sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Tem mais gente na fila do Auxílio Brasil do que na "queue" para o povão dar adeus à Rainha Elizabeth



A fila londrina. Foto. Instagram 


A fila carioca. Foto ReproduçãoTwitter

por O. V. Poche
O mundo se curva mais uma vez diante do Brasil. Em algum momento, somando todo o país, a fila para o cadastro no Auxílio Brasil chegava perto de 2 milhões de pessoas. A fila para a despedida da Rainha Elizabeth ainda está em andamento, mas não deverá bater esse recorde. A "queue" como eles chamam, é um evento em Londres. Sem ofensa, um festival,  um Rock'n Buckingham. Tem gente passando 18 horas enfileirada para ter direito a 15 segundos diante do caixão fechado de Elizabeth. 

Não há registros de incidentes nas madrugadas da fila do Auxílio. Assaltos, por exemplo, ou não aconteceram ou não foram noticiados. Dá para entender, a galera em busca do Auxílio está apenas se inscrevendo pra receber depois. Entra e sai da fila sem grana. 

O que há, no Rio, e já é tradição em filas longas, é a venda de lugar. O cara vira a noite na parada e, de manhã, vende o lugar para um retardatário que não quer perder muito tempo na fila. 

Beckham na espera: 13 horas na fila

Em Londres não tem disso. Segundo o Telegraph, o ex-jogador Beckham passou 13 horas na fila antes de prestar sua homenagem à rainha. Se fosse aqui, como vip, furava a multidão na boa. 


Deu no Telegraph: importunação sexual na madrugada

Em compensação, o mesmo Telegraph conta que houve pelo menos um caso de importunação sexual na fila londrina. Um sujeito de 19 anos que supostamente iria prantear Elizabeth cansou de esperar e, como não estava fazendo nada mesmo, botou o pau plebeu para fora, exibiu-se para duas súditas e tentou agarrar a que estava mais perto. Foi perseguido por um guarda, chegou a pular no Tâmisa, mas foi detido. 

O jornal conta que cerca de 400 pessoas passaram mal na fila e muitas precisaram de atendimento hospitalar. O motivo? Ficar em pé por cerca de 10 a 15 horas. A fila andava sempre, mesmo lentamente, e não dava para sentar no chão.

Outro rumor envolve Donald Trump. O ex-presidente americano não foi convidado. O cerimonial do Buckingham deve ter achado que no gênero baixo nível bastava Bolsonaro. Trump vai insistir, recomenda-se checar a fila, ele pode dar uma de penetra. Quanto a Bolsonaro, o serviço secreto provavelmente vai avisar que não é permitido fazer motociata na The Mall e o funeral não é lugar para discurso eleitoral nem para reunir apoiadores no "cercadinho".   

Felizmente o Brasil está representado na comoção londrina por alguém mais que não é o Bozo. A jornalista Cecília Malan, da Globo, está de luto desde que o médico deu o atestado de óbito da rainha. Ela sente que nos representa e relatou sua odisseia de pessoa física durante oito horas na fila quando curtiu cada momento. A entrega da pulseirinha verde para acesso aos 12 segundos diante do caixão real foi comemorada como se fosse um título de lady do império. "Seis horas depois. Um último adeus. Ainda estou meio sem palavras", disse.

Não merece crítica. Emoção está na latinidade. Que bom que o jornalismo é feito por gente como a gente. Hebe Camargo já ensinava  isso. A legítima emoção da repórter equivale perfeitamente às lágrimas da dona Celeste do Morro Agudo quando teve aprovado seu cadastro para receber o Auxílio Brasil. 

Nisso, a intensa capacidade de emocionar, a fila de Londres tem a ver com a fila do Auxílio Brasil. Não se desesperem, Malan e dona Celeste mostram que o mundo tem jeito. 

 (Post atualizado em 17/9/2002)

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