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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Netanyahu acaba de alcançar um recorde: é o líder cujas bombas já mataram mais jornalistas do que a Primeira e Segunda Guerras e o conflito do Vietnã




por José Esmeraldo Gonçalves

Benjamin Netanyahu já está na galeria dos mais brutais criminosos de guerra desde que as Convenções de Genebra tentaram ordenar os excessos nos campos de batalha. Em 1929, chocados com as atrocidades cometidas na Primeira Guerra Mundial, os líderes ocidentais assinaram compromissos e normas para a defesa de prisioneiros de guerras, feridos, doentes e civis. Aos primeiros documentos seguiram-se vários acordos adicionais para proteger não combatentes, náufragos e proibir o uso de gases venenosos. Ao longo de décadas, a evolução tecnológica das máquinas de guerra foi objeto de outros protocolos. 

A guerra em Gaza praticamente rasga essas posturas. 

A reação aos atentados realizados pelo grupo terrorista Hamas foi legítima na origem, mas ultrapassa todos os limites e provoca reação mundial. A guerra também é alvo de protestos de muitos israelenses e condenada por judeus em vários países. O poderoso governo de extrema direita que comanda Israel ignora essas reações. Uma consequência dos ataques à população civil de Gaza (estima-se em mais de 60 mil o número de mortos) são os lamentáveis episódios de antisemitismo que ocorrem principalmente nas cidades da Europa. 

Netanyahu e seus comparsas viram na ação terrrorista do Hamas uma oportunidade para varrer a Palestina no mapa. Um símbolo cruel da estratégia rumo a esse objetivo são as cenas que mostram soldados israelenses metralhando multidões famintas que disputam os alimentos que eventualmente chegam a Gaza.  Essas imagens atravessam o cinturão militar e chegam ao mundo graças a repórteres, fotojornalistas e cinegrafistas que registram a barbárie. Esses profissionais são alvo da ira de Netanyahu que se incomoda com a divulgação das atrocidades. Os números em escalada mostram que 194 jornalistas foram mortos em Gaza desde 2023 (o Sindicato de Jornalistas Palestinos estima em 246 os profissionais da mídia assassinados em menos de dois anos e  a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) estima que  mais de 200 profissionais de imprensa que foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas). São cifras que ultrapassam os da Primeira e Segunda Guerras somados (69 vítimas) mais os jornalistas mortos na guerra do Vietnã (71). Na guerra da Ucrânia, até agora, 19 profissionais foram assassinados.

O último ataque de Israel ao hospital onde estavam os jornalistas emula uma terrível tática aplicada durante a Segunda Guerra Mundial e replicada nas décadas seguintes por grupos terroristas. Trata-se do ataque da "segunda bomba". A primeira devasta o alvo, deixa mortos e feridos; a segunda visa arrasar os sobreviventes e, principalmente, as brigadas e voluntários que socorrem os feridos. Foi essa segunda bomba que ampliou o rio de sangue no hospital bombardeado. Os ataques teria sido efetuados por drones cujas câmeras visualizam e confirmam detalhes do alvo, o que reduz a hipótese de erro 

Netanyahu sempre justifica as mortes com o argumento de que terroristas do Hamas estão infiltrados entre os correspondentes de guerra da AFP, Reuters, Al Jazeera, New York Times. O ataque ao hospital visava, segundo ele, um repórter que supostamente foi ligado ao Hamas. Provas? Netanyahu nunca precisa de provas para lançar bombas onde quer que seja sobre não combatentes, incluindo crianças.                        

sábado, 2 de agosto de 2025

Ano 2000 - Há 25 anos: o bug da Bloch e o último réveillon da Manchete

2000 - O último Réveillon da Manchete


Primeiro de Agosto de 2000: Justiça lacra a Bloch - A edição pronta que nunca foi para as bancas


por José Esmeraldo Gonçalves
Semanas antes da virada para o ano 2000 a mídia estava obcecada pelo bug do milênio. Especialistas lançavam no ar um certo pânico. Havia quem guardasse comida, remédios e dinheiro. Os mais crédulos, especialmente uma cantora da MPB, acreditava em abdução de pessoas. Neopentecostais arrumavam as malas e juntavam dízimos para viajar de primeira classe rumo ao resort celestial. 

Em Copacabana, trabalhando no réveillon para a Caras, apenas concluí: se o bug seria mesmo tão terrível, não havia o que fazer. Nada aconteceu. À meia noite verifiquei o celular e relógio estava lá, certinho. O novo milênio apareceu, o bug, não. 

No Forte de Copacabana, encontrei a repórter da Manchete Aiula Eisfeld. Cobríamos o Réveilon de FHC. Seria o Baile da Ilha Fiscal se o bug tivesse derrubado a festança da elite. Como o apocalipse digital não veio, foi apenas uma noite brega. Não sabíamos, mas o que estava a caminho era o Dia B do Bug inevitável da Bloch Editores. Não sabíamos, mas aquela "festa pobre", como cantava Cazuza, seria a última registrada pela Manchete. Sete meses depois, no dia 1 de agosto, a empresa iria à falência. Manchete encerrava um ciclo de 42 anos de circulação regular (ainda seriam publicadas, nos anos seguintes, edições produzidas por uma cooperativa de ex-funcionários e revistas especiais de carnaval). Manchete saía de fininho e começava uma dramática etapa de vida para milhares de colegas. Eu havia deixado a Bloch em fevereiro de 1996 após 17 anos de trabalho em duas etapas; 11 anos na Fatos& Fotos e seis anos na Manchete

Acompanhei à distância a luta dos ex-funcionários então levados a credores da Massa Falida da Bloch Editores. Ontem, a batalha para reaver direitos, liderada por José Carlos Jesus na Comissão de Ex-Empregados da Bloch Editores, completou 25 anos. A maioria - entre os mais de 2 mil trabalhadores que foram habilitados inicialmente, recebeu o que os advogados chamam de "indenização principal".  A MFBloch ainda lhes deve parcelas de correção monetária (foram pagas apenas três cotas, apesar de parte dos credores trabalhistas terem feitos acordos com o objetivo de obter quitação total mais rápida). Um grupo de habilitados posteriormente ainda aguarda a indenização principal, segundo ex-funcionários. 

O último dia da Bloch foi tão dramático, de certa forma tão cruel, quanto a longa  espera por justiça. Os funcionários foram obrigados a deixar às pressas o conjunto de prédios da Rua do Russell, com poucos minutos para recolher objetos pessoais. Assim expulsos, deixaram para trás o hall de editora lacrada e caíram em tempos de incertezas. 



Cinco anos após a falência da Bloch, ex-funcionários começamos a escrever o livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou (Desiderata), esgotado mas ainda disponível em sebos na internet. O objetivo alcançado era deixar registradas a vida e as vidas naquela aldeia plantada na Rua do Russell. Abaixo reproduzo um dos textos que escrevi para a coletânea,  o de apresentação, e uma crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo sobre o dia para não esquecer. 



Texto de apresentação do livro Aconteceu na Manchete,
as histórias que ninguém contou.

A crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo e reproduzida neste blog. 
Clique nas imagens para ampliá-las.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Regime Trump ameaça a liberdade de expressão. Por temer reação do presidente, galeria do Smithsonian Institute agiu para impedir exibição de obra de arte


Transforming Liberty: pintura vetada
para não irritar Trump. Reprodução Instagram 


A polêmica chegou ao New York Times

por José Esmeraldo Gonçalves 
A pintora Amy Sherald retirou sua exposição do Smithsonian Institute. O problema foi a atitude inusitada da galeria da instituição que, temendo a reação de Donald Trump, levou à artista uma "sugestão" para repensar a exibição do quadro Transforming Liberty, representação da Estátua da Liberdade em versão transgênero. 

Este é um dos múltiplos efeitos perniciosos do Regime Trump no país. Em maio, segundo o New York Times, o presidente já  havia ameaçado demitir a então diretora do Smithsonian por enxergar nela uma apoiadora da diversidade e da inclusão. Ela pediu demissão antes da canetada do oligarca.  
 
Vale lembrar que essa prática censória era comum na Alemanha nazista. Tanto que os curadores de Hitler não apenas retiravam certas  obras dos museus como organizaram um grande exposição só de "arte suja" para ensinar ao povo o tipo de expressão artística a condenar. 

A mostra American Sublime, de Amy Sherald, ainda está em cartaz no  museu privado Whitney, em Nova York, pelo menos até o dia 10 de agosto, incluindo a obra que assustou o Smithsonian. Quem quiser ver corra que Trump vem aí.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Em 1970 Manchete publicou um dicionário de gírias da República de Ipanema. Embarque nesse expresso do tempo e da linguagem



Gírias entregam idades, certo? Mas algumas vencem o tempo e impregnam as falas de várias gerações. Em 1970 Manchete publicou o Pequeno Dicionário Ipanemense da Língua Brasileira. Muitas entre as expressões então reunidas pelo repórter Creston Portilho ainda são adotadas pelas gerações atuais, assim como a turma da bossa nova, do cinema novo, do pier de Ipanema também assimilou locuções de décadas anteriores. O bairro era uma antena repetidora que transmitia comportamentos e falas. (José Esmeraldo Gonçalves)

Eram outras paradas e outras eras.

Hoje, muitas gírias absorvidas nas praias e baladas surgem do linguajar do tráfico. Isso mesmo. Fazer o que? Algo como “tô na pista”, “papo reto”, “brotar”, “tá ligado” (esta importada de São Paulo)...

Mas vamos ao dicionário. Claro que usar hoje certas expressões datadas pode levar um jovem interlocutor a buscar significados no Google ou levar a questão para os avós.

De qualquer forma, faça essa viagem, entre nesse expresso da linguagem.     


Amarelo Vestibular – Cor de quem se preparava para o vestibular e não ia à praia.

Babado -geralmente uma fofoca

Babilaque – também se usava a forma abreviada – babê – significava estar com os documentos.

Bacana – rico

Becado – roupa – estar com becado legal – terno.

Beijar Cristina – fumar maconha.

Bicão – penetra, aquele que aparecia no embalo sem ser convidado.

Bicicleta – óculos, luneta.

Bizu – informação importante, botar alguém a par do que se passava.

Bode – ressaca, estar com sono, variação bodear (dormir)

Bolacha – cartão que acompanha o chope.

Bolha – bobo, chato.

Branco escritório – cor de quem trabalha muito, vai de casa para o escritório e vice-versa, não vê sol.

Branquinha – mulher

Cabrita - mulher- tem cabrita nova no pedaço, mulher diferente na festinha.

Cacau – dinheiro

Cafona – dizia-se de indivíduo de extremo mau-gosto no vestir, no agir e no falar.

Camaradinha – amigo, chapa

Candonga – intriga, fofoca.

Capim – dinheiro, grana

Careta – sóbrio, que não bebeu ou usou droga, moralista.

Cascata – mentira, conversa fantasiosa.

Chinfra – sujeito que tira onda de rico, de bacana.

Chocar – namorar.

Chofer de fogão, cozinheira.cozinheiro.

Chongas – nada, coisa alguma, bulhufas.

Chué – esquisito, diz-se de quem está doente.

Cobra – o bom, indivíduo competente em alguma coisa.

Coisa – maconha ou outro “aditivo”. Você tem coisa aí? 

Corujão – sujeito que observa tudo, em princípio, todo corujão é um chato.

Criar – namorar meninas muito jovens.

Crocodilo – aquele que age de má fé, não tem caráter, falso, também funcionava como sinônimo de dedo-duro. 

Curiboca -otário, bolha, panaca.

Dar um lance – tomar um atitude, dar um lance na menina, dar uma cantada.

Dar uma de – agir como, dar uma de herói.

Deixar o maçarico cair – bronzear-se, expor-se ao sol forte.

Desligado -individuo que não repara em nada que acontece em volta,  aquele que está sob efeito de bebida.

Devagar – antônimo de quente, muito usada na expressão, devagar quase parando.

Dica – mesmo que bizu. Dica, ainda hoje em uso, surgiu no Pasquim. Era o tílulo resumido da seção Indica, que sugeria filmes, espetáculos, livros etc

Doidão – sob efeito de maconha ou outro tóxico, amalucado, viajando.

Durango Kid – sem dinheiro, duro, durango.

Embalo – festinha com muita bebida, drogas e cabritas.

Encaracolado – de difícil entendimento, indivíduo que não explica as coisas com clareza.

Escovão – bigode grande.

Esmeril – indivíduo que bota pra quebrar ao volante.

Esquer- quadrado, retrógrado, que não pensa de acordo com o grupo, a conversa está chata, esquer.

Estar a fim -  topar, estar disposto a fazer alguma coisa.

Estar a perigo – estar sem dinheiro, duro, está na pior.

Estar na de alguém – concordar com alguém, agir como determinada pessoa, estar sob efeito de droga, estar gostando de alguém.

Faturar – ter sucesso, usava-se especialmente no sentido de ser bem-sucedido com mulheres.

Ficar de Bobeira – Não fazer nada

Figura – Sujeito que chama atenção. Diferente. Estranho. Variação: figuraça.

Fossa – Estado de depressão que tanto podia ser uma angústia existencial quanto uma dor-de-corno ou de cotovelo.

Fundir  a cuca – Ir à lourura. Pirar. Ficar desnorteado com alguma explicação ou situação da qual não entendeu coisa alguma.

Furão -Indivíduo que promete mas não cumpre. Que marca encontro e não comparece. Diz-se do indivíduo que não paga ingresso em teatro e show.

Galinha -  Para todos os gêneros: pessoa muito volúvel nas relações amorosas.

Invocado – Mal humorado, aborrecido, estourado, nervoso, agressivo.

Índio – Sujeito que vem de fora, de outra cidade.

Jogar confete – Bajular, paparicar.

Lei do cão – Barra pesada, regras rigorosas ou autoritárias, código de comportamento punitivo.

Lenha – Dificuldade (ex. o vestibular foi uma lenha).

Lhufas – Forma reduzida de bulhufas, nada, nenhuma.

Ligado – Aquele que está sob efeito de drogas, baratinado (de curtindo um barato). Variação: esperto, atento, concentrado.

