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| Verão europeu. Fim de tarde em Coimbra. Foto de Gilberto Cavlacanti, ex-fotógrafo da Manchete |
| 1974: Liza Minelli na Manchete. Reprodução de foto de Frederico Mendes publicada na revista |
A seleção argentina vive grande fase. Campeã do mundo, campeã da Copa América. Infelizmente é cada vez mais difícil admirar o futebol do time renovado dos hermanos. No ônibus, após a vitória contra a Colômbia, os jogadores cantaram um refrão racista. Canção essa, aliás, que a torcida argentina entoou na Copa do Catar para provocar o craque Mbappé pouco antes do jogo contra a França. A cena foi postada pelo meia Enzo Fernández e, em seguida, apagada. Mas o print foi salvo e circula nas redes sociais. A federação francesa entrou com reclamação junto à Fifa pedindo a punição dos argentinos. O Chelsea, time de Fernández abriu procedimento interno e pode punir o jogador.
| Refrão racista cantado pelos jogadores argentinos. Reproduzido do X |
Comentário do blog - por Ed Sá
A capa da Time é dramática. É praticamente o registro da vitória de Donald Trump nas próximas eleições estadunidenses. Pelo figurino da extrema direita, o marketing político mudou. Atentados autênticos podem ser politica e habilmente explorados. São vistos como "oportunidade". As fake news, também. Debates, entrevistas, programas de governo etc aparentemente não ganham mais eleições? A estratégia de campanha mais eficiente e fulminante é facada ou tiro de raspão na orelha. A faca de Adélio mirou em Bolsonaro e atingiu Lula/Haddad em 2018. O balaço que raspou na orelha de Trump nem desfez o penteado do magnata, mas respingou nas urnas de novembro e abateu de vez o já trôpego Joe Biden. Em segundo lugar vêm as notícias falsas agora turbinadas com vozes e imagens trabalhadas em inteligência artificial (IA).
Significa que as campanhas presidenciais em todo o mundo dispensarão seus marqueteiros e contratarão especialistas hollyoodianos em sequências dramáticas, dublês, figurantes, editores de imagem e gênios da inteligência artificial? As redes sociais, hoje decisivas, gostam de ação e emoção. Com exagero, pode-se supor que a realidade eleitoral passará a ser um detalhe e o importante será o efeito especial que impactará a massa?
Curiosamente, o alvo desses atentados sobrevive politicamente mais forte para festejar a posse. O recurso pode valer também para líderes enfraquecidos. Robert Fico, o primeiro ministro da Eslováquia, por exemplo, enfrentava críticas por alegar que os benefícios para exportadores de graõs da Ucrânia prejudicavam a agricultura do seu país. Fico tomou um tiro na barriga, foi hospitalizado em estado grave, mas sobreviveu e reassumiu seu cargo agora com mais apoio.
O risco é - sabendo-se que marqueteiros de políticos são espertos - assessores da Geraçao Z começarem a bolar situações-limite, nem sempre sangrentas, para reforçar a popularidade dos líderes. A IA poderá ser de grande ajuda em campanhas eleitorais "criativas" a qualquer custo. Algo como Giorgia Meloni, prineira-ministra da Itália, escorregar numa pizza e ganhar votos porque um imigrante da Líbia teria jogado lixo na rua? Digamos que o presidente da Polônia, Andrzej Duda, que perdeu recentemente a maioria no parlamento, sofra constipação depois de comer na rua uma zapiekanka feita por um imigrante russo. O acidente culinário poderia lhe render alguma recuperação na imagem? Em resumo: extrair emoção de qualquer situação pode ser a regra de ouro do novo marketing político onde as idéias ficam em segundo plano. A moda agora é tiro, porrada e bomba. Verdadeiros ou não.
Comentário do blog - É quase impossível distinguir um democrata de um republicano nos Estados Unidos. São gêmeos univitelinos. Mas, concordo, qualquer mer#a é melhor do que Donald Trump, um cara que além de ser racista, misógino, assediador e fraudador, é tudo isso junto: um fascista.
