sexta-feira, 3 de março de 2023

Mídia: segundo a Folha, trabalho escravo tem "outro lado"

 

Reprodução Folha de São Paulo 


por José Esmeraldo Gonçalves

Demorou alguns dias mas a Folha de São Paulo finalmente montou uma pauta com o "outro lado" do flagrante de trabalho escravo nas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi, em Bento Gont (RS). 

Ao contrário dos principais jornais do mundo, que defendem o que apuram, a mídia brasileira ainda mantém o "outro lado" como forma de "aliviar" denúncias incômodas . É simples: se uma história é corretamente apurada e checada e, no caso, coberta de evidências e de ações de promotores e policiais,  praticar o "outro  lado" fora de critérios servirá apenas para desmentir todo o trabalho jornalístico do próprio veículo. 

Na mídia em geral há casos de reportagens investigativas repletas de documentos, testemunhos e até vídeos e áudios publicados que vêm acompanhadas de "justificativas" dos flagrados. São argumentos tão irreais que até ofensivas à inteligência. 
O jornal publica tudo e, para o leitor, fica o dito pelo não dito. 

Resta a impressão de que parte da mídia brasileira seria capaz de buscar o "outro lado" até para, digamos, relativizar as atrocidades nazistas. Além disso, ouvir o "outro lado" é questão de interesses: há casos em que os editores deliberadamente não pautam o "contraditório".

Pois no caso dos escravizados do vinho, a Folha (que, aliás, evita e expressão trabalho escravo e mesmo a hipócrita "análogo a trabalho escravo") foi buscar depoimentos que desclassificam as denúncias. Conclui-se que todo mundo lá é gente boa e os trabalhadores baianos estão de sacanagem ao incriminar patrões tão tão civilizados e defensores da lei e dos bons costumes. Segundo a Folha, a comida era beleza, o galpão tinha até ar ccondicionado, a segurança no local era necessária para punir trabalhadores ladrões e as condições de trabalho eram tão boas que muitos escravizados queriam até voltar após cumprir o serviço temporário, sem ligar para torturas, choque elétrico e ser refém por dívidas. 

A Folha não surpreenderá ninguém se publicar nos próximos dias uma entrevista com o vereador Sandro Fantinel,  que descreveu os baianos como vagabundos que vivem na praia tocando tambor e como pessoas sujas que não cuidam dos alojamentos cinco estrelas. 

E o toque final de cinismo: o barracão que "hospedava" os escravizados é chamado de Pousada do Trabalhador. O jornal não informou se tem hidromassagem, sauna, café da manhã continental, academia de ginástica e piscina. 

quinta-feira, 2 de março de 2023

O jornalismo brasileiro é viciado em off

por José Esmeraldo Gonçalves

Off, em jornalismo, é a prática de difusão de uma informação sem que o repórter identifique a fonte. Uma espécie de "por fora". O entrevistado revela qualquer coisa sob a condição de anonimato. 

A fonte em off mais famosa e legítima do jornalismo foi certamente o "Deep Throat" do rumoroso Caso Watergate. Um funcionário do governo passava a Bob Woodward e Carl Bernstein informações cruciais que orientaram a apuração do escândalo e levaram os repórteres a mapear os personagens da invasão do escritório do Partido Democrata em Washington.  A identidade do informante só foi revelada em 2005. A até então misteriosa fonte era o vice-diretor do FBI no começo dos anos 1970, Mark Felt, que contou a própria história em um artigo que escreveu para a Vanity Fair. 

Para os jornalistas brasileiros Brasilia é a cidade que mais tem "deep throat" no mundo. Eles encontram um desses,  como se fossem pokémons, em cada corredor do poder. A função off foi assim banalizada. "Fonte ligada ao PT", "uma alta autoridade do Judiciário", "fiz um bastidor na Câmara e constatei", "uma fonte da PF", "uma fonte do alto comando militar", "ouvi de um ministro do Supremo". Esse tipo de referência serve de muleta tanto para informações banais como para veicular "balões de ensaio" ("notícias" muitas vezes falsas que são lançadas para gerar repercussão ou "testar" reações a determinadas medidas ou supostos fatos) e lobbies. Tanto abuso compromete o uso da função off, que originalmente não deveria ter valor declaratório, por ser anônima, mas poderia ser útil, como no Watergate, para balizar investigação do fato e orientar a apuração do repórter. 