Limpeza – Boa praça, barra limpa, legal (fulano é limpeza).

Lixo – Muito usado para classificar filmes, livros, shows, má qualidade da droga.

Luneta – óculos.

Macaca – Mulher que pula de um namorado para outro como muda de roupas, namoradeira.

 Malandro Agulha – Sujeito que mesmo se alguém ridicularizá-lo não perde a linha. Essa parece inspirada nos malandros antigos que usavam calça de boca estreita.

Mina – Mulher, garota

Moleza – Coisa da qual se tira proveito com facilidade, vida mansa.

Morar na jogada – Compreender, entender, sacar.

Morgar – dormir na mesa do bar sob efeito de bebedeira ou droga,, sem ânimo, sem energia.

Mulha – Mulher, mina.

Muquirana – Chato, boboca, diz-se também de sujeito ruim ao volante.

Ouriçar – Agitar, tumultuar.

Panaca – Bolha, otário.

Pano – Roupa, beca, roupa bonita.

Papo furado – cascata, mentira, situação inverossímil.

Paradão – Vidrado, diz-se de quem bebeu pouco e fica deprimido.

Paquerar – Ficar de olho, equivalente hoje a azarar.

Patota – Turma, grupo de amigos unidos, patota do bar, patota da praia etc.

Pedra Noventa – Sujeito importante ou peça rara, figura diferente, metido a original. Indivíduo legal, bom caráter, boa praça. Dizia-se também do sujeito perigoso, que carregava duas pistolas 45.

Pegar nas Coisas - fumar maconha.

Pelo – Cabelo, cabelão.

 Pila – malandro

Pintar – aparecer, chegar, a mina pintou na esquina.

Pirado – Maluco, psicopata, psíco

Pirulitar – ir embora.

Piso – sapato, sandália, calçado, chinelo, pisante.

 Pla -Conversa, papo com a namorada, cantada.

Ponto – olhar de quem está te dando bola.

Pra Frente – Avançado, que se veste de acordo com o último figurino.

Preju – Forma abreviada de prejuízo…

Proleta- Proletário, pobre

Quebrar a cara – sair-se mal em qualquer tipo de tentyativa.

Sacar -   ver, perceber –

Trambique – Negócio geralmente ilícito, golpe, levar um trambique,

Trolha – rabo-de foguete, tomar uma trolha (tomar um preju)

Vivaldino – Malandro


sábado, 5 de julho de 2025

Estados Unidos de Donald Trump é a "Coreia do Norte" da extrema direita. Autoridades impedem a entrada de atletas estrangeiros no país. São esperados incidentes do tipo durante a Copa do Mundo de 2026


A temida polícia de caça aos imigrantes é ameaça potencial à entrada de atletas nos Estados Unidos.
 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Há poucos dias uma delegação esportiva de Cuba foi impedida de entrar nos Estados Unidos. Recentemente o mesatenista brasileiro Hugo Calderano foi barrado quando estava a caminho de um torneio em Las Vegas. A razão para cancelar o visto? O passaporte do atleta indicava uma visita anterior a Cuba. Quer dizer: o fato de Calderano ter ido competir em Havana o transformou - aos olhos do U.S. Immigration and Customs Enforcement's (ICE), a "Gestapo" trumpista -  em um perigoso agente capaz de espionar, talvez, as mesas de jogo, a prostituição e a circulação de drogas na movimentada The Strip. A julgar por esse tipo de restrição à entrada de atletas será preciso cautela em relação à escalação dos Estados Unidos como sede de eventos esportivos internacionais. 

Ano que vem o país de Trump recebe a Copa do Mundo de Futebol, junto com México e Canadá. Jogadores e torcedores correrão o risco real de serem vetados pelos motivos mais aleatórios.

O Irã, por exemplo, já está classificado para a Copa de 2026. Será admitido pelo regime autoritário de Trump ou a FIFA passará pela vergonha de levar a seleção iraniana a jogar apenas no México e no Canadá? A Venezuela precisa de quase um milagre para obter classificação direta nos últimos dois jogos das Eliminatórias, mas tem chances de disputar uma repescagem.  E aí? Será admitida ou Trump enviará a seleção venezuelana para o seu novo campo de concentração de imigrantes construído nos pântanos da Flórida e cercado de jacarés e crocodilos?

A China está fora da Copa. A Rússia também não vai em função das sanções políticas. Belarus disputará as Eliminatórias. O Brasil não é bem cotado na Casa Branca. Tem relações com China, Irã, Rússia, Palestina - quarteto que irrita Trump - e faz parte dos BRICS. Além disso, elementos da seita bolsonarista homiziados nos Estados Unidos mobilizam a ultra direita republicana para incluir o Brasil na lista de cancelamentos políticos e comerciais. É impossível prever até onde vai a escalada ditatorial de Trump, que tem golpeado uma a uma as instituições democráticas dos Estados Unidos, e saber como estará a situação em junho de 2026, mas é prudente que o treinador Carlo Ancelotti escale a seleção brasileira só depois de os jogadores passarem pelo guichê policial do aeroporto.   

domingo, 29 de junho de 2025

Mundial de Clubes: o raio que não vem mas interfere no jogo


por José Esmeraldo Gonçalves 

Pessoas em campo aberto podem ser atingidas por raios. Há casos fatais. Isso todo mundo sabe. O Brasil, por exemplo, está entre os campeões de incidência de raios do mundo. Estatisticamente, somos mais fulminados do que os Estados Unidos. Perguntem aos meteorologistas.

O Mundial de Clubes em estádios do território de Trump revelou ao mundo o "protocolo" que paralisa os jogos. Está  em vigor desde 2012 quando uma pessoa que asistia a uma corrida da Nascar foi alvo de um raio fatal, mas ganhou visibilidade internacional no atual  torneio da FIFA. No ano passado, nessa mesma época, aconteceu a Copa América, da Comenbol, com jogos em alguns dos mesmos estádios de agora, sem que a protocolo fosse acionado. Supõe-se que a FIFA não impôs condições e aceitou a restrição que interompe as partidas.  

Nuvens um pouco mais escuras e carregadas de energia assustam os técnicos e logo eles emitem ordens para esvaziar arquibancadas e campos, mandando jornalistas, jogadores, pessoal de serviço e torcedores em êxodo rumo aos "porões" dos estádios. Lá a turma mofa durante 30 minutos. Se as nuvens não se mandarem, a restrição é prorrogada por mais 30, e assim sucessivamente. O jogo Benfica e Chelsea, por exemplo, parou por quase duas horas. O intervalo forçado aparentemente agradou ao time inglês que parecia fisicamente menos depauperado. O Chelsea voltou revigorado e goleou os portugueses. Ou seja, o raio que não veio pode ter interferido no placar do jogo. 

Você deve se perguntar sobre um motivo à parte e não divulgado do tal "protocolo". Ao mesmo tempo em que o público era confinado, um drone que sobrevoasse as imediações dos estádios mostraria pedestres e carros circulando tranquilamente nas ruas próximas. O protocolo não está preocupado com eles, nem com os raios que eventualmente os partam. Qual a razão da coisa? Evitar que pessoas eventualmente atingidas no ambiente do jogo processem governos, seguradoras, proprietários dos estádios e promotores dos jogos, no caso a FIFA, ou espetáculos em geral. Estados Unidos é paraíso de advogados. Lá, se você é atropelado, o causídico chega antes da ambulância. Faz sentido. 

