
Foto Fernando Figueiredo. Reprodução/Manchete


Foto João Mário Nunes. Reprodução Manchete


Apenas dois meses antes do acidente, os Mamonas haviam posado para a capa e
matéria especial da Manchete assinada por Ana Gaio, André Felipe e Mauro Trindsde. A foto é de João Mário Nunes. Reprodução

Como editor, participei ativamente do fechamento antecipado da Manchete no domingo. Soube do acidente pelo jornaleiro da minha banca na manhã de domingo. As equipes da sucursal de São Paulo partiram cedo para a região de mata cerrada da Cantareira à altitude de 1006 metros. Devido a um excelente relacionamento com a assessora de comunicação da EMI, Marília Van Boekel Cheola, a revista dispunha de fotos fabulosas e exclusivas dos Mamonas. Pressentindo o sucesso da banda, Marília praticamente sequestrara os meninos durante um dia inteiro e os fizera fotografar com os figurinos mais coloridos e extravagantes. Quanto à cobertura no local do acidente, nossos fotógrafos não chegavam a ser alpinistas e tivemos de recorrer também a fotos de agências. Aí ocorreu um terrível equívoco de tecnologia, que quase nos custou a apreensão da revista. No calor do fechamento, madrugada de domingo para segunda, recebemos algumas radiofotos em cores. Na redação, não tínhamos recursos para visualizar a imagem. Quem faria o acoplamento das três radiofotos separadas nas cores básicas era a gráfica em Parada de Lucas, que imprimiu a imagem conforme paginada, sem entrar no mérito do seu conteúdo. Publicamos assim, involuntariamente, uma foto mostrando os corpos dilacerados dos Mamonas, o que causaria não só o protesto dos fãs como a quase-censura das autoridades.

No meio de toda aquela confusão do fechamento, recebemos de São Paulo um envelope enviado pelo fotógrafo Vic Parisi com um pedaço do avião dos Mamonas. Pedi a um fotógrafo, dentre os muitos que cercavam a mesa de edição, que fizesse uma reprodução caprichada do “troféu”. O pedaço de metal amarelo cheirando a querosene do jatinho PT-LSD sumiu naquela noite – e para sempre na noite dos tempos. Nos meses e anos que se seguiram, Vic Parisi – com sua perseverança de pastor evangélico – me atormentou com cobranças para que lhe devolvesse a peça. Acho que deve estar pensando até hoje que lhe surrupiei aquela “relíquia macabra”...

segunda-feira, 1 de março de 2021

Afinal, uma Billie real • Por Roberto Muggiati


Escrevi há pouco aqui sobre a atualidade do gênio de Billie Holiday. Mais uma prova disso chegou às telas na sexta-feira, 26 de fevereiro, The United States vs. Billie Holiday, que redime o cinema de um dos piores filmes biográficos, O ocaso de uma estrela (1972), com uma equivocada Diana Ross no papel de Lady Day. Billie agora não só canta com sua própria voz, como tem uma interpretação à altura por Andra Day, premiada nesse domingo com o Globo de Ouro de melhor atriz. 

O diretor do filme é Lee Daniels, que em 2001 se tornou o primeiro afroamericano a produzir sozinho um filme vencedor do Oscar. A história se baseou no livro do jornalista Johann Hari Chasing the Scream: The First and Last Days of the War on Drugs e mostra a perseguição movida pelo Departamento de Narcóticos contra a cantora por causa do sucesso de sua canção-de-protesto  Strange Fruit, sobre o linchamento de negros nos estados sulinos. Agentes infiltrados chegam a mover uma operação de caça à cantora, chefiada por um afrodescendente com o qual ela tem um tumultuado caso amoroso. A estreia do filme no Brasil está marcada para 18 de março. 

Veja o trailer AQUI

O editorial do jornalismo doido...

 

O programa Minha Casa, Minha Vida completará 12 anos no próximo dia 25. Mas já é falecido. O governo Bolsonaro não contratou mais nenhuma casa para os mais pobres. 

Mais de 5 milhões de casas foram entregues até hoje. O Globo publica um editorial confuso sobre o programa. Na ânsia de criticar - o jornal sempre condenou a iniciativa desde o governo Lula - consegue ser negativo até quando esboça algo que se aproxima de um elogio.  Como quando diz que o programa entregou milhões de casas, mas o Brasil ainda aponta um déficit de 6 milhões de residências. O passivo não parece ser culpa do programa, ao contrário, aponta sua necessidade e o quanto é grave a interrupção.  Desde o golpe que derrubou Dilma, e que o jornal apoiou, a construção de casas pelo MCMV entrou em marcha lenta e, desde 2019, em coma.  