Observe: colunistas e comentaristas de TV raramente conversam com pessoas que assumem CPFs, RGs e o que dizem. São todos anônimos, secretos ou "laranjas" de si mesmos. O anonimato como regra deixa de ser técnica de apuração e vira patologia

Luis Nassif, no link abaixo, comenta  com propriedade a febre do off, um excesso que assola o jornalismo e compromete a credibilidade. 

https://jornalggn.com.br/midia/a-praga-do-off-transformou-a-midia-em-um-celeiro-de-baloes-de-ensaio/


A máquina de fazer subcelebridades

 por Clara S. Britto



Rosana Hermann relembra no Twitter as subcelebridades de ocasião. A internet acelerou a produção dessas figuras. Hoje são digitais e brotam das redes sociais. Dos analógicos anos 1980 vale acrescentar o Beijoqueiro, que abordava famosos e tascava-lhes chupões monumentais. Isabelita dos Patins, o gari Sorriso e Chiquinho Scarpa estão na lista. Mais recentes são Geisy Arruda, a do vestido rosa que chocou faculdade moralista, Daniella Cicarelli, ex de Ronaldo e pivô de vídeo polêmico, Angela Bismark, reconstruída por cirurgias plásticas, e Thereza Collor, a musa do impeachment desfilaram na mídia por algum tempo  Luciane Hoepers, que foi capa da Sexy, virou musa da Lava Jato. O sósia do Obama era contratado para eventos no Rio até sumir ao fim do mandato do seu inspirador. Sósias de Elvis Presley são uma espécie de tradição: o Brasil teve vários que frequentaram o Chacrinha, mas logo foram substituídos pelos imitadores de Michael Jackson. Gracyanne Barbosa fitness, Vera Loyola emergente e o "meu nome é Enéas" tiveram seus tempos de fama. E, por último, Manoel Gomes, o ator de "Caneta Azul", canção que explodiu na web.
Atualmente, é até difícil acompanhar as subcelebridades que as redes sociais despejam no universo da web.  Lançadas por uma acelerada linha de montagem digital elas pulam aos montes do virtual para o real. A maioria some tão rápido quando a internet as revela. São cometas que brilham por instantes antes que um buraco negro cósmico as leve.
 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Bola murcha...

 


por Niko Bolontrin

A noite de gala da FIFA, que apontou os Melhores de 2022, mostrou o momento crítico do futebol brasileiro e da maioria dos brasileiros que jogam no exterior. Apenas Casemiro salvou a pátria ao integrar a seleção do ano. Richarlyson concorreu ao prêmio Puskás de gol mais bonito, mas perdeu para   Mesmo Vini e Rodrygo, apesar da excelente fase no Real Madrid, foram ignorados. Antony também é uma boa exceção entre o exportados. Neymar há muito deixou a elite do futebol na fase do "regional" PSG, time que tem Mbappé e Messi, dois dos melhores do mundo, mas consegue a proeza de praticar futebol medíocre. 

A festa da FIFA foi dominada pela Argentina, que emplacou o melhor treinador (Lionel Scaloni), o melhor goleiro (Emiliano Martinez ), o melhor jogador (Lionel Messi) e até a melhor torcida. Méritos da seleção campeã do mundo. 

A propósito, a premiação se refere à performance dos escolhidos em todo o ano passado. O jornalismo esportivo brasileiro em geral exaltou a suposta qualidade da seleção brasileira esquecendo que bons jogadores precisam funcionar coletivamente e mostrar estratégia. Coisa que não aconteceu. Para muitos, a Copa já estava ganha. Tite era o máximo na face da terra. A Croácia, por exemplo, não concordou com o ufanismo dia coleguinhas. 

"Livramento" 171

Reprodução Twitter 

 

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Sábado de campeões

 


Ontem, um grande grupo de amigos se reuniu para saudar o editor Dirley Fernandes que nos deixou em 15/2, e o fotojornalista Berg Silva, que faleceu em fins de 2022. Como eles certamente  gostariam, a tarde foi de samba, cerveja, cachaça, feijoada e a bandeira da Portela. O encontro aconteceu no Baródromo, na Tijuca. Alex Ferro fotografou o brinde. 

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Na capa da Carta Capital: a corrupção privatizada

 




IstoÉ: revista mostra que a República dos Canalhas acabou ...

 


Mídia: "corta o nome do mito aí, tá oquei".

Reprodução Twitter 


 A TV Record não faz jornalismo: responde aos interesses da indústria religiosa. Por isso, não chega a ser surpresa a edição de um matéria sobre a chacina de Sinop. O editor manipulou a imagem para eliminar o nome de Bolsonaro no boné de um dos assassinos. Com vasta folha corrida, o bolsonarista e CAC era um seguidor do anormal homiziado em Orlando (FL.). A Record, também adepta de Bolsonaro, quis preservar o elemento que lhe repassou tantas verbas públicas. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Dirley Fernandes: uma triste notícia

Dirley Fernandes (1968-2023). Foto:Reprodução Twitter

por José Esmeraldo Gonçalves 

16 de fevereiro, Dia Nacional do Repórter. Mas, hoje, é o dia de um repórter especial: Dirley Fernandes, que nos deixou sem aviso prévio, aos 54 anos. 

Com mais de 30 anos de profissão, Dirley passou por vários veículos, como é comum na nossa profissão. Trabalhou em O Dia, Extra, Jornal do Brasil, Jornal do Commércio, Revista História Viva, Seleções do Readers Digest e nas revistas Conhecer, Manchete e Caras. Foi editor em algumas dessas publicações.

Em cada uma experiência qualificou-se como um profissional de reconhecida competência. 