Felizmente, em todas ocorrências do tipo, os raios esperados pelos gringos meteorologistas não apareceram no pedaço e nem fulminaram jogadores e torcedores. 

Protocolo Brasileiro

Não temos vulcões nem furacões e os principais estádios têm cobertura parcial. No Mundial de Clubes foram vistas algumas arquibancadas inteiramente descobertas. Nosso protocolo esportivo para emergências é menos complexo. Cabe ao árbitro do jogo, diante de uma emergência, consultar autoridades para dimensionar o problema (quase sempre inundações provocadas por fortes chuvas, estaod do grmado, flata de iluminação etc) é, em seguida, paralisar a partida. Se o problema persistir, o árbitro tem o poder de encerrar a partida passado um tempo regulamentar de espera (30 minutos).  A complementação do jogo será marcada para outra data. A situação é resolvida no campo esportivo em contato com serviços públicos ou privados apropriados. Sem misturar as coisas, as autoridades civis acionadas cuidam da parte que lhes cabe: a segurança das pessoas. Caso a interrupção aconteça decorridos 30 minutos ou mais do segundo tempo, será validado o placar do momento da paralisação.    

O deslumbramento dos comentaristas e apresentadores brasileiros

O protocolo pegou de surpresa os jornalistas brasileiros. Os mais afeiçoados ao Tio Sam em princípio saudaram o a medida sem críticas e até, no caso de um dos narradores da Globo, certa exaltação "ridícula". Não atentaram para a Copa do Mundo de seleções, ano que vem, que terá os Estados Unidos como uma das sedes, ao lado de México e Canadá. O protocolo que pode suspender um jogo por duas horas ou mais poderá levar a Copa ao caos, caso seja acionado nas diversas partidas em território estadunidense. A sorte é que México e Canadá não têm esse protocolo restritivo e, pelo menos nas partidas que vão sediar, o caos eventualserá evitado. Melhor a FIFA levar para a Copa o Cacique Cobra Coral especializado em impedir chuvas e raios.  



sábado, 21 de junho de 2025

"Fotojornalista Arquivo" assina foto de Paulo Scheuenstuhl/Manchete no Globo. 'Pode isso, Arnaldo?'



MPB se reúne na casa de Vinícius de Moraes, 1967. Foto de Paulo Scheuenstuhl/Manchete publicada no Globo de 21/6, 2027 e aqui reproduzida em razão de interesse informativo. 



por José Esmeraldo Gonçalves 

A mídia profissional reclama, com razão, da mão leve que as corporações da internet fazem dos  conteúdos jornalísticos. Pois O Globo de ontem publicou na matéria "MPB cantada e contada" uma foto histórica feita por Paulo Scheuenstuhl - fotojornalista falecido há poucas semanas, profissional que integrou a equipe da revista Manchete- e concedeu à imagem apenas um crédito a uma entidade inanimada: "arquivo". 

Fico imaginando o "fotojornalista arquivo" embarcando na Rural Wyllis da Bloch rumo à casa de Vinícius de Moraes, no Jardim Botânico, onde a foto foi feita, e dirigindo a famosa cena, conferindo foco, luz, diafragma etc, antes do clique que registrou mais do que nomes nacionais da MPB uma época virtuosa da cultura carioca. E se o "arquivo", autor de tantas fotos creditadas na mídia, fizesse uma exposição autoral? Precisaria de um Maracanã para reunir suas "obras" de tanto que os veículos lhe atribuem trabalhos. Para quem não sabe, Paulo Scheuenstuhl tinha no seu acervo uma folha de contato com as fotos não editadas dessa mesma cena. São imagens praticamente inéditas de um encontro único e representativo. Esta foto que, segundo O Globo, foi feita pelo "arquivo" talvez seja a mais publicada do fotojornalista da antiga Manchete. E também a mais surrupiada. A imagem chegou a ilustrar em formato gigante a parede da sala de um apartamento na orla de Ipanema pertencente a um executivo da antiga Som Livre. Muitos convidados que frequentavam o espaço teriam parabenizado o anfitrião como "autor" da foto icônica. 

Era comum na imprensa do passado omitir os nomes dos autores de fotos e de textos. Os acervos dos jornais e revistas ainda guardam muitas imagens de autores desconhecidos ou produzidas pela "equipe". Mas não é o caso de uma imagem tão célebre, publicada até em livros, como essa da MPB no terraço da casa de Vinicius de Moraes. O mais incrível é que a foto feita por Paulo Scheuenstuhl inspirou até mesmo a pauta da matéria do Globo, que reuniu em formato semelhante um grupo de artistas da nova MPB. Nem isso motivou o justo crédito.  

Há, atualmente, uma luta intensa dos profissionais da indústria criativa em defesa dos direitos autorais. O objetivo é obrigar as plataformas a pagarem pelo uso dos conteúdos de terceiros que alimentam as redes agora turbinadas pelo voraz mecanismo da IA. E a reivindicação não interessa apenas aos autores, mas diz respeito ao direito à informação autêntica e apurada e à democracia. Um exemplo? O Google já produz "sites informativos", pseudo-jornalísticos, gerados inteiramente pela IA e impulsionados pelos seus próprios algoritmos. Os principais jornais do mundo estão nessa batalha. Respeitar o direito autoral legitima a difícil luta.          

sábado, 7 de junho de 2025

Musk versus Trump - Barraco na Casa Branca levanta suspeitas de corrupção e de festins sexuais com adolescentes

 

Jeffrey Epstein, que se suicidou na prisão após condenação
por promover orgias com menores para empresários convidados, e o parça Donald Trump. Reprodução Facebook 




Barraco entre os dois ex-amigos abriu caixa preta de transas e transações.
 A mídia dos Estados Unidos ganhou assunto alternativo à perseguição aos imigrantes, taxação de importações, cerco às universidades e asilo aos brancos da África do Sul "vítimas de racismo, segundo Trump.    

por José Esmeraldo Gonçalves

É um típico caso onde não precisamos escolher um lado, mas torcer pela briga. O barraco entre o homem mais poderoso do mundo contra o mais rico é útil para revelar favorecimentos em contratos que rendiam pilhas de dinheiro público manobrado pela administração Trump e, de quebra, mostrar que em meio a uma ofensiva de supostos cortes de despesas da máquina governamental comandados por Musk foram preservadas transações bilionárias que abastecem os cofres da empresa do oligarca que mantinha gabinete na Casa Branca. Só que no calor da discussão entre os dois ex-amigos Musk soltou uma bomba sexual. Denunciou que o dossiê sobre o Caso Epstein, que durante a campanha Trump prometeu liberar, permaneceu na gaveta. Na verdade, Trump abriu apenas uma parte do dossiê e escondeu os elementos inéditos. Coincidentemente, os trechos em que ele aparece como possível participante na fila do gargarejo dos festins sexuais promovidos pelo empresário Jeffrey Epstein . O Caso Epstein, para quem não lembra, revelou orgias a la carte que reuniam grandes capitalistas, personalidades do set e empreendedoras sexuais contratadas por Epstein. Ele convidava meninas, muitas delas menores de idade, a peso de dólares e viagens luxuosas, para confraternizações sem limites com amigos como o príncipe Andrew. Epstein acabou preso e se suicidou na prisão em 2019. As garotas eram transportadas em jatinhos a que os participantes davam o nome de Lolita Express. Daí Musk insinuar que o evento era sobre uma celebração da pedofilia.   

domingo, 25 de maio de 2025

"Mãe" leva bebê reborn para tomar vacina. Outra quer que o padre batize seu "filho" de silicone. E a saúde mental vai bem?