O problema é que Joe Biden está fora de sintonia. Não é crime, muitos de nós temos alguém na família igualmente lutando para se agarrar às últimas lembranças. É triste e dramático.
Agora imagine tudo isso no foco de uma campanha presidencial de um dos mais poderosos países do mundo.
Quem mais torce para Biden se manter candidato é Trump. Isso diz tudo.
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| Protesto contra Olimpíada ameaça o Rio Sena. Foto de Jussara Razzé |
| Evento coletivo de defecação no Sena tem até site para orientar manifestantes |
Assim como no Brasil, em 2014, quando aconteceu o protesto "Não vai ter Copa", algo parecido está rolando na França às vésperas da Olimpíada 2024. Parisienses encontraram um modo mais original de mostrar desagrado com os jogos que interferem na rotina da cidade e já consumiu mais de 1 bilhão de euros dos contribuintes. A ideia é promover um evento coletivo de defecação.
A guerrilha do cocô estava prevista para acontecer sob planejamento detalhado. No dia 23 de junho, os parisienses seriam convocados para sentar nos respectivos vasos sanitários das suas residências e ali depositarem o maior volume possível de fezes. Supõe-se que os organizadores dão preferência a um cocô mais consistente que, ao contrário da versão mais liquefeita, terá mais visibilidade ao desembocar no Sena. Uma dieta de batatas, por exemplo, pode contribuir para massificar excrementos. Outra opção é comer um prato raiz da culinária francesa: Andouillette. É coisa para os fortes. Trata-se de um bolo de carne feito de intestino de porco, pimenta, vinho, cebola e temperos. Embora os restaurantes garantam que a iguaria passa por controle sanitário e não oferece risco, acontece que cheira a merda e xixi.
Os líderes do cagalhaço calculam que, após lançado no vaso, o chamado "quilo" levará em média uma hora e meia para chegar às águas do Sena. Isso em tempo médio e a depender da distância do arrondissement. Bairros mais perto da margem do rio terão entrega praticamente expressa. O importante é que cada um se esforce para que sua contribuição fecal chegue ao rio no máximo até meio-dia. Sob a hashtag #JeChieDansLaSeineLe23Juin (algo como "eu caguei no Sena em 23 de junho"), um site facilitaria o calculo da velocidade do pacote.
O comitê de logística da manifestação espera muitas adesões. A alegada despoluição do rio terá custado, segundo eles, cerca 1,4 bilhão de euros, uns 9 bi de reais tropicais. O Sena será a raia da maratona aquática e da etapa de natação do triatlo e muitos atletas ameaçam não entrar na água caso, até a hora da prova, as autoridades não comprovem índices aceitáveis de coliformes fecais. Aí está a questão: se a inundação de cocô acontecer e se realmente for massiva, haverá tempo para uma operação emergencial de despoluição até o dia 26 de julho, data da abertura oficial dos jogos de Paris?
Atualização - O Cagalhaço de 23 de junho foi adiado. A ideia era que coincidisse com um anunciado mergulho de Anne Hidalgo e Emmanuel Macron nas águas do Sena. A prefeita e o presidente adiaram o que seria uma jogada de marketing para provar a despoluição do rio. Ambos alegaram que irão nadar após o segundo turno das eleições francesas marcadas para este domingo. Provavelmente evitaram ser vítimas do tsunami de fezes. A nova data deverá ser 15, 16, ou 17 de julho. O Cagalhaço também transferiu sua data e poderá acontecer tão logo as duas autoridades remarquem o mergulho no Sena.
por Pedro Juan Bettencourt
Países que adotam BC ou FED autônomos incluem regras para probidade da autonomia.
O Congresso supervisiona o BC ou o FED.
O presidente eleito tem o poder de demitir o presidente do BC ou do FeD assim que toma posse. Pode mantê-lo, se quiser.
O FED é o BC americano.
No Brasil, a lei de autonomia do BC não tem regras de probidade, é desembestada. O presidente do BC pode se beneficiar das políticas que adota, sem amarras. Roberto Campos Neto, por exemplo, tem investimentos pessoais atrelados ao dólar em paraísos fiscais, pode participar de boca-livre de churrasco na intimidade de quem o nomeou.
