Mostrando postagens com marcador otimismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador otimismo. Mostrar todas as postagens

domingo, 29 de março de 2020

A cobertura da Covid-19: na Europa, a mídia mostra a verdade chocante; no Brasil, a opção ainda é por jornalismo de serviço e informações úteis

A opção da mídia europeia pela dura realidade e...

...a escolha da imprensa brasileira pela "esperança" e otimismo. 
O governo federal culpa a imprensa por "exagerar" a tragédia na cobertura da Covid-19.
Imaginem se a mídia brasileira imitasse os veículos europeus.

Aqui, o verdadeiro drama nos hospitais ainda não chegou à TV, aos jornais, às revistas ou aos meios digitais. Coletivas de autoridades, divulgação de números e de medidas, alertas para distanciamento social, a palavra dos especialistas e dicas para proteção fazem a essência do trabalho.

Lá, a população acompanha o verdadeiro campo de batalha em que os hospitais se transformaram. O desespero de vítimas do vírus e das equipes que tentam salvar os doentes é estarrecedor.

Constatar de forma tão dramática o perigo devastador do vírus ajuda a tirar os europeus das ruas. Um exemplo está na matéria de capa da italiana L'Espresso. Em comparação com a escolha da Veja para a matéria principal, vê-se que a opção da mídia brasileira ainda é, de certa maneira, asséptica. Não mostrar o drama hospitalar acaba favorecendo o "gabinete do ódio" do governo na sua cruzada para provar que o coronavírus é "gripezinha" e não justifica confinamentos. Nos hospitais brasileiros já se desenrola uma terrível e ainda não mostrada batalha pela vida. O drama humano ainda não rendeu pauta. 

sábado, 4 de maio de 2019

Mídia - Dr. Pangloss e Hardy Har Har - um jornal sonha com trilhões de reais e o outro avisa que a indústria está despencando...

A EXPECTATIVA...


Carlos Heitor Cony escreveu na Folha de São Paulo, muitas vezes, que o otimista é apenas um sujeito mal informado. Parece ser  caso do Globo. Desde a ascensão de Michel Temer, o jornal se embriaga de otimismo. Compraram o discurso da reforma trabalhista como aceleradora - praticamente um Lewis Hamilton - da volta do crescimento. Não rolou. Agora estão fissurados na cifra de 1 trilhão de reais da reforma da Previdência, uma das razões explícitas da adesão do jornal à política econômica de Bolsonaro. Sonham que  a reforma trará piscinas cheias do dinheiro com que Paulo Guedes, o Tio Patinhas da "nova era", promete irrigar os bolsos já nutridos da turma do topo da pirâmide.

Na primeira página de hoje, o onírico 1 trilhão de reais, quase um fetiche, volta a inebriar os editores. Só que, aparentemente, cansado do otimismo que anuncia e que teima em não se realizar, O Globo toma a precaução de avisar que o novo 1 trilhão, dessa vez da área que o Brasil está passando o ponto, a do pré-sal, levará 30 anos para se materializar.

A Folha, embora vista a mesma camisa ideológica do concorrente, ou pensa como Cony - que dizia não abrir mão do pessimismo - ou respeita um pouco mais a inteligência de uma parcela, que seja, dos seus leitores. De qualquer forma, o jornal não esconde que a indústria recua mais 1,3% e avisa que "o pessimismo dos investidores desaquece o mercado".

Um parece a expectativa, outro a realidade. Ideologias e interesse à parte, digamos que a primeira página do Globo foi editada pelo Dr. Pangloss, o personagem "tudo beleza" de Voltaire, e a Folha por Hardy Har Har, a sábia hiena da Hanna Barbera, que tinha dois bordões imbatíveis: "eu sei que não vai dar certo" e "miséria, não sairemos vivos daqui".



... E A REALIDADE.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

Russia 2018 - Por enquanto, é só alegria. Brasil quer deixar para trás a "realidade" das três últimas Copas e ficar com a "expectativa" do hexa...



Fotos de Lucas Figueiredo/CBF

Não e só pelos 7 x 1. Nas últimas três Copas do Mundo, o Brasil pisou feio na bola antes mesmo de entrar campo. Vacilou ainda na tumultuada rotina de concentração.

