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quinta-feira, 7 de junho de 2018

Russia 2018 - Por enquanto, é só alegria. Brasil quer deixar para trás a "realidade" das três últimas Copas e ficar com a "expectativa" do hexa...



Fotos de Lucas Figueiredo/CBF

Não e só pelos 7 x 1. Nas últimas três Copas do Mundo, o Brasil pisou feio na bola antes mesmo de entrar campo. Vacilou ainda na tumultuada rotina de concentração.

Em 2006, na Alemanha, alguns treinos da seleção pareciam um parque de diversões de celebridades tantas eram as figuras que cercavam os jogadores e com eles dividiam os holofotes. Diretores de veículos e alguns jornalistas foram até bem recebidos em Königstein e Bergisch Gladbach, no Castelo Lerbach, para noite de vinhos e acepipes com cartolas e comissão técnica. Vários programas de TV, e não exatamente esportivos, mas de entretenimento, mobilizavam os jogadores. Patrocinadores, idem. A política de folgas era perigosamente generosa. Weggis, o vilarejo suíço onde a seleção fez os últimos treinos antes de ir para a Alemanha jamais esqueceu a passagem do furacão seleção+torcedores. O que aconteceu nas baladas noturnas não ficou em Weggis - como diz o código não escrito de Las Vegas -, já que agências internacionais contaram em fotos e fatos o que a mídia brasileira, na ocasião, preferiu fingir que não viu, provavelmente para não ter obstáculos imprevistos no acesso aos jogadores. Durante a Copa, algumas folgas de pelo menos três dos mais animados jogadores foram bem aproveitadas em Düsseldorf. Quem viu, viu.

Em 2010, criou-se o fator Dunga. A CBF quis corrigir os excessos registrados na Alemanha e apertou a disciplina. Dunga foi o "xerife" escalado. O temperamento do treinador e as pressões da mídia formaram a tempestade que pairou sobre a seleção. Restrições ao acesso aos jogadores e atrito com jornalista durante uma coletiva abriram uma temporada de caça a Dunga e o clima na África do Sul tornou-se quase insuportável.

Em 2014, Copa no Brasil, não havia mesmo qualquer possibilidade de privacidade para a seleção. Enquanto os alemães se recolheram ao sul da Bahia, os brasileiros se concentraram no point da temporada, a Granja Comary. Se alguém computasse no relógio veria que alguns jogadores gastaram muito mais tempo com selfies, ações de marketing de patrocinadores, participações em programas de TV do que em treino com bola. Deu no que deu.

Rumo à Copa da Rússia, Tite está, por enquanto, segurando a onda externa. Aparentemente, não vai tornar a concentração uma obra aberta nem um bunker intransponível. Um sinal de que procura preservar os jogadores foi sua intervenção em uma ação de marketing do patrocinador Mastercard. A empresa divulgava uma promoção de doação de alimentos para pessoas carentes baseada em gols marcados por Neymar (e Messi). Tite achou que a publicidade não favorecia o espírito de jogo coletivo que ele quer na seleção. Sem falar que podia ter impacto no ambiente e no jogo. A empresa mudou a campanha e doará 1 milhão de refeições independentemente dos gols exclusivos de Neymar.

A atitude do treinador mostra sua atenção ao entorno do campo e a tudo que possa respingar nos jogadores e lhes tirar a concentração na Copa.

Jornalistas que cobrem a seleção notam que a convivência, o ambiente e o foco dos jogadores em nada lembram as três últimas campanhas da seleção. As fotos acima são um bom sinal. 

Só há um elemento que Tite não pode controlar: a intensidade dos jogadores nas suas redes sociais. Como qualquer jovem, eles estão conectados. Concentração ganhou esse nome porque era uma bolha. Afastava o time do mundo exterior com o objetivo de focalizar o treinamento para o jogo seguinte. Não é mais. Críticas, especulações, problemas de família, de namoradas, de empresários, de patrocinadores, de amigos, assédio, tudo está ao alcance de um clique.  Só os jogadores podem administrar isso.

Há bons motivos para confiar que a Rússia 2018 não reeditará Alemanha 2006, África do Sul 2010 e Brasil 2014. 

Recentemente, Luís Fernando Veríssimo deu mais uma razão para a esperança. Em crônica no Globo, o escritor lembrou que a seleção brasileira fez uma péssima Copa em 1966 e foi campeã em 1970; foi mal em 1990 e venceu em 1994; entrou em convulsão em 1998 e ganhou em 2002. A Copa de 2014 é pra esquecer. Que 2018 confirme a numerologia do Veríssimo.