domingo, 14 de julho de 2024

Novo "marketing político": vale tiro, porrada e bomba?

 





Comentário do blog - por Ed Sá  

A capa da Time é dramática. É praticamente o registro da vitória de Donald Trump nas próximas eleições estadunidenses. Pelo figurino da extrema direita, o marketing político mudou. Atentados autênticos podem ser politica e habilmente explorados. São vistos como "oportunidade". As fake news, também. Debates, entrevistas, programas de governo etc aparentemente não ganham mais eleições? A estratégia de campanha mais eficiente e fulminante é facada ou tiro de raspão na orelha. A faca de Adélio mirou em Bolsonaro e atingiu Lula/Haddad em 2018. O balaço que raspou na orelha de Trump nem desfez o penteado do magnata, mas respingou nas urnas de novembro e abateu de vez o já trôpego Joe Biden. Em segundo lugar vêm as notícias falsas agora turbinadas com vozes e imagens trabalhadas em inteligência artificial (IA).    

Significa que as campanhas presidenciais em todo o mundo dispensarão seus marqueteiros e contratarão especialistas hollyoodianos em sequências dramáticas, dublês, figurantes, editores de imagem e gênios da inteligência artificial? As redes sociais, hoje decisivas, gostam de ação e emoção. Com exagero, pode-se supor que a realidade eleitoral passará a ser um detalhe e o importante será o efeito especial que impactará a massa? 

Curiosamente, o alvo desses atentados sobrevive politicamente mais forte para festejar a posse. O recurso pode valer também para líderes enfraquecidos. Robert Fico, o primeiro ministro da Eslováquia, por exemplo, enfrentava críticas por alegar que os benefícios para exportadores de graõs da Ucrânia prejudicavam a agricultura do seu país. Fico tomou um tiro na barriga, foi hospitalizado em estado grave, mas sobreviveu e reassumiu seu cargo agora com mais apoio. 

O risco é - sabendo-se que marqueteiros de políticos são espertos - assessores da Geraçao Z começarem a bolar situações-limite, nem sempre sangrentas, para reforçar a popularidade dos líderes. A IA poderá ser de grande ajuda em campanhas eleitorais "criativas" a qualquer custo. Algo como Giorgia Meloni, prineira-ministra da Itália, escorregar numa pizza e ganhar votos porque um imigrante da Líbia teria jogado lixo na rua? Digamos que o presidente da Polônia, Andrzej Duda, que perdeu recentemente a maioria no parlamento, sofra constipação depois de comer na rua uma zapiekanka feita por um imigrante russo. O acidente culinário poderia lhe render alguma recuperação na imagem? Em resumo: extrair emoção de qualquer situação pode ser a regra de ouro do novo marketing político onde as idéias ficam em segundo plano. A moda agora é tiro, porrada e bomba. Verdadeiros ou não. 

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