Bebê reborn anunciado na internet por 250 dólares. Reprodução


Há alternativas, digamos, mais instigantes do tipo "noiva cadáver", "serial killer baby" etc.


O Globo ouviu especialistas sobre a onda dos reborns


por José Esmeraldo Gonçalves 

As redes sociais - à parte a utilidade -  são também um lixão de inutilidades. Nas últimas semanas a internet foi contaminada por uma onda de bebês reborn. Algumas mulheres adultas tratam esses entes artificiais como se fossem reais. Tanto que "mamães" levaram seus bebês de silicone e vinil a postos de saúde pública. Algumas se revoltaram por não serem atendidas. Na Bahia, um padre se recusou a batizar um bizarro "filho" de uma genitora de reborns, mas não demora muito aposto que vão surgir religiosos que encontrarão na bíblia um motivo para sacramentar os borrachudos e faturar uma grana. 

Aliás, os bebês reborn são caros. No Mercado Livre, por exemplo, há espécimes que custam de R$3.500,00 a R$8.000,00. É coisa de gente abonada. Não se surpreenda, há quem os leve a sério. O Globo de hoje publica uma página que reúne psicanalista, psiquiatra e cientista social que debatem o fenômeno. A matéria deixa de lado as situações absurdas, como essa de levar o bebê de silicone ao posto de saúde para receber dose de vacina, e analisa supostos efeitos terapêuticos na coisa. O texto também critica haters que debocham da nova mania. A psiquiatra Roberta França, contudo, adverte, como o Globo revela: "A questão é quanto você transfere o lúdico para uma ideia de realidade". 

É o que parece acontecer diante de certas circunstâncias que os noticiários revelam. 

sábado, 17 de maio de 2025

Mujica e Manuela, o reencontro final

Mujica e Manuela

por José Esmeraldo Gonçalves

Em geral, a repercussão da morte de José Mujica, descontada, provavelmente, a reação irada dos colunistas do ódio identificados com a extrema direita brasileira, foi fiel à sua trajetória. Mas há imprecisões bem-intencionadas: a mídia se apega a chavões. Um deles, o do "presidente pobre que dirigia um fusca e rejeitou palácios". Mujica repelia a suerficialidade do rótulo. "Dizem que sou um presidente pobre. Não, eu não sou um presidente pobre", corrigiu em entrevista à BBC. "Pobres são os que querem sempre mais, que não se satisfazem com nada. Esses são pobres, porque entram em uma corrida infinita. E não terão tempo suficiente na vida." 

Os principais veículos do mundo destacaram a vida política relevante e guerrilheira de Mojica. O Panis resume, aqui, um simples aspecto do seu jeito de ser. Uma cadelinha diz muito sobre o ex-presidente do Uruguai. O mundo não apenas sentirá falta do Pepe Mujica: o mundo precisa desesperadamente de um Mujica em cada esquina. Ele vivia na periferia de Montevidéu com a esposa, Lucía Topolansky, também ex-Tupamaro, e a cadela Manuela, que o acompanhou ao longo de 22 anos. Mujica pediu para ser enterrado junto à cachorrinha de estimação, de três patas (perdeu uma delas atropelada por um trator dirigido pelo próprio Mujica). Imagine-se a sua tristeza em dobro. Manuela sobrfe viveu até 2018.

Veja este vídeo. Clique AQUI 

sábado, 10 de maio de 2025

Ok, habemus papam. Mas você sabe o que é um papa? Carlos Heitor Cony explica


Para melhor nitidez, acesse o conteúdo da matéria do Cony Manchete na Biblioteca Nacional
https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pasta=ano%20198&pesq=%22Carlos%20Heitor%20Cony%22&pagfis=194941




por José Esmeraldo Gonçalves 

1980. Em dias como esses de posse de um novo papa - agora Leão XIV - só se falava nisso no mundo. Talvez para muita gente a função principal do pontífice era aparecer em uma janela do Vaticano, dar a benção ao povo reunido na Praça de São Pedro ou embarcar no jato especial da Alitália e visitar alguns países. E, sim, celebrar a missa de Natal. 

Talvez por isso, Carlos Heitor Cony usou seu espaço de crônica na antiga revista Manchete para detalhar o expediente do papa que, aliás, mora no local do emprego. 

A propósito, a antiga Manchete manteve, desde que foi criada, em 1952, uma afinidade jornalística com o Vaticano. Ligação oportuna, aliás, já que, no jargão da redação, papa é bom de venda em bancas. 

São memoráveis - com destaque para a épica cobertura da visita de João Paulo II ao Brasil, que resultou em edições que alcançaram vendas astronômicas - as matérias de capa com a linha do tempo dos pontífices. Quando o nada carismático Bento XVI veio ao Brasil, a antiga Manchete já havia virado memória; Francisco, que visitou o Rio de Janeiro e levou mais gente do que Madonna e Lady Gaga à Praia de Copacabana também nao alcançou vivas as rotativas da antiga Manchete


Vale citar, também, como um inestimável produto jornalístico, a série "A História dos Papas" que o redator Flávio de Aquino escreveu para a antiga Manchete. Procure ler. O conteúdo da revista, como sabem, está digitalizado na Biblioteca Nacional. O mecanismo de busca do canal de periódicos da BN levará você facilmente aos textos e à pesquisa gigante do jornalista Flávio de Aquino.  

Quando Carlos Heitor Cony escreveu a crônica O Que é um Papa ao cinema não interessava o Vaticano como tema de grandes produções. O Google relaciona, se não todos, os principais filmes que desvendam os mistérios do Vaticano em documentários, séries ou ficções bem documentadas, hoje bem mais frequentes nas telas ou nos canais de streaming.  

Veja algumas produções marcantes. 

* João Paulo II (2005) - A vida de Karol Wojtyla.

* Anjos e Demônios (2009) - Do livro de Código Da Vinci, do escritor Dan Brown.

* Habemus Papam (2011) - Ambientado no clima de um conclave. 

* O Papa do Povo (2015) - Sobre a vida de Franciso antes do papado.

* The Young Pope (2016) - Série fictícia da HBO sobre um papa revolucionário.

* Dois Papas (2019) - A convivência de Franciso e o papa emérito Bento XVI.

* O Sequestro do Papa (2023) - Ficção.