Transferir a população para zonas periféricas é outra crítica que O Globo faz. Significa uma mudança para o jornal que nos anos 1960 apoiou a remoção das populações das favelas da Zona Sul do Rio para a Zona Oeste distante e, na época, longínqua e sem transportes coletivos. 

O editorialista destaca um estudo de uma economista da FGV para constatar que os pobres sorteados com uma oportunidade de morar melhor (o MCMV seleciona os interessados em sorteios) são, na verdade, "perdedores". Aponta que, para os pobres, é mais barato morar em barracos. 

A economista, apesar disso, concede identificar que a maior contribuição do programa é o fato de famílias morarem em casas com acesso a água e esgoto. E mostra que, comparando com aqueles que vivem em barracos, registra-se aumento de peso nos recém-nascidos, além de redução na mortalidade infantil. Diria que essa é uma das consequência mais elogiáveis do programa para os "perdedores", que é como o editorial rotula os contemplados com casas. E não vale dizer que essa foi uma conclusão da pesquisador. O editoria não usa a rubrica "opinião" à toa. O selo está ali para dizer que o jornal assina embaixo de tudo o que está escrito na seção. Sobre esse fato, o Globo produziu uma frase ímpar. Alguém decifra? Alguém decifre essa frase de quem tem plano de saúde five stars: "Habitação melhor resulta em melhoria de saúde, mas não é uma política ótima".

Por fim, a especialista que forneceu os dados para o editorial admite que "é preciso estudar mais", o Minha Casa, Minha Vida. Ou seja, suas conclusões são baseadas em uma obra ainda em progresso. 

É possível que, para "comemorar" o aniversário, o Globo escale equipes para visitar os conjuntos e mostrar como os mais de 5 milhões que receberam casa própria são "perdedores". E talvez até reúna uma multidão de pobres que abandonaram suas casas do Minha Casa, Minha Vida para voltar a morar em barracos "mais baratos".

Fotomemória da redação: quando Roberto Barreira localizou, nos Alpes italianos, o irmão do embaixador suíço sequestrado no Brasil

 

1971: Roberto Barreira, de terno escuro, localiza e entrevista para a Manchete o irmão do embaixador Giovanni Bucher, então sequestrado no Brasil. Reprodução Manchete

Em 7 de dezembro de 1970, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização que combatia a ditadura, sequestrou o embaixador suíço Giovanni Bucher. Foi o assunto da mídia nas semanas seguintes.

Roberto Barreira, então chefe da Sucursal da Manchete em Milão, viajou para a região do Lago Como, no Alpes Italianos e ali localizou o hoteleiro Rodolpho Bucher, irmão do diplomata suíço. Depois de quebrar uma resistência natural - os Bucher até então não haviam sido procurados pela mídia -  Roberto foi recebido na residência da família e conversou com o apreensivo Rodolpho. Um feito do saudoso Roberto que, poucos anos depois, voltou ao Brasil para dirigir a revista Desfile e a transformou em um dos sucessos editoriais e comerciais da Bloch.

Giovanni Bucher foi liberado pelos guerrilheiros em 16 de janeiro de 1971 em troca de 70 prisioneiros políticos. Na mesma ocasião, com outra dupla - o repórter Carlos Freire e o fotógrafo Alécio de Andrade - Manchete ouviu, em Luxemburgo, Anne Marie Mailet,  irmã do embaixador sequestrado, 

sábado, 27 de fevereiro de 2021

O ministro que sofre bullying

 


Elmalan, le malin • Por Roberto Muggiati


Adolpho Bloch – mais do que apostar na prata da casa – acreditava em importar o melhor talento estrangeiro que o dinheiro podia comprar. Contratou fotógrafos americanos fabulosos quando as grandes revistas ilustradas começaram a fechar nos anos 70, Life, Look, etc. Acolheu a nata da fotografia portuguesa que se viu ao relento depois da Revolução dos Cravos (a maioria tinha o rabo preso com Salazar). No final dos anos 60, incumbiu Justino Martins – editor da Manchete de passagem por Paris depois de sua tradicional visita ao Festival de Cannes – de contratar um diagramador francês para as revistas da Bloch. Justino se deu ao sacrifício de ficar de plantão na sucursal da Manchete na Avenue Montaigne – Polanski morava no mesmo prédio e Marlene Dietrich tomava banho de sol nua na cobertura. O primeiro gato pingado que apareceu o Justino contratou. 

