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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Vale a pena ler de novo: saiba porque o mercado quer se apropriar do voto popular

O professor de Economia da Unicamp, Eduardo Fagnani, publicou na Carta Capital, em 29/7/2017, o artigo "Capitalismo" brasileiro: todo poder emana do mercado". Na sua análise, mostrou o "fosso profundo entre os anseios da população e os desígnios dos detentores da riqueza financeira". 

É oportuna a releitura agora, na boca da urna.

As linhas gerais dos programas de Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Marina Silva, Henrique Meirelles e João Amoêdo soam, com uma ou outra variação de tom, como música de harpa do paraíso aos fones do mercado.

Colunistas de política e economia da mídia dominante vão aos poucos relevando as questões morais, sociais, de comportamento etc, pregadas pelo capitão inativo à medida em que seu futuro ministro detalha sua certidão de casamento com comunhão de bens com o poderoso mercado financeiro.

Daqui a quatro dias começa a propaganda eleitoral na TV e no rádio, vista como a última chance para um candidato conservador, Alckmin, por exemplo, se viabilizar como opção a Bolsonaro. Caso isso não ocorra, a mídia porta-voz do mercado vai vestir de vez suas gandolas táticas e cravar apoio à trifeta mercado-capitão-general. Nessa ordem unida.    

Pouco mais de um ano depois da publicação do artigo de Fagnani, torna-se claro, quanto mais se  desenvolvem as campanhas eleitorais, que a maioria dos candidatos se apresenta mais sob a identidade de operador financeiro de faixa presidencial à disposição do mercado do que como um representante do povo. Para estes, o povo, esse obsoleto, é um mero ativo social desvalorizado a importunar o sistema com reivindicações recorrentes como emprego, saúde, educação, qualidade de vida, enfim, essas "irrelevâncias" que enchem o saco do mercado.

Veja abaixo alguns tópicos selecionados do artigo que você pode ler na íntegra AQUI

* "No passado, um prócer da ditadura sentenciou que "a economia vai bem, mas o povo vai mal". Hoje os sábios das finanças e seus porta-vozes não se cansam de repetir que a economia vai bem, apesar de o País ser governado pelo "chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil", da gravíssima crise institucional e da putrefação do sistema político e partidáriol A economia vai bem, a despeito da taxa de desemprego ter mais que dobrado em dois anos por conta das políticas de austeridade que provocaram a maior recessão da história."

* Vale tudo, desde que a equipe econômica seja preservada, pois nela se reúnem os únicos iluminados supostamente capazes de "proteger o País contra medidas populistas" e encontrar saídas para a recessão resultante das ideias desses mesmos atores, falsas saídas, as quais, por irônico que pareça, foram acolhidas pela candidata vitoriosa em 2014."

* "Sem desfaçatez e com aparente normalidade, os intérpretes do tal mercado arrogam-se o direito de falar em nome da sociedade que eles desprezam absolutamente. Se "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição", como reza o primeiro artigo da Carta de 1988, soa como deboche a declaração do parlamentar que a preside de que e que 'a Câmara dos Deputados vai manter a defesa da agenda do mercado'."

* "Sem base científica consistente, impõem-se reformas "para o Brasil não quebrar, voltar a crescer e gerar emprego". Tanto faz se, no caso da reforma tributária e da reforma previdenciária, elas sejam rejeitadas, respectivamente, por 71% e 58% dos brasileiros. "Mas o mercado vai adorar, porque o capitalismo não é antiético, é aético."

 * "Escárnios à parte, o fato é que no Brasil todo o poder emana do mercado, que o exerce diretamente, ou por meio de representantes eleitos e porta-vozes travestidos de economistas e jornalistas. O fato é que, em ultima instância, o golpe jurídico-parlamentar é bem-vinda oportunidade para radicalizar o projeto liberal derrotado nas últimas quatro eleições. Em trinta anos, não há nada de novo no front. Parafraseando Cazuza, a conjuntura é 'um museu de velhas novidades'.

* "Essa construção inicia-se nos anos 1990s e prossegue com a "Agenda Perdida" (2002-2003), com o "Programa do Déficit Nominal Zero" (2005); após breve pausa, retorna com a "Agenda Brasil" (2015) e, de forma odiosa e antidemocrática, aí está hoje, no documento "Uma ponte para o futuro" –, que é uma negação do documento "Esperança e Mudança" (1982), escrito pelo mesmo PMDB –, agora transformado em "programa de governo" da coalizão espúria que está no poder. O mesmo projeto velho, com nova roupagem."

* "Em terceiro lugar, destruir o Estado Social de 1988, pois "as demandas sociais da democracia não cabem no orçamento". Privatizações, teto para gastos não financeiros, ampliação da desvinculação constitucional de recursos (de 20% para 30% do percentual de impostos da Desvinculação de Receitas da União), Reforma da Previdência e da Assistência Social, terceirização irrestrita, desmanche da legislação do Trabalho e Reforma Tributária a favor dos mais ricos (além dos ataques recente ao FGTS e ao programa Seguro-Desemprego), estão em curso, sob o rolo compressor do Congresso e contra a sociedade, mas afinado com 'a defesa da agenda do mercado'."

* "Os donos do Brasil jamais aceitaram os avanços sociais de 1988, fruto da longa luta pela redemocratização do país. O "capitalismo" brasileiro não aceita, sequer, conquistas mínimas da socialdemocracia europeia, aqui taxadas de 'populistas' e 'bolivarianas'. "