* O Exorcista do Papa (2023) - Sobre acontecimentos reais em torno de um padre que era o exorcista oficial do Vaticano  

* Conclave (2024) - Sobre os bastidores políticos da escolha de um novo papa.



segunda-feira, 21 de abril de 2025

Adeus, Papa Francisco

 


Copacabana, 2013. Uma impressionante multidão reverencia Francisco. Foto L'Osservatore Romano


 por José Esmeraldo Gonçalves 

Poucas horas depois de aparecer na Praça de São Pedro como parte da celebração do Domingo de Páscoa, o Papa Francisco faleceu em seus aposentos do Vaticano, aos 88 anos. Após 12 anos de papado, deixa uma marca de renovação da Igreja Católica e principalmente da Cúria Romana. Sua partida repercute obviamente na mídia mundial. No Brasil, a Globo mostra nesse momento imagens da histórica jornada de Francisco no Rio de Janeiro. Cenas impressionantes da acolhida dos brasileiros ao papa, como a da multidão de mais de três milhões de pessoas na Praia de Copacabana, são simbólicas do impacto da visita. Foi sua primeira viagem após assumir como  líder máximo dos catolicos.

Os próximos dias serão dedicados à cerimônia fúnebre em Roma, mas nos corredores do Vaticano já se desenrolam contatos e conversas da cúpula católica em torno da sucessão. Trata-se de um intenso jogo político. 

O jornal argentino Clarín publica na edição de hoje registro do encontro do vice-presidente dos Estados Unidos, ontem, com o Papa Francisco. Reprodução 

O mundo vive uma onda de extrema direita e isso se refletirá na eleição do novo pontífice. Há sinais claro de que Donald Trump tentará influir na votação. Ontem mesmo, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D Vance, católico recém-convertido, visitou o Vaticano. E Trump nomeou como embaixador junto à Santa Sé Brian Burch, um católico conservador que é crítico do papa. 

Francisco condenou as ações violentas de Trump contra os imigrantes, o que provocou respostas duras dos republicanos. Sua defesa das políticas ambientalistas também irritaram o negacionista estadunidense.

Quanto ao processo eleitoral que vai agitar o Vaticano, uma boa indicação é ver ou rever o filme "Conclave", na Prime.  Ali está um bom panorama das forças que cercam a eleição até que a fumaça branca sinalize a nomeação  do novo papa ao fim da votação dos cardeais na Capela Sistina.

Caberá ao substituto provisório do papa, o cardeal Kevin Joseph Farrell, um irlandês que foi bispo de Washington e de Dallas, organizar a cerimônia fúnebre e a eleição do novo Pontífice. Trump quer anexar o Vaticano?

Não duvidem.

domingo, 6 de abril de 2025

Le Parisien: o ar do Louvre, de Notre Dame e do Sacré-Coeur à venda em latas. Custa 12 euros a unidade . O fabricante não informa se vai enlatar o cheirinho do metrô de Paris na hora do rush

 

Le Parisien, edição de 6/4/2025

por José Esmeraldo Gonçalves
Turistas que forem a Paris têm nova opção de lembrancinhas. A empresa tcheca Fattrol lançou enlatados com o ar de ambientes icônicos da Cidade Luz. Segundo o jornal Le Parisien, a iniciativa é polêmica. Há quem a ache ridícula, quem a considere apelação para enganar visitantes e, obviamente, quem compre o enlatado para levar para os amigos e parentes.  No momento estão à venda por cerca de 12 euros, os ares do Louvre, da Torre Eiffel, Notre Dame, Museu  d' Orsay e Sacré-Coeur. 
Se a moda pegar, vamos esperar que não captem o ar do metrô de Paris na hora do rush ou de restaurantes franceses que servem andouillette. Vou poupá-los da descrição, apenas digo que é um tipo de salsichão cujo recheio inclui o conteúdo do cólon do porco. Maiores informações com as jornalistas Jussara Razzé e Deborah Berman que provaram o prato no interior da França e imediatamente devolveram à cozinha a iguaria mais fedida do mundo.  

Ou, se a Fattrol vier para o Brasil, que não recolha, por exemplo, o ar da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Das Comissões de ambas as casas. Se for utilizar o ar de Copacabana, evitar o cheirinho do Posto 5, nas imediações da única estação de tratamento de esgoto no mundo instalada em área turística. Passar longe das redações das Jovem Pan, de vista Oeste, do Antagonista...    

sábado, 1 de março de 2025

Marcio Ehrlich (1951-2025) - o historiador da publicidade brasileira

Marcio Ehrlich

A coluna Janela Publicitária na...


Revista Tupi, 2020

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em 2020, em pleno isolamento social imposto pela Covid, editei um projeto interessante idealizado por David Ghivelder: uma revista para a Tupi 96.5 FM. Toda a produção, com exceção obviamente da gráfica, foi em home office. A equipe era formada por revisteiros da Manchete como Dirley Fernandes, Sidney Ferreira, Alex Ferro, David Júnior, Tânia Athayde, Roberto Muggiati, além da repórter Dani Maia, ex-Abril. Marcio Ehrlich foi o responsável pela coluna Janela Publicitária, o mesmo título do seu site e podcast. Tínhamos então, nas páginas da publicação da "rádio que vai para as bancas", o maior especialista no assunto. 

Desde os anos 1970, Marcio Ehrlich era atualidade e memória da publicidade brasileira. Foi diretor a Associação Brasileira de Publicidade (ABP). Era referência no setor. Entendia que a publicidade não apenas vendia produtos mas se connectava com a vida das pessaos. 

Sua última coluna foi sobre o Natal. Ele sentia falta das mensagens natalinas produzidas pelas agências especialmente para a época. "Todo anunciante sonhava que sua agência de publicidade trouxesse um jingle que tocado na rádio ou na TV fizesso o público sair cantarolando depois, como se fosse um hit popular", lembrou.  Ehrlich citou o antológico comercial da Varig. "Estrela brasileira no céu azul , iluminando de norte a sul, mensagem de amor e paz, nasceu Jesus, chegou Natal. Papai Noel voando a jato pelo céu trazendo um Natal de felicidade..." 

No último parágrafo da coluna ele lamentou: É uma pena. Neste momento em que muitos shoppings estão tendo que botar seus Papais Noéis atrás de uma vitrine ou de uma tela de celular, por conta do isolamento social, bem que eu gostaria de estar cantando uma nova musiquinha fofa de Natal. você não?"  

O que poucos sabiam: Ehrlich, além de jornalista e psiquiatra por formação, foi ator, trabalhou em várias novelas. Uma delas, "Pantanal", da extinta Rede Manchete. 

Marcio Ehrlich faleceu no dia 24/2/2025, aos 74 anos, vítima de choque séptico e falência de múltiplos órgãos. Era casado com a jornalista Renata Suter, deixou dois filhos e um neto. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Carnaval Carioca - Bloco Imprensa que Eu Gamo faz seu último desfile

O Imprensa na volta de despedida.
Foto de Jussara Razzé. 