Quando o jornalismo impresso tradicional entrou em crise, Dirley se reinventou - a palavra hoje gasta nem era tão usual - e se tornou produtor de conteúdo, editou livros, revistas corporativas, administrou sites, redes sociais de empresas e dirigiu um documentário - "Devotos da Cachaça" - como parte de um projeto voltado para o setor, que incluiu revistas, livros e palestras. Com o filme, ele  mostrou a "profunda relação da cachaça com a alma brasileira, a bebida nacional na música, na literatura e nas artes plásticas". Falava com paixão sobre o assunto do qual era um expert.  Com certeza, em contato com muitos produtores, contribuiu para a evolução e aprimoramento desse mercado.  

2020: Dirley, José Esmeraldo, Mauro Trindade, Jussara Razzé, Alex Ferro e David Junior: chope no Estação Largo do Machado para comemorar lançamento de uma revista. Foto de Gabriel Nascimento 

Trabalhei com Dirley na Caras em 1996. Ele colaborou com a revista durante quase um ano antes de ser chamado pela Manchete, mas a foto acima está relacionada a um projeto que surgiu em plena pandemia. O amigo David Ghivelder apresentou à Tupi a ideia de lançar uma revista com a cobertura do carnaval de 2020, com escolas de samba e blocos do Rio de Janeiro. A publicação também comemoraria os 85 anos da rádio. Creio que David procurou uma equipe com o DNA carnavalesco da Manchete e foi isso que nos reuniu. Eu, Dirley, Mauro Trindade, David Júnior, Alex Ferro, Jussara Razzé e o Sidney Ferreira, o editor de Arte que não está no registro feito no Estação Largo do Machado pelo fotógrafo Gabriel Naacimento e que trabalhou com o Dirley em muitas revistas e livros nos últimos anos.  

Na ocasião da foto, no Estação, comemorávamos o lançamento da edição Carnaval Total. A revista acabou se desdobrando em mais duas edições ao longo do ano. Uma sobre os comunicadores da Tupi e outra, um número especial de Natal e Ano Novo. Para essas edições extras, Roberto Muggiati, Tania Athayde e Daniele Maia se incorporaram à equipe. Foi um trabalho bem realizado, não sem dificuldades, mas com o mérito de nos reunir. Em 2021, o grupo se reencontrou para um chope no Baródromo, na Tijuca. Foi a última vez que eu e Jussara vimos o Dirley, que depois se transferiu para São Paulo, com a sua querida Anna. 

No fim do ano passado nos falamos rapidamente por telefone. Ele estava animado com as perspectivas que São Paulo oferecia. Ontem, Tania Athayde nos deu a notícia. Dirley fora vítima de um acidente e estava hospitalizado em estado grave. Não havia esperanças e o triste desfecho se confirmou. Inacreditável. Tinha muito a viver. Ficamos com a tristeza e as lembranças do seu humor, inteligência, a facilidade de fazer amigos, o bom papo e deixamos aqui nosso abraço à família.      


Mídia: o bunda lelê das siglas

por Ed Sá 

Os jornalistas baseados em Brasília, de tanto subir e descer rampas, são contaminados pelos jargões do poder. Muitos repetiram à exaustão a expressão popularizada por Bolsonaro: "quatro linhas da Constituição". Meio que referendavam os argumentos do anormal. 

Na época da Lava Jato, coleguinhas que seguiam o trêfego Moro como se fosse o Antônio Conselheiro reencarnado adotaram a expressão "no âmbito".  

Tudo era no "âmbito". "No âmbito do processo", "no âmbito da operação", "no âmbito da decisão". Quando foram abertas as mensagens da Vaza Jato vimos o quanto era sujo o "âmbito" juridicamente corrompido daquela força-tarefa. 

Agora, seguindo o jargão dos corredores e salões federais, jornalistas baianizam a pronúncia de siglas. O Conselho Monetário Nacional (CVM) virou CêMêNê. Este teria o DeNêA da Faria Limer paulistana adotado por bancadas financeirias. 

Provavelmente, a onda vai se estender para outras editorias. CBF pode ser CêBêFê. CPF passará a CêPêFê. Segundo o baião ABC do Sertão na voz  de Luiz Gonzaga, o S é "si" no alfabeto baiano. STF poderá passar a ser SiTêFê e INSS vira INêSiSi. IR será IRê. CLT igual a Cêlêtê. A lista é grande: CêNêPêQuê, BêRêTê, GêNê (Globo News), GêNêTê (GNT), CêNêNê (CNN). IML é IMêLê. O JN, de Jornal Nacional, é JiNê.


Veja e ouça o ABC do Sertão 

https://youtu.be/6CSTAaVREtg

A culpa é da nomenclatura


 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Urubuzando o Fla: a pergunta que não quer calar

Por que o Flamengo trocou o sábio e vitorioso Dorival Jr por um luso obtuso que não sabe escalar o time e não vai aprender nunca?

Vamos torcer pelo Al Ahly para que a disputa do 3º lugar dê Fla x Real Madrid...