No momento, ele nem usa as reservas para conter o aumento do dólar. Medida que adotou várias vezes durante o mandato de Bolsonaro, mentor.
O presidente americano nomeia ou confirma o presidente do FED para quatro anos de mandato. É seu direito. No Brasil o presidente eleito ao tomar posse sofre uma espécie de cassação parcial do seu próprio mandato. Durante dois anos é obrigado a governar com a política monetária sob controle de alguém nomeado pelo seu antecessor . A lei de autonomia do BC rouba metade do mandato presidencial.
Ou seja: a lei de autonomia do BC foi criada para reduzir os poderes do presidente eleito, qualquer que seja ele.
Juntando a autonomia do BC, o papel das agências neoliberais, a eleição de deputados e senadores (no caso, um terço) para mandatos não coincidentes com o do Presidente da República e a farra das emendas secretas ou disfarçadad que dão um extraordinário poder financeiro ao Congresso, o eleito pelos brasileiros para o Palácio do Planalto já chega lá como "pato manco" (lame duck), a expressão usada na política dos Estados Unidos para definir o titular de um cargo cujo poder é em parte decorativo.
A autonomia do BC brasileiro, sem efetivas regras e sem supervisão de probidade, transferiu o poder de definição da política monetária para a especulação financeira. Foi o golpe que deu certo. Não foi necessário invadir o BC nem quebrar relógio, rasgar poltronas ou defecar em mesas de reunião.
por Flávio Sépia
Observando o drama público que vive Joe Biden não pude deixar de voltar a um acontecimento parecido ocorrido na pollítica brasileira.
Em 1986, Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara dos Deputados, deu sinais, em público, de confusão mental, alternava momentos de muita euforia e de profunda tristeza. Na verdade, como sua mulher, Mora, revelou ao jornalista Jorge Bastos Moreno, constatou-se depois que ele foi vítima de uma intoxicação medicamentosa provocada por prescrição de remédios inadequados para combater a depressão.
Enquanto não se encontrou o motivo, Ulysses sofreu uma cruel perseguição de adversários e por parte da mídia que veiculou informações falsas geradas por politicos. Uma hora, diziam que Ulysses tinha um um tumor no cérebro ou circularam informações falsas de que, desorientado, criara confusão em um voo. Após um tratamento de desintoxicação, Ulysses retomou o protagonismo na política e, menos de um ano depois presidiu a Assenbléia Nacional Constituinte, candidatou-se a presidente em 1989 e foi chamado de Sr. Impeachement ao ajudar a despachar Collor de Mello no rastro de graves escândalos de corrupção.
A baixa performance de Joe Biden durante debate com Trump, somada ao seu comportamento errôneo nos últimos meses, assusta os democratas. Algumas lideranças, em off, já admitem a troca do candidato do partido. Sobram avaliaçoes polúticas, mas faltam transparência e informações médicas sobre a saúde física e mental de Biden. Pode ser curável, assim como no caso de Ulysses? Pode se agravar? Sem que essas questões sejam esclarecidas aos eleitores, as piadas, as fake news e o deboche de Donald Trump até novembro (e está previsto outro debate da TV após as convenções partidárias) seguirão causando danos irreparáveis ao democrata.
Comentário do blog - Não apenas os democratas estão em pânico. O mundo está. O primeiro debate dos candidatos à Casa Branca foi um desastre.
A capa da Time faz a leitura mais dramática .
Biden encurralado pela própria mente; Trump desfilando um pacote de mentiras. Difícil acreditar que Biden encontre energia e estratégia para enfrentar Trump em novembro. O eventual retorno do magnata à presidência. Imaginar que os democratas tomarão a decisão mais difícil da história do partido - retirar Biden da corrida presidencial - é, por enquanto, só imaginação. Escolher um substituto é outro desafio. E o regra três, se vier, terá menos tempo de articulações e campanha. Será a versão americana do nosso Fernando Haddad em 2022, que teve apenas um mês para se apresentar aos eleitores.