"Valeu, Rio". Foto de Jussara Razzé 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Alegria, como sempre, mas em clima de despedida. Há 30 anos, um grupo de jornalistas criou o bloco Imprensa que Eu Gamo. As mesas dos bares instalados no Mercadinho São José, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, foram testemunhas. Para os fundadores, chegou a hora de parar. Depois de três décadas, o Imprensa Que Eu Gamo fez seu último desfile no circuito Laranjeiras-Largo do Machado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, no sábado,15. Rita Fernandes, presidente do Imprensa e da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro (Sebastiana), relatou ao G1 alguns motivos para o adeus do Imprensa. Segundo ela, "alto custo do carnaval, excesso de burocracia, falta de pessoas na organização, mudança de público". 

O Imprensa, que nunca foi corporativo e nem exigiu crachá, (sempre recebeu todos os públicos) fechou sua trajetória que, ao longo de três décadas, reuniu várias gerações de jornalistas. Alguns coleguinhas só se encontravam uma vez por ano durante o desfile. Uma jornalista brincou: "estamos fazendo prova de vida".


O ritmista Nilton Retchman, ex-Manchete e ex-Furiosa, a bateria do Salgueiro. Foto Arquivo Pessoal 

Na bateria do Imprensa, um integrante lembrava na camiseta uma publicação identificada com o carnaval carioca.  Era o ex-funcionário da Bloch Nilton Retchman, ritmista que fez parte da lendária Furiosa do Salgueiro.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A revista que se recusa a desaparecer - Manchete volta às bancas


2008 - A capa da última edição da Manchete. Foto de Dani Barcelos


por José Esmeraldo Gonçalves 

 O jornalista Roberto Muggiati, o editor que por mais tempo esteve à frente da Manchete, costuma dizer que a revista parece ter um pacto de ressurreição com o príncipe romeno Vlad III, aquele que atendia pela alcunha de Conde Drácula. A Manchete saiu das bancas quando atingida no peito por uma estaca representada pela falência da Bloch Editores (em agosto de 2000), mas se recusou a deixar o imaginário de muitos leitores. 

Seu conteúdo gerou dezenas de livros e teses universitárias. Seu arquivo de fotos construído por gerações de fotojornalistas permanece desaparecido, mas o sumiço não impede que imagens marcantes sejam reproduzidas em jornais, revistas e até em documentários sobre fatos e personagens presentes nas coberturas da revista. 

Digitalizada pela Biblioteca Nacional a coleção da Manchete de abril de 1952 ao ano 2000 venceu o tempo e pode ser consultada por pesquisadores, jornalistas, antigos leitores, historiadores, estudantes etc.

Aquela estaca da falência em 2000 não conseguiu encerrar a trajetória da Manchete. Em periodicidade semanal, a revista voltou às bancas em 2001 editada por Roberto Barreira e Lincoln Martins à frente de uma cooperativa de jornalistas formada por ex-funcionários da Bloch. O expediente citava então que a publicação era autorizada pela Massa Falida da Bloch Editores e supervisionada por um Conselho Curador formado por Murilo Mello Filho, Roberto Barreira, Lincoln Martins, José Rodolpho Câmara, Roberto Antunes, Marcos Salles e Elço Ferreira. Em fevereiro de 2001, a tradicional Manchete de carnaval chegava às bancas de todo o Brasil. Especialistas com DNA do sambódromo, como Wilson Pastor, David Junior, Jussara Razzé, Alex Ferro, Armando Borges, João Mário, Alexandre Loureiro, Orlando Abrunhosa, Alberto Carvalho, José Carlos Jesus, Maurício Chicrala, Maria Alice Mariano, J. A. Barros, Orestes Locatel, Regina D'Almeida,  Marcelo Horn, Pedro Borgeth, Eliane Peixoto, Enilson Costa, Renato Sérgio e Vicente Datolli,  entre tantos outros colaboradores, abriram alas para épicas, novamente, edições de carnaval.  

Os jornalistas que bancaram aquela volta resistiram o quanto puderam, até que mais uma estaca, dessa vez financeira, retirou a revista da bancas. 

Tempos depois o editor e empresário Marcos Dvoskin arrematava em leilão alguns títulos da Bloch, incluindo Manchete. A partir de 2004 a Editora Manchete, de Dvoskin, lançou edições de Carnaval até 2008. Após isso, a publicação  - a última capa está reproduzida no alto - saiu das bancas mais uma vez.

Agora a Manchete ressuscita. Sites especializados noticiam que o jornalista Marcos Salles - que, a propósito, como citado acima, fez parte do Conselho Curador das edições pós-falência -, acaba de adquirir de Marcos Dvoskin o título Manchete. Salles, que foi diretor de O Dia e até recentemente esteve à frente do Correio da Manhã, relançará a revista no dia 17 de março, em apresentação festiva no Teatro Adolpho Bloch, no edifício que sediou as redações da Bloch Editores, na Rua do Russell, Rio de Janeiro. 

Manchete volta em edição mensal, impressa. Além disso, os vídeos das entrevistas poderão ser acessados por QR Code nas páginas da revista que levam ao portal R7, do Grupo Record e serão exibidos na TV Max, na NET. 

Segundo as informações divulgadas, a primeira edição trará uma grande reportagem sobre o Carnaval. Uma referência simbólica a um tipo de pauta, entre tantas outras especiais, que marcaram a trajetória da Manchete.   

Panis cum Ovum surgiu há quase 16 anos como expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", coletânea que reuniu textos de jornalistas e fotógrafos que trabalharam na Bloch. Temos a revista na veia e, agora, exclusivamente na memória. 

O mercado mudou, mas muitas publicações impressas encontraram seus espaços no novo mercado. O blog deseja sucesso à iniciativa. Força, equipe. Que Manchete aconteça mais uma vez.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

JK foi assassinado? Um caso que ainda está aqui...

Fatos & Fotos, agosto de 1976.

por José Esmeraldo Gonçalves 

A Comissão Especial sobre Mortos e Desparecidos Políticos do Ministério dos Direitos Humanos avalia a possibilidade de reabrir uma investigação sobre a morte de Juscelino Kubitscheck ocorrida em 22 de agosto de 1976. 

Em 2021, o Ministério Público Federal havia descartado a hipótese de uma colisão entre um ônibus e o carro que conduzia JK e o seu motorista Geraldo Ribeiro como causa do acidente na Via Dutra, que vitimou os dois ocupantes. A colisão de fato aconteceu, mas o MPF registrou em inquérito que foi "impossível afirmar ou descartar" a hipótese de um atentado político a partir de uma sabotagem no Opala que tenha levado ao descontrole e capotagem do carro.  Essa suposição é conhecida, foi amplamente explorada por jornais, revistas e até no livro "O Beijo da Morte", de Carlos Heitor Cony e Anna Lee. Juscelino Kubitscheck, como João Goulart, então exilado no Uruguai, e Carlos Lacerda (este apesar de ser um dos mentores civis do golpe e da ditadura de 1964 não era mais figura de confiança dos "gorilas" desde que tentou organizar uma frente política contra o governo militar) eram alvos do regime. Jango morreu em dezembro de 1976 e Lacerda em maio de 1977.   

O que este blog acrescentou ao chamado mistério da morte de JK foram relatos exclusivos de acontecimentos igualmente suspeitos ou, no mínimo, estranhos, que agitaram os bastidores do velório de JK e Geraldo Ribeiro no hall do prédio da Bloch na Rua do Russell, Glória, Rio de Janeiro. 