Era Serge Elmalan, egresso do finado jornal-revista Candide, que fechara as portas em 1967. Mudou-se de armas e bagagens – com a mulher e um mastim respeitável, um pastor belga – para um apartamento art déco na Praça do Lido. Coitado do Beau Serge, se esqueceu de tomar a principal vacina – contra a mulher brasileira. Chefe de arte da revista feminina Desfile, em sua primeira desventura amorosa, envolveu-se com uma produtora de moda de sobrenome Guerra, que numa crise de ciúmes sacou um revólver e saiu atirando.

A única bala que acertou foi pérfida, aninhou-se num ponto inalcançável da região da clavícula. Adolpho não hesitou: mandou Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra ao levar médicos e enfermeiras para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira. O maior cirurgião cardiovascular do mundo diagnosticou: “A melhor coisa a fazer é não mexer nisso...” E o canhoto Serge teve de seguir diagramando com a asa quebrada pela vida afora. Mas a história não acaba aí. Ao voltar recuperado ao trabalho, Serge ainda sofreria novas ameaças da amante injuriada. Toda tarde, no fim do expediente, o Marechal – chefe de segurança informal do Adolpho – se esgueirava por entre as árvores defronte do prédio do Russell à procura da pistoleira. E Serge saía sempre escondido no assoalho do carro de um colega de redação.

Depois de conhecê-lo melhor, eu o apelidei de “Elmalan, le malin”, malin em francês quer dizer “sagaz”, “esperto”, o que o nosso Apelidador-Mor Alberto de Carvalho costumava chamar de “professor de astúcia”. Serge convidou-me certa noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento do Lido. Quando adentrei a sala, me deparei com a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século e mãe do playboy Aga Kahn, ex-marido de Rita Hayworth), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em Borsalino, um precursor francês de O poderoso chefão) e Gilberto Tumscitz com sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Hostilizado por Oscar Sigelmann, Serge pediu o boné, rodou ainda alguns anos pelo Rio, casou – salvo falha da minha memória – com a filha de um vice-governador da Guanabara, e acabou regressando para os seus pagos. Em 2004 lançou o romance histórico Villegagnon ou a Utopia Tropical e em 2009 voltou ao Rio em grande estilo como coordenador cultural do Ano da França no Brasil. Instalado na gigantesca cobertura rococó do prédio do cinema Odeon, na Cinelândia, convidou-me para dividirmos um almoço no Restaurante Rosas, relíquia dos velhos tempos da Capital Federal, na Rua Álvaro Alvim. (A poucos metros do Hotel Itajubá, onde em suas folgas de voo nos anos 30, Saint-Exupéry escreveu Voo noturno e esboçou O pequeno príncipe.) Trocamos livros, dei a ele um exemplar do meu romance A contorcionista mongol, éramos ambos editados da Record. E não mais soube do amigo, que, aos 80 anos – passeando de máscara pelos Champs Elysées ou de pantufas numa casinha bucólica de banlieue – deve guardar belas – e também terríveis – lembranças de sua passagem pelo Rio de Janeiro.

A história bate à porta...

 

Reprodução Twitter

Crime continuado...

 

Reprodução Twitter

Fixação...


por O.V. Pochê

Bolsonaro tem muitas semelhanças com Collor. 

Ambos foram eleitos por um partido pequeno, os dois evitavam debates (no caso do Collor, no primeiro turno),  os dois apregoaram a "honestidade" antes de se envolverem em operações suspeitas, Collor se encrencou com o cheque do Fiat Elba, o outro com o cheque do Queiroz, os dois usaram verde-amarelo na propaganda eleitoral e os dois detonaram a Cultura. 

Deu no que deu.



Nessa semana, Bolsonaro mostrou mais uma semelhança. No palanque, ao reclamar de "perseguição", gritou que era "imbroxável"; Collor, também em momento de ira, gritou que "tinha aquilo roxo". 

Segundo os jornais, Collor é o mais novo conselheiro de Bolsonaro. Deve ter dado a dica.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Quem diria...

 A galera de camisa amarela que foi para as ruas, com a ajuda da mídia de direita, e apoiou o golpe contra Dilma Rousseff, presidente eleita democraticamente, pode comemorar, hoje, a PEC da Impunidade. A instituição do regime do vale tudo. O AI-5 Legislativo.

É possível saber como um golpe começa, mas não é previsível saber como termina nem quando termina.

O Brasil paga, mais uma vez, o preço cobrado pelas elites que investem no atraso em proveito próprio.

Brasil, laboratório biológico da pandemia. Virou estudo mundial pela desgraça exemplar