terça-feira, 8 de maio de 2012

Renato Sérgio, lembranças...

Renato Sérgio autografa seu livro "Bráulio Pedroso - Audácia Inovadora" para Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho, em 2011 
Com os autores da coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". Na livraria da Travessa, em novembro de 2008, na noite de lançamento do livro. Na foto, Jussara Razzé, Roberto Muggiati, Carlos Heitor Cony, José Esmeraldo, Ângela de Rego Monteiro, Maria Alice Mariano, J.A.Barros; sentados: Lincoln Martins, Renato Sérgio, José Rodolpho e Daisy Pretola.
Manoel Carlos e Renato Sérgio. Arquivo Pessoal
Com os fotógrafos Indalecio Wanderley e Gervásio Baptista. Arquivo Pessoal Renato Sérgio
Com Justino Martins, diretor da Manchete. Arquivo Pessoal de Renato Sérgio
Com Djavan. Arquivo Pessoal de Renato Sérgio
Com Hermeto Pascoal. Arquivo Pessoal de Renato Sérgio
por José Esmeraldo Gonçalves
O humor era preciso, o texto era elegante, o amigo era do peito. Ao longo da sua trajetória em redações como a do Jornal do Brasil, da TV Rio, Tupi, Globo, da Manchete, da Fatos & Fotos, EleEla e outros dos principais veículos do Brasil, o paulistano Renato Sérgio deve ter ouvido muitas vezes que tinha "o texto mais carioca do jornalismo". Não era um chavão, era um elogio. De fato, o texto do nosso querido Renato tinha mesmo essa marca. Digamos, um certo e saboroso jeito carioca de ver a vida. Mas que ia muito além daquele foco singular de quem viveu com intensidade boêmia a Ipanema dos anos 60 e 70. Aí por volta de 1977, trabalhamos juntos na extinta Bloch. Houve um tempo em que a Fatos & Fotos publicava a cada edição uma grande entrevista. Era uma seção especial, como as "páginas amarelas" da Veja. Acho que aquela série de entrevistas deve ter durado uns dois ou três anos. Renato conversava com os principais nomes da cultura. Duvido que tenha ficado alguém de fora. Lembro-me que o texto - de leitura obrigatória para os jovens repórteres da equipe da Fatos & Fotos - parecia um papo entre amigos. Na verdade, o entrevistador era mesmo amigo pessoal de muitos dos seus entrevistados, Tom, Vinicius, Bôscoli, Elis, Boni, Walter Clark, Jô, Nara... Mas só parecia uma conversa entre amigos. Com certeira habilidade, Renato deixava que seus personagens se revelassem. Transformava o entrevistado em um parceiro e o levava a contar aos leitores tudo aquilo e muito mais do que só diria a um amigo muito íntimo. Anos depois, Renato deixou a revista e foi trabalhar na Rede Manchete. Tornou-se roteirista de vários programas. Mas um deles, em especial, me lembrava aquela fase das entrevistas da Fatos & Fotos. Era o "Bar Academia", onde entre canções e diálogos, ele promovia encontros memoráveis e reveladores de gigantes da MPB como Caetano, Gil, Chico Buarque e tantos outros. Em recente conversa, nós nos perguntávamos onde estariam aquelas fitas, foram destruídas, perdidas? Havia alguns tesouros da MPB naquele acervo. Renato falava com saudade do programa. E lamentava que o país e as instituições cuidassem tão mal da nossa memória cultural.
Na última década, o jornalista deixou as redações e se transformou em escritor. Com a mesma criatividade e um texto onde cada frase parecia se encaixar como uma peça de "lego", Renato Sérgio escreveu, entre outras, as biografias de Sérgio Porto, Bráulio Pedroso, Mauro Mendonça e até a do Maracanã. Isso mesmo, uma "biografia", já que a mística do estádio - hoje demolido - nunca esteve tão viva quanto no seu livro "Maracanã, 50 Anos de Glória".
 Em 2005, junto com outros colegas da Manchete, tocamos o projeto de um coletânea. A ideia era contar não a história oficial das revistas da extinta Bloch, mas relatar a vida e as vidas que ali passaram, incluindo as nossas. Foram três anos de reuniões, depoimentos, pesquisas em sebos e muita conversa jogada fora até o lançamento do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", em 2008. A pretexto de discutir novos projetos, o grupo de autores - eram 16 - tornou aquelas reuniões uma agradável rotina.
Tenho certeza de que todos nós não esqueceremos a sorte que tivemos ao prolongar nesses encontros marcados a convivência com Renato Sérgio.
Até um dia, amigo.    

8 comentários:

Jussara disse...

Foi muito boa mesmo nossa convivência. Nada a acrescentar ao seu texto. Saudades...

Bibi disse...

Esmê, digo o mesmo e até com mais eloquência sobre seus textos e a convivência contigo. Renato se foi, deixou história. A melhor delas, a gente percebe nas entrelinhas: ele teve bons amigos...
Saudades do meu mestre!

Vanessa Ornella disse...

Linda a homenagem ao amigo, Esmê. Quando uma figura tão rica assim se vai, fica mesmo uma lacuna,bnão só no coração de quem o conhecia, mas também no nosso registro cultural. Ainda bem que ele escreveu livros. Que pena que não escreveu todos. Meu carinho pra vocês. Bjs, Van

Anônimo disse...

Saudades, muitas

Waldir disse...

Grande figura, me lembro do Renato no sambódromo com um colete verde e rosa. ele era apaixonado pela Mangueira.

Esmeraldo disse...

Vanor, Bibi, valeu, fica a generosidade do colega e amigo que merece todas as lembranças. bjs

Maria Alice disse...

Sua homenagem ao nosso querido amigo Renato Sérgio, diz tudo aquilo que gostariamos de dizer. Belo texto Esmê. Renato, além de ser um baita jornalista, um verdadeiro mestre, com o qual tive oportunidade de conviver e aprender muito como foca, era uma pessoa doce, de bom coração, um perfeito lord inglês. É dificil perder um amigo tão querido. Renato ficará eternamente na nossa memória e no nosso coração.

Regina d'Almeida disse...

Tive o privilégio de ser confidente do Renatinho por alguns anos, com deliciosas conversas no Novo Mundo. E acompanhei o últipo porre dele, saindo de um aniversário do Orlandinho. Renato estava verde, com uma perna engessada, e trêpado. Insistiu em me deixar em casa, e aceitei com medo de acontecer algum acidente. Lá fui eu num fusquinha brigando o tempo todo e os anjos nos ajudaram a chegar bem - eu na minha casa e ele na dele.A partir do dia seguinte, ele nunca mais bebeu.