Se o leitor tiver interesse em conferir uma ponta erguida do tapete que abafou alguns sinais inusitados do caso, pode conferir no link abaixo uma matéria de Carlos Heitor Cony e José Esmeraldo Gonçalves sobre o fato histórico em aberto. 

https://paniscumovum.blogspot.com/2016/08/memorias-da-redacao-ha-40-anos-morria.html

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Pela primeira vez a Lua é incluída pela WMF em lista de patrimônios mundiais em risco

Neil Armstrong já morreu, mas ele e outros astronautas
deixaram 96 sacos resíduos orgânicos na Lua. Foto NASA 

por José Esmeraldo Gonçalves 

A Lua acaba de ser incluída na lista de patrimônios mundiais ameaçados. A organização WMF (Fundo Mundial de Monumentos justifica a medida ao constatar que o satélite natural da Terra - tanto o meio ambiente local quanto os sítios históricos - está em risco. A pegada de Neil Armstrong, por exemplo, é uma dessas marcas memoriais de valor cultural. A sucata que sobrou dos módulos lunares, além de veículos dos astronautas (os pequenos "jipes"), robôs e sondas está espalhada na superfície lunar. Tudo junto soma mais de 180 toneladas, segundo a NASA admite. É lixo espacial, sim, mas tem significado histórico. A WMF teme que a retomada das missões tripuladas anunciadas por empresas privadas norte-americanas e países como China e Índia comprometa o acervo da exploração lunar. Estima-se que equipamentos e objetos largados na superfície lunar alcancem cifras de milhões de dólares. Empresários como Elon Musk demonstram interesse nesse "tesouro". E não se pode ignorar a perspectiva de que, em alguns anos, o turismo espacial se consolide. Turistas costumam arrecadar lembrancinhas por onde passam. Devem ser alertados que em meio a colecionáveis há na Lua um item inusitado da época das missões tripuladas: a Apollo deixou lá 96 sacos com conteúdo orgânico. Isso mesmo, ao lado da famosa placa fixada pelos astronautas ("Por toda a humanidade, nós viemos em paz"), os terráqueos presentearam possíveis visitantes extraterrestres com cocô e urina. 

A iniciativa da WMF tem um objetivo em paralelo à questão ambiental. O predator Elon Musk, que já enviou ao espaço um carro Tesla, pode ter planos inacreditáveis. Por exemplo, levar à Lua um estátua de Hitler, do qual é um admirador, construir um condomínio para trilionários no Mar da Tranquilidade ou, quem sabe, implantar uma usina nuclear para iluminar a face oculta da Lua. Não duvide, Musk já sequestrou até as estrelas. Experimente olhar para cima em uma noite clara, sem nuvens. Um belo céu estrelado? Não exatamente. Aquelas fileiras de luzes que parecem "constelações" ainda não nomeadas por astrônomos são os milhares de satélites estacionários da Starlink em uma altitude de até 500 km. Além de poluir o visual estelar, a "constelação" de Musk tem outro problema. Periodicamente, os técnicos do magnata têm que derrubar satélites queimados, quase sempre danificados pela radiação solar. Diz a Starlink que essas quedas são "controladas". Mas se até os foguetes da empresa explodem no ar... vai saber.  

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O ogro leva tudo

 


por José Esmeraldo Gonçalves 

O filme Shrek tentou resgatar a imagem do Ogro. Tornou simpático o gigante cruel nascido no milenar folclore europeu. Na origem, o ogro não tem nada de bonzinho e se alimenta de carne humana. 

A capa da New Yorker sugere sem qualquer sutileza que os Estados Unidos e, por tabela imperialista, o mundo serão conduzidos por um ogro. Ao perfil de um Donald Trump em tons mais claros sobrepõe-se o monstro ameaçador. 

Trump 2 chega ao seu novo mandato com poderes que farão o Trump 1 parecer um looser, um perdedor que não conseguiu derrotar o fraco Joe Biden. O Trump 2 tem o Congresso e a Suprema Corte aos seus pés. E apesar da histórica autonomia administrativa, legal e política dos estados na maioria das questões vai se impor a bordo de um argumento poderoso: os governadores republicanos eleitos se beneficiaram da maré eleitoral trumpista. 

Os primeiros pronunciamentos do presidente eleito demostram que o vencedor leva tudo como cantava o Abbas no seu sucesso mundial de 1980. 

Trump sabe que não terá contrapesos nesse segundo mandato. The winner takes it all. The loser has to fall. 

Confiram a letra completa no Google e vejam se não é a própria "melô do Trump".  

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Evandro Teixeira, 1936-2024, (*) - O mágico das imagens históricas

por José Esmeraldo Gonçalves

Durante 48 anos Manchete reuniu os mais prestigiados fotojornalistas brasileiros, de várias gerações. Semanalmente, como em uma grande exposição, as bancas - e eram milhares em todo o Brasil - penduravam exemplares abertos em páginas duplas com a foto mais marcante assinada por craques da fotografia. Como um curador, o jornaleiro sabia escolher a imagem da Manchete que mais atraíam atenção. Mas faltou um mestre naquele imensa mostra que transformava a Avenida Paulista, a Rio Branco e tantas outras ruas e praças no Brasil em uma galeria aberta e vibrante.

Evandro Teixeira nunca trabalhou na Manchete.

As coleções mostram apenas uma matéria assinada por ele adquirida da Agência JB. Outras raras imagens, especialmente de 1968, são creditadas à agência.

Editores de revistas ilustradas costumam se apaixonar por fotografias. De certa forma, aprendem a vê-las, mesmo que não ousem fazê-las. 

Muitas vezes, a primeira página do JB provocava nas redações da Manchete Fatos & Fotos alguma frustração que logo se transformava em irresistível admiração.

Evandro não esteve na galeria a céu aberto de Manchete e Fatos & Fotos nas bancas do país? Pena. As duas revistas saíram perdendo. Suas fotos inesquecíveis - Passeata dos 100 Mil, Tomada do Forte de Copacabana, Repressão da Cavalaria das PM na Candelária, Golpe Militar no Chile, Morte de Pablo Neruda e muitas outras publicadas no Jornal do Brasil - estão na memória do fotojornalismo brasileiro e mundial. 

Além disso, ganhou de Carlos Drummond de Andrade um poema que define o próprio fotojornalismo sob a lente mágica de Evandro. Quem mais?

Diante das Fotos de Evandro Teixeira 
(Carlos Drummond de Andrade)

A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo sob a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das figuras.

Fotografia – é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência, cristal do tempo no papel.

Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como a exorcizar?

Marcas da enchente e do despejo,
o cadáver insepultável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York
a moça em flor no Jóquei Clube,

Garrincha e Nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois que são fotos.

Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo
a viajar, a surpreender
a tormentosa vida do homem
e a esperança a brotar das cinzas.

 

* Evandro Teixeira faleceu ao 88 anos, no dia 4 de novembro, vítima de pneumonia, no Rio de Janeiro. O fotojornalista cumpriu com brilhantismo uma extraordinária carreira profissional de 70 anos, 47 dos quais integrando a fabulosa equipe do Jornal do Brasil, onde fez história..