O Pantanal queima mais uma vez. O que também é reincidência pela enésima vez é a irresponsabilidade do agronegócio: 80% dos grandes focos de incêndio estão em propriedades privadas e não têm causas ambientais, são resultado de queimadas, prática proibida, mas criminosamente adotada por fazendeiros. A participação do clima se dá pela falta de chuvas que deixa a vegetação seca, o que fornece o combustível para a propagação do fogo, é fato. O gatilho, contudo, é a mão do homem. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, informa que o governo federal combate 20 dos 27 grandes incêndios, mesmo não sendo da competência federal. "Temos uma responsabilidade sobre as unidades de conservação, mas o fogo não é estadual, não é municipal, o fogo é algo que destrói a vida e cria prejuízos econômicos e sociais" disse ela ao Poder 360.
O Estadão prefere politizar a questão, contornar o problema, e livrar a cara dos criminosos.
| Roberta Close e Erasmo Carlos em 1984. A foto da capa da Manchete foi assinada por Vantoen P. Jr., que... |
| também fez a página dupla interna. |
Em junho de 1984, Erasmo Carlos e Roberta Close gravaram em em Ipanema o clipe da música "Close", um grande sucesso naquele ano. Praia lotada, multidão em volta, os dois circularam impunes em meio à curiosidade da massa. O Brasil daquele ano talvez fosse mais cordial, embora preconceituoso. Pelo menos, Roberta não foi biblicamente apedrejada nas ruas pela guarda da moral e dos valores e Erasmo não foi cancelado pelos bons costumes. Ela "fez a praia inteira levantar numa apoteose a beira-mar", como escreveu Erasmo.
Hoje, não sei, as milícias religiosas talvez partissem para a briga. Há 40 anos Erasmo ousou homenagear a primeira sex symbol transsexual da nação e a sua música foi um dos maiores sucessos do ano. Roberta Close, aliás, foi capa da Manchete várias vezes e, em nenhum momento, um deputado qualquer subiu à tribuna para mandar as "ovelhas" incendiarem as bancas. O Brasil mudou pra pior, Erasmo (ele mesmo uma figura cordial) não está mais aqui e Roberta Close completará 60 anos em dezembro. Casada com o empresário suíço Roland Granacher, ela mudou-se para Zurique em 1990 e declarou em entrevistas que não voltaria a morar no Brasil. Motivo: o preconceito, hoje mais agressivo e imprevisível.
P.S - Coube à página Fotos Históricas Plus, do Facebook (https://www.facebook.com/fotoshistoricasplus) relembrar esse encontro típico dos anos 1980 que virou capa de Manchete e repercute neste post assinado pelo incansável Ed Sá.
Comentário do blog. Uma conspiração ocorre às claras no Brasil. Ninguém pode dizer que não a vê. A sala de comando está nos porões mais imundos do Congresso. De lá saem projetos que viram leis e que têm dois fluxos principais. São iniciativas para tirar dinheiro do Estado laico em favorecimento da indústria religiosa, desde uma montanha de isenções de impostos, convênios, dispensa de taxas e contribuições previdenciárias ou são leis de construção de uma futura teocracia propriamente dita. Os "aiatolás" já temos, a guarda religiosa está em formação, o poder legislativo já está dominado, a ocupação avança no judiciário e no executivo em estados, municípios e na submissão e concessões da Presidência em busca da "base" inalcançável. Já se sabe que a reação dificilmente virá dos políticos. Aqueles capazes são minorias. No caso da proposta de criminalização do aborto nos casos até aqui protegidos pela lei, a reação veio das ruas essa redes sociais com as mulheres à frente. Desculpem o pessimismo, mas é possível prever que os desafortunados que viverem verão a obra do fascismo neopentecostal pronta e operante.
O COB escolheu a marca bolsonarista Riachuelo para vestir os atletas brasileiros que vão à Olimpíada de Paris 2004. Aparentemente, esqueceram de avisar ao estilista responsável que os Jogos são competição esportiva e não um congresso neopentecostal. Tudo aí é ruim, a calça frouxa, a saia virginal, os chinelos, o casaco impróprio para o verão parisiense. Foto de Alexandre Loureiro/COB/Divulgação.