Em 2006, na Alemanha, alguns treinos da seleção pareciam um parque de diversões de celebridades tantas eram as figuras que cercavam os jogadores e com eles dividiam os holofotes. Diretores de veículos e alguns jornalistas foram até bem recebidos em Königstein e Bergisch Gladbach, no Castelo Lerbach, para noite de vinhos e acepipes com cartolas e comissão técnica. Vários programas de TV, e não exatamente esportivos, mas de entretenimento, mobilizavam os jogadores. Patrocinadores, idem. A política de folgas era perigosamente generosa. Weggis, o vilarejo suíço onde a seleção fez os últimos treinos antes de ir para a Alemanha jamais esqueceu a passagem do furacão seleção+torcedores. O que aconteceu nas baladas noturnas não ficou em Weggis - como diz o código não escrito de Las Vegas -, já que agências internacionais contaram em fotos e fatos o que a mídia brasileira, na ocasião, preferiu fingir que não viu, provavelmente para não ter obstáculos imprevistos no acesso aos jogadores. Durante a Copa, algumas folgas de pelo menos três dos mais animados jogadores foram bem aproveitadas em Düsseldorf. Quem viu, viu.

Em 2010, criou-se o fator Dunga. A CBF quis corrigir os excessos registrados na Alemanha e apertou a disciplina. Dunga foi o "xerife" escalado. O temperamento do treinador e as pressões da mídia formaram a tempestade que pairou sobre a seleção. Restrições ao acesso aos jogadores e atrito com jornalista durante uma coletiva abriram uma temporada de caça a Dunga e o clima na África do Sul tornou-se quase insuportável.

Em 2014, Copa no Brasil, não havia mesmo qualquer possibilidade de privacidade para a seleção. Enquanto os alemães se recolheram ao sul da Bahia, os brasileiros se concentraram no point da temporada, a Granja Comary. Se alguém computasse no relógio veria que alguns jogadores gastaram muito mais tempo com selfies, ações de marketing de patrocinadores, participações em programas de TV do que em treino com bola. Deu no que deu.

Rumo à Copa da Rússia, Tite está, por enquanto, segurando a onda externa. Aparentemente, não vai tornar a concentração uma obra aberta nem um bunker intransponível. Um sinal de que procura preservar os jogadores foi sua intervenção em uma ação de marketing do patrocinador Mastercard. A empresa divulgava uma promoção de doação de alimentos para pessoas carentes baseada em gols marcados por Neymar (e Messi). Tite achou que a publicidade não favorecia o espírito de jogo coletivo que ele quer na seleção. Sem falar que podia ter impacto no ambiente e no jogo. A empresa mudou a campanha e doará 1 milhão de refeições independentemente dos gols exclusivos de Neymar.

A atitude do treinador mostra sua atenção ao entorno do campo e a tudo que possa respingar nos jogadores e lhes tirar a concentração na Copa.

Jornalistas que cobrem a seleção notam que a convivência, o ambiente e o foco dos jogadores em nada lembram as três últimas campanhas da seleção. As fotos acima são um bom sinal. 

Só há um elemento que Tite não pode controlar: a intensidade dos jogadores nas suas redes sociais. Como qualquer jovem, eles estão conectados. Concentração ganhou esse nome porque era uma bolha. Afastava o time do mundo exterior com o objetivo de focalizar o treinamento para o jogo seguinte. Não é mais. Críticas, especulações, problemas de família, de namoradas, de empresários, de patrocinadores, de amigos, assédio, tudo está ao alcance de um clique.  Só os jogadores podem administrar isso.

Há bons motivos para confiar que a Rússia 2018 não reeditará Alemanha 2006, África do Sul 2010 e Brasil 2014. 

Recentemente, Luís Fernando Veríssimo deu mais uma razão para a esperança. Em crônica no Globo, o escritor lembrou que a seleção brasileira fez uma péssima Copa em 1966 e foi campeã em 1970; foi mal em 1990 e venceu em 1994; entrou em convulsão em 1998 e ganhou em 2002. A Copa de 2014 é pra esquecer. Que 2018 confirme a numerologia do Veríssimo.