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sábado, 2 de agosto de 2025

Ano 2000 - Há 25 anos: o bug da Bloch e o último réveillon da Manchete

2000 - O último Réveillon da Manchete


Primeiro de Agosto de 2000: Justiça lacra a Bloch - A edição pronta que nunca foi para as bancas


por José Esmeraldo Gonçalves
Semanas antes da virada para o ano 2000, a mídia estava obcecada pelo bug do milênio. Especialistas lançavam no ar um certo pânico. Havia quem guardasse comida, remédios e dinheiro. Os mais crédulos, especialmente uma cantora da MPB, acreditava em abdução de pessoas. Neopentecostais arrumavam as malas e juntavam dízimos para viajar de primeira classe rumo ao resort celestial. 

Em Copacabana, trabalhando no réveillon para a Caras, apenas concluí: se o bug seria mesmo tão terrível, não havia o que fazer. Nada aconteceu. À meia noite verifiquei o celular e relógio estava lá, certinho. O novo milênio apareceu, o bug, não. 

No Forte de Copacabana, encontrei a repórter da Manchete Aiula Eisfeld. Cobríamos o Réveilon de FHC. Seria o Baile da Ilha Fiscal se o bug tivesse derrubado a festança da elite. Como o apocalipse digital não veio, foi apenas uma noite brega. Não sabíamos, mas o que estava a caminho era o Dia B do Bug inevitável da Bloch Editores. Não sabíamos, mas aquela "festa pobre", como cantava Cazuza, seria a última registrada pela Manchete. Sete meses depois, no dia 1 de agosto, a empresa iria à falência. Manchete encerrava um ciclo de 42 anos de circulação regular (ainda seriam publicadas, nos anos seguintes, edições produzidas por uma cooperativa de ex-funcionários e revistas especiais de carnaval). Manchete saía de fininho e começava uma dramática etapa de vida para milhares de colegas. Eu havia deixado a Bloch em fevereiro de 1996 após 17 anos de trabalho em duas etapas; 11 anos na Fatos& Fotos e seis anos na Manchete

Acompanhei à distância a luta dos ex-funcionários então levados a credores da Massa Falida da Bloch Editores. Ontem, a batalha para reaver direitos, liderada por José Carlos Jesus na Comissão de Ex-Empregados da Bloch Editores, completou 25 anos. A maioria - entre os mais de 2 mil trabalhadores que foram habilitados inicialmente, recebeu o que os advogados chamam de "indenização principal".  A MFBloch ainda lhes deve parcelas de correção monetária (foram pagas apenas três cotas, apesar de parte dos credores trabalhistas terem feitos acordos com o objetivo de obter quitação total mais rápida). Um grupo de habilitados posteriormente ainda aguarda a indenização principal, segundo ex-funcionários. 

O último dia da Bloch foi tão dramático, de certa forma tão cruel, quanto a longa  espera por justiça. Os funcionários foram obrigados a deixar às pressas o conjunto de prédios da Rua do Russell, com poucos minutos para recolher objetos pessoais. Assim expulsos, deixaram para trás o hall de editora lacrada e caíram em tempos de incertezas. 



Cinco anos após a falência da Bloch, ex-funcionários começamos a escrever o livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou (Desiderata), esgotado mas ainda disponível em sebos na internet. O objetivo alcançado era deixar registradas a vida e as vidas naquela aldeia plantada na Rua do Russell. Abaixo reproduzo um dos textos que escrevi para a coletânea,  o de apresentação, e uma crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo sobre o dia para não esquecer. 



Texto de apresentação do livro Aconteceu na Manchete,
as histórias que ninguém contou.

A crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo e reproduzida neste blog. 
Clique nas imagens para ampliá-las.